Amor De Pai escrita por Little Flower


Capítulo 10
Revelando o segredo novamente... Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)

Capítulo atualizado em 02/03/21



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[Edward]

Desci as escadas, nervoso. Quando passei pela porta da sala de estar vi Bella, ela estava de costas olhando através da parede de vidro com os braços cruzados. Como se sentisse minha presença começou a falar.

— Edward, eu preciso saber... Alguma coisa está acontecendo aqui... — disse ela — me diz, por favor! — seu tom quase de suplica. Seu questionamento continuou.  — Por que Renesmee me chamou de mãe quando me viu pela primeira vez? Por que eu simplesmente não me lembro de você, de sua família?

Ficou de costas ao despejar tudo aquilo, como se não tivesse coragem de me encarar enquanto as perguntas saltavam de sua boca.

— O acidente fez você perder algumas memorias, Bella. Meu pai mesmo falou.

— Tem mais coisas, eu sei que tem e você não quer me falar... — continuou a pedir. 

Respirei fundo. Isso não seria saudável, não para sua recuperação mental, pois não sabíamos se parte de sua memoria — que nos conhecia — voltaria, ou seria para sempre. Tínhamos chegado à conclusão que jogar toda a verdade de uma vez não seria a melhor alternativa, nem contar que ela estava vivendo rodeada de vampiros. Ou a mais crucial, como explicaríamos sua maternidade?

— Bella, eu não posso... — eu respondi novamente, de forma calma, embora por dentro eu estivesse um verdadeiro caos.

Ela se virou para mim, seu rosto estava corado e banhado em lágrimas. E aquilo me partiu por completo. Meu coração implorava para que eu revelasse tudo que ocultamos ou uma pequena parte ao menos. Eu poderia conquista-la novamente, me redimir enquanto ela não se recordava de fato da minha estupidez em deixa-la tantas vezes... Mas não seria justo. Não com o meu amor. Eu a machuquei tanto.

Neguei com a cabeça, um tanto relutante.

Toda sua expectativa diluiu fazendo com que ela me desse as costas novamente, respirou fundo e no segundo seguinte escutei soluços.

— Eu queria poder me lembrar de tudo. — sua voz era tremula — Você deve ter seus motivos para esconder coisas de mim, eu não vou insistir mais... Vou tentar entender. Mas não é tão fácil...

Caminhei até ela e lentamente estiquei minha mão, tocando seu ombro. Ela não se retraiu, na verdade ignorou o toque. Aproximei meu rosto de seu cabelo, inspirando o aroma delicioso discretamente.  

— Bella, eu peço apenas que confie em mim... Por favor.  — eu sussurrei ao pé de seu ouvido, fazendo com que ela se voltasse para me olhar de forma intensa, sua pele se arrepiou e eu senti uma necessidade imensa de beijá-la.

Por alguns segundos tive um vislumbre de reconhecimento ali, que não durou mais que segundos. Toquei seu rosto com delicadeza e ela fechou os olhos apreciando o toque. No momento que eu fiz isso, um choque elétrico passou por meu corpo e um alarde soou em meus ouvidos. Minha pele era fria. Retirei minha mão no mesmo instante.

— Eu confio. — sussurrou ela, retornando a abrir os olhos chocolates um tanto melancólica.

— Você saberá tudo, eu prometo. — foi um esforço tremendo dizer aquilo, o receio de que ela percebesse o tom gélido anormal do meu corpo estava me consumindo. Porém vê-la de certa forma entregue, eu senti que podia reconquistar seu amor, merecê-lo novamente. E eu jurava por tudo que era mais sagrado, permanecer ao seu lado durante toda minha existência patética. 

— Bella, tem algo de errado? — percebi sua expressão pensativa, apreensivo.

Ela ficou em silêncio por um momento, apenas me observando, como se tivesse escolhendo as palavras certas.

— Quando... Quando você tocou meu rosto... Senti, como se isso fosse familiar...

— É mesmo?

— Sim. Você sempre tocava em meu rosto assim?

— Bella... — falei em tom de censura e ela riu dando de ombros. Não consegui reprimir o sorriso, tão teimosa.

— E onde está sua família?

— Eles resolveram passear um pouco por aí, fazer compras, algo assim.

— Ah certo. O que você acha de assistirmos um pouco de TV?

— Ótimo, vamos lá!

Escolhemos um filme teen que acabara de começar e nos sentamos lado a lado.

— Bella, quero que prometa uma coisa. — falei de repente. Ela me olhou confusa, mas assentiu.

— Se estiver ao meu alcance.

— Aconteça o que houver você não irá embora.

— Mas porquê faria isso?

— Só prometa.

— Tudo bem, eu prometo. Acho que ficará surpreso o quanto eu já me apeguei a todos, principalmente sua filha, Edward. Só sairei daqui se me expulsarem! — disse ela com escárnio.

Eu ri.

— Eu acho muito difícil isso acontecer. — eu disse convicto.

[Bella]

Tinha alguma coisa acontecendo. Algo de muito importante que os Cullen estavam escondendo de mim. Desde o momento em que Renesmee me disse o que Jacob fizera eu comecei a suspeitar que havia uma explicação muito forte para que ele tentasse atacar àquela menininha tão inocente.

Eles eram uma família ímpar, com costumes esquisitos. Como por exemplo, eles sempre faziam suas refeições em horários incompatíveis comigo ou com Renesmee. Ou os banhos excessivos. Ou passeios misteriosos de última hora. Sem ressaltar a temperatura anormal de Edward, o que quase perguntei sobre no meio da última conversa séria. Talvez ele portasse alguma doença desconhecida por mim. Fiquei os observando discretamente e elaborei uma lista num bloquinho de notas decorado que Renesmee me dera. Eu não sabia o que estava procurando, entretanto.

Mas algo rondava aquela casa, aquelas pessoas... E eu queria descobrir. As tantas perguntas que cercavam minha mente me causavam dores de cabeça e embora eu desconfiasse do que realmente estava rolando, eu não sentia nenhum pingo de medo. Eu me sentia... como se pertencesse aquele lugar. Eu não podia esquecer que eles eram amigos de Charlie e meus. Se eu lembrasse deles tudo seria mais fácil, sem dúvida. Mas Edward se recusava a dizer uma palavra sequer. Ou Alice. Para não me assustarem, talvez?

Se lobos existiam, o que já era surreal. Outras criaturas “mitológicas” também poderiam.

O que eu estou fazendo? Será que eles eram uma espécie de inimigos dos lobisomens? O que eram? E por que eu não estava arrumando as minhas coisas? Porque não tinha nenhuma prova.

Sacudi a cabeça, determinando parar com as suposições por um tempo. A dor de cabeça estava aumentando.

Por outro lado, tudo o que aconteceu até hoje fora incrível. Eu realmente me sentia em casa. A guerra de água na semana passada com Edward e Renesmee, foi muito especial para mim. A conversa com ele. Tudo isso; os estranhos sentimentos que eu sentia por ambos, finalmente eu tinha conseguido compreender o que era. Amor. Bastou alguns dias para que eu apaixonasse Edward e Nessie? Exatamente. Mas pelo primeiro, eu julgava ser possível nutrir sentimentos há muito tempo. Apenas uma intuição. Eu já amava os dois. Ao ouvir Renesmee me chamar de mãe eu havia sentido uma emoção intensa demais, nunca sentida antes. Como se aquilo soasse como a melhor música existente no universo.

Não só amava Edward e Renesmee, mas também toda a família Cullen. Eu havia me apegado demais a eles. Aquelas pessoas eram bondosas demais e quase me senti mal pela lista que criei. E eu não conseguia ficar um minuto sequer longe deles. A não ser Rosalie que de todos, parecia fazer questão de se manter mais afastada de mim. Talvez tenha acontecido um desentendimento entre nós? Ou algo pior.

Eu e Edward passamos a nos falar todo o tempo. E era quase palpável que estava rolando alguma coisa entre nós. Era bom, eu sentia a necessidade de sempre tê-lo ao meu lado. Era como se eu o conhecesse desde sempre. O que de fato era verdade.

Pousei a escova sobre a cômoda do quarto, meus cabelos estavam soltos, usava uma blusa azul marinho bordada de florezinhas vermelhas combinando com a calça jeans e meu sapatênis branco. Depois de ajudar a arrumar Nessie estava prontíssima para mais um dia maravilhoso com eles. Demorei um tempo para adotar seu apelido, eu não sabia a razão mas me incomodava um pouco, além de que seu nome era tão lindo e me fazia recordar Renée. Minha mãe que não atendia minhas insistentes ligações. Edward dissera para que não me preocupasse, pois poderia ter acontecido algo com a linha ou seu celular, realmente ela e a tecnologia precisavam fazer as pazes.    

— Bella! Vamos! — Renesmee puxou minha mão. Hoje íamos ao parque, Edward, ela e eu. Ele me disse que aos finais de semana sempre a levava até lá.

Descemos as escadas e todos se encontravam ali.

— Olá, querida. — disse Esme sorrindo, impossível não retribuir.

— Oi Esme. Emmett, Alice, Jasper e... Rosalie. — respondi com empolgação, porém hesitante no último nome. Os meninos acenaram com a cabeça, mas Alice esboçou um sorriso quase infantil e Rosalie virou o rosto, causando um incomodo na boca do meu estomago.

— Bella, vamos às compras amanhã... — Alice informou, radiante.

— Aí Alice... — gemi.  

— Nada de “Aí Alice!”. Vamos renovar seu guarda-roupa minha amiga. — disse ela e ficou quicando no lugar, foi quando Jasper a enlaçou para contê-la.

Antes de irmos, Nessie saiu distribuindo beijos e abraços, foi quando vi Rosalie transformar sua carranca em uma expressão luminosa. Uma nova indagação veio do nada. Será que era por Renesmee que Rosalie me tratava com indiferença? Será?

Nessie puxou minha mão e a encarei, ela pediu com os olhos para irmos.

— Tudo bem, vamos indo... Até mais, pessoal.

— Tão lindinhos, parecem uma família feliz! — cutucou Alice.

— Eu também acho! — concordou Esme.

Não restava dúvidas de que minhas bochechas tinham ficado vermelhas.

— Vamos ser, claro! — Renesmee falou, empolgada. E ambas riram.   

Acenamos e andamos até a garagem onde Edward esperava encostado no Volvo. Quando nos enxergou desenhou no rosto aquele sorriso torto que me deixava tonta. Mas não imaginava um só dia sem vê-lo.

— Hey, garotas. — disse ele com sua voz aveludada e doce como mel.

— Oi, de novo. — respondi meio sem ar e também sorrindo.

Ele pôs Renesmee em sua cadeirinha, sentei no banco do carona e Edward no do motorista. 

— Então, em qual parque em especial estamos indo?

— Ah, é aonde nos vimos na primeira vez. — Nessie falou animada.

— É mesmo? Que legal! — imitei seu tom.  

Liguei o rádio onde tocava uma música agitada. Não era meu tipo de música preferida, mas era perfeita para nosso estado de espirito. As cores eram tão vivas lá fora, mesmo com o céu cinzento — de quase sempre — elas não deixavam de ser lindas. Tão diferente de Forks... Na terça-feira eu tinha interrogado meu pai por mais detalhes sobre os Cullen — na verdade, tentei — e ele não cooperou também.

E lá estava eu ávida por respostas quando disse a Edward que esperaria pelo dia em que tudo seria finalmente esclarecido e que não os deixaria aconteça o que acontecer. Meu lado curioso estava incontrolável. Eu não seria tão forte em ir embora mesmo, como havia declarado antes, eu me apegara demais a eles.

Estacionamos em frente ao parque e Edward se virou para encarar a filha.

— Meu amor, quer lanchar antes?

— Na uh, estou bem. Podemos ir depois? — perguntou ela.

— Claro. — assentiu.

Edward desafivelou seu cinto enquanto eu me livrava do meu e saiu para desprender Renesmee. Abri a porta e saltei no banco, mas meu talento em ser tão desastrada fez meu sapato deslizar e provavelmente ia me machucar seriamente. Porém antes de acontecer uma tragédia, senti mãos gélidas e fortes me segurarem fortemente. Encarei seus olhos de cor âmbar hipnotizantes e calorosos, por um breve momento pensei que ele me beijaria, pois estava muito próximo e me fitava com carinho, mas me firmou no chão e eu me empertiguei.

Como ele chegou a mim tão rápido?  Depois de passado o efeito fiquei me perguntando aquilo. E olhos? Tinha esquecido completamente de adicionar aquele fator à lista. Novamente a pontada de culpa em meu peito. Mas não conseguia evitar.   

— Olha lá papai! — apontou Renesmee para três crianças brincando no escorregador. — meus amiguinhos!

— Vai lá com eles meu anjo. — disse ele repleto de animação exibindo um sorrindo. Ela estava se preparando para correr quando se voltou para mim. Fez gesto para que eu me abaixasse e eu o fiz.

— Tudo bem, lindinha?

— Posso dizer que você é minha mamãe? — perguntou com a expressão esperançosa. Era inevitável reprimir as lágrimas de emoção, Renesmee era uma menina tão encantadora e especial, ela já fazia parte da minha vida, mas não se enquadrava como minha amiga, ou como uma irmãzinha, ela era mais que isso, talvez eu a amasse como parte de minha família, como uma filha realmente.

Se ela precisava de uma mãe, eu seria ela.

— Claro. — eu disse e num movimento rápido eu limpei meu rosto. — Edward?

— Não vejo problema algum, Bella.

Ela me puxou pela mão onde seus amiguinhos estavam e foi instantânea a animação que correu por seus rostinhos ao ver Renesmee se aproximando. Era nítida a reciprocidade. As crianças eram tão puras.

— Oi, pessoal!

— Oi, Nessie. — disse o garotinho moreno.

— Oi, Nessie. — respondeu a menininha loira de nome desconhecido, pois Renesmee não tinha especificado quem era quem.

— Ness! — a garotinha ruiva falou cheia de entusiasmo e então olhou para mim — Quem é ela?

— Essa é a Bella, minha mamãe. — apresentou Renesmee com orgulho. Eu sorri calorosamente para ela e depois para as crianças.

— Ela é muito bonita, oi senhora Cullen. — disse a loirinha educadamente, que graça.

— Oh, não, querida. Meu sobrenome é Swan.

— Hum... Pensei que a senhora fosse esposa do Edward Cullen o pai da Nessie. — ela relatou coçando o cabelo com cachos nas pontas, meio pensativa.

— Oh, não. — respondi um tanto envergonhada, olhando de relance para Edward, que nos encarava de volta com o sorriso torto. Como se soubesse do que estávamos falando, o humor reluzindo em sua face deslumbrante.  

— Mas em breve será, tenho certeza... — Renesmee sussurrou na orelha da loirinha. A menina riu colocando a mãozinha em frente à boca para abafar o riso. Eu fingi não perceber, porém não consegui evitar um pequeno sorriso.  — Essa é a Maggie, Gina e Tay!

Eles pareciam ter a idade de Renesmee e falavam perfeitamente bem como ela.

— É um prazer conhecer vocês.

Gina estendeu a pequena mão para um cumprimento mais formal ao passo que Maggie e Taylor trocaram um high five comigo. O menininho moreno me recordava Jacob. Mas bloqueei essa observação, pois não queria mais pensar nele. Eu não conseguia esquecer que quase machucou Renesmee. Se eu o encontrasse de novo a primeira coisa que faria era lhe dar um soco na cara, provavelmente eu quebraria minha mão, mas eu não me importava.

— Hey Nessie, vamos logo brincar! — Maggie disse entusiasmada pegando a mão dela, mas antes de qualquer passo olhou para mim e eu assenti, os quatro correram saltitantes em direção aos brinquedos soltando gritinhos, o que me causou um riso involuntário. Foi quando eu me virei para voltar até Edward que não se encontrava mais sozinho, ao seu lado havia uma garota ruiva.

Senti um frio na barriga e uma pontada de raiva. Eu já tinha visto aquela garota em algum lugar. E por que estava ao lado do meu... Quer dizer, do Edward de forma tão íntima?

Caminhei tranquilamente — o oposto do meu interior fervente —, não entendia o motivo do obvio ciúme que me corroía, ele e eu não tínhamos nada afinal. Embora nos últimos tempos não era o que parecia.

Quando cheguei perto o suficiente para me inteirar do assunto pude notar que a garota não parava de tagarelar sem parar. Por um breve instante me recordei de Jessica Stanley de Forks.  

— Hum, Edward? — exibi um sorriso que quase foi capaz de rasgar meus lábios. Ele olhou para mim e sorriu de forma aliviada? Ou era impressão minha? Mas ele realmente não parecia estar à vontade naquela situação. Tive que esconder a satisfação evidente que aquilo me causou.

— Bella.

A garota ruiva pigarreou fazendo-me nota-la de novo. Eu era uma pessoa ruim por querer arrancar seu cabelo? Tentei ao máximo não revirar os olhos também.  

— Olá, eu conheço você? — perguntei a ela da maneira menos rude possível.

— Todos me conhecem, querida. Sou Violet Vermont. — disse inflando o peito ao pronunciar o sobrenome. Muito egocêntrico pela minha perspectiva.

— Desculpe, não.

— Ah, você é a Bella Swan, a novata. — relatou, indiferente. — Por isso deve não me conhecer.

— Bom, acredito que sim. — constatei dando de ombros, fazendo pouco caso. Sua testa ganhou um vinco, minha falta de interesse em não querer saber mais sobre ela não passou despercebido.  

— Bem, e o que faz aqui? — perguntou num tom que eu não gostei nenhum pouco. Minhas mãos coçaram para acertar alguma coisa.

— Estou conhecendo um pouco mais a cidade com o Edward, sabe como é, sou a novata lembra?

Edward riu ao meu lado. Ele não poderia adivinhar que eu estava com ciúmes, ou poderia? A hipótese fez meu estômago se revirar. Ele estava se divertindo? Quis acertá-lo por isso também.

— Claro. Pelo o que Edward me contou vocês são bastante amigos. — ela enfatizou a palavra de tal forma que chegou ser irritante. — Você vai ficar aqui por muito tempo?

— Ah, sim. Muito tempo. — meu tom soou hostil demais, mas não me arrependi. Não me lembrava de tratar alguém assim antes. Não queria deixar o ciúme me dominar daquela forma, porém aquela garota era tão... Argh! E eu a trataria de forma diferente caso ela não estivesse sendo tão antipática.

— De onde você veio mesmo?

— Forks, Washington.

— Nunca ouvi falar. — respondeu ela, presunçosa. Não foi o que ela disse, foi como ela disse. O olhar de desdenho. 

Olhei para Edward indignada e ele a encarava seriamente. Forks podia não ser a cidade mais popular do país nem a primeira escolha de destino, porém ela era especial para mim, meu pai morava ali, e outras pessoas importantes também. Até mesmo os Cullen passaram por lá. Eu estava criando raízes e histórias. Quem ela pensava que era para falar daquele jeito?

— Sinto por isso, Violet. É um lugar muito aconchegante. — ele disse percebendo meu desconforto.

A tal ainda sorriu. Sorriu! Como se não tivesse acabado de praticamente ter me insultado segundos atrás. Antes que eu a respondesse também percebi uma movimentação.

— Mamãe! — gritou Renesmee correndo em minha direção. Quando chegou eu me agachei para fitar seu rosto.

— O que houve? — perguntei preocupada, checando se ela havia se machucado.

— Podemos ir lanchar agora? Estou com fome. — disse ela com uma careta adorável, alisando a barriga teatralmente. Fiquei aliviada por não ser nada grave. Eu me levantei e peguei sua mão.

— Edward. Nessie está com fome, vamos até a lanchonete? — eu perguntei, ignorando total a garota ao seu lado. Eu tinha vontade de esganá-la.

Sacudi a cabeça. Espantando essas ideias de minha mente.

— Claro. Vamos.

— Ou talvez mais que amigos já que a filhinha dele está a chamando de mamãe... Enfim, até mais Edward... — a tal de Violet lhe disse melosamente. E ainda foi capaz de acenar para mim. — Tchau, Bella e Nessie.

— Se dependesse de mim, nunca mais queria vê-la! — eu murmurei irritada para mim mesma, caminhando com Renesmee na frente de Edward, ele riu. Talvez não tão baixo o suficiente. Renesmee também ria, mas mantinha a mão em frente à boca numa tentativa de abafar o riso. — O que é tão engraçado, Renesmee?

— Está com ciúmes! Você gosta do papai! — cantarolou ela.

Era tão obvio assim? A quem eu estava tentando enganar? Eu gostava de Edward sim; sempre senti algo por ele desde que vim morar aqui, até mesmo quando o vi pela primeira vez nesse mesmo parque. Ou até antes disso, como eu suspeitava. Era inexplicável.

Em minhas milhares de perguntas mentais, não percebi quando Renesmee soltou minha mão e correu berrando “você não me pega!”. A alcancei no meio da rua antes que desse qualquer outro passo, meu coração martelando em meus ouvidos, foi quando escutei, o barulho de pneus cantando no asfalto. Virei o rosto e vi um caminhão enorme avançando em completa velocidade na nossa direção, a buzina reverberando loucamente, meus olhos se arregalaram diante do inevitável.

“Se mova, agora!”.

O medo me fez paralisar no lugar, meus músculos não reagiam, embora meu subconsciente gritasse para que eu agisse. Foi tudo tão repentino. Apenas fechei os olhos e ao invés de sentir o impacto e ser arremessada para longe tive a sensação de estar sendo carregada com rapidez. Meu Deus! Renesmee! Eu os abri imediatamente e me vi segurando fortemente Renesmee nos braços chorando assustada, ambas sobre a grama.

— Shiiiu! Lindinha, está tudo bem. —  minha voz soou tremula demais.  

Como fomos parar ali final? Tentei me mexer, mas braços fortes me impediram, eu virei o rosto no mesmo instante apenas para constatar quem formava um casulo protetor sobre Nessie e eu, Edward nos fitava preocupado.

— Nessie, meu anjo. Você está bem? — se dirigiu a Nessie primeiro, a pequena meneou a cabeça ainda meio abalada. Depois, seus olhos âmbar caíram sobre mim. — E você, Bella? Está machucada?

Neguei com a cabeça enquanto mais duas palavras eram adicionadas à minha lista secreta. Velocidade sobrenatural.

— Como... como você nos pegou a tempo?! — questionei tolamente, sabendo que ele nunca falaria nada.

— Er... Eu... Eu vi vocês e o corri o mais rápido possível! — explicou ele de forma tranquila, que me irritou profundamente. Tampouco acreditei nisso. Edward não estava tão distante, mas o bastante para conseguir nos alcançar. Sem mencionar que ele se encontrava impecável, ao contrário de mim que estava um caco e coberta de suor. Foi quando explodi:

— Edward, eu sei que prometi ter paciência, mas isso? Eu não aguento mais suas mentiras! — me desvencilhei de seu abraço e levantei do chão com Renesmee. Eu continuava a niná-la em meus braços para acalentá-la, embora ela já estivesse mais calma.

— Eu não sei do que você está falando... — foi capaz de dizer quando se pôs de pé, fitando-me com intensidade e carinho. O que eu tinha perguntado mesmo? Sacudi a cabeça desviando os olhos dos seus. Às vezes eu sentia raiva de mim mesma quando Edward causava essas oscilações de reações. Eu estava irritada! E queria continuar assim.

— Não se faça de desentendido! Seus olhos, eles mudam de cor! Você é veloz e... — relatava entredentes, porém ele me parou com a mão, respirando fundo.

Me encarou por um longo momento antes de sentenciar:

— Aqui não.

Assenti me sentindo ansiosa ao passo que Edward parecia desgostoso. Eu finalmente ia descobrir a verdade?  E qual era ela? O que os Cullen escondiam?

— Me passe Renesmee, por favor! — não hesitei em fazer o que ele pediu. — Tem certeza que está bem, anjinho? Está sentindo alguma dor? — perguntava e ela negava com a cabeça. Suspirou aliviado mais uma vez. — Papai está aqui. Compramos algo no caminho certo?

— Tá bom, papai. — respondeu Nessie suavemente.

[...]

Edward nos obrigou a passar no hospital onde Carlisle trabalhava, ainda que afirmássemos que não era necessário. Ele nos examinou, constatando que de fato tudo estava em perfeita ordem. Fez um pequeno interrogatório para verificar se precisávamos de algum remédio, mas não foi preciso também. E logo fomos liberadas.

Paramos em um drive-dru do Mcdonalds e nos deliciamos com nossos sanduiches. E mais uma vez Edward não nos acompanhou.  

Renesmee dormiu em meu colo no caminho para casa, de fato eu sentia como se aquele fosse meu lar. Não dissemos uma palavra ao entrar no carro, às vezes olhava de relance para Edward, meu estomago se embrulhava com cada ideia mirabolante que assaltava meus pensamentos.

— Minha filha, que bom que você está bem... — Edward plantou um beijo na testa de Nessie ternamente assim que a acomodou em sua cama. A cada dia ela estava mais linda e mais parecida com o pai.

— Você a salvou, e a mim também... — concordei enquanto o observava cobri-la, foi quando ele se virou para me encarar. E eu disse: — temos uma conversa pendente, lembra? — ele acenou levemente com a cabeça.

Saímos em silencio. Descemos as escadas e chegamos à sala de estar. Os outros deviam estar por algum lugar da floresta, fazendo trilha assim como nos comunicaram, após verificarem como Nessie estava, seguiram com o planejamento. Ainda estava de tarde, afinal.

— Bom, o que você quer saber exatamente? — pediu ele e gesticulou para que eu prosseguisse com o interrogatório.

— Eu apenas quero saber a verdade. Durante esse tempo eu notei algumas peculiaridades... Não é necessário que mencione, não é? — ele meneou a cabeça — E o mais recente, uma pessoa normal não seria rápida o suficiente para evitar que o caminhão nos atropelasse. Não tinha como. Confesso que você não estava tão longe assim, mas o suficiente para nos alcançar.

Ele fechou os olhos respirando fundo muitas vezes antes de falar.

— O que você acha que somos?

— Eu não sei, mas existe algo. Algo de muito sério para até mesmo Jacob ameaçar Renesmee.

— Não diga esse nome, por favor. — seus olhos se abriram e pude notar efeito que a menção ao nome de Jake surtiu. Não senti medo, por outro lado, conseguia entender perfeitamente a raiva que aquele fato causava.

— Me desculpe. — pedi me sentindo culpada por ter trazido a tona àquele dia novamente. Mas aquele fogo ardente de ira em seus olhos se dissipou ao fim das minhas palavras.  

— Desculpe a mim, Bella. Mas você sabe como eu fico quando lembro... — concordei com a cabeça. — Nós não nos damos bem porque somos inimigos naturais. Força e velocidade são habilidades da minha espécie.

— Vocês também são lobisomens?

Edward esboçou uma careta que julguei engraçada e ao mesmo tempo encantadora.

— Não. Não somos lobos. Meus olhos mudam de cor pelo o que eu sou... Ficam negros de fome... De sede... São transformados em dourados quando eu finalmente me sacio... Na verdade, somos vampiros.

Minha testa ganhou um vinco.

— É, claro. Sua temperatura fria... — ele ergueu uma sobrancelha, os braços cruzados.

Tentei encontrar qualquer traço de medo dentro de mim, mas eu estava totalmente tranquila. Como se ele tivesse acabado de falar alguma amenidade. Talvez porque eu os conhecia e sabia que eles não eram monstros sugadores de sangue de pessoas inocentes... Ou eram? Não. Se os Cullen fossem criaturas horripilantes porque só os via agir com nobreza e afeto?

Até mesmo vampiros teriam dificuldade em mascarar algo assim. Tinha certeza que eles eram diferentes.

Será que meu pai sabia que o que eles eram? E se sabia do segredo e permitiu que eu ficasse aqui, ele acreditava que eles não me fariam mal algum. Por que eu temeria?

— Não vou sair correndo se é o que você está pensando. — informei com escárnio.

Ele sorriu largamente por um momento, mas depois ficou sério.

— O que foi?

— Continua a mesma.

Eu o olhei confusa.

— Você fala tão seguro.

— É porque conheço você bem.

Foi quando me dei conta.

— Espera! Eu sabia sobre isso? Antes do acidente?

Estava chocada. Como eu pude esquecer um fato desse?  Bom, eu tinha perdido a memória sobre eles! Edward demorou mais um pouquinho para me responder.

— Sim.

— Por que demorou tanto tempo para me dizer sobre isso de novo, então? Não era tão complicado.

— Não sabíamos como iria reagir.

— Se você me conhecesse tão bem como diz, saberia que sim, eu não estou aqui ainda?

Touché! — disse ele e eu me limitei a rir. Bem no fundo algo me dizia que isso era apenas uma parte do quebra cabeça, ainda faltava alguma coisa.

— Foi por isso que vocês foram embora de Forks?

Ele pensou um pouco.

— Sim e não.

— Argh! Preciso saber mais!

— É só o que temos por hoje. — ele disse em um tom que encerra a conversa e pareceu se lembrar de algo — e minha amiga Violet, gostou dela? — perguntou e deu aquele sorriso torto. Eu apertei os olhos sentindo que ele estava zombando de mim. Como mudamos de assunto tão rápido? E porque sinto vontade de quebrar qualquer coisa?

— Ela é... Argh! No momento eu não consigo pensar em uma palavra para definir aquela garota. E além do mais eu acho que você deveria lembrar a ela que é apenas uma amiga.

— Por quê? Isso lhe incomoda? — quis saber e deu dois passos em minha direção. Meu coração deu um pulo e voltou a bater fora do ritmo. Sim, me incomoda e muito! Se eu a visse dava umas bofetadas em seu rosto! Mas eu não iria dizer aquilo.

Bufei.

— Não, por que me incomodaria? — meti descaradamente. Prendi a respiração quando ele acariciou minha bochecha. Eu senti meu rosto em brasa. Minha nossa! Eu gostava tanto quando ele acariciava meu rosto daquele jeito. O normal seria eu correr de medo, mas eu me esquecia completamente do que ele era quando o mesmo me olhava com tanto carinho e... Amor? Era reciproco mesmo o que eu sentia?

E eu tinha que me lembrar que ele não me machucaria.

— Não sei, me diga você... — disse Edward suavemente, seu hálito doce e frio soprando em meu rosto.

— Hã? — perguntei fora de mim. Ele riu e pegou minha nuca. Jamais desviando seus olhos dos meus. Qual era o limite que poderia existir de aproximação? Se ele era um vampiro e eu uma humana frágil até que ponto isso vinha a ser perigoso? Não porque eu temia que ele me machucasse, mas quão desconfortável era para ele?

Nossas bocas estavam tão próximas, mas antes que nos beijássemos um ser surgiu do nada.

— Edward! Preciso mostrar uma coisa incrível! — entrou Emmett alheio ao que acontecia, ou melhor, que estava prestes a acontecer. Ele era um destruidor de sonhos!

— Emmett, será que pode dá um tempo? — gritou Edward, impaciente. Emmett que trazia alguma coisa nas mãos dona de toda sua atenção, finalmente olhou para nós ali e sorriu maliciosamente. Aquilo me fez rir de nervoso.

— Oh! Foi mal aí, casal! — respondeu ele com escárnio, andando de costas e tapou os olhos teatralmente com uma espécie de revista. O sorriso de covinhas travesso.

Sacudi a cabeça. Assim que ele saiu, a figura de Esme passou em disparada pela porta, mas conseguimos ver seu olhar envergonhada.

— Desculpem, desculpem! — murmurou em direção a cozinha. A situação estava tão embaraçosa, que eu me sentia muito, muito constrangida. Meu rosto devia estar corado tanto quanto eu o sentia.

— Er... Eu, vou subir e descansar um pouco. Como você mesmo falou o dia foi de fortes emoções. Até mais, Edward. — falei apressadamente enquanto ele assentia com uma expressão tristonha. 

Corri escada acima em velocidade máxima — o que não poderia ser considerado tão veloz —. Fui direto para o banheiro e abri a torneira, jogando água no rosto para que passasse o calor. Eu estava radiante, meus olhos estavam brilhando. Nunca os vi daquela forma, não que eu me lembrasse.

Tomei um banho e vesti uma roupa confortável, um conjunto cinza de calça e blusa de moletom. Assim que deitei meu corpo, percebi o quanto estava tenso. Tentei relaxar o máximo que eu pude e assim que fechei os olhos as lembranças do dia de hoje vieram com força total.

Edward era um vampiro. A família Cullen inteira. De novo, esperei o medo tomar conta de mim e mais uma vez ele se fez inexistente dentre minhas emoções... E me lembrei de algo. O que os Cullen fizeram contra Jacob ao ponto de querer ferir Nessie? E porque eu tinha decidido vir para cá e me afastar do meu pai e de Forks? Renesmee também era uma vampira?

Bom, eu já tinha conseguido ganhar informações preciosas de Edward, se eu questionasse mais alguma coisa eu não podia ter tanta sorte assim. As respostas para aqueles questionamentos viriam. Por ora aquilo devia bastar.

[...]      

Quando despertei a escuridão da noite reinava lá fora e decidi ir até o quarto Renesmee para ver como ela estava. Ao me aproximar escutei risadinhas, que me contagiaram. Abri a porta vagarosamente e me deparei com uma visão ímpar.

Rosalie sorria deslumbrantemente enquanto Nessie escovava seu cabelo de forma terna, ambas em uma conversa entusiasmada aparentemente sobre um livro que a loira lia para ela. Ver Rosalie daquele jeito era tão... Encantador. Ela se transformava quando estava na presença da pequena.

Quem não a amaria?

Eu tinha resolvido não as importunar, pois vira com meus próprios olhos que a lindinha estava perfeitamente bem. Porém, antes que fechasse a porta de novo Nessie acabou me flagrando:

— Mamãe! — disse ela sorrindo ao passo que Rosalie desfez o sorriso e seu olhar mudou que estava brilhante, mudou completamente. E pela primeira vez, as ondas de medo passaram por minhas entranhas. O toque sombrio que neles habitava.

Por dentro estava tremendo, mas retribuí ao sorriso radiante da pequena. Pois afinal eu amava quando ela me chamava de “mamãe”, como se eu necessitasse ouvir sempre.

— Hey, lindinha. Oi Rosalie. — recebi apenas um meneio de cabeça da sua parte.  

— Vem, vem brincar com tia Rose e eu... — gesticulou com a mãozinha para que eu chegasse mais perto.

— Bem, meu anjo, eu não acho que...

Sua pequena testa se enrugou ao ver a tia se levantando e dando fim ao carinho em suas madeixas loiras.

— Titia?

— Eu preciso verificar se seu jantar está pronto, boneca. Nós podemos brincar um pouco mais depois, o que acha?

— Ah. Tudo bem... — deu de ombros parecendo um pouco chateada e recebeu um beijo na testa antes que ela Rosalie saísse porta a fora, sem dirigir qualquer palavra a mim. E me encarou voltando a sorrir. — Mamãe, deixa eu escovar seu cabelo?

— Claro! Assim podemos conversar um pouquinho.

Ela bateu palminhas, radiante e me posicionei a sua frente retirando o elástico que prendia meu cabelo.

— Do que quer conversar? Sobre o papai? — seu tom soou animadinho, que me fez rir.

— Bem, sim.

— Vocês vão se casar?

Tive que encará-la por sobre o ombro ao passo que ela parecia se divertir com minha expressão.

— Ele me disse que contou a você sobre... Nós.

— É mesmo? — a cada passada de escova entre as mechas era maravilhosa. O carinho era tão bom.

— Aham, o papai e eu somos amigos, ele me conta tudo.

E novamente senti admiração pela relação de ambos. Em como confiavam um ao outro. Era incrível.

— Isso é muito lindo, Nessie. — podia imaginá-la sorrindo — E bem, Edward não especificou muito bem como funciona isso...

Ela riu.

— Não matam pessoas se é o que você quer saber, se alimentam de animais. — explicou ela e eu tentei imaginar como seria, mas não chegando em nenhuma conclusão.

— Certo. Edward é o seu pai biológico, sua mãe também é uma vampira?

Ela ficou em silencio. Mal consegui perceber sua respiração e tive que olhar mais uma vez por sobre o ombro. Uma expressão confusa desenhada no rosto. Logo me amaldiçoei por ter tocado em um assunto tão delicado e provavelmente desconfortável, já que ninguém nunca falou a respeito da mãe de Renesmee.

Devia ser pior ainda para ela.

— Hey, Nessie. Me desculpe, eu não tenho direito nenhum em perguntar sobre isso... — a abracei me sentindo uma pessoa horrível. Queria poder voltar no tempo e recolher as palavras ditas.

Escutamos Rosalie gritar informando que o jantar estava pronto.

— Esqueça o que eu disse, por favor, lindinha. Que tal irmos comer um pouco?

Ela balançou a cabeça afirmativamente e deu um sorriso apertado. Descemos as escadas de mãos dadas, eu ainda me martirizando por dentro.

— Baixinha! — festejou Emmett assim que chegamos e a pegou no colo para fazê-la rodopiar. O que arrancou gargalhadas dela. Assim que a pousou novamente no chão peguei sua mão e a guiei em direção a cozinha. Esme terminava de pôr a mesa.

— Esme, não precisava se incomodar em arrumar tudo...

— Que isso querida, eu faço com o maior prazer. — respondeu ela sorrindo. Um lapso de reconhecimento daquele sorriso me fez piscar freneticamente os olhos. — Algum problema, querida?

Sacudi a cabeça e me acomodei ao lado de Nessie nos servindo uma boa poção de lasanha de bolonhesa. Um tanto atordoada.

Depois de jantar, os tios de Renesmee a levaram para brincar com eles lá fora e eu caminhei até a sala de estar onde Edward se encontrava, sentado sobre a banqueta em frente ao piano de calda preto reluzente. Dedilhava uma canção suave e melancólica. Por alguma razão ela não me era tão estranha. Talvez fosse famosa.

— Bella... — disse Edward e eu abri os olhos, não sabia em que momento eu havia os fechado.

— Sim? — caminhei em passos pequenos até chegar até ele.

— Sente aqui, comigo. Por favor. — deu leves batidinhas no lugar ao seu lado. Não hesitei em me acomodar e ele retornou a tocar — Você não se lembra é claro, mas essa canção é sua.

— Como?

— Eu a fiz para você, quando nos conhecemos... — era como se ele estivesse cantando cada palavra.

Não disse nada, me perdi ao apreciar cada nota. Eu não sabia se o quase acidente de hoje tinha afetado meu cérebro, mas quando ele chegou em uma parte mais dramática da canção imagens passaram como flashes em minha mente... Não consegui captar nada. Surpresa, quase tombei para trás, mas Edward com seus reflexos ágeis me pegou.

— Bella! O que aconteceu?

— Não... não foi nada. — menti.

— Tem certeza?

— Perfeitamente. É que eu estou com sono e...

— Mas você acordou ainda a pouco.

— Isso não tem nada a ver, eu ainda sinto sono. Ora Edward! Boa noite. —  respondi irritada por deixar transparecer demais minha mentira. Por outro lado, ele não argumentou e me soltou murmurando um “Ok. Tenha bom sonhos...”.

Soprei um beijo para Renesmee que encarava as estrelas no colo de Alice e rodeada por seus tios e Esme.

— Oi mamãe, veio ver o céu com a gente? — fez uma carinha muito fofa, seu lábio inferior se sobressaia em um beicinho encantador.

— Não meu coração, estou um pouco cansada. Desculpe. — sua expressão murchou — prometo que amanhã vamos brincar bastante, tudo bem? — ela assentiu.

— Tudo bem mamãe, mas amanhã você não me escapa! — cantarolou ela. O que fez os outros rirem, menos Rosalie, que revirou os olhos sutilmente antes de virar o rosto.

— Boa noite.

— Boa noite, Bella.

— Ah! E não se esqueça que vamos ao shopping amanhã, hein. Beijinho! — se despediu Alice e Nessie a acompanhou nos gritinhos animados.

Cheguei no quarto e não troquei de roupa, apenas escovei os dentes e molhei um pouco o rosto. Desliguei as luzes, me deitei na cama e me cobri de novo. Era tolice não ter aceitado o convite de ficar um pouco mais com Renesmee ou ter dito a verdade a Edward. Mas eu precisava de um tempo para entender o que estava acontecendo... Será que eu tinha alguma sequela do trauma de mais cedo?

Deveria contactar Carlisle?

Com tantas perguntas ecoando não encontrei dificuldade em adormecer de novo.

A canção que Edward tocou voltou a soar em meus ouvidos como um fundo musical e os flashes das cenas de horas atrás retornaram... Ao contrário de mais cedo, eu consegui identificar cada uma nitidamente... Senti pontadas superficiais em partes diferentes da cabeça. O acidente?

Na primeira, eu me vi em uma cozinha de uma casinha graciosa com... Edward me dizendo que iria embora de novo, pois não conseguia olhar as marcas em meu corpo sem se sentir culpado... A cena deu lugar a outra, preenchendo as lacunas... Eu olhava encantada o rostinho perfeito de um bebê, que estava corado e devolvia a mesma emoção ao me encarar também. Como se soubesse quem eu era. Renesmee? Era ela! O bebê por quem eu havia lutado até o fim, e sempre soube que tinha valido a pena... Abri os olhos subitamente transbordando de emoção e saudade. Eu estava entrando num estado de extase total. Eu me lembrava! De todos! Minha doce Alice, Emmett, Jasper, Rosalie, Esme, Carlisle, Renesmee e Edward! De exatamente tudo.

Saltei da cama num pulo. Eu precisava vê-los. Abri a porta com rapidez e saí como uma desesperada, as lágrimas banhando meu rosto. Eu queria encontrá-los, abraçá-los e falar o quanto os amava! Pois agora eu conseguia me lembrar, ainda que no fundo eu soubesse que eles eram tudo para mim.

Primeiro entrei no quarto de Renesmee, constatando que ela não estava ali. O único lugar em que ela podia estar era no quarto do pai. Era tão estranho, mas tão certo ao mesmo tempo ter minha memória de volta. A sensação era que eu tinha acabado de encontra-los e não há duas semanas. Girei a maçaneta e me deparei com a cena mais linda. Renesmee estava esparramada sobre Edward enquanto ele acariciava seus cabelos, cantarolando uma canção desconhecida, porém não menos bonita... Eu fiz essa música quando nos conhecemos... Lembrei de suas palavras sobre a minha música. Cheguei à conclusão que eu não viveria sem ele e Renesmee, e arriscava acreditar que ambos sem mim também. O amor que nós sentimos um pelo outro era mais forte que tudo.

— Edward, Renesmee?! — eu sussurrei com carinho e mais lágrimas escorreram de meus olhos. Meu coração sendo aquecido com todo o amor que eu achava capaz não caber em mim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?Mereço reviews?Recomendações?
Ah e amanhã dia 10 é meu aniversário!Seus reviews serão meu presente de aniversário!Queria poder dar uma fatia de bolo para vocês :]... O primeiro seria para todos vocês obiviamente, por que alegram meus dias com seus comentários elogiosos e fofos. Beijinhos.