This Feeling That I Get escrita por Schmerzen


Capítulo 3
Capítulo III




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Algumas semanas se passaram, sem muita novidade. A única coisa que mudara era o clima; dezembro chegara de mãos dadas com o inverno, acompanhados pela neve. A todo canto se viam alunos afundados em peles e casacos grossos.

Além do inverno e da neve, outra coisa chegara. Mais uma lua cheia. Sirius estava imerso em seus próprios problemas, pensando em um jeito de confortar o licantropo, sem deixar transparecer seus reais sentimentos. Agora já admitira a si mesmo que não queria Remus apenas como amigo e se sentia mal por isso. O que o castanho iria pensar se descobrisse os pensamentos que Sirius tinha com ele?

No meio de uma dessas reflexões dolorosas, ouviu a voz de Remus.

– Não quero que apareçam lá hoje, entenderam? – ele sussurrava exasperado para os três amigos. – Não importa o que pensem ou o que achem, eu sei que hoje não é um dia seguro e não quero nenhum de vocês lá. Além do mais, está frio, não poderíamos andar pelos terrenos da escola e não há necessidade de me fazerem companhia.

– Certo, certo... – James o olhava com um sorriso.

– Prometam.

– Ah, pare com isso, Remus.

– Prometam!

– Ok! Nós prometemos, não é? – Peter olhou para os outros dois.

– Sim.

– Pode ser – Sirius concordou.

– Obrigado – ele se jogou na poltrona, exausto. – Que horas são?

– Cinco horas.

Os quatro voltaram a atenção para o dever que faziam na mesa da sala comunal. Assim que terminaram a maioria, colocaram tudo na mochila e subiram ao dormitório, para relaxar um pouco.

Remus estava mais tenso do que de costume, mordendo os lábios avidamente. James pensou que pudesse dar uma melhorada nos ânimos com uma notícia boa.

– Adivinhem só? – ele abriu um grande sorriso. – Vou sair com a Lily hoje!

– Nossa, ela disse sim mais uma vez? Depois de apenas quatro anos de nãos? – Sirius comentou sarcástico, provocando risos nos outros dois. Se alegrou ao ver Lupin sorrindo. – É um progresso.

– Cale a boca – James falou, emburrado. – Você está com inveja.

– Com inveja? Não sei se você sabe, Potter, mas nenhuma garota nunca disse não para mim.

– Obviamente que não, Black – James revirou os olhos com a falsa formalidade.

– Então, presumivelmente, não há motivos para ter inveja de você.

– Claro, fora o fato de que sou extremamente mais bonito, certo?

Sirius socou o braço de James e então eles começaram a rir, abraçando-se em seguida.

– E então? – O moreno agora tinha um tom interessado. – As coisas com a Evans estão ficando sérias?

– É o que parece. Ela até sorriu hoje ao passar por mim. Vou perguntar se ela quer namorar comigo.

– Bom, se ela disser sim... Então vou dizer a ela que a considerava inteligente.

Inveja... – James entoou ritmado, provocando mais risos nos quatro.



Logo o sol começou a abandonar o céu e Remus se levantou, acenando brevemente aos amigos. Eles insistiram para ir com ele, mas o garoto estava decidido e os lembrou da promessa que fizeram.

Meia hora já havia se passado e James estava se arrumando para seu encontro, enquanto Sirius e Peter jogavam xadrez bruxo.

– Sabe, me sinto culpado por ter marcado um encontro logo hoje. Eu nem lembrei que seria uma noite de lua cheia.

– De qualquer forma, Moony nos enxotou, de novo – Sirius comentou, amargo.

– Ele sabe o que faz... Vou tomar banho, Lily logo estará me esperando, vou levá-la a Hogsmeade – comentou, sonhador.

– Vai levar a capa? – Sirius perguntou como quem não quer nada, realizando o movimento que derrotou Peter. – Venci.

– Não, por que eu levaria?

– Não sei.

– Ah! Droga, esse jogo é difícil, Sirius, dá um desconto.

– Você só precisa de prática, Peter. O que vai fazer agora?

– Não sei. Acho que vou terminar mais algumas lições, estou atrasado com elas, para variar.

Sirius passou a mão pelos cabelos negros e olhou para os dois amigos.

– Acho que vou sair por aí também. Até.

James entrou no banheiro, Peter fechou seu cortinado para se concentrar e Sirius pegou algumas coisas, correndo para alcançar o lugar que queria. Logo estava saindo debaixo da capa de James, na frente do Salgueiro Lutador. Apertou com um galho e o desativou, entrando em seguida. Tudo estava silencioso e alguns raios tímidos de sol ainda banhavam os jardins do castelo, o que significava que Remus ainda estaria em sua forma humana.

– Bu! – Lupin pulou um metro, enquanto via com descrença Sirius surgir do nada atrás dele, deixando o tecido prateado da capa escorregar. – Vim visitar meu amigo lobisomem. Vou esperar com você.

– Você prometeu!

– Não, eu disse “pode ser”. E a menos que diga que me odeia e que quer me ver fora daqui, não sairei.

– Eu te odeio e quero te ver fora daqui – o castanho repetiu mecanicamente.

– Não comentei que teria que ser com sinceridade?

Um sorriso triunfante surgiu nos lábios dele, enquanto Remus escondia o rosto, emburrado.

– Por que você precisa ser tão teimoso, Sirius? James e Peter estão onde deveriam estar.

– Eu também estou onde deveria estar.

– Olhe, é sério, a lua vai aparecer daqui a alguns minutos e eu irei matar você, então, por favor, por favor, por favor!, saia daqui – ele agora suplicava, se arrastando para longe do outro.

Sirius levantou e sentou novamente ao lado dele.

– Não vou sair.

– Não me importo que volte depois, se quer assim, mas espere a transformação terminar e volte como cachorro, certo? – o tom ainda era suplicante. – Agora vá logo.

– Talvez se eu ficasse aqui enquanto você se transforma, possa ajudar a diminuir a sua agressividade, o que acha?

– Não!

– Não como humano, Remus...

– Não, a resposta ainda é não. Nada vai me impedir de me machucar enquanto assumo a forma de lobisomem e você não precisa ficar assistindo a esse show de horrores, então vá logo e volte quando eu estiver gritando com um pouco menos de ódio.

Ele empurrou Sirius em direção a porta com muita dificuldade, enquanto este ainda pensava no que fazer. Queria estar ali com Lupin quando tudo iniciasse, mas o outro parecia tão desesperado que ficou dividido entre acatar a sugestão para acalmá-lo e ficar ali e tentar conter a fúria selvagem do amigo.

Sentiu os braços de Remus pararem de empurrá-lo em direção a saída e viu assustado que ele corria para a parede mais distante, fazendo um barulho esquisito. Era uma mistura de ganido, uivo e grito. Ele começou a se contorcer e mandou Sirius sair, que obedeceu e fechou a porta atrás de si, encostando-se nela. Sentiu ódio de si mesmo por não ter ficado lá e tentado ajudar, como tinha planejado, mas no fundo sabia que era impossível impedir Lupin de se machucar.

Assumiu sua forma animal, ganindo baixinho a cada urro de dor que ouvia. Seguindo o conselho de Moony, entrou novamente ao perceber a queda da intensidade dos gritos.

O lobisomem estava mais uma vez encolhido e estirado no chão, passando as garras pelo próprio corpo. Rosnou para Padfoot, que latiu forte, interrompendo os cortes que Moony fazia em si mesmo.

O belo cachorro preto sentou-se sobre as patas traseiras, observando enquanto o lobisomem gania de dor. A forma que Remus assumia era realmente assustadora, mas Sirius sabia que ali dentro estava seu amigo.

Passou o resto da noite observando atentamente o licantropo, andando em volta dele e rosnando e latindo quando ele dava sinais de querer se machucar. Já estava entrando em desespero, pensando que se adormecesse, Moony poderia se machucar mais, quando a lua abandonou o céu e o outro deu sinal de estar voltando ao normal.

Ele foi até a porta e pegou algumas coisas. Quando voltou a sua posição, no lugar onde antes havia um grande lobo assustador, jazia agora apenas um garoto. Um garoto que estava coberto de cortes, sangue e sem nenhuma roupa.

Sirius logo voltou a sua forma humana e jogou uma coberta sobre Remus.

– Obrigado... de novo.

– Shh! Não precisa falar nada, certo? Apenas descanse e espere madame Pomfrey chegar.

Lupin pensou que o amigo iria embora, mas ele apenas voltou e o cobriu com mais uma coberta. Agradeceu mentalmente por isso, pois o clima estava terrivelmente gelado.

– Você está com cortes horríveis! – Sirius pareceu pensar sobre algo importante por um momento e então se virou novamente. – Se eu estiver machucando você, apenas avise, certo?

O castanho acenou positivamente, sem entender de que forma Sirius o machucaria. Então observou com surpresa enquanto ele virava novamente um cachorro e puxava suas cobertas com a boca, deixando todo o tronco descoberto. Aproximou-se devagar de Remus e passou a lamber delicadamente seus cortes.

A língua de Padfoot era quente e dava uma sensação boa por onde passava. Também parecia relaxar os músculos tensionados, arrancando alguns gemidos de satisfação de Remus. O garoto se sentiu corar por toda a estranha atenção que recebia do amigo e tentou evitar os sentimentos errados que Sirius despertava nele.

Sempre precisava se lembrar que aqueles profundos olhos azuis acinzentados emoldurados por cabelos pretos deveriam representar para ele apenas amizade. Mas como se lembrar disso agora que Padfoot trazia tantas sensações boas e tanta atenção?

Assim que terminou o que estava fazendo, o cachorro se enrolou ao lado do garoto e puxou com a pata um pedaço de pergaminho que Lupin logo reconheceu como o mapa.

Ele fechou os olhos, sentindo-se adormecido e quente. Era diferente de quando sentia frio e dores fortes antes da enfermeira chegar. Quase desejou que madame Pomfrey não viesse e o deixasse ali, com Padfoot enrolado nele como um grande cobertor preto.

Tentou entender por que o amigo estava sendo tão cuidadoso. Sirius se transformou de novo em humano, puxando as cobertas até o pescoço de Lupin.

– Tenho que me esconder, madame Pomfrey vem vindo – viu o outro apenas acenar com o olhar perdido. – Você está bem? – outro aceno positivo.

Então foi para um canto afastado, sumindo debaixo da capa no exato momento que a enfermeira abriu a porta e olhou cheia de pena para Remus.



Os outros três ocupantes do quarto estavam dormindo quando Sirius se jogou cansado em sua cama. Fechou os olhos e só teve tempo de questionar se havia assustado Remus com suas atitudes antes de cair em um sono profundo.



– Sirius? – a voz de James parecia vir de muito longe. Do final de um túnel, ou de uma ligação ruim. – Você está bem?

– Sim – ele murmurou ainda de olhos fechados. – Mas estou com muito sono.

– Certo... Só queria avisar que Remus já está aqui. E ele está bem.

Sirius concordou com a cabeça e caiu de novo no sono.

Enquanto isso, o castanho tomava seu café da manhã, trazido pelos dois amigos. Estava sentado na cama, sentindo-se bem melhor do que em outras manhãs. Ficou vermelho ao lembrar o motivo de estar melhor dessa vez.

Imaginou por que Sirius ainda não tinha aparecido ali, talvez ele tivesse se arrependido de gastar tanto tempo com o lobisomem na noite passada. Fungou um pouquinho.

– Como foi seu encontro ontem, Prongs?

– Foi ótimo! – Os olhos castanho-esverdeados brilharam. – Nós fomos a Hogsmeade e tomamos algumas cervejas amanteigadas no Três Vassouras e eu comprei uma pena nova para ela. Sabe, Lily realmente gosta de penas... E ela me beijou – os outros deram risadinhas e James revirou os olhos, ainda animado. – Quando estávamos entrando em Hogwarts, eu perguntei se ela queria namorar comigo. Adivinhem só?

– Ela disse não? – Sirius surgiu no meio dos amigos, sentando na cama de Lupin com um sorriso torto para James. Como gostava de tirar sarro do outro!

– Cale a boca! Bom, voltando, agora eu sou um homem comprometido.

Os três parabenizaram Potter, que finalmente conseguira algo com a ruiva, depois de séculos tentando fazê-la pelo menos olhar para ele.

– Já não era sem tempo, afinal.

– Ha-ha. Mas e você? Também sumiu ontem à noite, Sirius... Aliás, chegou bem depois de mim, pelo visto. Você está com olheiras enormes.

– Eu...

– É verdade, onde foi? – Peter franziu as sobrancelhas.

Black dirigiu os olhos para Lupin, como se pedisse ao garoto uma ajuda. Nem ao menos sabia se queria contar aos amigos que esteve com Remus e também não sabia se ele queria que os outros soubessem.

– Sabe, estou me sentindo muito bem – o castanho socorreu Sirius. – O que planejaram fazer hoje?

Eles se entusiasmaram programando coisas para fazer e esqueceram-se de interrogar Sirius, que sussurrou um agradecimento para Lupin assim que os outros não estavam vendo.

Dessa vez as armações dos Marauders não foram interrompidas e causaram grande alvoroço no castelo. Mesmo assim, nada conseguiu desviar os pensamentos de Remus e Sirius um do outro.


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