[Edward]

— Por enquanto não há nada com que se preocupar como você mesmo está vendo...  — Alice verbalizou para que nossa família estivesse a par do assunto que estávamos falando. Ou seja, mais uma visão do futuro. 

Por mais que as visões de Alice mostrassem que Bella sobrevivesse ao parto, ainda não era possível descobrir o gênero da criança.

— Bom, e sobre sua resposta, Emm, Rose ainda está no mesmo lugar. 

Emmett assentiu.

— Obrigado, Alice. Mas devemos estar atentos a qualquer menção de algo errado. — eu falei por último. 

A conversa daquela manhã preencheu meus pensamentos enquanto aguardava no andar de baixo a deixa para a surpresa preparada para minha Bella. 

“Papai! Já!” Renesmee comunicou através de seu pensamento, superanimada. 

— Temos uma surpresa para você, mas para isso eu preciso vendá-la. Você confia em mim?

Bella bufou e revirou os olhos em tom de deboche. 

— Edward, Edward, tantos anos e você ainda precisa perguntar? — indagou ironicamente, o que me levou a rir e de certa forma suas palavras aqueceram meu coração. Mesmo depois de bagunçar tanto sua vida, sua confiança em mim permaneceu intacta. 

Definitivamente eu não a merecia. 

— Certo. 

Eu ainda sorria quando amarrei o lenço atrás de sua cabeça. Afim de evitar que Bella fizesse esforço para subir as escadas, a peguei em meus braços e em pouco tempo nos encontrávamos em frente à porta ao lado do quarto de Nessie no andar onde também ficava o nosso. As batidas nervosas do coração de minha pequena híbrida do outro lado, cheia de expectativa, vibrou em meus ouvidos. Sua empolgação era quase palpável. 

Ao girar a maçaneta, me encontrei com a família no canto, próximo às prateleiras que sustentavam bichinhos de pelúcia. Ainda que eu tivesse visto em antemão o projeto e cada detalhe para decorar o cômodo de paredes em tom amarelo claro, tinha ficado maravilhado com o resultado final. Como poderia ser diferente, quando Alice estava envolvida?

Renesmee sorriu largamente e correu para o lado da mãe o mais silenciosa possível. 

Alice mostrou o polegar indicando que eu poderia libertar os olhos de Bella e quando o fiz todos gritaram alegremente:

— Surpresa!  

— Oh meu Deus! 

Bella arfou, colocando as mãos sobre a boca. 

— Eu não acredito!  

— Essa é as boas vindas para o baby Cullen! Bella, pelo amor de tudo que é sagrado esboce um sorriso, Nessie se esforçou tanto para tudo ficar lindo! — disse Alice, descontraída.

Renesmee franziu a testa e encarou a mãe, com o rosto banhado em lágrimas. 

— Mamãe? A senhora está bem? Está doendo?

Bella sacudiu a cabeça. 

— Não é isso, meu amor. Eu... estou... apenas... grata... — se apressou em esclarecer ainda que entre fungadas. 

— Oh, mamãe.

Nessie enlaçou os bracinhos ao redor das pernas de Bella. 

— Obrigada, meu amor. A você e a Alice. — apertou a mão de Alice com a que estava livre, pois a outra acariciava os cachos de Nessie. 

— Não precisa agradecer, Bella. É apenas um presente que todos também ajudaram a contribuir, vocês merecem, afinal quando você carregava Nessie não estávamos com você, não pudemos fazer nada — Alice completou e podia jurar que se pudesse estaria se debulhando em lágrimas enquanto declarava aquilo —, nem o quartinho dela, nem o enxoval... Droga, desculpe! 

Respirou fundo, olhou Jazz de soslaio e rapidamente o ambiente ficou muito menos melancólico. Agradeci com um aceno breve de cabeça. 

— Tudo bem, Alice.   

— Esse momento é muito lindo, muito fofo. Mas enxugue essas lágrimas logo, se não vai sair inchada nas fotos. Vamos, todo mundo se reúne aqui que eu e a futura irmã mais velha Nessie ainda precisamos mostrar tudo para os papais! 

Minha família e Lara que até então se encontravam imóvel, marcharam em harmonia até o centro do quarto para posar para a foto, foi uma tarefa difícil, pois cumprimentaram Bella quando chegaram até nós, o que precisou novamente da intervenção de uma Alice impaciente.  

Cinquenta fotos depois, uma Alice e Nessie radiante mostraram todo os detalhes, desde o tapete às roupinhas de diversos tamanhos de cores neutras. Numa conversa com Carlisle, Lara, Esme e eu na sala de estar outro dia, meu pai chegou à conclusão de que como a gestação atual é muito mais veloz — pois a de Nessie durou quase um mês e meio — poderia indicar que os gêneros não eram iguais. Embora não tivéssemos embasamento suficiente para afirmar.

— ... Sim, quando eu dizia que ia ler com o tio Jazz e a tia Alice, íamos arrumar alguma coisa aqui...

Bella arregalou os olhos e fingiu estar horrorizada. 

— Olha só! Mentir é feio, filha.

— Mas o tio Emm falou que mentiras boas são permitidas.

Todos olharam quase que ao mesmo tempo para o grandalhão, que tentou se esquivar.

— Emmett o que você anda ensinando para a minha filha? — questionou Bella. 

— Uê! É melhor do que estragar a surpresa. Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra!

Todos sacudiram a cabeça, pesarosos e eu ri. Vê-lo fazendo gracinhas era muito mais do seu feitio do que aquela aura estranhamente passiva. 

Enquanto o restante rodeava Bella, me aproximei da janela um pouco escondida atrás da cortina bege, e olhei para além da paisagem nublada lá fora. As palavras de Alice rondando minha mente. Realmente não estávamos com minha Bella quando Renesmee crescia em seu ventre. Se não fosse por Lara, o que teria acontecido com minha filha? Ou quem teria confortado Bella e a ajudado? 

Era naqueles momentos em que mais uma vez me sentia um desmerecedor de tantas bençãos. Eu os amava incondicionalmente, mas não podia negar que havia errado tanto...  

— Você e sua mania em se torturar não é, Edward? — Jazz comentou ao se aproximar, não me encarando. 

— Eu não consigo evitar. — murmurei ainda atormentado com meus pensamentos. 

— Já passou um pouco da hora de se perdoar, não acha? Não fique lamentando coisas do passado como um velho pelos cantos... Aproveite o presente que é muito mais valioso que o futuro ou o que ficou para trás. Se eu sentir isso de novo, eu vou provocar uma crise de risos em você por dias... E eu não estou brincando...

E assim como ele se aproximou imperceptivelmente, ele se afastou para perto de sua amada Alice. 

“Juro!”

Era assim sua forma de demonstrar seu amor por mim, e de certa forma agradeci verdadeiramente. 

[...]

Guardei o livro que estava lendo com Nessie na prateleira recheada com obras diversas, em sua maioria infantil, e depositei mais um beijo em sua testa, arrumando o cobertor. 

Exercitando os conselhos de Jazz, prometi mais uma vez que jamais faria algo que a machucasse, ou a Bella e ao bebê. E pararia de pensar no passado, embora inúmeras coisas me fizessem remoê-lo de vez em quando. Era inevitável. 

Ao passar pelo corredor, notei a porta do quarto do bebê entreaberta, sentindo o aroma maravilhoso familiar que vinha dali, resolvi ir checar.  

— Bella? O que você está fazendo? — a surpreendi, e ela rapidamente colocou algo debaixo do travesseiro do berço.  

Ela pigarreou. 

— Nada. Renesmee já dormiu?

Assenti. 

A encarei por algum tempo e ela revirou os olhos, voltando a pegar o que acabara de esconder, dois envelopes. Eu caminhei até ela. 

— Por que eu não consigo mentir para você? — murmurou desgostosa. 

E eu ri.

— O que é isso?

Ela suspirou fundo.

— Envelopes.

— Dã!

Ela se limitou a sorrir. 

— Não fique bravo, por favor... — e então ela me mostrou os destinatários, um endereçado à Nessie e o outro ao bebê. — Antes que você fale qualquer coisa, Edward, não é pelo fato de não confiar em vocês, mas eu ainda sou fraca e humana, vocês, você em especial, me garantiu que farão o possível para ocorrer tudo bem, mas ainda pode acontecer imprevistos, é inevitável... 

— Bella... — a interrompi, não conseguindo mais aguentar o que estava escutando.

— Me deixe terminar, por favor... Eu, você, precisamos estar preparados para qualquer coisa... Me dói, muito, pensar na possibilidade... porque já passei por isso uma vez... — as lágrimas deixaram rastros em suas bochechas enquanto ela tentava controlar a voz — Eles vão precisar de você... Mais do que nunca... Renesmee ela... 

Ela se interrompeu, soluçando e eu prontamente a peguei no colo, devolvi as cartas ao seu esconderijo e a levei para o nosso quarto. A coloquei na cama e a cobri, a abraçando. Depois de minutos tentando consolar Bella e a mim mesmo, porque a possibilidade também me amedrontava imensamente, ela foi capaz de continuar:

— Prometa para mim que você irá protege-los. 

— Bella, nada irá acontecer com você... — sussurrei. 

— Prometa, por favor. 

Suspirei, sentindo uma dor insuportável em meu peito e um medo devastador correr por meu corpo. Um pressentimento ruim. Cruel. 

— Eu... prometo... Eu te amo, meu amor. 

Encarei seus lindos olhos cor de chocolate, intensamente. 

— Eu também amo você. 

Ela se esticou um pouco e levou seus lábios de encontro asso meu num beijo com misto de sentimentos. Ali selávamos nossa promessa. Eu trouxe para mais perto, aproveitando cada segundo ao seu lado. Ela iria sobreviver. 

Eu não admitiria perde-la de novo. Por nossos filhos e nosso amor. 

[...]

Antes que Carlisle, Esme e Lara saíssem para caçar e estar fortes para os preparativos para o parto, Bella disse:

— Eu quero mais uma vez agradecer por tudo o que vocês estão fazendo, sinto muito por todo o estardalhaço que estou causando de novo...

— Não é necessário, querida. Nós somos gratos ao dobro por você ser tão condescendente e trazer felicidade à nossa família. Não deixaremos que nada de mal aconteça. Você é muito importante para todos, assim como o bebê que está em seu ventre. — Esme quem respondeu em seu tom maternal e amável, externalizando os pensamentos de todos os presentes. Ninguém melhor que minha mãe postiça para entender o quão importante era a vida de um ser inocente. 

— Obrigada, Esme. 

Bella fungou, sensível demais devido aos hormônios da gravidez. 

— Esme está certa, Bella. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que nada saia do controle. É uma promessa. — declarou Carlisle, afagando o cabelo de Bella e levando consigo os copos vazios sobre a mesa ao passar.

Esme também veio cumprimenta-la, assim como Lara que passou seu braço esquerdo sobre os ombros da amiga. 

— Muito obrigada por estar me ajudando novamente, Lara. 

— O que é isso, querida? Sabe que quantas vezes você ou a pequena precisarem de mim, eu estarei. Você vai ficar bem dessa vez, não se preocupe. 

Eles não passaram de dois dias e logo retornaram para os preparativos.

[...]

O som do Bip, Bip, me deixava angustiado. 

Embora estivéssemos executando tudo conforme as instruções de Lara, não podíamos evitar que enquanto o bebê crescesse quebrasse mais uma costela de Bella para ter mais espaço.  

Ver Bella tão debilitada naquela cama, pálida e suportando mais uma vez todas as partes dolorosas para que nosso filho sobrevivesse, me quebrava. Ainda que eu ficasse inconformado por não poder sentir em meu próprio corpo e poupá-la daquele sofrimento, também despertava em mim uma grande devoção por sua coragem e força materna. Ela era admirável.

— A mamãe está melhor, papai? — Renesmee tocou minha perna enquanto olhava apreensiva para mãe descansando e a intravenosa em sua veia que enviava soro e morfina para amenizar a dor.

Peguei minha filha no colo e a encarei com todo o amor que estava sentindo naquele momento. Como eu poderia ousar em sentir ressentimento pela criança que chegaria quando eu sabia no que ela se tornaria? Um ser tão lindo e puro?

— Sim, ela vai se sentir muito melhor quando aquela bolsa — apontei para o soro conectado à Bella — ficar vazia.   

— Ah, que ótimo então! — ela respirou aliviada e pediu em pensamento que eu me aproximasse um pouco mais de sua mãe, espalmou a mãozinha sobre a barriga de Bella amorosamente e disse: — Hey, irmãozinho ou irmãzinha, eu sei que você não machuca a mamãe por querer então eu não fico brava. O papai, a mamãe e eu queremos muito te conhecer. Nós vamos brincar muito e eu vou cuidar de você sempre. Eu te amo!

Arrebatado por aquele momento aconchegante também pus minha mão sobre a de Nessie.  

E aconteceu uma surpresa naquele instante, o bebê chutou. Ao mesmo tempo em que uma imagem de duas crianças numa campina surgiu, ambas de mãos dadas, e por onde elas passavam flores desabrochavam lindamente. 

— Papai! — Nessie exclamou com um enorme sorriso — O bebê chutou! Ele chutou para mim!

Ela se agitou em meus braços entusiasmada e eu devolvi o sorriso, compartilhando de sua felicidade.

— Ele também ama você, anjinho. Muito. 

— Que incrível. Ai, papai!

— E eu acho que ele está muito ansioso para conhecer você também.

Renesmee riu, deliciada com a nova informação. 

 — Eu não vejo a hora!