[Bella]

Eu sempre me perguntava qual seria o limite da imaginação de Alice. Talvez houvesse alguma coisa que a criatividade dela simplesmente... Não suportasse.

Eu estava errada... Afinal, o cenário à minha frente não poderia ter sido criado por alguém com uma criatividade limitada.

A cada passo que eu dava mais eu me surpreendia com cada detalhe ali exposto. Durante as últimas semanas, minha maior preocupação era que meu casamento parecesse com o picadeiro de um circo. Com tantos telefonemas feitos por Alice, criei em minha mente um cenário cheio de exageros e monstruosidades.

Mas a paisagem à minha frente fez com que todas as preocupações bobas em minha cabeça se esvaíssem.

A densa floresta que se estendia ao sul da casa dos Cullen, mesmo naquela escura noite, estava iluminada e cheia de vida. O vento batia em cada sacada da casa fazendo com que o tecido ali posto para o casamento, flutuasse preguiçosamente.

À minha frente, ao invés do usual tapete vermelho, uma madeira na cor de mogno fora posta na passarela. O som de meus saltos contra a madeira era ofuscado pela melodia vinda do piano. Ao longo do mesmo corredor, as rosas vermelhas de meu buquê tinham seus caules enrolados por algum tipo de aço dourado. Os bancos em que os convidados se sentavam, estavam envoltos pelo mesmo tecido que flutuava nas janelas.

O marfim combinava perfeitamente com os fios dourados que brilhavam intensamente sobre a luz das lamparinas expostas nas árvores ali próximas, que ajudavam a iluminar o local da cerimônia. Mesmo a decoração sendo composta por cores escuras e intensas, o cenário era suave e romântico, combinando perfeitamente com a luz do luar. Quando me encontrei caminhado na direção que eu devia ir, senti a pressão em meu braço, desviando minha atenção da linda visão a minha frente, olhei para o lado e encarei o rosto de meu pai.

— Não me deixe cair, pai. — eu murmurei.

— Nunca. — respondeu-me ele.

Respirei fundo.

— Vamos lá, amor. — eu disse a Renesmee que estava parada olhando timidamente para os convidados ali presentes e com a cesta de rosas nas mãos. Ela olhou para mim e sorriu nervosamente. — Você consegue...

Ela assentiu devagar.

A canção suave se transformou na marcha então era nossa deixa. Renesmee respirou fundo de olhos fechados e deu um passo à frente os abrindo, murmurando algumas palavras que eu não entendi direito, talvez repetindo o que Alice havia lhe dito nos ensaios.

Dei um passo juntamente de Charlie, contando-os mentalmente. Todos os rostos se viraram para nós, mas especificamente para mim. Dei um sorriso leve, um pouco descontável com tanta atenção. Mas ao olhar para frente eu o vi. Parado ao fim da passarela, vestia um paletó dourado com uma delicada flor branca no bolso, quando percebeu meu olhar sorriu largamente me tirando o fôlego.

Certamente eu retribuí.

Não consegui desviar meus olhos nenhum segundo dos seus. Suas íris estavam na tonalidade de um ouro amanteigado, eles eram suaves e emanavam tanto amor que me fez sentir melhor por ser o centro das atenções. Somente o braço do meu pai enlaçado ao meu me impediu de disparar direto até onde ele estava. Renesmee chegou e ficou ao lado do pai olhando-me e também exibindo um enorme sorriso. Edward afagou sua bochecha com ternura e depois voltou à atenção a mim.

Felizmente a passarela era curta, e finalmente eu estava lá. Edward estendeu a mão. Charlie pegou a minha e, num símbolo tão antigo quanto o mundo, colocou-a na de Edward.

— Acho bom cuidar bem dela, rapaz. — murmurou em tom ameaçador, mas riu no final da frase.

Edward assentiu e se limitou a rir.

─ Tenha a certeza disso, chefe Swan.

Ficamos em frente do Padre e a cerimonia iniciou. Nossos votos foram as palavras tradicionais já pronunciadas várias vezes, embora nunca como um casal como nós... Uma humana e um vampiro.

Pedimos uma pequena alteração ao Padre. Ele concordou em trocar a frase “Até que a morte nos separe” pela mais certa “Enquanto ambos estivermos vivos”. Enquanto ele pronunciava aquelas palavras eu vi o quanto tinha sido tola em temer aquilo, obviamente era o que eu queria e era o certo a acontecer. Além de ganhar a imortalidade, seria a esposa do homem que eu amava incondicionalmente.

Só percebi que estava chorando quando chegou a hora de dizer as palavras definitivas.

— Isabella Marie Swan, você aceita Edward Anthony Cullen como seu legitimo esposo?

— Sim. — eu disse num sussurro, piscando freneticamente para ver melhor seu rosto. Queria ter soado melhor.

— Edward Anthony Cullen, você aceita Isabella Marie Swan como sua legitima esposa?

Edward esboçou um enorme sorriso nos lábios, a palavra soou clara e vitoriosa:

— Sim.

— Eu os declaro marido e mulher, o noivo pode beijar a noiva! — disse o Padre em tom grave.

Edward estendeu a mão para afagar delicadamente meu rosto, tendo cuidado como se fosse as pétalas escuras que balançavam com o vento acima de nossas cabeças.  Sua expressão era radiante e seus olhos brilhavam como a luz das estrelas.

Ele inclinou a cabeça na direção da minha e eu me estiquei na ponta dos pés, atirando os braços com buquê e tudo em volta de seu pescoço. Ele me beijou com ternura e muito amor. Esqueci-me do motivo, das pessoas presentes ali, somente focando em nós dois. Eu me agarrei a ele quando fez menção em terminar o beijo, ouvi algumas risadas.

Os convidados aplaudiram e ele nos virou para ficarmos de frente para nossos amigos e familiares. No momento em que fiz isso vi Renesmee, embora estivesse sorrindo largamente lágrimas deslizavam de seus olhinhos, emocionada.

Nossa pequena filha. Tão amada e querida.

Seu vestido combinava perfeitamente com sua pele marfim, era branco cintilante com bordado de flores douradas, a pequena coroa deixava-a realmente parecida com uma princesa de verdade. A pequena disparou até nós e se lançou sobre Edward.

— Parabéns mamãe e papai! — declarou, animada.

Depois foi a minha vez de receber seu abraço e beijos.

— Obrigada, amor. — respondi e dei um beijo em sua bochecha.

[...]

O casamento se seguiu para a festa de recepção. Enquanto nos dirigíamos ao jardim dos fundos, vi que havia mais enfeites, mais flores escuras ao redor enfeitando o lugar. Foi instalada uma pista de dança no centro, algumas pessoas se remexiam desinibidas no ritmo da música.

Fomos recebidos primeiramente pelos Cullen, a família que me acolheu de todas as formas possíveis e que já fazia parte há bastante tempo, embora oficializado hoje. Também nos cumprimentaram os vizinhos e os pais dos amigos de Renesmee. Os pequeninos estavam sentados com ela numa mesa, comendo entre risadas. Tanto para mim, como para ela esse momento era especial. Ela percebeu meu olhar e sorriu. Eu retribuí.

Os Denali também se aproximaram para desejar felicidades, mas Tanya se manteve distante e apenas acenou com a cabeça... Será que um dia chegaríamos a ser menos hostis uma com a outra? Bem, não tinha nenhum problema em não ter uma resposta agora. E me surpreendi ao encontrar uma pessoa inesperada ali, no meu casamento.

— Violet? — eu disse, cética.

— Sim, vim desejar felicidades aos noivos... — disse ela um pouco receosa, o que me surpreendeu. Não parecia ser a mesma pessoa que eu “conhecia”.

— Hã, obrigada.

Edward a encarava descrente também, provavelmente tão surpreso quanto eu.

— Ah, qual é? Não façam essa cara de bobos. Nesse pouco tempo eu encontrei alguém que realmente me valoriza e que gosta de mim... Enfim, já que fui convidada para o casamento, por que não vir? — esclareceu, percebendo nossa descrença. 

— Obrigado, Violet. Ficamos felizes por você... — disse Edward, gentil.

Violet sorriu.

— Bem, além disso vim também para dizer que me arrependo por toda a confusão que causei...E por ter passado um pouco o limite. Eu sinceramente espero que sejam felizes junto com sua filha... Desculpe mesmo. ─ disse ela e me ofereceu sua mão para um cumprimento formal.

─ Bom, não há motivo para permanecer no passado. E obrigada mais uma vez. ─ eu falei e ela assentiu com um sorriso de canto.

─ Hum, eu já gastei demais o tempo dos noivos... Vou voltar para minha mesa porquê a comida está deliciosa. Beijinhos. ─ falou ela e deu uma piscadela retornando para uma mesa próxima dali, um rapaz loiro de porte forte, muito bonito, a recepcionou com um beijo no rosto quando ela chegou.

─ Uau...

─ Tirou as palavras da minha boca, amor. ─ relatou Edward, estreitando o braço em minha cintura.

[...]

Todas as tradições foram seguidas. Quase fiquei cega pelos flashes das câmeras enquanto segurava a faca sobre o bolo enorme de cinco andares. Três bonecos de biscuit colocados no topo simbolizavam Edward, Renesmee e eu. Revezamos oferecendo o pedaço um ao outro. Vi incrédula ele engolir corajosamente sua parte.

Joguei meu buquê, que acabou pousando sobre as pequenas mãos de Renesmee. Edward fez uma careta e eu ri o empurrando de leve com o ombro. Ela ficou dando saltinhos, muito alegre. E não ajudou em nada no temperamento do pai ela mostrar o arranjo de flores ao seu amigo Taylor e ele sorrir alegando que seria seu buquê no casamento deles quando fossem mais velhos.

Ouvi o suspiro inconformado de Edward.

[...]

Hora dos discursos.

Edward e eu nos encontrávamos sentados na mesa reservada para os noivos. Do meu lado direito nossa filha se deliciava com um pedaço do bolo de chocolate. Emmett subiu num pequeno palanque posto um pouco antes da festa.

Ele deu batidinhas com o dedo no microfone para testar o som e sorriu maliciosamente em minha direção antes de começar. Por alguma razão senti meu rosto queimar involuntariamente.

─  É... Olá a todos. Hoje é um dia de grande alegria para nossa família... Parabéns aos noivos! E também gostaria de propor um brinde a minha nova irmã... Bella, espero que tenha dormido bastante nesses “vinte” anos porque não vai fazer isso por um bom tempo!

E gargalhou estrondosamente erguendo a taça de champanhe.

Olhei abismada para Edward que balançava a cabeça, pesaroso. Os convidados provavelmente não compreenderam a real verdade por trás daquelas palavras. Daquela piadinha interna de vampiros. O silêncio crucial que se instalado ali não se estendeu por muito tempo e algumas pessoas riram.

Os discursos se seguiram. Até mesmo Charlie se arriscou em dizer algumas palavras como “cuide da minha filha e da minha neta”, “eu tenho uma arma”, “vou ficar de olho em você, Edward” ... E “Eu te amo, Bells, seja muito feliz com o homem que escolheu amar...”.

Fiquei bastante emocionada e num deslize pensei nela. Certamente desenterraria episódios constrangedores de minha infância para divertir os convidados ou apenas diria o quão feliz está por mim. Olhei para Renesmee, sua avó a amara tanto também... Não consegui segurar as lágrimas e elas rolaram livremente pelas minhas bochechas. Tentei ao máximo manter Renée longe de meus pensamentos, sabia que ficaria assim. Meu coração se apertou e segurei a mão de Edward para buscar algum conforto.

— Bella, tudo bem? — indagou preocupado.

— Renée. — sussurrei, incapaz de falar mais alto.

Edward ergueu minha mão e a beijou ternamente. Ele não disse mais nada, mas seu olhar de certa forma me aqueceu. Realmente ele era meu porto seguro.  

Aos poucos consegui me controlar. Funguei baixinho e então fui me recuperando realmente ao ver o pequeno ser que subia no palanque. Esme a ajudou tirando o microfone do pedestal e lhe entregando.

— Olá... — começou ela e novamente senti que uma crise de choro se aproximava, eu não aguentaria tanta emoção — Eu me chamo Renesmee, mas quase todos me chamam de Nessie. Hoje é um dia tão especial e importante para mim assim como para os meus pais... — ela sorriu largamente — Só queria dizer que eu os amo muito e que desejo muitas felicidades! Devem ser as duas pessoas mais importantes na minha vida... Então... Acho que vou parar por aqui de descrever meus sentimentos, pois ficaria aqui falando a noite toda e eu tenho dormir porque o papai e a mamãe me obrigam a dormir cedo! — ela fez um leve careta que fez todos rirem especialmente Edward e eu. — Mamãe obrigada por não desistir de mim. E papai obrigado por me aceitar e cuidar de mim quando a mamãe não pode. Amo você com toda minha alma! — ao fim do seu discurso ela fungou e gotículas molharam suas bochechas. Eu não estava diferente.

Ela desceu do palanque e todos aplaudiram alguns sorridentes e outros emocionados. Quando ela voltou para a nossa mesa eu lhe abracei com força e muito amor. Jamais desistiria dela, valeu a pena toda a minha dor, a minha morte, tudo para tê-la em meus braços.

— Nós também amamos você, muito. — eu disse contra seu cabelo.

Depois ela pulou no colo de Edward, e ficaram abraçados bastante tempo. Declarando o amor que sentiam um pelo outro. Enxuguei minhas lágrimas e meu pai passou seu braço em minha volta, descansei minha cabeça em seu ombro.

Edward deixou Renesmee em meu colo e seguiu até o palco. Ajustou o microfone no pedestal e olhou para nós um sorriso ofuscante desenhado no rosto. 

— Boa noite amigos. Como muitos disseram, hoje é um dia realmente especial... Quero deixar minha mensagem também... É realmente incrível como minha vida mudou tanto, antes eu acreditava ser impossível existir alguém no mundo inteiro que eu amasse um dia e que eu seria retribuído. Então... Isso aconteceu anos atrás, eu sei que cometi muitos erros, e me arrependo de cada um deles... — fez uma pequena pausa olhando no fundo dos meus olhos — Mas nem cometendo todos eles, Bella deixou de me amar... Ela me aceita do jeito que eu sou e o que sou... — deu o meu sorriso favorito — E se não fosse o bastante todo o amor que recebi, também me presenteou com alguém por quem serei eternamente grato, nossa Renesmee. — eu sorri emocionada e era inevitável prender as lágrimas — Por isso quero propor um brinde a minha linda esposa... E também a minha filha. — seu sorriso foi de vitória e disse com todo amor: — Eu amo vocês, Bella e Nessie! — todos ergueram as taças de imitando Edward e depois aplaudiram.

Eu sorri largamente e beijei os cachos de nossa filha que também havia erguido sua taça contendo o coquetel de frutas sem álcool.

Depois dos discursos liberaram a pista de dança novamente; então Edward pegou minha mão e me guiou até a pista de dança. Eu arqueei uma sobrancelha e ele apenas passou a mão em volta de minha cintura, entrelaçou sua outra mão com a minha pousando-a abaixo do peito. Eu deitei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos. Ele nos guiou na dança, para nós era um momento romântico mesmo a música não sendo uma canção lenta.

[Edward]

Não havia palavras para descrever o sentimento que se intensificava a cada momento dentro de mim. O casamento fora apenas a abertura para eu me tornar o homem mais feliz da face da terra.

Quando terminei de dançar com Bella a música dos noivos, vi uma pessoinha sentada numa mesa sozinha. Balançando os pés e encarando o chão. Charlie tirou Bella para dançar e foram para o meio da pista.

Pigarreei quando cheguei até Renesmee. Ela levantou a cabeça confusa, mas ao me ver em sua frente sorriu. Agachei-me e encarei seu rostinho triste.

— Alguma coisa errada, meu anjo? — perguntei e afaguei sua bochecha com carinho.

— Os meus amigos já foram embora.

— Está um pouco tarde, devem estar cansados. Mas você não gostaria de dançar comigo? — propus e ela sorriu largamente assentindo. Eu a peguei no colo e caminhei até a pista novamente. Uma canção suave tocava, ela pousou sua cabeça em meu ombro e inspirei seu aroma doce e floral.

— Amo você, papai, muito. – murmurou ela.

— Também amo você, meu anjinho... Nunca se esqueça disso.

— Não vai me contar aonde vai para a lua de mel com a mamãe? – perguntou.

— É segredo, mas conto para você depois. — cochichei no seu ouvido, pois Bella caminhava em nossa direção.

— Tá. — ela sussurrou de volta.

— O que tanto vocês dois cochicham? — perguntou semicerrando os olhos.

— Ah, não é nada! — nós dois rimos o que a fez apertar mais os olhos achocolatados. Seu vestido era divino, branco com camadas em cetim e umas pedrinhas douradas no pano que começava abaixo do pescoço e pendia acima da cintura.

— Segredos entre pai e filha, eu sei... Vamos dançar nós três...

 Renesmee ficou entre nós dois. Girando e rindo conosco, ganhando atenção dos convidados que restaram da festa. Charlie nos observava e ofereceu um aceno de cabeça quando o notei, um sorriso de lado presente.

Aquela realmente era a abertura para a felicidade.