Pra não Dizer que não Falei de Flores escrita por Moony


Capítulo 15
Ainda é cedo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/17882/chapter/15

Capítulo 14 – Ainda é cedo

 

 

Como esperado, só nos vimos na segunda-feira à tarde, na faculdade. Walter parecia cansado e infeliz, e eu preferi esperar que ele mesmo tocasse no assunto “fui-abandonado-de-vez”.

 

- Bom, agora eu sou o mais novo solitário do mundo. – ele disse, com um suspiro cansado assim que o sinal para o intervalo soou.

 

- Você supera. Veja o lado bom, tem uma casa inteira só pra você.

 

- Isso é o lado bom? Vou ter pesadelos. É sério, não posso viver sozinho, está além das minhas possibilidades.

 

- Eu vou com você até lá hoje, vai se sentir melhor.

 

- Eu não quero. – ele falou, amuado. Como assim não quer? – Não quero que você vá até lá, passe duas ou três horas e vá embora.

 

- E o que você quer, afinal?

 

- Quero que fique lá. Permaneça lá, entende?

 

Olhei para ele, incrédulo. Parecia estar falando sério mesmo. Mas era uma idéia absurda. Ou não. Bom, talvez fosse absurda justamente por isso.

 

- Do que você está falando, exatamente? – perguntei, tentando ganhar tempo.

 

- Estou falando do óbvio, Rô. Pensa bem – ele começou, chegando mais perto - , nós namoramos, certo?

 

- Certo.

- Nos damos muito bem, certo?

 

- Aann... Certo.

 

- Somos maiores de idade e responsáveis pelos nossos atos. Estamos prestes a completar vinte anos.

 

- Acabei de fazer dezenove.

 

- Então, só falta um ano. De qualquer forma, somos adultos plenamente capazes. Podemos trabalhar e nos sustentar.

 

- Walter, resume.

 

- Enfim, podemos morar juntos.

 

Continuei calado por alguns segundos. Nos conhecíamos há cerca de um ano, namorávamos há apenas dois meses. Morar na mesma casa, só nós dois. Tentador. Até demais.

 

- Walter, eu não... Não sei se isso é uma boa idéia.

 

- Porque não? Você não quer?

 

- Quero, mas... Talvez seja cedo demais. Pra falar verdade, eu ainda nem cogitei a possibilidade de sair de casa.

 

- Você não vai morar com seus pais pelo resto da vida. Ou vai?

 

- Claro que não, só acho que esse não é o momento. O que você quer que eu faça? Que chegue pra eles e diga que vou morar com o meu namorado?

 

- Vai ter que dizer isso um dia. Ou então deixá-los continuar pensando que sou apenas um amigo. Não há nada de errado em dividir uma casa com um amigo.

 

- Um apartamento até que vá lá, mas uma casa já é um pouco demais, não acha?

 

- Não.

 

Ok, estava difícil manter uma conversa. Ainda levei alguns minutos para constatar que estávamos quase brigando e enquanto isso Walter continuava com uma expressão que eu só conseguia definir como frustração.

 

- Tá bom... – ele voltou a falar, pondo o rosto entre as mãos e se acalmando – Tudo bem, eu me precipitei. Desculpa.

 

Eu não sabia o que era pior. Se me sentir culpado por estar sempre contra tudo ou ainda estar com raiva sabe-se lá pelo quê. Eu não estava gostando nem um pouco daquela situação que fazia com que eu me sentisse como uma criança medrosa. Walter não estava errado e eu também não. Talvez ele estivesse realmente querendo ir rápido demais, mas não era essa a minha preocupação. Eu gostaria mesmo de viver com ele um dia, mas não estava preparado. E realmente gostaria que ele pudesse entender isso, mas não conseguia falar.

 

Era tão mais fácil discordar um do outro quando éramos apenas amigos!

 

- x -

 

Apesar do estranho silêncio que se abateu sobre nós no resto da tarde, fui até a casa dele. Pra mim não parecia nada diferente, porque, afinal de contas, nunca tinha visto muita gente por lá mesmo. Mas Walter parecia suspirar a cada cômodo vazio que encontrava.

Enfim, ele jogou a mochila no chão do quarto e foi tomar um banho. Quando saiu parecia mais calmo, e me soltou um sorriso. Melhor assim.

 

- Esquece, tá. Foi doideira minha. – ele falou, como que continuando a conversa de horas atrás.

 

- Não, não foi tão má idéia... É só que não acho que seja o momento certo.

 

- Ok.

 

Ainda assim, o clima estranho permanecia e nossos beijos não eram o suficiente para quebrá-lo. E, como sempre, eu me sentia o culpado de tudo, ainda que não fosse.

 

- x -

 

Saí de lá mais cedo que o normal, pensando que talvez as horas longe um do outro pudessem nos ajudar. Só nos vimos na tarde do dia seguinte, e me surpreendeu o modo como podíamos agir como se nada tivesse acontecido.

 

- Aquele cara voltou a falar com você? – Walter perguntou, ou melhor, quase afirmou. Ele tinha esse estranho “dom” de puxar um assunto desagradável assim que outro tivesse sido resolvido.

 

- Só pra me dar parabéns.

 

- Hã?

 

- Ah, Walter, deixa de ser revoltado. Ele falou, eu respondi e não nos vimos mais, só isso. Por mim, eu nunca mais o veria mesmo.

 

- Hm... Que bom.

 

Ok, admito que era ótimo pro meu ego ver o Walter com ciúmes. Mas tem dias que a gente simplesmente não tem paciência pra essas coisas e ele deve ter percebido isso... Não sei, eu sentia um cansaço estranho de coisas que antes nem me importava. E olha que a gente só tinha quase discutido. Imagina se tivesse sido uma briga de verdade...

 

- Você tá me odiando? – ele perguntou de repente, me arrancando dos meus pensamentos. Não pude evitar um sorriso.

 

- Claro que não.

 

- Então não fica com essa cara de que tá me odiando.

 

- Eu não estou assim... Ei!

 

- Hã?

 

- Você gosta mesmo dos meus olhos?

 

- Você tem uns surtos estranhos às vezes... Não era esse o assunto.

 

- Eu sei que não, mas fiquei com vontade de perguntar isso agora... Gosta ou não?

 

- Claro que gosto. Imagina só se a gente pudesse ter filhos; iam ter esses olhinhos puxados. Você tem que confiar mais nos seus dotes.

 

O clima melhorou depois disso. Confiar nos meus dotes? Talvez, se realmente os tinha. Nunca fui muito ligado nessas coisas, mas Walter fazia com eu mesmo me visse de um modo diferente. E melhor. Bem melhor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N.A.: Voltei, depois de quatrocentos anos sem atualizar a fic xD
Bom, vocês devem imaginar que eu demorei por causa da volta às aulas... E foi isso mesmo. Ando cheia de coisas pra fazer e fui louca o suficiente pra entrar em milhares de cursos só pra ter menos tempo ainda o_O
Enfim... passei um tempinho sem escrever,m as agora vou tentar conciliar tudo direitinho.
Esse capítulo é, digamos assim, uma introdução para o problema da casa e de futuras discussões 8D E não, o Lucas não sumiu! O rapaz vai voltar com tudo xD
Continuem acompanhando ^^ Eu demoro, mas atualizo xD
Até mais...