Pra não Dizer que não Falei de Flores escrita por Moony


Capítulo 18
Vida nova




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Capítulo 17 – Vida nova

 

 

Naquela sexta-feira eu já não estava lá muito sóbrio. Walter muito menos. Junte a isso uma casa só pra nós e já dá pra imaginar o aconteceu. Eu deveria ter ido embora exatamente após ter vestido minhas roupas, mas nem sequer cheguei a vesti-las. Só sei que em determinado momento me senti incomodado com a luz, e abri os olhos devagar. A luz vinha de uma fresta da cortina da janela. Estava de manhã.

 

- Ei! O que foi isso? – Walter acordou e se assustou, quando levantei da cama de um pulo. O que só serviu pra me deixar tonto.

 

- Olha só isso, Walter! – gritei, apontando pra janela.

 

- O quê? – ele perguntou, com a voz engrolada e os olhos quase fechados.

 

- O sol! Já tá de manhã.

 

- Ah... tá – ele resmungou, voltando a se deitar. – Isso é ruim?

 

- Claro que é! Eu não dormi em casa! – expliquei, correndo pro banheiro e catando minhas roupas no caminho.

 

- Hã? Essa é a minha... aah, entendi!

 

- Tua velocidade me comove.

 

- Ah, vai... Não é nada tão absurdo assim.

 

- É claro que é – continuei falando, do banheiro. – Saí e não voltei, não avisei, nem nada do tipo.

 

- Você é maior de idade e responsável.

 

- Mesmo assim. Olha aí meu celular.

 

- Quinze chamadas não atendidas – ele falou, depois de algum tempo. - Nada mal pra uma primeira vez.

 

- Viu só? Já devem ter chamado a polícia, os bombeiros, o exército, o FBI...

 

- Tá, tá, já sei. Mas isso ia acontecer um dia.

 

- E você? Vai ficar largado nessa cama? – perguntei, ao sair do banheiro e dar de cara com Walter no mesmo lugar onde o tinha deixado.

 

- Claro. Tô com sono e minha cabeça dói.

 

- De jeito nenhum. Vai se vestir e me deixar em casa. Enquanto você se veste, eu como alguma coisa.

 

- Ah, ótimo. Que boa notícia.

 

- x -

 

Walter me deixou um quarteirão antes de casa. Deviam ser umas dez horas da manhã, e quando entrei encontrei minha mãe no sofá com uma cara nem um pouco amigável e meu pai lendo um jornal.

 

- Isso são horas? – ela falou, assim que entrei no seu campo de visão.

 

- Foi mal, mãe.

 

- Foi péssimo. Eu liguei milhões de vezes, e você nem pra responder! Fiquei aqui imaginando coisas horríveis, horas e horas esperando...

 

- Deixa o menino, Marta. Já era hora de ele passar umas noites fora.

 

- Ah, você defende? Sabe-se lá onde ele estava, ou com quem, ou fazendo o quê. Você nunca fez isso antes, Rodrigo!

 

- Eu sei, é só que... Sei lá, aconteceu.

 

- Aconteceu! Assim é muito bom. Faz uma coisa errada e depois é só dizer que “aconteceu”!

 

- Não faz drama! – meu pai voltou a falar – Ele não estava vendendo drogas nem nada, estava? – ele falou, se dirigindo a mim.

 

- Claro que não.

 

- Viu? O garoto tem que se divertir.

 

- Se divertir!?

 

Depois de cinco minutos, ela estava mais interessada em discutir a ideia que o meu pai fazia de diversão do que em brigar comigo. Aproveitei pra subir discretamente pro meu quarto e me deixar cair na cama. Umas horinhas a mais de sono não me fariam mal. Mas, claro, minha felicidade durou pouco.

 

- O que você pensa que está fazendo? – minha mãe perguntou, ao surgir de repente na porta.

 

- Dormindo.

 

- Dormindo coisa nenhuma! Vai comer.

 

- Já comi.

 

- O quê? E aonde?

 

- Coisas que as pessoas comem de manhã, mãe. Café e etc. Eu desço já.

 

- Ah, claro! Dorme fora, come fora, tem tudo o que precisa fora! – Ótimo. Começou a fazer drama. – Não sei se você se lembra, mas segunda-feira você vai trabalhar!

 

- Eu sei.

 

- E isso é jeito de começar? Virando irresponsável?

 

- Irresponsável? Não fiz nada demais.

 

- Nada demais? Chega de ressaca em casa, no outro dia, e não fez nada demais?

 

- Chega! Tá bom? Me deixa dormir, depois a gente conversa. Não precisa falar como se o mundo tivesse acabando por causa disso. Mas que drama!

 

Ela ainda ia falar mais alguma coisa, mas meu pai chegou e a arrastou dali. Tudo bem, eu não tinha sido o mais responsável dos filhos, mas daí a ficar gritando no meu ouvido por horas já é outra história.

 

Só queria dormir.

 

- x -

 

Minha mãe passou o final de semana me olhando meio torto, com uma cara incrível de você-não-é-mais-o-meu-bebê. Mas na manhã de segunda-feira já estava me entupindo de comida e recomendações, como se fosse meu primeiro dia de aula. E, pra falar a verdade, a perspectiva de não almoçar em casa era realmente assustadora.

 

O prédio do jornal ficava quase no centro da cidade, a uns quinze minutos de ônibus da minha casa. Fui redirecionada pra umas cinco pessoas diferentes quando cheguei lá, até ser deixado nas mãos de uma mulher baixinha e apressada. Segurando firmemente o meu braço, ela me levou até o quarto andar, falando sem parar.

 

- Você não precisa fazer nada demais, pelo menos não nessas primeiras semanas. Sabe como é, às vezes as pessoas precisam de café, muito, muito café, cópias, muitas, muitas cópias, e coisas do tipo. Você apenas faz o que te mandarem fazer e espera que mais alguém te mande fazer mais alguma coisa. Que semestre que ‘cê tá mesmo?

 

- Terminando o segundo.

 

- Ótimo. É bom ir se acostumando com o ambiente mesmo, daqui a pouco vai estar mexendo com o jornalismo em si. Mas agora... – ela parou pra respirar, me jogando numa salinha apertada cheia de divisórias - ...faça apenas o necessário e de vez em quando um pouco mais. E lembre-se – ela falou, num tom sério, apontando um dedo gordinho pra mim – esteja sempre cinco minutos adiantado.

 

- Ok – respondi, ligeiramente abobalhado.

 

Olhei ao meu redor. Além de dentro das salinhas, havia divisórias por toda parte. Muitos computadores e muitas pessoas digitando ou correndo pra lá e pra cá com papéis na mão. Outras tantas falavam em uns três telefones ou celulares ao mesmo tempo. Era angustiante, um tanto claustrofóbico e, principalmente, rápido demais. Velocidade nunca foi o meu forte.

 

Levei alguns segundos pra perceber que estava sendo chamado. Uma moça com uns óculos de aros grossos estava me pedindo café. E algum tempo depois de ter recebido a xícara dela percebi que nem sequer me lembrava direito do lugar onde aquela mulher tinha me dito que tinha a máquina do café. Ótimo.

 

- É ali, ó – disse a moça, me apontando o outro lado daquela parte do andar. Devia ser mais perto.

 

Eu pensei que ficaria restrito só àquela sala, mas por onde passava alguém queria alguma coisa. Foram raros os instantes em que eu pude me sentar e respirar um pouco. E, por um momento ou dois, cheguei a pensar que tinha visto o Walter correndo pra algum lugar. Pode ter sido só desespero.

 

Só sei que saí cerca de quinze minutos depois do que deveria, e ainda encontrei o Walter do lado de fora, praticamente grudado na porta do jornal, olhando pra rua de um modo nada convincente.

 

- Achei que a gente tinha combinado de só se ver na faculdade. – eu falei, chegando por trás dele e lhe dando um pequeno susto.

 

- Ah, é que... você já ia sair mesmo, que é que custa te esperar? A gente almoça e vai pra faculdade, tudo certinho como sempre foi.

 

- ‘Cê me viu lá? – perguntei enquanto andávamos até o estacionamento.

 

- Trabalhando? Não.

 

- Não mesmo? Tive a impressão de ter te visto passando.

 

- Não te vi. Eu fico rodando pra lá e pra cá o tempo todo.

 

- Foi o que fiz hoje.

 

- Nossa, que animação... – ele ironizou – É cansativo, mas depois ‘cê acostuma.

 

- É, né.

 

- Caramba...

 

- O quê?

 

- Tu é muito morto, cara – ele falou, rindo, enquanto procurava a chave do carro no bolso.

 

- Muito engraçado.

 

Almoçamos no R.U. e seguimos felizes, ou quase isso, para as aulas da tarde. Dentro de algumas semanas a faculdade entraria em recesso de fim de ano e o semestre terminaria. O que significava, basicamente, que tínhamos um monte de provas e planos pra fazer.

 

- Vai fazer o que no Natal? – Walter perguntou.

 

- Sei lá... Geralmente tem só uma ceia lá em casa e pronto. Parentes e tal.

 

- Hm.

 

- E você?

 

- Vou assistir Mary Poppins e depois dormir – ele respondeu, sério e dramático.

 

- Ah, claro. Programão.

 

- Maravilhoso.

 

- Você sabe que não vou te deixar sozinho em pleno Natal.

 

- Não?

 

- Claro que não. ‘Cê pode ir lá em casa.

 

- Mas é tão família. Fica estranho.

 

- Teoricamente, você é meu melhor amigo e vai passar o Natal sozinho. Mães não resistem a isso.

 

- Sei lá.

 

- Você vai.

 

- Se você diz...

 

Ele fez um draminha, mas eu sabia que queria ser chamado. Não é muito legal passar um Natal sozinho... Não mesmo.

 

- x -

 

A rotina nova estava me matando. Acordar cedo, ir pro jornal, queimar todas as calorias possíveis ao correr por todo o prédio, almoçar no R.U., assistir todas as aulas, passar em todas as matérias e, de quebra, ainda pegar ônibus lotado pra voltar pra casa. No fim de semana meu único objetivo era dormir até o universo não existir mais. Ótimo começo.

 


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Notas finais do capítulo

N.A.: Milhõoooooooes de desculpas pela demora i.i Realmente não consegui escrever nada de Flores nesse último mês, mas finalmente saiu esse capítulo. Daqui pra semana que vem eu vou entrar de férias e aí terei tempo pra escrever mais :D Também estou escrevendo o capítulo dois de The Greatest, que entalou no primeiro, coitada.
Sobre Flores: Natal bem fora de época, hein? xD Tudo bem, dá pra superar. Pretendo escrever capítulos maiores, senão a fic vai ficar enorme (em número de capítulos).
Sobre Beta: estou em busca de uma (ou mais) beta para as minhas fics, em especial Flores e Ontens. Sabe como é, eu amo escrever, mas não tenho paciência pra gramática =/ Se alguém se interessar, manda um MP, ok? :D
Até mais, pessoal...