Após uma semana de intenso treinamento com Albert, Luke finalmente se sentia preparado para conquistar a insígnia do ginásio de Rustboro. Quando acordou, viu pela janela do quarto que na árvore do quintal havia um ninho, que abrigava um pequenino ovo de pokémon. Luke reconheceu, pela forma e pela coloração, que, futuramente, um Swablu sairia de lá.

Depois de escovar os dentes e banhar-se, o menino desceu correndo a escada. No final, tropeçou e cambaleou um pouco, mas sem atingir o chão. Mesmo assim, passou “voando” pela sala e chegou a cozinha. Lá, encontrou sua tia bebericando uma xícara fumegante de café.

– Bom dia, querido. – cumprimentou Roxanne, enquanto lia a capa do jornal Hoenn’s News – Dormiu bem?

– Aham, aham... – respondeu Luke, distraído, se servindo apressadamente de suco e torradas com manteiga. O menino mastigava rapidamente e bebia o suco. Enquanto ele parecia que estava super atrasado, Roxanne bebia o café calmamente, de forma que ela ainda estava no final da xícara quando ele terminou.

– Por que tanta pressa? – perguntou a líder de ginásio, surpreendendo Luke

– Ora, não iremos batalhar hoje? – indagou o jovem treinador, recolhendo as pokébolas de Shroomish e Aron de cima da bancada da cozinha e os liberando para alimentá-los. Levou-os para os fundos e os serviu com um pouco da ração que Albert tinha reparado especialmente para cada um. Ambos rasparam o prato.

–Ah, sim. – lembrou-se Roxanne – Mas pensei que não fosse agora, literalmente.

– Pois é agora, literalmente – ironizou Luke, enquanto enfiava as suas pokébolas, com os pokémons já dentro delas, nos bolsos e se dirigia para a construção de pedras a poucos quarteirões dali, o ginásio mantido por sua tia.

– Bem, então vamos lá! – falou jovialmente a líder de ginásio, alcançando o sobrinho, se lembrando da alegria que sentia ao batalhar quando criança.

***

As portas de vidro automáticas se abriram, deixando Luke e Roxanne entrarem na imensa arena do ginásio de Rustboro. A arena de terra batida se localizava bem no meio, circundada pela imensa arquibancada. Rochas brotavam do solo do campo de batalhas, distribuídas irregularmente. A líder conhecia o exato local de todas elas, afinal, tinha mantido seu cargo desde os quinze anos, quando seu antecessor abandonou o local para cuidar de sua esposa doente.

Porém, Luke também conhecia o lugar como a palma de sua mão. No momento, passavam na cabeça todas as batalhas, as lutas que assistira, sempre do lado da tia. Mas, naquele lindo dia de início de março, quando o verão começava a dar espaço ao outono, o garoto era o desafiante. Agora, mesmo desejando boa sorte para tia, tinha confiança nas habilidades de seus pokémons e em si mesmo.

O juiz, enviado pela federação, chegara poucos minutos depois. Vestia a tradicional camiseta com listras verticais pretas e brancas com uma calça preta, lisa. Na mão, trazia uma bandeira verde, que costumava apontar para o ganhador do round ou da partida.

Atrás dele, Albert passava calmamente, se dirigindo à arquibancada, brincando com uma pokébola vazia, jogando-a no ar e pegando em seguida. Assobiava uma música de dormir, que ouvira numa rádio. Encontrou Luke e Roxanne já assumindo os lugares da batalha, cada um com uma pokébola em mãos. Apenas acenou brevemente para os dois e sentou-se para assistir a partida.

– Bem, as regras serão as seguintes: cada treinador terá direito a dois pokémons, sendo que somente o desafiante pode trocar entre eles no meio da batalha. Preparados? – tanto Luke quanto Roxanne assentiram – Comecem!

– Boldore, vamos lá!

O pokémon de Roxanne tinha o corpo feito de pedra escura. Possuía vários cristais de cor alaranjada espalhados pelo corpo inteiro. No final de cada perna, havia uma ponta desse cristal, que o pokémon usava para se equilibrar.

– Shroomish, acabe com isso! – disse confiante o garoto, percebendo o pokémon novo de sua tia. Ele sacou seu Pokédex, dado pelo professor Birch e entregue por sua tia, e começou a analisá-lo.

– Boldore, o Pokémon Minério. É a forma evoluída de Roggenrola – explicou a voz robótica do aparelho – Nativo de Unova. Já que a energia dele é muito grande, ela se tornou sólida e formou os cristais laranja no corpo dele.

– Use o Polimento! – ordenou a líder, dando início à luta.

Logo, os cristais no corpo de Boldore começaram a brilhar, exibindo uma luz de mesma cor que as pedras que ele carregava.

– Shroomish, Esporo Paralisante!

O cogumelo, com o treinamento, não necessitava mais ficar muito próximo do alvo para paralisá-lo com o seu pó tóxico. Agora, uma nuvem imensa ocupava toda a arena, mas, do mesmo jeito, Boldore conseguiu esquivar, escapando para o canto mais afastado do Pokémon Cogumelo.

– Continue com a Investida! – falou Luke, tentando ganhar tempo para uma estratégia.

Rapidamente, o pokémon do tipo Grama percorreu a distância que estava entre ele e Boldore, desviando das inúmeras rochas que bloqueavam uma corrida e, linha reta. Ao final, quando avançou diretamente contra o Pokémon Minério, porém, ele pulou com facilidade e se colocou atrás das costas de Shroomish.

– Use o Canhão de Luz!

O corpo de Boldore começou a brilhar e logo um raio de energia puramente branca e brilhante foi disparado contra o cogumelo, que nada pode fazer a não ser receber diretamente o movimento. Depois de poucos segundos, o pokémon de Roxanne cessou o ataque. Ao mesmo tempo, Shroomish levantava com dificuldade do chão.

O pequeno mal conseguia se manter em pé, já que, enquanto era carregado pelo ataque, ele tinha se chocado com diversas rochas, que eram destruídas durante o “vôo” dele que atravessara o ginásio, parando somente na frente de Luke. O menino já levantava a pokébola, para retorná-lo e liberar Aron, quando Shroomish balançou a cabeça, negando o ato de seu treinador.

– Mas você não irá resistir a mais nada! – protestou o garoto – Por favor, eu não quero que você se machuque!

Ainda recusando a ordem de Luke, o cogumelo se pôs completamente em pé, com uma careta de dor estampada na face. Com suas últimas forças, ele efetuou seu melhor movimento, liberando o característico raio de energia verde que usava. O Mega Drenagem foi em direção de Boldore, que esquivou facilmente.

Roxanne já considerava o cogumelo derrotado, já que errara o último movimento. Ela já iria ordenar que seu pokémon finalizasse Shroomish, com a repetição do Canhão de Luz, seu golpe mais forte. Mas olhou surpresa quando observou o Pokémon Minério começou a ser envolto na energia verde. O pokémon de Luke conseguira mudar, no último momento, a direção do raio que brotava dele e acertara o oponente em cheio.

– Shr... Shroomish! – gaguejou o garoto, impressionado.

A energia já havia transitado para vermelho e agora voltava para o executor do Mega Drenagem, se transformando em branca e curando a maioria dos ferimentos causados por Boldore. O pokémon do tipo Grama tinha voltado oficialmente para a luta.

Enquanto tudo isso era feito, Albert assistira tudo, impressionado com o que acontecia. A força de ambos os lados eram grandes, bem grandes. Roxanne e Boldore já tinham uma enorme experiência, e ele mesmo não esperava menos, mas o pequeno cogumelo tinha várias habilidades não encontradas geralmente. O adolescente ponderava consigo mesmo se o pokémon de Luke já tinha um nível de treinamento mais avançado que o esperado para aquela região.

– Shroomish, use o Esporo Paralisante! – falou Luke, recuperando o controle.

Mais uma vez, a enorme nuvem de poeira de pó amarelo cobriu o campo, sendo expelida do orifício característico de Shroomish. Porém, dessa vez, Boldore não conseguiu escapar e foi atingido pelo movimento. Imobilizado, só restava uma opção a Roxanne: impedir que o cogumelo continuasse a atacar Boldore.

– Repita o Canhão de Luz!

– Se esconda atrás das pedras! – ordenou Luke para seu pokémon – E fique abaixado!

O Pokémon Minério lançava os raios de ataques de energia branca seguidamente. A cada vez, a pedra no qual o cogumelo se escondia era destruída. Mas, apesar disso, o pequenino sempre saia ileso e seguia para outra pedra.

Esse fato continuou até Boldore começar a exibir sinais de cansaço. Não havia onde Shroomish se esconder, já que o resto das pedras se encontrava atrás de Boldore, localizado um pouco adiante da metade da arena. Porém, isso era exatamente o que Luke queria que acontecesse.

– Shroomish, chegue perto dele e use a Investida!

– Boldore, Endurecer!

Agora sem pedras para se por no caminho, o pokémon de Luke avançava com facilidade pela arena, sem precisar desviar de nada. Quando finalmente se aproximou o seu oponente e se lançou contra ele, porém o corpo do Pokémon Minério se fortaleceu e ficou duro como, literalmente, pedra. O cogumelo se machucou ao choque com o endurecido pokémon do tipo Pedra.

– Finalize com um Canhão de Luz com força total!

– Shroomish, retorne! – ordenou Luke, antes de Boldore conseguir carregar o ataque. Sem tempo para qualquer reação, o pequenino pokémon do tipo gramas voltou a sua pokébola. – Aron, vamos!

O Pokémon Armadura de Ferro pousou na parte sem rochas do campo de batalhas, calmamente. Ao contrário de seu treinador, Aron permanecia tranquilo e se mantinha equilibrado.

– Vamos acabar com isso, Aron! Tapa de Lama!

O pequeno rapidamente se aproximou do seu adversário e lançou uma grande quantidade da terra nos olhos do Pokémon Minério, que ficara praticamente sem visibilidade. Mesmo assim, conseguiu afastar o executor do ataque empurrando-o com uma das suas pernas.

– Boldore, utilize o Polimento e corra o máximo que puder! – falou Roxanne, tentando manter o controle da batalha – Vejamos se toda essa terra sai...

E realmente funcionou. O pokémon seguiu as ordens de sua treinadora e correu pelo campo, tirando a terra de sua face e recuperando a maioria da visão novamente. Roxanne agora sorria. Aron não tinha para onde correr, já que estava no canto do ginásio, sem nenhuma pedra, nada que impedisse Boldore de acabar com tudo

– Vamos acabar com isso! Boldore, agora sim, Canhão de Luz com força máxima!

– Aron, Investida com tudo o que você conseguir!

Enquanto o Pokémon Minério carregava o seu golpe final, Aron já avançava com a Investida e ganhava grande velocidade. Logo no início da corrida, a mesma energia branca e forte o cercou, emanando fortemente de sua reluzente armadura de aço.

– Por Arceus! – disse Roxanne, vendo o movimento de Aron – Isso é um Cabeça de Ferro! Como um Aron com esse nível de treinamento tem esse ataque?! Agora Boldore!

Boldore liberou seu mais poderoso ataque. O raio prateado ia se chocar com o brilhante Aron, que avançava velozmente na direção do ataque. Diferente do que fizera com Ponyta, dessa vez o pokémon de Luke não desviou do golpe. Seguiu em frente.

A explosão de energia esbranquiçada que se seguiu foi imensa. As ondas dela atravessavam o campo, levantando os longos cabelos cor de avelã de Roxanne, que tinha uma expressão de surpresa na face. Albert observava tudo com o queixo caído. Mas o que mais se assustara foi Luke.

Já vira Aron executar aquele movimento na batalha contra Ponyta. Porém, durante a semana, na qual treinou com pokémons menos desafiadores, o Investida havia ocorrido normalmente. Agora, o menino via seu pokémon desaparecer no brilho intenso do choque dos ataques.

O flash passou depois de alguns segundos, revelando o Pokémon Armadura de Ferro de costas para Boldore, que permanecia no mesmo lugar. O pokémon de Luke tinha passado por ele e estava parado do outro lado, bem perto do Pokémon Minério.

No momento seguinte, a líder de ginásio retornava seu pokémon, derrotado, e Luke era declarado pelo juiz o ganhador.

– Aron, você conseguiu! – falou o menino. No instante seguinte, Aron pulava em cima dele e derrubava o treinador.

– É realmente impressionante. – comentou a mulher, já sacando uma Super Pokébola e aumentando-a, clicando no seu “botão” central – Mas sorte não vai ajudá-lo com esse carinha aqui. Vamos, Nosepass!

Nosepass era o característico pokémon do ginásio de Rustboro, praticamente seu mascote. Tinha um corpo feito de rocha azulada, com um imenso nariz vermelho no rosto, que se projetava para frente. Os olhos sempre pareciam fechados, mas percebiam tudo a sua volta. Os braços e as pernas eram angulosos, feitos de pedra assim como o resto do corpo.

– Iniciem. – ordenou o juiz, fazendo um arco para baixo com sua bandeira. – enquanto Luke sacava sua Pokédex

–Nosepass, o Pokémon Bússola. – informou a voz eletrônica do aparelho– Quando se sente ameaçado, ele aumenta o magnetismo de seu corpo e atraí objeto de metal para se proteger.

– Nosepass, Eletrocanhão!

O nariz de Nosepass começou e emitir um brilho amarelo e logo uma bola de eletricidade amarela com o centro vermelho se formou na frente dele. Logo ela já vinha na direção de Aron.

– Defesa de Ferro, rápido! – falou Luke, no último instante.

Aron velozmente se concentrou e logo seu corpo brilhou fracamente em azul. Instantes depois, a bola elétrica de Nosepass se chocou contra ele. Graças ao seu movimento, o dano que o Pokémon Armadura de Ferro foi minimizado. Porém, o golpe do Pokémon Bússola era extremamente poderoso, mesmo com a eficácia diminuída, foi um bom golpe.

– Aron, use o Tapa de Lama!

– Bloqueie com Proteger!

O pokémon de Luke correu em direção a Nosepass para iniciar a sequência do ataque, mas antes que o pequeno conseguisse chegar perto do Pokémon Compasso o suficiente para atacar, o nariz do alvo começou a brilhar e formou uma cúpula esverdeada, igual a de Espeon. Aron se chocou contra a barreira e recuou. Logo, o movimento de Nosepass tinha desaparecido e ele continuava no mesmo lugar onde tinha começado.

– Poder Terrestre! – falou Roxanne, séria. Nunca tinha usado aquele ataque antes no ginásio. Os estragos poderiam ser grandes na arena de batalhas, mas ela tinha de arriscar.

O corpo de Nosepass brilhou na cor dourada e logo o ambiente começou a balançar fortemente e diversas fissuras no solo começaram a aparecer. Aron sofria com isso, assim como Luke. Ambos, pokémon e treinador, lutavam para se equilibrar e se manter em pé. Roxanne se apoiava na parede atrás de si, escorada e Albert tentava se agarrar em algum lugar na arquibancada de pedra, onde já brotavam algumas rachaduras.

– Aron, repita a Cabeça de Ferro – ordenou Luke, enquanto se abaixava para se equilibrar. – Rápido!

O pequenino dificultosamente começou a correr em direção do Nosepass. A tarefa praticamente impossível se tornou ainda mais complicada quando Aron teve que concentrar a energia para formar o movimento. Porém, ele conseguiu e seguiu no caminho. Seu corpo brilhante se chocou com o de Nosepass, que foi lançado para trás e cessara o tremor.

– Maravilha Aron! Agora use a Garra de Metal!

Enquanto o Pokémon Bússola de Roxanne ainda se levantava, o Pokémon Armadura de Ferro desferiu com suas pernas em tom metálico uma série de golpe no nariz de seu oponente. Assim, Nosepass ainda se mantinha no chão.

– Endurecer! – falou a líder de ginásio, observando seu pokémon tornar seu corpo rígido mais sólido ainda.

– Aron, recue! – aconselhou Luke, sendo ouvido e obedecido por seu pokémon.

– Eletrocanhão! – ordenou Roxanne, no momento em que o Pokémon Compasso conseguiu se levantar. A mesma bola de energia elétrica carregada na frente dele foi lançada e atingiu Aron em cheio.

O pequeno já estava fraco: a Cabeça de Ferro puxava demasiada força vital dele. Luke calculava que ele só tinha poder para um último golpe. Então, o garoto decidira optar por outra estratégia;

– Aron, retorne.

– Nada disso! – disse Roxanne com um sorriso no rosto.

– O que? – surpreendeu-se Luke, ao observar o que estava acontecendo.

Aron tinha sido capturado pela luz vermelha que brotava da pokébola, mas a esfera não conseguiu voltá-lo. Luke se lembrou de uma das últimas aulas de treinadores que teve: habilidades. O pokémon favorito de Roxanne, Nosepass, tinha sido citado. Era...

– Magnetismo! – exclamou Luke, se lembrando das palavras da tia na escola – Isso impede que pokémons do tipo Metálico saiam da batalha.

– Uhum! – concordou a líder, com um meio sorriso estampado no rosto – Agora é Nosepass e Aron até o final. Falando nisso... Eletrocanhão!

– Aron, desvie e use uma sequência de Tapa de Lama!

A mesma bola elétrica fora lançada em direção a Aron, que conseguiu sair da linha de ataque e agora iniciava seu movimento: uma série de golpe, carregada com a terra do ginásio, e ia em direção aos olhos do Pokémon Bússola.

– Cabeça de Ferro. – disse Luke com um pouco de receio.

– Endurecer!

No momento seguinte, Aron já se chocava contra Nosepass, com seu mais novo e poderoso ataque. Porém, o oponente do pequeno conseguiu endurecer seu corpo a tempo, e pouco sofreu com isso. Além disso, Luke percebia o cansaço de seu pokémon.Caso ele fosse derrotado, teria poucas chances de vitória, já que Shroomish também não estava bem. O Pokémon Armadura de Ferro se distanciava com dificuldade do adversário, arfando e indo vagarosamente até seu treinador.

– Aron, temos que acabar com isso agora! Garra de Ferro!

– Impeça! Eletrocanhão!

Aron vencia com dificuldade os metros que o separavam do pokémon da líder, com suas perninhas já brilhando que nem o metal que revestia suas costas. Mas, na frente de Nosepass, era concentrada sua característica bola amarela de energia elétrica, maior que todas as outras que ele já havia lançado.

Luke nem seu pokémon perceberam o movimento. Só Roxanne percebeu que não havia mais tempo de carregar o golpe. Nosepass tinha que lançá-lo agora.

– Vai! – ordenou a mulher, sendo atendida por seu pokémon.

– Ai, meu Arceus! – temeu Albert, imaginando mais uma explosão de forças, entre os ataques de Nosepass e Aron. O adolescente já pensava em liberar Espeon e pedir para ela usar o Proteger, mas não foi preciso.

O choque não aconteceu.

Aron deu um jeito de se jogar para o lado antes de se encontrar com o movimento do Pokémon Bússola, e agora atacava o pokémon da líder de ginásio com rapidez, levando Nosepass a fazer um lamurio de dor e o Eletrocanhão se desfez no ar.

– Nosepass, Endurecer!

– Essa batalha é minha! Aron, Cabeça de Ferro com toda a força que você tem!

Com uma energia maior do que ele realmente tinha, o Pokémon Armadura de Ferro brilhou tão forte que mesmo Albert se cegou por um momento com a luz que ele liberava do ataque. Ele atingiu em cheio Nosepass, que mesmo atacado por Aron continuou em pé, com o menor o arrastando, levando as pernas do Pokémon Bússola fazerem duas linhas paralelas na terra da arena.

– Continue! – gritou Luke, ordenando que seu pokémon não parasse – Até fazermos ele cair!

– Nosepass, força máxima nesse Endurecer! – falou Roxanne, enquanto via seu pokémon sendo “empurrado” pelo seu oponente. As finas sobrancelhas estavam franzidas, esboçando certa frustração. Mesmo sendo seu sobrinho e afilhado com quem batalhava, não ia desistir. Tinha uma responsabilidade com aquele lugar e com a cidade de Rustboro.

– Aron, aumente a intensidade! – Luke já começava a ficar irritado. Nosepass nunca cedia. Sabia que Roxanne era especialista em movimentos de defesa. Normalmente, era a primeira barreira contra os novos treinadores, candidatos a se tornar campeões, e ela tinha que ser dura na queda. Mas nunca vira os pokémons da tia resistirem tanto!

Aron brilhou ainda mais, liberando as suas últimas forças no golpe, enquanto Nosepass ainda continuava enrijecido. Porém, nem mesmo com o movimento de defesa, o Pokémon Bússola não aguentou mais e cedeu, sendo lançado ao lado de Roxanne, fora de combate. No meio do campo, Aron jazia caído e cansado, sem energias até para se manter em pé. Luke retornou o pokémon, pensando que tinha empatado a partida.

– Nosepass está fora de combate. Aron e Luke são os vencedores! – disse o juiz.

A líder de ginásio recolheu seu derrotado companheiro e colocou a pokébola no cinto que carregava. Caminhou até o sobrinho que olhava confuso o juiz, não entendendo o motivo de ter ganhado a luta.

– Você tecnicamente ainda tem Shroomish. – explicou Roxanne, com lágrimas nos olhos - Você não sabe como você se parece com o seu pai com uma cara espantada.

– Sério?! – falou Luke, se lembrando do Pokémon Cogumelo na pokébola guardada em seu bolso. – Mas é claro! Eu ainda tenho Shroomish! Eu ganhei! – o menino sorria de orelha a orelha e deu um abraço apertado na sua tia – Titia! Eu ganhei da senhora!

– Senhora é sua vó, ok? – brincou Roxanne, correspondendo ao gesto do sobrinho – Só tenho 30 anos! Sou praticamente um bebê.

– Parabéns Luke! – gritou Albert, descendo da arquibancada e cumprimentando o jovem amigo. – Foi com certeza um final brilhante!

– É mesmo. – confirmou a líder de ginásio. - Aqui está sua recompensa por conseguir me derrotar. – A tia sacou do bolso um pequeno estojo de insígnias prateado, com uma pokébola no meio. Dentro dele, estava um único símbolo, a Insígnia de Pedra. O objeto era marrom, com duas setas douradas opostas. – Este é seu estojo, para guardar as insígnias que ganhar dos líderes de ginásio.

– Valeu tia! – agradeceu Luke, pegando o objeto na mão e guardando-o no bolso.

– Bem, agora presumo que vá partir para Dewford, não é? Bem, a dificuldade irá dobrar lá. – afirmou a líder – Aron é excessivamente fraco contra pokémon Lutadores, e Brawly é especializado neles, além de ótimo em velocidade, o que, cá entre nós, não é o forte de seu pokémon.

– Então a única solução é... – disse Luke, segurando uma de suas pokébolas na mão, mais exatamente, a de seu cogumelo – Shroomish.

– Bem pessoal, a conversa está ótima, mas tenho que ir.

– Por que? Você não vai ficar para nosso almoço! Eu vou cozinhar uma comida maravilhosa! – falou Roxanne, fazendo que Luke fizesse sinais para Albert fugir.

– Bem, aposto que seus dotes culinários devem ser maravilhosos, porém tenho que colocar minhas coisas em ordem antes de partir para Slateport.

– Não era Verdanturf? – perguntou Luke confuso, se lembrando do torneio que o mais velho tinha citado

– Na verdade não. – respondeu Albert, dando fim ao assunto. – O meu navio parte daqui à uma hora, no começo da tarde. Se você quiser me acompanhar, ficaremos dois dias em Dewford.

– Mas eu não tenho uma passagem. – falou Luke, pensando em uma solução.

– Não se preocupe. Tenho uma extra. – disse o mais velho, tirando do bolso um papel cuidadosamente dobrado. – Minha irmã devia ter me acompanhado, porém uma emergência apareceu. Ela está em Sinnoh, ajudando o Professor Rowan com alguns problemas no laboratório.

– Então, ok. – respondeu a líder de ginásio, colocando a mão no ombro do sobrinho. – Você exatos 45 minutos para arrumar as suas malas.

– Tem certeza, tia?

– É claro! Você acha que vou deixar meu substituto sem nenhuma experiência lá fora – falou ironicamente Roxanne, arrancando mais um sorriso de Luke – Agora vamos! Não temos tempo a perder!

***

– O senhor me chamou general? – perguntou a jovem que adentrara na luxuosa sala de seu superior. As paredes eram de cor branca, mas a simplicidade acabava ai. Um tapete que provavelmente custava mais que uma boa casa decorava o chão. Sobre ele, duas poltronas confortáveis de couro legítimo, defronte para a mesa, e um sofá encostado na parede, ao lado da estante de madeira, na qual se abrigavam vários livros e enciclopédias caros e raros.

– Sim, sim. – respondeu o homem de meia idade, com alguns cabelos grisalhos nascendo ao lado das orelhas. Ainda sim, o cabelo se mantinha da loira na maioria. O rosto era tranquilo e calmo, até mesmo esboçava certa alegria. Porém, o tal homem era líder, chefe e comandante de uma das maiores, se não a maior, organização criminosa de todos os tempos. – Soube que três de seus agentes deixaram o garoto de Johto escapar. Estou correto?

– Ah, sim. Eu já tomei as devidas providências quanto a isso. – afirmou a menina, que tinha apenas quatorze anos, a mesma idade que o fugitivo. – A equipe antiga foi dispensada e foi substituída pelos meus melhores, senhor.

– Muito bom, senhorita. – elogiou o líder – Agora me dê os balanços dos ganhos e quantos assaltos fizeram sua equipe. – logo, a menina já entregava uma prancheta, com diversas folhas.

– Como o senhor pode observar, assaltamos diversos bancos, mercados e treinadores, faturando vários itens. Só em dinheiro, o ganho deste mês foi de quatrocentos mil dólares e adquirimos cerca de duzentos pokémons, dentre as mais variadas espécies, com 47 deles sendo extremamente raros.

– Muito bom. Muito bom mesmo. – repetiu o comandante, impressionado. – E soube que você conseguiu algo... Inusitado, ao mínimo. O que seria?

– Aqui está, senhor. Devo dizer que foi extremamente difícil de encontrá-los, mas ao fim conseguimos. Retiramo-los do laboratório do Professor Birch, em nosso último assalto, ontem. Ambos pertencem, ou pertenciam, ao integrante da Liga de Hoenn, Sidney. – a adolescente entregou ao seu chefe duas pokébolas, que continham dois dos mais poderosos pokémons de todo o continente. – Pedimos um resgate ou ficamos com eles?

– Não, não faça nada. Deixe-os comigo. Já tenho um destino para os dois. – indicou o homem, pegando as pokébolas e guardando-as na gaveta – Agora, a senhorita pode se retirar. – ordenou o homem, enquanto a garota na sua frente retirava-se da sala.

– Senhor, mais uma coisa – disse a adolescente, parada na porta, se virando para o líder – A menina que o senhor pediu para localizarmos em Slateport deixou o quarto no Centro Pokemon. Ela deve ter percebido que estava sendo seguida.

– Obrigado, Helena. – agradeceu o adulto, enquanto a menina saia da sala, discando um número em seu celular e chamando o elevador. O dono da sala se levantou, fechou e trancou a porta. – Droga! Eu deveria saber que isso ia acontecer. – o homem retirou o telefone do gancho e contatou sua secretária. – Grace, me ligue com Dylan. Agora!