Depois do que aconteceu no corredor, Sirius sentiu que o namorado estava agindo de modo estranho. Imaginou que fosse por ter gritado com ele e decidiu pedir desculpa. Assim que a noite caiu, os Marauders se encontraram no salão comunal, para armar alguma coisa contra os sonserinos. Remus relutou um pouco, mas no final, concordou em ajudar.

– Só preciso esconder isso de Lily. Apesar dela ainda estar muito magoada com aquele babaca, sempre fica furiosa quando fazemos algo contra os sonserinos.

– Se ele tivesse feito comigo o que fez com ela, na frente de todo aquele pessoal, eu imploraria para ajudar a ferrá-lo.

– Como se alguém fosse chamá-lo de... – Peter baixou a voz – sangue ruim. Seu sangue é puro, Sirius.

– Isso é tudo babaquice. Existem milhares de nascidos trouxas muito mais talentosos que certos “sangues puros”.

– De qualquer forma, acho que ela não gosta que a gente apronte com ninguém. Seja sonserino, corvinal, lufo ou grifinório.

Eles continuaram conversando, com Remus dividido entre dar palpites de vez em quando e fazer os deveres. Quando se deram conta, eram os únicos ali. Peter avisou que ia dormir, bocejou e subiu as escadas.

– Vamos também? Acho que já está tarde – James levantou.

– Já vou também. Só tenho que guardar meus livros.

– Sirius?

– Vou ficar por aqui mais um pouco. Preciso pensar.

– Certo.

James suspirou e então subiu para o quarto. Sirius precisando pensar? Certo, o que é que tinha acontecido?

– Eu te ajudo com isso.

– Não precisa, Sirius. Pode ficar pensando.

– Você está chateado comigo – não era uma pergunta. – Desculpe por ter gritado com você.

– Não tem problema, não estou chateado com você. Você estava nervoso e eu estava falando demais.

– Não! Eu não devia ter descontado em você.

– Já falei que não estou chateado com você!

– Então vem aqui. Eu não beijei você ontem, estou com saudade – Sirius sorriu, pegando a mão de Lupin.

– Eu estou com sono, vou dormir – o castanho puxou a mão delicadamente.

– Remus! Para com isso, eu já pedi desculpa... Não fica bravo comigo.

– Não estou bravo com você!

– Então o que aconteceu? Nós passamos todas as noites juntos há um mês e de repente você está com sono e vai dormir?

– Eu estou bravo comigo, certo? Não é com você.

– Posso saber por quê?

– Porque hoje de tarde eu não pude ajudar você! Era eu quem estava contigo quando dois sonserinos te irritaram, fui eu que te impedi de estuporar um aluno e, mesmo assim, a única pessoa que conseguiu acalmar você foi James!

Sirius ficou sem entender o que Lupin queria dizer exatamente e ficou olhando para ele meio perdido.

– Eu falei que ia subir para ver você e ele me disse que eu sabia que só ele poderia resolver isso. E ele tinha razão porque ao invés de consolar você eu fiquei só reclamando por ter machucado o pulso usando sua varinha e só te irritei mais e então James foi conversar com você e dez segundos depois já estava tudo bem. Eu sou um péssimo namorado.

– Remus, você não está... com ciúmes de James, está?

– Não!

– Certo. Você não é um péssimo namorado, em primeiro lugar. E não estava tudo bem dez segundos depois. James comentou que eu quase soquei a cara dele?

– Você... o que?

– É. James não queria que você fosse falar comigo porque eu ia gritar com qualquer um que chegasse perto. Você sabe como eu sou impulsivo, me dói admitir isso, mas é verdade. Ele já está acostumado com meus ataques de fúria e sabe que nada que eu falar ou fizer naquele momento é válido. Mas e você? O que ia pensar se eu ameaçasse te socar? – Remus pareceu pensar na pergunta. – Não é você que não pode me ajudar, sou eu que não posso ser ajudado.

Os dois ficaram se encarando em silêncio. Remus digerindo a informação com calma e Sirius tentando ver pela expressão do namorado se ele tinha entendido tudo.

– Tudo certo, agora?

– Acho que sim...

– Posso beijar você, então?

– Aqui?

– É... Não tem ninguém, todos estão dormindo.

– Mas e se aparecer alguém?

– Para de se preocupar.

Ele rolou os olhos, puxando o castanho para si e colando os lábios nos dele. Fechou os olhos imediatamente, curtindo o momento. Remus não demorou a se desligar das pessoas que poderiam aparecer e se entregou ao beijo, deixando a língua de Sirius invadir sua boca. Haviam passado quase quarenta e oito horas sem aquilo e, Merlin!, foi muito tempo.

As mãos do menor já estavam nos cabelos do moreno quando eles se separaram. Ele fechou os olhos e encostou a testa no pescoço de Sirius. Suspirou, gravando o cheiro pela milésima vez.

– Vamos.

– Preciso pegar minhas coisas.

– Accio – e então os livros estavam na mão de Sirius.

Os dois subiram até o dormitório, as mãos entrelaçadas. Remus fechou a cortina e então colocou rapidamente o pijama, indo em seguida para a cama do moreno, que já estava deitado.

– Sirius?

– Fala.

– Eu percebi que você deu uma diminuída no ritmo nesse último mês... se é que me entende – James olhou atravessado para o amigo.

– Na verdade, não. Não entendo.

– Não tenho visto você com nenhuma garota. E seu fã-clube só aumenta. Você sempre está por perto, o que significa que não está agarrando alguma delas nos armários. O que houve com você, cara?

– Está cuidando da minha vida particular agora?

– Bom, nunca foi muito particular, não é? – Peter deu uma risadinha.

Remus agarrava o garfo com mais força do que o necessário, mas os outros três não percebiam. Sirius tentava fugir do assunto.

– Olha, se você não acha que nenhuma delas está à altura, procure em outras casas. Não sendo uma sonserina...

– Obrigado pelo conselho, vou discuti-lo com Lily e ouvir o que ela pensa sobre isso.

– Ei, cara! Eu estou falando sobre você. Eu nunca trairia a minha ruiva.

– Sirius, estamos realmente preocupados com você – Peter usou um tom cordial. – Não é, pessoal?

James concordou e Remus olhou para Peter com cara de “cale a boca agora mesmo ou vou te azarar até ficar inconsciente”.

– Ah, claro. Afinal, quando Sirius não está agarrando vinte garotas durante o intervalo entre uma aula e outra, ele, com certeza, está doente.

– Remus, o que foi, cara?

– Nada – ele falou enquanto arrancava um pedaço de pão com tanta força que esfarelou.

– Vocês dois estão estranhos.

– E vocês dois só dificultam a minha vida – Sirius comentou, bebendo suco. Sabia que o namorado ia ficar um bom tempo irritado por causa do assunto.

– De qualquer forma, o que eu queria falar é que tem uma lufa loirinha que passa a aula inteira de Aritmancia babando em cima de você. Não sei como não percebeu ainda.

É porque eu fico vendo o quanto Remus fica lindo concentrado – Sirius pensou com um sorriso.

– Ahn... legal.

– Vai falar com ela?

– Por quê?

– Porque ela é bonita cara! – James quase gritou. – Onde você está com a cabeça, francamente...

– Olha, você está namorando e eu não estou te falando nada. Então me deixa quieto com o meu... – ele quase falou “com o meu namoro” – com a minha solidão, que eu te deixo em paz com seu namoro.

– Isso não vai ficar assim, Black... não vai – James comentou ameaçador, enfiando uma garfada na boca. Os outros três reviraram os olhos. – Vou descobrir o que você está tramando.

– Certo, mas engole primeiro.

Fora esse pequeno incidente, que deixou Remus profundamente incomodado, o dia passou normalmente. Sirius começou a pensar no que os amigos falaram; ele não poderia esconder para sempre o motivo de ter abandonado completamente a vida de pegador. E isso os levava novamente ao problema de contar ou não contar sobre o namoro.

Pensou um pouco e passou um bilhete para Lupin. O garoto pegou o papelzinho e o desdobrou, lendo a mensagem do namorado. 

Desculpe por hoje... 

A pena arranhou brevemente o mesmo papel e ele passou de volta para Sirius. 

Por que está se desculpando?Não foi você que iniciou o assunto... E também não é culpa de James e Peter... eles não sabem. 

Black suspirou aliviado. Tinha se irritado com os comentários dos amigos, mas sabia que realmente não era culpa deles. Sempre havia ficado com várias garotas e de repente simplesmente parecia ter ido viver em celibato... Também estranharia se não soubesse a razão. Sorriu, escrevendo para Remus. 

Isso significa que não vai me molestar hoje à noite? 

Remus amassou o papel e jogou em Sirius, com cara de irritação e totalmente corado. O moreno se continha para não gargalhar. Nunca deixaria Remus se esquecer daquilo.