Amor De Pai escrita por Little Flower


Capítulo 5
Ilusões...


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente quero agradecer do fundo de meu coração a Aline Quandt e GiiCullen pelas recomendações. Obrigada lindas...
Sem mais delongas...Espero que gostem
Boa leitura...

Capítulo atualizado em 02/03/21



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[Edward]

 

Fazia dois meses que Renesmee convivia conosco.

Cada dia era uma experiência incrível e totalmente nova para mim. Nossa vida não era a mesma desde então, a chegada dela mudou tudo. Como por exemplo afastar um pouco Jasper dos livros — embora ele fosse uma forte influência para Nessie ao fazê-la acompanha-lo em suas leituras habituais —, Emmett continuava o mesmo crianção. Rosalie deixou o egoísmo de lado, projetando sua fissuração por beleza em Nessie da forma mais saudável possível. Alice... Bem, Alice estava ainda mais impossível do que antes. Sua sede insaciável por compras se multiplicou, com pretexto de que Nessie precisava disso ou daquilo.  

Carlisle se transformou num avô babão, sempre que ia ao trabalho retornava com um presente para Renesmee. Com Esme não era diferente, nas poucas vezes que precisou ir ao mercado voltava com algo para ela. Numa noite, enquanto Renesmee dormia, debatemos sobre como deveríamos ser cautelosos, pois embora fosse indiscutível que nossa pequena necessitasse de toda nossa atenção, era de extrema importância que não a estragássemos com todos aqueles presentes materiais.   

Emmett mantinha o antigo pelúcia favorito de Renesmee numa árvore especifica longe dali, pois ela gostava de se divertir pela floresta de vez em quando — claro que com a supervisão de algum de nós — e eu não queria que ela tivesse a mesma reação negativa ao se deparar com o lobo. Ela realmente adquiriu um terror e aversão pela espécie. Por outro lado, Emm havia feito bom proveito, o bicho se transformou numa peça fundamental no novo jogo preferido dele. O grandalhão da família atirava facas ao invés de dardos em cheio no coitado do animal.

Não parecia mais aquele lobo marrom avermelhado brilhante que tínhamos comprado, ele já estava todo deformado, espumas saindo de diversas direções, o “pelo” apagado e desgastado.

Era exatamente o estado que eu queria ter deixado o cachorro sarnento.

No meio disso tudo ainda tive que lidar com Charlie, deveria explicar — inventar uma desculpa plausível — a ele o motivo de não levar Renesmee para visita-lo como eu garanti que faria. De fato, eu havia mencionado que um desentendimento com Jacob Black tinha acontecido ao sair de sua casa, fui franco quanto a essa parte. Eu informei que o cachorro estava ressentido e me culpava pela morte de Bella — o que não era realmente mentira — e que não era seguro levar minha filha até Forks.

Ele me surpreendeu mais uma vez ao assegurar que teria uma conversa séria com o cachorro. E mais uma vez reafirmou que eu não precisava ficar me remoendo com as declarações de Jacob.

Ah, Charlie se você soubesse o quão culpado eu sou.

Mas ele se conformou e afirmou que manteria contato pelo telefone, ou ele mesmo iria até nós para vê-la quando possível.

— Papai! Olha meu desenho!

Renesmee entrou na sala de estar com um papel nas mãos. Entregou-me entusiasmada e pude observar um desenho de nove pessoas. Todas as caricaturas tinham seu respectivo nome embaixo. Uma figura loira de cabelos cumpridos indicava que era Rose. Outro loiro de cabelos cacheados demonstrava ser Jasper. Depois Esme e Carlisle de mãos dadas, Alice e Emmett... As últimas três caricaturas em especial me chamaram atenção, elas estavam muito juntas, quase como se pudessem se confundir nas cores. Um homem de cabelos castanho-avermelhados que seria eu, escrito papai. Renesmee com um largo sorriso no meio entre os dois. E por último, do outro lado dela uma mulher de cabelos cor mognos, intitulada como mamãe.

A imagem retratada não me causou a costumeira fisgada aguda em meu peito, mas aqueceu meu coração com um forte sentimento de saudade, de alguma época como àquela que infelizmente nunca poderá ser vivida de fato.

— Está lindo Renesmee. — eu disse com um sorriso na voz e ela retribuiu.

— Obrigada, papai... Sabe, a mamãe vai voltar para nós. — ela disse ainda com os lábios repuxados. Espantei-me e olhei como se não acreditasse em suas palavras, mas de certa forma acreditava. Um fio de esperança dentro de mim.

— Como assim?

— Ela vai voltar para nós. — repetiu sem se abalar — Eu sonhei com ela, eu vou confessar, não queria acordar! Ela é linda! — seus olhos chocolates brilharam.

— Renesmee, você está assistindo aqueles programas de espiritismo de novo? Já disse para o Emmett por a senha naquele canal!

— Eu só vi uma vez, papai, mas não. É verdade, ela me disse no sonho! — relatou Renesmee de forma confiante.

Talvez ela ainda não havia se conformado em perder a mãe. Eu não queria que se decepcionasse; vi uma cena em minha mente se projetar quando Nessie tocou meu rosto com sua pequena mão.

Bella e Nessie caminhavam por uma campina verde e florida, quase como a nossa em Forks. Era dia o que a tornava mais impressionante e vistosa.

“Meu amor, eu voltarei para vocês...” disse Bella docemente a Nessie, “mas enfrentaremos muitos desafios... Onde requer paciência. E manter segredos guardados, mesmo que nós temamos perder algo que amamos muitos. Renesmee, filha, terá de ser muito mais corajosa...

“Mas mamãe... Eu sei guardar segredos!”

Bella sorriu calorosamente para ela e Nessie pulou nos braços estendidos da mãe...

“Eu sei que sabe meu amor. Prometa-me que fará tudo o que eu lhe disse?”

“Claro!” respondeu Renesmee sorrindo verdadeiramente.

Então as imagens se dissolveram. Renesmee me fitava.

— Viu? Ela vai voltar!

Assenti.

Não a queria desiludir. Nem a fazer sofrer. Então depois que ela voltou a brincar no quarto novo que fora redecorado por Esme e Alice eu subi para o meu. Deitei na cama com os braços atrás da cabeça olhando o teto... As palavras de Bella ecoaram em minha cabeça como se fosse um eco... Meu amor eu voltarei para vocês... Minha vinda não será fácil... O que isso queria dizer?

Sacudi a cabeça.

Deveria ser apenas um sonho e mais nada. Não teria como ela voltar e embora eu quisesse muito me agarrar a algum fio de esperança em ter minha Bella de volta, era impossível que isso se concretizasse de fato.

 

[...]

 

Antes que Carlisle falasse, eu grunhi.

— Amanhã vocês voltarão a estudar. — disse ele a nós todos, reunidos na sala.

Estávamos em agosto, início do ano letivo. E para estender nosso tempo ali era de extrema importância nos passar por adolescentes, como se costume. Era tedioso, mas o que poderíamos fazer?

— Não íamos nos mudar para outra cidade Carlisle? Aqui tem sol quase constantemente... — lembrou Rosalie, tão “animada” quanto eu com a notícia.

— Rosalie, acredito que nossa estadia aqui seja o melhor por enquanto. Quase todos sabem e acreditam na história que contamos... É saudável ficarmos e Nessie gosta daqui não é mesmo, querida? — indagou à minha filha, sabendo que ao menciona-la Rosalie mudaria de ideia.

— É sim vovô! Eu não quero ir embora.

O mesmo encarou uma Rosalie vencida, com as mãos estendidas como se rendesse.

— Muito bem, seus horários estão todos naquela pasta intitulados com seus respectivos nomes... — se virou para mim — E Edward, você irá matricular Nessie numa escolinha?

Consegui ver meu próprio rosto de perfil pelos olhos de Nessie enquanto minha filha me encarava em expectativa. Eu sabia que ela queria fazer amizades mais do que qualquer outra coisa no mundo, mas qualquer decisão como aquela deveria ter o mínimo de cautela.  

— No momento não. Ainda é um pouco arriscado... Talvez daqui a alguns anos.

Ele assentiu.

Nessie por outro lado me fitou magoada. Deu as costas para mim e caminhou para a escada subindo em disparada com os olhinhos cor de chocolate marejados. Totalmente perdido, busquei em minha memória se em algum momento eu havia falado algo que pudesse tê-la chateado. Enquanto fazia isso fui atrás dela. 

Ela estava sentada de costas no sofá embutido abaixo da janela. Olhando o céu estrelado. Sua mente estava silenciosa, como se quisesse privar seus pensamentos de mim. Senti-me incomodado com aquilo.

Parei um pouco distante para lhe dar espaço e cruzei os braços. Era a segunda vez que Nessie fugia de mim, então provavelmente a culpa era minha. 

— Nessie... — eu disse suavemente, mas ela não virou para me olhar. Caminhei para mais perto e sentei ao seu lado para tentar novamente — O que foi, meu anjo? Por que não quer falar comigo?

Ela suspirou.

— Por que não quer que eu faça amiguinhos! — disse ela triste ainda sem me encarar.

— Não é isso, Nessie. Você sabe que somos diferentes, eu lhe expliquei que é preciso guardar esse segredo, não é?

— Mas eu não vou contar. — murmurou ela na defensiva.

Pensei por um momento e umedeci os lábios antes de propor. 

— É só por enquanto. Você é tão pequena e eu me preocupo com seu bem-estar. — isso fez com que ela devolvesse meu olhar.

— Então eu vou poder ter amiguinhos?

— É claro, só precisa ter um pouquinho de paciência. Você pode esperar um pouco?

— Tá bom, acho que posso. Promete?

— Eu prometo. — garanti e ela esticou os pequenos lábios num sorriso radiante.

Acariciei seu rostinho delicadamente e beijei seu cabelo com carinho. Depois ficamos a observar o céu estrelado e a lua luminosa e redonda. Engatamos num jogo de palavras, rindo com a brincadeira. Até que Nessie começou a bocejar e a coloquei em sua cama a cobrindo em seguida.

Depositei um beijo terno em sua testa.

Relutante eu saí do seu quarto para ir para o meu. Ela era encantadora enquanto dormia, as mãos juntinhas abaixo da bochecha, parecia um anjinho. Deitei na minha cama com as mãos debaixo da cabeça, à deriva.

O dia de amanhã reservava mais um período entediante. Escola, gente nova embasbacada com os Cullen, ter que fingir ser um adolescente. Era meio irritante o fato de perder meu tempo longe de minha filha, mas infelizmente era preciso. Um sorriso ofuscante brotou em meus lábios, ela alegrava meus dias. Seu sorriso deslumbrante aquecia meu coração.

[...]

— Edward! Ande! — apressou uma Alice irritada.

Eu estava me despedindo de minha filha na sala de estar e eles estavam me esperando em frente à casa depois de dar “tchau” a pequena.

— Já vou! — eu respondi e me virei novamente para encarar Renesmee — Entendeu tudo não é Nessie?

— Sim papai, vou obedecer a vovó. — disse ela com os olhos marejados. A apertei em meus braços e beijei sua bochecha. Sentia um incomodo em meu peito por ter de deixa-la ainda que por poucas horas — Não quero que você vá papai! — choramingou, as lágrimas caíram e molharam minha blusa verde, mas não me importei com isso.

— Oh, Nessie. Se divirta e não pare para contar as horas... Eu também não quero ir. — Confessei com uma careta e ela riu. Desde que Renesmee chegou em minha vida eu nunca tinha me separado dela até aquele momento, as caças íamos juntos também.

— Você vai voltar não é, papai? — ela murmurou.

Senti uma fisgada em meu peito. Ela estava com receio que de alguma forma não voltasse a me ver 

— Eu sempre voltarei para você, meu anjo.

Ela meneou a cabeça.  

— Edward, meu filho. Chegará atrasado. — disse Esme pegando Nessie do meu colo.

Revirei os olhos. E Renesmee me reprovou com o olhar.

“Papai, que feio!”.

Comprimi os lábios para não rir. Ainda sentindo o peso de suas palavras.

— Muito bem, tchau meu anjo, Esme. — Dei um beijo na bochecha de cada uma e rumei para fora.

Nessie acenou com a mão encolhida no colo da avó e a mesma sorriu.

“É preciso Edward!” pensou Esme.

Assenti enquanto passava pela porta. Entrei em meu carro e olhei uma última vez para casa. Nessie enterrou o rosto no peito de Esme e seu corpo tremia levemente. Meu coração se apertou e com dificuldade eu dei a partida.

— Tire já essa cara de tacho. — disse Alice ao lado de Rosalie no banco de trás. Eu olhei para ela através do espelho retrovisor.

— Alice, pare de me dar ordens! — eu respondi impaciente — Eu estou tremendamente irritado por ter que ficar longe de Nessie oito horas por dia.

Ela suspirou.

— Desculpe, Edward. Eu entendo que seja difícil... Eu só quero que a ideia de estudar de novo seja menos desconfortável possível. Nessie também é importante para nós, você sabe.

Meneei a cabeça. Sentindo um pouco de remorso por ter a tratado daquele jeito. Era desgastante para todos nós ter que passar por aquele processo várias e várias vezes.

Não ia conseguir esquecer ou aplacar o vazio que estava sentindo quando eu me separei de minha filha. Pisei fundo no acelerador e em pouco tempo nos encontrávamos no estacionamento da nova escola. Lembrava um pouco a Forks High. Os pingos da chuva começavam a cair do céu cinzento. Todos os rostos curiosos que estavam ali encararam o carro prata que acabava de estacionar.

— Bom, é isso. Vamos para o campo de tortura! — murmurou Emmett fingindo empolgação.

Eu não consegui reprimir o riso. Sacudi a cabeça e caminhamos juntos. Ignorei os pensamentos ao nosso redor. O de sempre: nos achavam deslumbrantes. O burburinho aumentava a cada passo que dávamos. Deixei para meus irmãos a parte de ser gentil com as pessoas por quem passávamos enquanto procurávamos os prédios de nossas respectivas aulas.

Revirei os olhos com fato de que as meninas já se encontravam obcecadas por mim. Não consegui evitar pensar no primeiro dia de aula dela, quando nos vimos pela primeira vez, meu coração sempre seria da única que me ensinou a amar. Isabella Swan.

Nenhuma daquelas garotas fúteis seria uma escolha para mim. Jamais.

Minha primeira aula seria Inglês. Quando encontrei o meu, me despedi de meus irmãos e caminhei pelo corredor. Forcei sorrisos pelo trajeto até a sala por não os ter por perto para serem os receptivos.   

Na aula de inglês o professor fez eu me apresentar para meu completo desgosto.

— Turma deem as boas-vindas ao nosso novo aluno, Edward Cullen. Diga oi, Edward.

— Oi. — esbocei um sorriso torto dando um aceno com a mão.

Os alunos dali riram com o sarcasmo.

— Certo, hum, abram seus livros na página treze, por gentileza.  — ditou o professor um tanto encabulado pela minha atitude. Assenti e já de volta no meu lugar abri o livro na página indicada. 

[...]

Eu caminhava pelo corredor em direção ao refeitório para encontrar meus irmãos, aliviado por estar praticamente vazio. Quando senti o impacto do encontro do meu ombro com alguém. Uma garota de pele alva estava estirada no chão e seus materiais espalhados ao seu redor. Ela usava uma saia de pregas quadriculada e uma blusa branca com um casaco rosa Pink por cima.

— Desculpe-me não lhe vi. — eu disse educadamente ela levantou o rosto no mesmo instante que escutou minha voz.

— Tudo bem... Fui eu que não prestei atenção por onde andava. — Sorriu timidamente.

— Quer ajuda?

— Hum, não. Está tudo bem.

— Bom, me desculpe mais uma vez. Até mais. — acenei com a mão. Ela me encarou surpresa, como se não acreditasse que eu estava deixando uma “oportunidade” passar. “É sério?” Pensou ela.  Ela era uma das populares do colégio. Bufei enquanto seguia meu caminho.

Entrei no refeitório e os rostos se viraram para mim novamente. Isso era tão irritante. Mas que diabos. Sentei-me ignorando o fato de ter milhares de olhares sobre nossa mesa, acompanhando qualquer mínimo movimento que fazíamos. 

— Daqui um tempo eles nos esquecem. — Alice tentou nos confortar com uma careta engraçada.  

— Eu não teria tanta certeza. — Rosalie fez eco aos nossos pensamentos.

Os humanos sempre insistiam em ficar obcecado pelos Cullen.

Sacudi minha cabeça irritado.

[...]

O tempo estava a meu favor pois já era a última aula. Durante o dia liguei algumas vezes para casa me certificando se Nessie estava bem. E ela estava. Eu tinha a plena consciência que Esme cuidaria dela perfeitamente bem, mas mesmo assim eu não conseguia deixar a preocupação de lado. Sua segurança era o que mais me importava.

Caminhava de cabeça baixa para a última aula pois encarava a foto de Renesmee que Esme havia me enviado alguns segundos antes, um sorriso bobo no rosto.

— Ah! — disse alguém e ao erguer os olhos vi que era a mesma garota que eu tinha esbarrado no almoço.

— Olá! — saudei educado.

— Não tivemos chance de nos conhecer direito... Eu sou Violet Vermont. Prazer! — sorriu ela empolgada demais e esticou a mão para um cumprimento formal. Alternei o olhar dentre sua mão e seu rosto corado. Ela sentiria minha temperatura baixa incomum e acharia esquisito, talvez isso implicasse em nos mudar mais uma vez. Então somente acenei levemente com a cabeça.

Encabulada grudou o braço ao corpo novamente.

— Meu nome é...

— Edward Cullen. — ela me cortou.

— Exatamente — eu disse sem emoção na voz. — Desculpe-me por hoje cedo. Sinto muito, mas eu preciso ir.

— Sempre com pressa... — comentou com um sorriso e eu arqueei as sobrancelhas — Qual sua última aula? — ela quis saber em expectativa. Lutei para não revirar os olhos.

— Biologia.

O sorriso não parecia nunca abandonar seu rosto.

— Bem, a minha é História Americana. Fica no mesmo prédio, vamos juntos. — isso não tinha sido uma pergunta.

Assenti não querendo ser mal-educado. Embora meu próprio comportamento não fosse o sinônimo de gentileza. Caminhei ao seu lado totalmente absorto de sua falação. Ela estava tentando me impressionar. O que era uma terrível perda de tempo de sua parte.

[...]

— Papai! — gritou Renesmee correndo em minha direção quando entrei pela porta da frente. Pulou em meus braços ao mesmo tempo em que os abria para recebê-la.

— Meu amor. Senti tanta saudade! — eu revelei inspirando seu doce perfume.

— Eu também papai! — disse ela com um sorriso. Tocou meu rosto com sua mão gorducha. Tédio. Era o que ela sentira aquela manhã longe de mim. Esme tentando a animar e ela tinha que sorrir para não chatear a avó. Mostrou também que foram ao parque e conheceu três novos amigos mais velhos. Nenhum incidente, então estava tudo bem.  

— Hum... E o meu beijo? — perguntei fazendo beicinho. Ela sorriu e me deu um beijo estralado na bochecha. — Vejo que seu dia foi mais interessante do que o meu.

— Acho que sim. — ela riu da minha careta e mudou para o assunto que a deixou muito eufórica — Viu os amiguinhos que eu fiz, papai?

— Sim, eles devem ser legais!

— São muito agradáveis, muito fofos. São a Gina, o Taylor e a Maggie. — contou nos dedos animadamente. Os três se portaram muito simpáticos e educados pelo que pude ver nos pensamentos dela. — Eles falaram que meu nome é diferente e bonito. — Ela falou, orgulhosa.

— Eu disse que tinha três anos, papai, como o senhor me falou.

— Perfeito, meu anjo.

— Lá no parque eu tentei conversar com as crianças da minha idade, mas eles nem conseguiam ficar em pé direito. Choravam por tudo. — ela revelou com uma careta encantadora nos fazendo rir.

— Por isso é importante manter a discrição, você foi muito bem, meu amor.    

Depois de nossa conversa Nessie foi tirada de meus braços por uma mulher loira, um grandalhão crianção e uma baixinha estabanada. Enquanto eles a mantinham entretida subi para preparar seu banho.

[...]

A semana se passou monótona. Da escola para casa, passava o tempo com Nessie e assim se seguia. Eu tinha prometido que hoje a levaria a sorveteria da cidade. Então eu terminava de me arrumar para poder aprontá-la. Penteei o cabelo e saí do meu quarto caminhando para o seu.

— Fique quieta, Nessie! — murmurou Alice. Alice? Entrei no quarto abruptamente.

— Alice! O que você está fazendo aqui? Sou eu que sempre a arrumo! — falei um tanto indignado. Já tinha me acostumado à minha nova rotina e meus deveres como pai. E não me agradava nenhum pouco quando interferiam nela.

— Edward, por tudo que é sagrado. Pelo menos uma vez deixe-me cuidar de Nessie! Você sempre está a cercando! — rebateu revirando os olhos.

— Claro Alice, ela é minha filha e eu gosto de fazer essas coisas. Também é minha obrigação de pai!

— Argh! Enfim, hoje eu cuidei da minha bonequinha quer você queira aceitar ou não — comemorou mostrando a língua e eu semicerrei os olhos. — Veja como ela ficou linda. — continuou ela e mostrou uma Nessie risonha que tinha acompanhado quieta nossa discussão nada madura com diversão. Vê-la me fez relaxar.  

Ela estava com um vestido marfim de babados. Os cachos avermelhados mais brilhantes do que nos outros dias e perfeitos caindo até o meio de suas costas. Calçava um par de sapatilhas vermelhas com uma meia-calça branca em detalhes de corações prateados.

— Está mesmo linda.

— Obrigada, papai. — sorriu radiante com o elogio.

— Vamos?

Renesmee concordou com a cabeça e pulou do banquinho que Alice a mantinha para arrumá-la. Pegou minha mão e deu um tchau por sobre o ombro para a tia. Despediu-se às pressas da família e me “arrastou” até ao carro. A coloquei na cadeirinha e entrei no Volvo dando a partida.

Brilha, brilha estrelinha... Quero ver você brilhar. Brilha, brilha lá no céu, nesta noite de luar. Brilha, brilha estrelinha quero vê-la cin-ti-lar! — Nessie cantarolava ao decorrer do caminho em sincrônica com a voz do CD do Barney que tocava no rádio do carro.

Aquilo era música para os meus ouvidos. Ela sorria largamente enquanto cantava faixa por faixa, ela era afinada e tinha um timbre doce. Agradável de ouvir.

Cada dia ela se parecia mais com Bella embora todos dissessem o contrário, que ela se parecia mais comigo. Ficava um impasse entre Charlie e minha família. Então no fim de tudo chegávamos a mesma conclusão, que ela era a mistura perfeita de nós dois. Nossa menina.

O canto cessou e ela se mostrou pensativa.

— Sabe papai, eu estou ansiosa para ver a mamãe de novo. — comentou Renesmee olhando para a paisagem através da janela.

Eu suspirei fundo.

Como fazer Nessie esquecer daquele sonho? Eu temia com que ela se decepcionasse ainda mais se ficasse alimentando falsas esperanças.

Por um momento ela já não prestava mais atenção as cores ao redor. Pensava no sonho que tivera com a mãe. Imagens já familiares passearam em minha mente. Renesmee já fazia planos para quando estivessem “juntas” novamente. Era tão desesperadora essa situação. Como poderia ajuda-la sem despedaça-la?

Era evidente que no fundo eu preferia acreditar nas fantasias de minha filha ao invés da realidade cruel que tanto me atormentava e fazia ambos sofrerem. Não poderia ter sido tudo menos complicado? Se eu não tivesse agido como um tolo tudo seria diferente sem sombra de dúvida.

Se existisse uma forma de ter uma nova oportunidade com Bella eu faria tudo do jeito certo. Renesmee e eu teríamos a pessoa mais importante para nós e seriamos ainda mais felizes. Talvez... Talvez... Se o percurso das coisas tivesse tido um rumo controverso ela estaria ali conosco a caminho da sorveteria com nossa pequena hibrida. Em mais um dia de nossa eternidade.

Sorri ao manifestar a cena em minha mente. Uma família feliz.

Sacudi a cabeça caindo em mim com uma fisgada no coração. Eu mais do que ninguém compreendia que a fantasia soava bem mais atrativa que a realidade excruciante. Eu entendia minha filha querer fugir daquilo, mais que ninguém.

— Papai! Aonde está indo? O senhor passou da sorveteria! — disse Nessie alarmada e me encarando com as sobrancelhas unidas. Olhei pelo espelho retrovisor para verificar que ela tinha razão.

— Desculpe, Nessie.

— Sua cabeça está onde? — indagou ela rindo e eu me juntei a ela.

Estacionei o carro no espaço particular da sorveteria, era final de tarde e estava um pouco lotado. Fui atingido pelos pensamentos das pessoas ao redor. Desci do Volvo, tirei Nessie da cadeirinha e caminhei segurando sua pequena mão.

Algumas pessoas que estavam ali se viraram para nos encarar. Reprimi a vontade de revirar os olhos. Eu nunca me acostumaria com aquela atenção excessiva dos humanos.

Fomos até o self-service e a deixei escolher o que quisesse. Ela despejou sabores variados e granulados coloridos num cascalho enorme. A colisão gelada embrulhou um pouco meu estomago e eu tive que petrificar meu rosto numa expressão alegre, embora não fosse problema ao ver o semblante empolgado de minha milha. Eu paguei e sentamos numa mesa distante e discreta.

— Papai, eu estou suja de sorvete?

— Não, meu anjo, por quê?

— Não param de nos encarar... — se encolheu, um tanto encabulada e olhando de esguelha para as pessoas ao redor.

— Hum, é esse o efeito que os Cullen causam nos demais.

— E quando eles se cansam?

— Esse é problema. Eles nunca cansam. — eu disse como se pedindo desculpas pelo vexame e ela apenas deu um sorriso fraco.

Enquanto ela se deliciava com seu sorvete conversávamos sobre tudo. Era tão natural como nos relacionávamos, como se nos conhecêssemos desde seu nascimento. Aquilo era maravilhoso para mim. Seu aniversário seria dali algumas semanas. E eu queria fazer nada menos que uma bela festa para ela. Seria uma boa chance para compensar minha ausência já que eu não estava quando ela completou um ano de vida.

Verdadeiramente. Não gostava de perder um segundo da vida de Nessie. Ela não gostava de dormir mais no escuro, seu abajur das princesas sempre tinha que ficar ligado. Tudo por culpa dos cachorros sarnentos que a traumatizaram. Nessie nem suportava que falássemos algo que os envolvesse. Ela tinha pavor da palavra e o que ela significava.

Entre meus devaneios Nessie me desafiou a levar uma colher de sorvete de morango a boca. E como eu era um pai vampiro exemplar era uma obrigação aceitar e assim o fiz, arrancando gargalhadas de minha filha enquanto fazia caretas. Teria que me livrar daquilo depois. 

— Já terminei, papai. — anunciou Nessie. Peguei um lencinho e limpei o canto de sua boca que estava sujo. Depois saímos da sorveteria e caminhamos até o parque que Esme costumava leva-la para brincar, no playground já haviam crianças correndo e gritando.

Visualizei ao longe os três novos amigos de Nessie enquanto ela farejava o ar identificando os cheiros já conhecidos e sorriu para mim. Tocou sua mãozinha em meu rosto me informando o fato e o quanto estava animadíssima em vê-los mais uma vez.

Assenti sorrindo. Chegamos mais perto e logo ela saltou do meu colo me puxando pela mão.

As três crianças ao a verem correram em sua direção, sorridentes.

— Nessie! — festejou uma menininha de cabelo loiro e cachos graciosos nas pontas, o rosto angelical e pequenos olhos azuis brilhantes. Usava um vestido florido de babados e sapatos fechados marrons com um par de meias brancas.

— Oi Maggie!

Nessie e ela se abraçaram.

— Oi Nessie. — saudou um garotinho moreno, sua pele era mais como um castanho-avermelhado, tinha olhos castanhos e um largo sorriso no rosto. Ele usava uma bermuda jeans, uma camiseta cinza de mangas e sapatos marrons com meias dos Mickey Mouse.

— Olá Tay. — mais abraços.  — Oi Gina. — se dirigiu a garotinha de cabelos lisos da cor do fogo, eles iam até o meio de suas costas, tinha olhos verdes suaves. Usava um vestido de algodão cor-de-rosa que realçava sua pele branquinha, da cintura para baixo seu vestido tinha flores amarelas e vermelhas, calçava botas pretas e meia calça.

— Oi Nessie. — disse ela tentando colocar vida na voz, levemente desanimada.

Identifiquei o porquê. Eram seus pais, eles brigavam constantemente e naquela manhã não havia sido diferente, aquilo a machucava. Temia que eles se separassem, a ideia era assustadora pois os amava demais embora não lhe dessem devida atenção. O pouco que consegui verificar de sua vida triste através de seus pensamentos me fez sentir um incomodo na boca do estomago.

Essa tarde ela viera com sua babá.

— Quem é esse homem, Nessie? — perguntou Maggie curiosa, me olhando.

Minha filha sorriu largamente.

— É o meu papai! — disse ela orgulhosa — Ele é o melhor pai do mundo!

Sorri pelas palavras, uma sensação quente se alastrando no peito. 

— Olá, crianças! — acenei com a mão ainda sorrindo.

— Oi senhor Edward! — responderam em coro. Nessie havia repassado meu nome aos pequeninos.

Reprimi uma careta com o tratamento.

— Oh, não. Chamem-me apenas de Edward. Assim me sinto um velho! — eu disse com escarnio e eles riram. Até mesmo a ruivinha que ainda estava tristonha.

Tudo bem, eu era um velho de certa forma, porém eu não tinha a aparência apropriada.

— Vamos brincar, Ness? — propôs um Taylor meio tímido.

— Posso ir brincar? — Nessie fez beicinho se dirigindo a mim.

— Claro meu anjo, vai lá. Vou ficar bem ali. — apontei para o único banco marrom disponível uns metros de distância bem em frente ao brinquedos.  

Ela assentiu e seguiu entre risadinhas com os amigos em direção a uma escada que dava acesso ao escorregador. Caminhei até o banco, o corpo meio curvado e sentei com um suspiro. Fiquei observando bobamente Nessie se divertir com os amigos que tanto desejou. Ela levava à risca todas as instruções que havia lhe passado, nada de comentários a respeito de vampiros, tentar correr num ritmo mais contido possível, igual aos humanos...  

Estava tão entretido que não percebi sentarem ao meu lado.

— Oi Cullen. — a pessoa disse e uma voz familiar preencheu meus ouvidos. Vermont. Me virei lentamente reprimindo a vontade de suspirar.

— Olá, Violet. — saudei sorrindo forçadamente.

Seu sorriso em resposta se alargou e eu quase revirei os olhos. Mas então ela franziu a testa.  

— O que está fazendo aqui? Se não for incomodo.

Dei de ombros.

— Vim aqui com a minha...

— Papai! — surgiu Renesmee a minha frente olhando Violet com as mãos na cintura e esboçando uma careta. Como surgiu tão rápido?

Papai? — indagou Violet confusa.

Fui até Nessie e a peguei no colo, Violet também se levantou.

— Exatamente, essa aqui é minha filha Renesmee. — declarei sorrindo largamente, quase presunçoso. Nessie ergueu o queixo num gesto de superioridade, lançando um olhar fulminante a Violet. De fato, ela repudiava qualquer aproximação de uma mulher que não fosse uma Cullen.

— Oh, sim. Oi Renesmy.

— É RenesmEE e oi.

Ela não enviou nenhum sorriso em direção a Violet, apenas congelou o rostinho numa expressão séria.

— Oh, hum. Não sabia que era casado. — murmurou ela com a testa franzida para mim.  

“Não acredito que ele é casado!” remoeu ela desapontada.

Senti uma fisgada no coração pela suposição, eu gostaria de ter tido essa oportunidade com minha Bella. Nada me faria mais feliz. E a constatação cruel de que isso jamais seria possível deixava um gosto amargo na boca.

— Não. Eu sou pai solteiro. — falei sem demostrar meu incomodo, e ignorei a esperança transbordando de seus pensamentos. Me virei para Nessie — Volte a brincar meu anjo.

Ela tocou meu pescoço disfarçadamente e declarou que não queria “madrasta” nenhuma. Eu assenti rindo, pois a possibilidade era absurda. Pulou do meu colo sem se despedir de Violet e correu de volta para onde seus amigos se encontravam.

Violet pigarreou.

— Então... Onde está a mãe da sua filha? — perguntou ela sem cerimônia. O que eu julguei ser intromissão demais.  

Sentei no banco novamente sendo seguido por ela.  

— Eu, hum... Não gosto de tocar no assunto se não se importa. — falei casualmente e ela assentiu.

Por que as pessoas insistiam em cutucar a ferida em meu peito? Não queria que o tremendo esforço que eu tanto fazia para que ela se fechasse se tornasse nulo. Tinha consciência que ela nunca cicatrizaria, nem que passasse décadas ou séculos. Isso jamais. Era até irônico pensar que isso um dia poderia acontecer.

Violet começou a tagarelar sobre algum assunto de que eu não fazia ideia do que era. Apenas dizia de forma automática: “hum” ou “é” na hora certa. A última falação — ou insinuação — que saíra da boca dela foi desnecessária, de certa forma ela sabia que eu estava ferido.

— Será que um dia uma pessoa que foi machucada terrivelmente por alguém que amou profundamente é capaz de amar de novo? — sugeriu ela olhando dentro dos meus olhos, mas não sustentei por muito tempo e acabei por semicerrar os meus. A encarei de forma dura.

— No meu caso, a resposta é não. No meu caso, ainda amo demais a mãe da minha filha e jamais serei capaz de amar outra. Mesmo que eu quisesse. — eu disse entre dentes não me importando em soar rude — Então acho que nenhuma mulher tem a menor chance comigo. — conclui e levantei num instante, eu estava realmente irritado e bufando de raiva. Caminhei em direção a Nessie que brincava alegremente.

Foi o que bastou para me acalmar. O sorriso de minha pequena hibrida. Meu milagre vampiresco. Ela olhou em minha direção e franziu o cenho, achava incrível a conexão que tínhamos. Desceu no escorregador e correu até mim, me inclinei para pegá-la no colo.

— Por que essa carinha, papai? — perguntou ela preocupada e acariciou meu rosto com sua mãozinha quente.

— Não é nada, meu amor. — eu a tranquilizei e estiquei um sorriso fraco. Nessie deu um beijo em minha bochecha.

— Se isso faz você se sentir melhor. Eu quero que saiba que eu te amo muito, muito! Assim oh! — abriu os bracinhos ao máximo que pode. Eu sorri emocionado, meu peito aquecido por aquela sensação esquisita que agora eu compreendia ser amor paterno e a espremi em meus braços delicadamente.

Meus Deus, ela era tudo para mim...

— Isso com certeza me fez sentir muito, muito melhor. — eu declarei a rodando como Emm costumava fazer — E eu também a amo. Muito, muito!

Ela riu, os olhos chocolates brilhantes.

— Já vamos embora? — ela quis saber quando parei de nos girar.

— Se quiser ficar mais um pouco...

— Na uh, estou faminta. Os meus amiguinhos também já estão indo. — ela relatou tristonha. Segui seu olhar e ela encarava Gina indo em direção a Violet. Violet a pegou no colo e lhe abraçou apertado. Depois de um tempo a babá dela a tirou dos braços de Violet e trocaram acenos.

Posicionei Renesmee no chão e ela correu em direção a Gina. Eu a seguia em seu encalço, elas se despediram e a babá levou Gina. Depois foi se despedir de Maggie e Taylor, que depositou um leve beijo em seu rosto. Não gostei muito daquilo. Mas tive que me lembrar de que eram apenas crianças, pelo amor por tudo que é sagrado.

Eram o sinônimo de pureza.

Andei segurando a pequena mão de Nessie e quando passamos em frente ao banco — que antes estava sentado com a presença desconfortável de Violet — Nessie fuzilou Violet com os olhos, porém não se mostrou nem um pouco ameaçada e um sorriso desafiador pairava em seu rosto.

— Até mais Cullen, vejo você na escola.

— Até mais, Violet.

Me limitei a acenar com a mão livre.

— Sua filhinha é uma fofa. Tchau garotinha.

Nessie tentou sorrir.

Percorremos pela rua até o estacionamento da sorveteria. Coloquei Nessie em sua cadeirinha e entrei no banco do motorista dando a partida no carro.

Durante o trajeto Nessie adormeceu tendo sonhos coloridos e rostinhos corados. Estava feliz. A pequena boca estava entre aberta denunciando seu cansaço por ter gastado suas energias se divertindo. Liguei o rádio e o mesmo engoliu meu CD do Debussy, logo Clair de Lune preencheu o silencio do carro. Deixando Nessie ainda mais relaxada.

[...]

— Ah, Edward! Você vai me deixar organizar tudo, não é? — perguntou Alice, seus olhos dourados brilhando. Ela nem precisava ver o futuro para afirmar aquela pergunta.

— E adianta argumentar com você Alice? Mesmo se eu não permitisse você tomaria a frente de tudo. — declarei revirando os olhos. Embora no fundo eu ficasse extremamente grato por tê-la, a nanica tinha um talento nato para aquele tipo de coisa.

Alice bateu palmas empolgada sorrindo largamente.

— Vai ser lindo! O aniversário da minha bonequinha vai ser o melhor aniversário de todos! — gritou ela animada.

Rimos.

— O que tanto a tia Alice grita? — perguntou Nessie descendo as escadas em passinhos suaves. Ainda estava com o vestido marfim e de meia calça.

— Sobre sua festa de aniversário, Nessie! — cantarolou Alice indo até ela, segurando suas mãos e as girando.

— Alice. Ela vai ficar tonta e pode se machucar. — eu a repreendi.

— Sabia que ela não é quebrável? — perguntou ela retoricamente revirando os olhos, mas as estabilizando sobre o chão. Renesmee correu até mim e pulou em meus braços.

— Sério papai? Vou ter uma festa?

— Vai sim meu amor, você merece.

Sorri.

De repente, sua expressão radiante se tornara triste e dolorida.

— O que foi, Nessie? — Jasper se manifestou preocupado, em primeira mão sobre a mudança de humor repentino.

— Minha mamãe, não vai estar lá! — respondeu ela de cabeça baixa e num ímpeto para aplacar sua dor, depositei um beijinho em seus cachos. Queria tanto que ela não sofresse. E recebeu olhares condescendes de nossa família. 

Esme quem tomou a palavra para lhe acalmar, sendo a porta voz dos Cullen naquele momento:

— Tenho certeza de que de onde ela estiver vai ver você.

Sorriu e acariciou seu rosto.

Se ela chegar a tempo! Ela vai estar lá!” pensou Nessie esperançosa. O fantasma do sonho ainda a rondando. Nessie, Nessie.

Depois de cada membro da família prestar seu carinho para com minha filha. Alice nos despertou gritando:

— Tenho muitas coisas para fazer! Vamos começar ao trabalho, Alice Cullen.

Deu pulinhos nos fazendo rir mais uma vez.

[...]

Depois do banho quentinho de banheira, o jantar e uma maratona de três filmes de animação na sala com a família, Nessie adormeceu mais vez e a levei até seu quarto.

O quarto tinha uma parede única com o desenho das princesas da Disney — projetada atrás da cabeceira da cama de Nessie — enquanto as outras eram tingidas de rosa, as prateleiras mantinham livros e bonequinhas. As portas do closet eram cor creme, que dava acesso as barras de ferro sustentando milhares de peças de roupas. Era uma fusão colorida lá dentro. Além disso ainda tinha o compartimento de sapatos e alguns espelhos. Sua própria banheira adornava seu banheiro.

Terminava de estender o cobertor grosso de borboletas sobre ela, muito confortável com a camisola de ursinho. Antes que pudesse sair do seu quarto meus correram pelo porta-retrato sobre o criado mudo a foto que ganhara de Charlie, de Bella e eu em seu aniversário de dezoito anos. Um sorriso triste impossível de conter, surgiu.

Sinto tanta a sua falta, Bella. Tanto...

Para espantar aquele estado melancólico saltei os olhos para o outro porta-retrato, onde Nessie e eu sorriamos de olhos fechados para a câmera, Rose havia tirado a fotografia algumas semanas atrás.

Com um suspiro decidi sair, desliguei a luz no interruptor, a do abajur das princesas já estava acionado e dando a uma última olhadela por sobre o ombro finalmente disparei para o meu quarto.

Deitei em minha cama com os braços atrás da cabeça e encarava o dossel, ainda me remoendo pela sensação angustiante que a ausência de Bella me causava. Imagens passearam pela minha mente e meu peito se contorcia em saudade... Me remexi inquieto... No dia em que a pedi em casamento e ela aceitou — neste mesmo quarto —, aconteceram tantas coisas depois disso... A comemoração intima depois da guerra com os recém-criados... E eu fui embora, pois não aguentei vê-la com aquelas manchas roxas pelo seu corpo. Não queria que ela se ferisse mais.

Suspirei doloridamente. Se eu tivesse feito escolhas diferentes...  

Um temporal caia lá fora e eu escutava atentamente os pingos cair na terra. Uma cortina d’água se formou ao redor das janelas de vidro... Não demorou muito e escutei passinhos leves.

— Papai... — sussurrou Renesmee e no mesmo instante virei o rosto para encará-la, um coelho de pelúcia era espremido em seus braços.

— O que foi meu anjo? — Perguntei suavemente..

Um trovão ecoou no céu e Nessie se sobressaltou. Arregalou os olhinhos de pavor.

— Estou com medo! — relatou ela num tom vacilante e disparou pulando em cima de minha cama. — Me deixa dormir aqui ao seu lado?

— Claro meu amor, sempre que sentir medo pode vim para cá. — eu enfatizei.

Para minha sorte havia um cobertor debaixo dos travesseiros. Ela se aninhou ao meu lado com o coelho, meu braço direito sustentando sua pequena cabeça, após envolvê-la com a coberta se encolheu quando eu a abracei. Dei um beijinho em sua testa e ela ainda ficou com os olhinhos achocolatados abertos.

— Papai canta para eu dormir? — pediu ela num sussurro.

— É claro, meu anjo.  

Comecei a cantarolar a canção que eu fiz para ela semanas depois de ela chegar a minha vida. Assim ela adormeceu tranquilamente, tendo a certeza que estava segura pela pessoa que a amava mais que tudo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado...
Adiantando: Falta pouco para Bella voltar *_*
Bjinhos carinhosos!