Pra não Dizer que não Falei de Flores escrita por Moony


Capítulo 17
Correntes




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 Capítulo 16 – Correntes

 

 

Lá estávamos nós, na noite de sexta, mais uma vez na casa da dita cuja. Nunca me senti bem no meio de muita gente, mas também não ia dar uma de chato e não sair com Walter pra lugar nenhum. Pior, não ia deixá-lo ficar saindo sozinho por aí.

 

Assim que entramos, a moça surgiu com uma taça na mão e deu dois beijos estalados na bochecha de Walter. Respirei profundamente e, antes que começasse a contar até dez, ela me dirigiu um sorrisinho falso e o puxou pela mão, dizendo que queria que ele conhecesse não-sei-quem.

 

Durante os dois segundos que fiquei estatelado no mesmo lugar onde estava, vendo uma maluca levar meu namorado embora, repassei mentalmente as coisas que poderia fazer; eu poderia ir atrás deles, puxar o Walter pela outra mão e ir embora com ele ou simplesmente segui-los.

 

Eu já estava me preparando para pôr em prática a primeira opção quando o vi voltando para perto de mim. E, o mais importante, sozinho.

 

-  Ok, ok, já voltei. Não precisa pular em cima dela. – ele falou, quando viu minha expressão nem um pouco amigável.

 

Pra minha total surpresa, Walter segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Olhei pra ele, prestes a perguntar o que diabos ele estava fazendo, mas simplesmente começamos a andar pela casa em busca de algum lugar ou coisa mais interessante a fazer.

 

A iluminação já era fraca, o que dificultava que as pessoas vissem que estávamos de mãos dadas, mas não demorou muito tempo para alguém notar e passar a informação adiante. As reações eram diferentes de pessoa pra pessoa. Alguns olhavam meio de lado e depois voltavam a conversar e beber, para parecer que não tinham visto nada ou que não se importavam. Outros além de olhar de lado, faziam cara feia e saíam de perto, enquanto alguns pareciam empolgados e prestes a nos abraçar.

 

Não era uma situação fácil, mas, passado o constrangimento inicial, o que senti foi uma espécie de euforia. Como a sensação de estar sendo libertado de correntes apertadas. Walter, no entanto, sempre teve esse “dom” de parecer sempre jovial e despreocupado, mesmo que não estivesse.

 

Subimos a escada e fomos parar na mesma janela em que ficamos na outra noite em que estivemos naquela casa. As rosas tinham sido trocadas por umas flores brancas que eu não sabia o nome.

 

- São lírios – Walter explicou.

 

Passamos alguns minutos em silêncio, ora admirando os lírios, ora olhando a rua pela janela. Walter ainda não havia soltado a minha mão, e agora brincava com meus dedos.

 

- Se houver algum fofoqueiro por aqui – e provavelmente há – amanhã seremos notícia na faculdade. – ele comentou, com um tom de culpa.

 

 - É... Mas que se há de fazer? Também não estou muito afim de ficar me escondendo.

 

- Pois é.

 

- Mas sabe, Walter... Isso é tão bom. Apesar de tudo, às vezes eu acho que não me importo muito.

 

- Não se importa?

 

- Não... Não completamente. Bom, talvez eu só esteja sendo um pouco maluco e impulsivo, mas a verdade é que agora, nesse exato momento, eu não estou me importando tanto com aquelas pessoas lá embaixo quanto achei que me importaria.

 

- Hm... – ele resmungou, pensando um pouco. – Eu não sei. Só queria poder, sei lá, fazer as coisas sem olhar pros lados. Seria um avanço e tanto. Mas na minha situação isso é fácil, por agora... – ele deu uma pausa para pegar duas taças de vinho com o garçom que passou por nós - ...sou só eu. Mas você tem seus pais e tudo.

 

- É, eu sei...

 

- Não consegue imaginar o que eles diriam? – ele perguntou, enquanto me entregava uma das taças.

 

- Sinceramente... não. Não tenho a menor ideia da reação deles. É isso que me dá medo, é um tiro no escuro.

 

- Bom... Então talvez seja melhor preparar um pouco o terreno. De qualquer forma, não acho que nada que digam de nós chegue até lá.

 

- É. Eu prefiro acreditar que as pessoas tenham mais o que fazer do que falar da gente.

 

- Criança inocente... – ele riu, tomando o vinho, que, por sinal, não era ruim.

 

Passamos a maior das duas horas seguintes andando furtivamente por ali, aproveitando os cantinhos escuros para beijos e derivados. Num dos intervalos em que íamos pegar mais bebidas, levei um belo de um susto.

 

Conversando em um grupo particularmente animado estava Lucas. Incrível como eu nunca considerava a possibilidade de que ele estaria no mesmo lugar que eu. Principalmente se esse lugar fosse o mesmo em que o vi pela primeira vez. Lá estava ele, voltando à cena do crime.

 

Bom, eu pensei, não vou ficar me torturando por isso. Como eu posso querer não me esbarrar por aí com uma pessoa que estuda na mesma faculdade que eu? Praticamente impossível, ainda mais numa cidade relativamente pequena. Eu já tinha coisas o bastante para me preocupar e não ia ser isso que me tiraria o sono.

 

Walter pegou duas latinhas de cerveja e voltamos a subir a escada. Quando passamos ao lado do grupo, vi apenas que o olhar de Lucas se direcionou às nossas mãos dadas e depois a mim.

 

- Eu vi que ele estava lá – Walter falou, quando chegamos a um lugar mais afastado. Na verdade, um quarto. Acho que ele esperava que eu dissesse alguma coisa, mas como não falei, continuou – Ele já parou de te encher?

 

- Eu não posso evitar que ele venha aos mesmos lugares que nós.

 

- Não foi isso que eu perguntei.

 

- Walter, pelo amor de Deus... Você fala como se ele vivesse tentando me agarrar ou algo do tipo.

 

- Bom, ele está a um passo disso. E você tá evitando responder, o que significa que sim, ele ainda está te enchendo.

 

- Ele só disse que queria conversar, e eu só respondi que não havia o que conversar. Nada mais, nada menos.

 

- Conversar? Hm, sei... – ele resmungou, virando a latinha. – Sei bem o tipo de conversa que ele quer ter.

 

- Deixa disso, vai. O cara só tá conversando com os amigos dele lá embaixo. Não tem porque ficar se estressando por isso.

 

Ele ia falar mais alguma coisa, ou melhor, ia reclamar de mais alguma coisa, então o beijei. E beijei de um jeito que não faria se estivesse completamente sóbrio. Em menos de dois minutos eu já estava praticamente sentado no colo dele, que, por sua vez, estava sentado numa cômoda.

 

Registrei vagamente o som do abrir de uma porta, mas não estava em condições de perceber que era a do quarto onde estávamos. Apenas quando nos soltamos para respirar foi que percebi que era Lucas que tinha aberto a porta. Ele nos olhava com um misto de surpresa e decepção, o que me fez acreditar que entrou lá sem querer. Walter não o viu, pois estava ocupado demais beijando meu pescoço e enfiando as mãos por baixo da minha camisa, o que, inclusive, também limitava minha capacidade de raciocínio. Mas o outro não permaneceu nos assistindo por muito tempo; com passos lentos e talvez um tanto constrangido, deu meia volta, saiu e fechou a porta. Não pude um evitar um suspiro de alívio.

 

- Walter, ei... – falei, com o resto de sanidade que ainda tinha ao perceber que Walter estava lutando com seu cinto. – Espera, eu não vou fazer isso aqui.

 

- Porque não? Ninguém vai entrar.

 

Com muito esforço, consegui segurar uma gargalhada. Definitivamente, aquele quarto não oferecia muita privacidade.

 

- Mesmo assim... Eu não quero. Sem condições.

 

- Mas... você não quer me deixar assim, quer? – ele choramingou, apontando o volume entre suas pernas.

 

- Vamos pra sua casa.

 

- Mas daqui pra lá...

 

- Walter... por favor.

 

Ele não resistiu a isso e, com um suspiro de resignação, bebeu um resto de cerveja quente e fomos embora daquele quarto. Na descida da escada ainda pude ver Lucas sentado a um canto, como uma long neck nas mãos e o olhar perdido em algum lugar qualquer.

 

Não dá pra negar que senti uma pontada de culpa. Acho que, pela primeira vez, me pus no seu lugar. Não devia estar sendo fácil pra ele, mas o que eu poderia fazer? Ainda pensando assim, entrei no táxi e partimos para casa.

 


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Notas finais do capítulo

N.A.: Bom, faz mais de um mês que não atualizo Flores, maaaas... Tem sido difícil escrever, tive (e ainda tenho) muitas provas pra fazer (inclusive uma amanhã xD) e, de quebra, um ligeiro bloqueio criativo i.i' Mas nesse meio tempo postei mais um capítulo (na verdade, a primeira parte dele) em Todos aqueles ontens e avancei em alguns contos. Agora estou começando a colocar em Flores os conflitos que planejei :D Desculpem a demora em responder os comentários, e não deixem de ler, ok? :D

Até mais...