Amor De Gato escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 15
Uma xícara de chá quente




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As enfermeiras distribuíam entre os pacientes copos do chá que os guardas traziam em grandes caldeirões. Em alguns, a melhora era quase imediata. Outros iam precisar de mais tempo e mais algumas xícaras.

O rei Fidélius assistia a tudo, sentindo-se satisfeito pela humana ter conseguido encontrar uma solução mais eficiente e que atendesse a toda a população em menos tempo. Felicius e Magali também acompanhavam a distribuição do remédio e ela só usava o poder de cura nos casos mais graves e urgentes. Naquele ritmo, era só questão de poucas semanas até a epidemia ser erradicada.

Magali tinha levado o chá que havia feito em uma grande garrafa térmica, falando que tinha conseguido criar um remédio para a gripe felina. Ela se esforçou para parecer segura e confiante para que eles não pensassem que ela os estava fazendo de cobaia. Não era algo para ser experimentado para ver se daria ou não certo. Tinha que dar certo e ponto final.

Um especialista estudou a lista de ingredientes cuidadosamente e concluiu que não havia ali nenhuma erva que fosse venenosa ou prejudicial aos gatos. Eram ingredientes simples, que podiam ser encontrados facilmente no reino.

- Tem certeza de que irá funcionar? Meus médicos e cientistas trabalharam por vários meses sem nenhum sucesso.

- Eu usei magia felina para escolher os ingredientes e preparar esse remédio, senhor.

- Se é assim. Mas antes, eu quero apenas ter certeza de que isso pode ser usado no nosso povo...

- Eu experimento, meu pai.

- Felicius? Tem certeza?

- Absoluta. Confio plenamente na Magali.

Ele pegou o copo que um criado havia lhe trazido e ela o serviu. Ainda estava quente.

- Hum... é muito bom! Doce, quente, aconchegante... eu tomaria vários litros se pudesse!

- Mesmo? – até o rei acabou ficando curioso e não resistiu à vontade de provar um pouco. Seu filho tinha razão, aquilo estava mesmo muito bom. Era uma excelente bebida para se tomar à noite, antes de dormir. Parecia tão relaxante!

Ao ver que não tinha nenhum perigo, ele mandou providenciar todos os ingredientes e ordenou que os médicos prestassem atenção à maneira como Magali preparava o chá. Assim seria possível levar aquele remédio a todo o reino. E como o preparo não era complicado, cada família também poderia aprender e fazer por conta própria.

Com aquilo, ela não ia mais precisar se desgastar todos os dias curando tantas pessoas. Seu trabalho ia ficar mais fácil. Ela só ia atender os casos mais urgentes e com o tempo o numero de doentes ia diminuir até acabar. Ainda bem, ela já não agüentava mais aquele cansaço todos os dias!

E apesar do seu estado, Quim não pareceu ter se sensibilizado. Ele nem ao menos perguntou o que estava acontecendo e ela resolveu não falar nada. Para que? Se ele não se interessava em saber, ela também não ia perder seu tempo explicando nada para ele. Ainda assim aquele descaso a entristecia muito.

- Algum problema, Magali?

- Hã... nada importante.

Ele levantou uma sobrancelha, tentando imaginar no que ela estaria pensando. Às vezes ela tinha um olhar tão triste!

O remédio de Magali estava sendo tão eficiente que ela não precisou mais curar as pessoas naquele dia. Mesmo os casos mais graves estavam sob controle e em alguns dias essas pessoas estariam curadas. Com isso, Felicius pensou que eles poderiam passar mais tempo juntos, sem ninguém por perto. Somente eles. Quem sabe ela não acabaria contando o que lhe deixava triste?

- Vem comigo. Um passeio fará bem.

- Pra onde a gente vai?

- Pular por aí, ora!

- É? Igual da outra vez?

- Não. Será ainda melhor. Vem! – ele virou de costas para ela e abaixou-se – sobe aí.

- Nas suas costas? Tem certeza?

- Claro! Não precisa ter medo, vou te segurar firme.

Aquilo até que estava engraçado e ela acabou subindo nas costas dele, de cavalinho. Ele segurou bem firme suas pernas e ela colocou os braços ao redor do seu pescoço.

- Se segura porque eu vou correr!

E ele realmente correu muito rápido e dando grandes saltos enquanto ela ria e se divertia como criança. Era assustador, sua adrenalina ia a mil, mas ao mesmo tempo muito divertido e emocionante. Em alguns momentos eles pareciam voar.

Felicius saltava de um prédio para outro com muita agilidade e nem parecia que estava levando uma pessoa em suas costas. Seu peso não o atrapalhava e ele estava até gostando de ela apertar seu pescoço com tanta força. Parecia um abraço. Era tão bom ter o corpo dela tão junto ao seu que ele seria capaz de ficar assim um dia inteiro...

Magali sentia o pelo dele roçando seu rosto. Era macio e de alguma forma não parecia pelo de gato. Não totalmente. Era algo entre pelo de gato e de humano, assim como os dentes dele. O cheiro dele era muito bom, indicando que ele tinha se perfumado e ele era tão forte! Talvez não tanto quanto a Mônica, mas ainda assim o bastante para conseguir carregá-la sem nenhuma dificuldade. O Quim jamais conseguiria carregá-la por mais de dez metros sem ficar com a língua de fora.

Finalmente eles pousaram em um prédio bem alto e ele a colocou no chão. Ela tinha ficado um pouco tonta por causa de tantos saltos e ele precisou segurar uma mão dela para apoiá-la.

- E então? Foi divertido ou não foi?

- Nossa, foi demais! Você sempre faz isso?

- Sim, é uma forma de diversão para nós.

- Engraçado... o Cascão faz algo mais ou menos parecido. Se chama Parkour.

- Ele deve ter bom gosto para diversão. E aí, o que acha da vista? Linda, não é?

- É de tirar o fôlego!

Eles ficaram em silêncio, contemplando a paisagem. O sol ia se por dentro de alguns minutos.

- Você ainda não tinha visto o por do sol por aqui, não é mesmo?

- Ainda não. Deve ser muito bonito.

- Pode acreditar que sim. 

Ele não pode deixar de notar que ela se esquivava um pouco. Nada que fosse ostensivo, ainda assim ela mantinha certa distância. Ela soltou a mão dele e cruzou os braços e pela sua postura, ele sabia que não devia nem mesmo tentar colocar os braços ao redor dos seus ombros, como pretendia fazer. Com certeza ela estava assim por causa do namorado, aquele balofo que lhe dava nos nervos.

- Magali...

- Hum?

- Nos últimos dias você tem falado muito dos seus amigos, mas até agora não falou nada sobre o seu... namorado. – a última palavra foi falada um pouco entre dentes, de má vontade.

- Ah, o Quim...

- Ele mesmo. Como vocês estão?

Ela abaixou a cabeça e por um instante ele teve impressão de ter visto uma lagrima se formando em um olho. Aquilo foi suficiente para ele saber que as coisas não estavam bem.

- É que as coisas tem andado meio estranhas entre nós, eu não sei dizer por que.

- Talvez ele não goste mais de você.

- Não, acho que não deve ser isso, talvez seja porque ele anda muito concentrado em sua carreira.

- Isso não é desculpa.

- Sei que não, mas as coisas costumam ser meio complicadas às vezes...

- Você o ama? – ele perguntou a queima-roupa, querendo e ao mesmo tempo não querendo saber a resposta.

Magali olhou para o rosto dele, que parecia tranqüilo, sem saber do turbilhão de emoções que se passava dentro dele.

- Eu... – aquilo morreu em sua garganta. Por mais que tentasse dizer que sim, ela não conseguia. Era como se sua boca se recusasse a falar algo que seu coração talvez já não sentia.

Felicius tinha percebido que ela estava com dificuldade para responder, o que para ele era bom sinal. Caso ela o amasse, não teria nenhuma dificuldade em dizer que sim. Se ela hesitava, era porque seus sentimentos pelo gorducho não eram tão fortes quanto ela própria pensava. Ainda assim, ele decidiu não forçar nada. Ela parecia confusa e ele não queria deixá-la aborrecida com aquele assunto.

- Talvez eu não devesse ter tocado no assunto, me desculpe.

- Não precisa se desculpar, não é culpa sua.

O príncipe colocou uma mão eu seu ombro, delicadamente, e apontou para o horizonte.

- O sol já vai se por.

Ela olhou para frente e viu o céu sendo tingido com vários tons de vermelho e dourado causados pelo sol que se punha. Não havia muitas nuvens no céu, só o suficiente para fazer com que o cenário se parecesse com uma bela pintura. A paisagem do Reino dos Gatos tornava o cenário ainda mais surreal.

Enquanto ela olhava o céu, distraída, ele olhava seu rosto disfarçadamente. Tão bonita, tão adorável... era difícil resistir ao impulso de abraçá-la bem forte e encher seu rosto de beijos e lambidas. Ah, se ela lhe desse uma chance!

- Você gostou?

- É lindo demais!

- Podemos fazer isso sempre que você quiser. Será um prazer.

- Mesmo? Eu vou adorar! Ah, mas agora está na hora de ir...

- Eu entendo. Vem que eu te levo – o rapaz abaixou-se novamente para que ela montasse em suas costas. Ele a levou até ali, então cabia a ele levá-la de volta.

Pelo menos ele poderia passar mais alguns minutos com o corpo dela junto ao seu.


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