Levei-a para dar uma volta no Central Park. Annabeth mantia o bom humor de antes, mas eu ficara meio chateado por causa do fora que eu tinha levado.

Certo, eu mereci e eu já esperava que ela dissesse não, Annabeth era daquelas meninas impossiveis que não ficava com qualquer um.

Sem querer parecer egocêntrico, mas eu não sou qualquer um. Mas aquela garota fazia eu me sentir assim.

Já pode parar de viadagem, Percy.– me repreendi mentalmente.

– O que foi, cabeça de alga? Você parece pensativo. - Annie comentou, seus olhos cinzas me deixando sem graça.

– Não é nada. - menti. Ela levantou a sobrancelha.

– Não parece ser nada. - ela disse. - Eu fiz algo errado?

– Claro que não Annie. - falei e passei a mão no cabelo constrangido. - Só o meu ego foi ferido.
Ela botou as mãos nos bolsos e suspirou.
- Você ia me beijar na pista de gelo? - ela indagou inexpressiva.
– Não. - menti.

– Não? - ela ergueu uma sobrancelha e parou de andar.

– Sim. - confessei. - Mas você ia me bater.

– Ia mesmo. - ela falou rindo.

– Sou tão repulsivo assim? - falei brincando, mas a curiosidade pesava por trás das minhas palavras.Ela franziu os lábios.

– Eu gosto de você. - ela disse corando. - Quer dizer, não de um jeito romântico, mas se ignorar a sua canalhisse e egocentrismo, você é legal.

Ah, maravilha.

– Interessante. - eu disse.

– Isso é estranho. - ela disse alguns minutos depois.

– Eu sou estranho? Ah, obrigado. - ela riu.

– Não você, cabeça de alga. Nós. - ela corou levemente. - Quer dizer, eu te conheço a menos de uma semana e no entanto aqui estou eu.

– Nossa, eu sou tão ruim assim? - perguntei brincando.

– Argh, esquece, você é muito cabeça de alga. - ela disse gesticulando com as mãos.

Notei que o sol estava se pondo. O tempo passava tão rápido ao lado dela.

– Acho melhor te levar pra casa. - disse. - Se Malcom souber que você estava comigo ia tentar me bater.

Ela fez uma careta.

– Homens. - ela revirou os olhos.

Ri da sua careta. Deixei-a na soleira da porta da sua casa.

– Obrigado pelo passeio. - ela disse sorrindo e pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha. - Foi muito divertido.

– Vai fazer algo amanhã? - perguntei.

– Na verdade sim. - ela falou e mordeu os lábios.

– Ah. - tentei esconder meu desapontamento. - Certo.

Ela sorriu timidamente.

– Te vejo por aí. - disse.

Ela sorriu e me deu um beijo demorado na bochecha. Lancei-lhe um último sorriso antes de ir pra casa. 
Duas horas depois estava jogado na cama, pensando na tarde que tivera com Annabeth. Ela era tão espontânea, engraçada, linda. Tão diferente de Rachel e das garotas que eu conhecia.

– Argh, já chega Percy. - falei em voz alta.

Levantei da cama e notei que a janela de Annabeth estava aberta.

Annabeth estava sentada no chão, sua costa estava encostada na cama, ela tinha um livro grosso nas mãos. Notei que ela estava chorando.

Fiquei tentado a pular da minha janela e confortá-la, mas isso provavelmente iria assustá-la. Fiquei observando-a até ela largar o livro no chão e ir em direção de onde eu lembrava ser o banheiro.

Segundos depois ela voltou segurando algo pequeno entre os dedos. Ela respirou fundo e pousou um dos braços sob o joelho.

Ouvi uma batida na porta do quarto e fechei a cortina rapidamente. Malcom entrou no quarto.

– E aí? - falei.

– Preciso da sua ajuda. - ele disse se jogando na minha cama.

– O que você fez dessa vez? - perguntei suspirando. - Traiu Bianca novamente?
- Também. - disse fazendo uma cara triste. - Cara, ela vai terminar comigo.
- Já estava na hora dela tomar uma atitude assim. - disse. 
Malcom me olhou sem acreditar.
- Porque você é meu amigo mesmo? - ele indagou horrorizado. 

POV ANNIE

Quando o relógio apontou para as duas horas eu fui me vestir. Coloquei jeans, uma camiseta preta e meus coturnos. Como a temperatura estava caindo, coloquei um casaco azul.

Tia Suzan tinha ido trabalhar novamente. Ia pedir para Malcom me dar uma carona até o shopping mas ele estava ocupado demais dormindo.

Bem feito Annabeth, quem manda não querer aprender a dirigir verão passado. Agora você vai andando. Andei uma centena de metros até um carro parar ao meu lado.

– Quer uma carona? - Percy perguntou sorrindo. Sorri de volta e entrei no carro.

– Como vai Annie? - ele perguntou depois de alguns minutos.

– Bem e você? - respondi franzindo os lábios.

– Bem. - ele respondeu simplesmente. -Indo para onde?

– Shopping. - disse. - E você?

– Não sabia que você era uma dessas meninas que gostam de viver em shoppings. - ele disse.

– Cala a boca Cabeça-de-Alga. - falei dando-lhe um murro no braço. - Estou indo encontrar uma pessoa.

Percy apertou as mãos no volantes

.- Uma pessoa? - ele indagou inexpressivo.

– É, eu o conheci ontem na livraria. - ela disse estreitando os olhos. - Algum problema, Percy? Você parece esquisito.

– Eu não sabia que você era tão fácil assim. - ele disse me deixando boquiaberta.

– Como é que é? - perguntei chocada.

Eu não esperava que ele dissesse algo como isso para mim. Nunca.

– Digo, você conheceu o cara ontem e já vai se encontrar com ele. - ele disse se defendendo.

A essa altura estávamos no estacionamento do shopping.

– Isso não é da sua conta. - falei irritada. - Você não pode me dizer com quem eu devo sair ou não.

Percy bufou e desviou os olhos.

– Você é um idiota Percy. - falei e sai do carro.

Ouvi ele me chamar de novo. Resolvi ignorá-lo. Quem ele pensava que era pra falar assim comigo? Argh.

Comprei um milkshake para me acalmar e fui até o café onde tinha sentado com Erick.

O encontrei na mesma mesa que tinhamos nos sentado antes. Ele estava com uma camisa azul com mangas, jeans e tênis.

Tirei Percy e o que aconteceu no carro da minha mente e olhei para Erick.

Suas sobrancelhas grossas estavam franzidas de concentração, seus olhos negros pregados em um livro.

Ok, ele estava um gato.

Parei em sua frente e pigarreei. Ele levantou os olhos do livro e sorriu abertamente.

– Hey, achei que você não vinha. - ele disse levantando-se e me dando um beijo na bochecha.

– Tive um pequeno contratempo, por isso me atrasei. - disse me sentando. Ele sorriu e pediu dois capuccinos.

– Então... - comecei. - Eu não sei seu sobrenome.

– Manson. - ele disse. - Também não sei o seu.

– Chase. - eu disse.

Ficamos conversando por um grande tempo até que eu vi um certo garoto irritante sentado do outro lado da livraria com um livro tentando esconder o rosto. Rosnei.

– Erick, eu estou adorando conversar com você, mas eu preciso ir. - disse me levantando.

Ele se levantou junto e me deu um beijo na bochecha.

– Eu te ligo. - ele disse e eu assenti.

Fui marchando até onde ele estava.

– Está me seguindo? - grunhi para ele.

Ele levantou os olhos do livro que estava 'lendo'.

– Não. - Percy disse com cara de inocente. - Porque acha isso?

– O livro está de cabeça para baixo, Cabeça de alga. - eu disse. Ele se mecheu desconfortável.

– Eu... gosto de ler livros de cabeça para baixo. - ele disse. - Por causa da dislexia.

Ele deixou o livro de lado e levantou.

– Vamos, eu te levo pra casa. - ele disse segurando na minha cintura. Eu me afastei.

– Prefiro ir andando. - eu disse e sai de perto dele.

Ouvi ele bufar e me seguir.

– Annie. - ele disse atrás de mim. - Fale comigo.

– Não. - disse.

Sabia que estava sendo infantil, mas não me importava.Percy me seguiu até o estacionamento do shopping que estava deserto.

– Sabe que eu não vou deixar você ir sozinha, certo? -ele disse agora andando ao meu lado.

– Quero ver você me fazer mudar de ideia. - disse o provocando.

– Não pretendo fazer isso. - ele disse e antes que eu pudesse perguntar o que ele queria dizer ele me levantou e me colocou no seu ombro.

Me esperniei e bati nas suas costas mas foi inútil.

– Percy, me larga. - falei.

Ele riu e foi em direção ao seu carro. Me colocou dentro e foi para o outro lado. Me virei em direção a janela e cruzei os braços. Ele entrou no carro e riu da minha criancisse.

– Annie? - ele indagou e eu o ignorei. Ele pegou meu queixo e me fez olhar para ele. - Olhe para mim.

Olhei para ele cética.

– Desculpe pelas coisas que disse antes. - ele disse. - Você estava certa, não era da minha conta.

– Tem razão, não era. - eu disse ríspida mas por dentro já o tinha desculpado. - Porque estava me seguindo?

Ele se virou para a frente e ligou o carro me ignorando. Resolvi insistir.

– Porque você estava me seguindo? - insisti.

– Eu não estava. - ele disse parando num sinal. O olhei cética.

– Não me olhe assim. - ele disse me olhando pelo canto do olho. O sinal ficou verde e ele voltou a dirigir.

– Argh, você é muito irritante, porque não me diz de uma vez? - eu disse quando estávamos na esquina de casa. Ele parou o carro.

– Eu não estava seguindo você. - ele disse. - Não conscientemente.

– Isso não faz sentido . - falei revirando os olhos. 

– É verdade. - ele disse rapidamente. 

Meus ombros caíram.

– Queria que eu te seguisse? - ele perguntou sorrindo de lado.

– Estava começando a achar que você iria virar meu stalker. - disse sorrindo maliciosamente.

Ele gargalhou e se aproximou mais, nossos rostos a trinta centímetros de distância.

– Normalmente todas as garotas me perseguem e não ao contrário. - ele disse se aproximando mais. Dei uma risada sarcástica.

– Egocêntrico. - disse se aproximando.

– Nerd. - ele disse.

– Cabeça-de-alga. - revidei.

– Sabidinha. - ele respondeu.

Nossos rostos estavam a menos de cinco centímetros de distância.Tinha consciência de tudo a minha volta. Minha casa estava a cinco casas de onde estávamos.

Percy estava me olhando, seus olhos brilhando com humor e algo mais. Sentia que estava ficando vermelha, Percy sorriu e se aproximou mais.

Eu me afastei rindo porque minha ideia tinha dado certo. Ele me olhou confuso mas depois entendera.

– Isso não foi legal. - ele disse se afastando novamente. Eu gargalhei.

– O que você estava dizendo sobre garotas lhe perseguindo? - brinquei. Ele bufou com raiva.

– A maioria é assim. - ele disse se defendendo. - Você é diferente da maioria.

– Vou considerar isso como um elogio. - disse de brincadeira. Ele riu e ligou o carro.

– Vou lhe deixar em casa antes que você me humilhe mais. - ele disse rindo.

– Não seja tão dramático. - disse quando ele parou na frente da minha casa.

– Mais uma coisa. - ele disse segurando meu pulso. - Acidentalmente vi você chorando ontem a noite.

Fiquei em choque. Involuntariamente meus olhos foram para meu pulso livre, minhas marcas escondidas pela jaqueta.

Eu tinha me cortado ontem a noite. Engoli em seco, ele não podia ter visto ou podia?

– O que você viu? - sussurrei fechando os olhos.

Não tem como ele saber. - pensei. - Ele ainda está falando comigo e não está me chamando de louca.

– Porque você estava chorando? - ele perguntou afagando meu rosto com a outra mão. Franzi as sobrancelhas estranhando o ato.

– Nada demais, só saudades de casa. - menti abrindo os olhos.

Seus olhos verdes estavam me encarando com curiosidade.

– E o que era aquilo que você estava segurando? - ele perguntou.

Prendi a respiração.Então ele sabia. Ele só estava me testando para ter certeza de que eu era louca, que eu me cortava, que eu era insana.

– O que você viu Percy? - falei fechando os olhos de novo. 

- Só vi você chorando e pegando um negócio, depois disso Malcom chegou e eu fechei a cortina para que ele não a visse daquele jeito. - ele disse e eu abri os olhos soltando a respiração aliviada.

Ele não tinha visto o que eu fazia.

– Não era nada Percy. - disse abrindo a porta do carro. - Eu preciso ir, nos falamos depois, ok?

Quando eu sai do carro ele segurou meu pulso.

– Annabeth. - ele me olhou com intensidade. - Você pode confiar em mim.

– Sei disso. - sussurrei e fechei a porta do carro.

Corri até o meu quarto. Tranquei a porta e fechei a janela.Então me joguei no chão esgotada.

Ele quase tinha visto. Ele pode estar desconfiado.

Deve estar agora mesmo pensando o quão louca eu devo ser. Percy disse que eu podia confiar nele, mas eu sabia que se ele soubesse do meu problema, se afastaria e eu não podia deixar isso acontecer.



Percy nunca poderia descobrir sobre isso.