Dream A Little Dream escrita por milacavalcante


Capítulo 25
Capítulo 25 - The A team


Notas iniciais do capítulo

Oi galera! Alguém ainda me acompanha? Espero que sim kkk
Aproveitem o capítulo!



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Estava deitada na minha cama esperando por Carly. Por quê? Ela queria que eu fosse a boneca dela essa noite. Estava com o cabelo cheio de bobes que puxam meu couro cabeludo e não podia usar as mãos e os pés direito porque minhas unhas estavam recém-pintadas.

Tudo por causa de um baile. Eu realmente não entendo a fixação americana por bailes de escola. Digo, é como se fosse o aniversário da sua bisavó só que cheio de adolescentes usando vestidos e dançando. Não tem motivo pra tanto entusiasmo.

Carly entrou no quarto ajeitando o próprio cabelo seguida por tia Suzan que estava tagarelando sobre os bailes do seu ensino médio.

- Ann, estamos atrasada. – Carly disse correndo pra tirar aqueles objetos torturadores do meu cabelo.

- Se acalma Carly. – disse. Ela respirou fundo e começou a trançar o meu cabelo.

Quase 1 hora depois, terminamos de se arrumar. Carly estava estonteante com o cabelo preso num coque trabalhado e a maquiagem natural.

Meu cabelo estava mais enrolado do que o normal. Mas não estava o enrolado emaranhado como é normalmente e sim com cachos bonitinhos. Duas traças pediam dele formando um U na parte de trás do meu cabelo. Carly me maquiara (não que eu tivesse escolha) com uma sombra marrom escura. Até que eu estava legalzinha... Tá, eu estava uma gata.

Malcom entrou no quarto e assobio pra nós duas.

- É muita tentação morar com essas gatas. – ele disse rindo.

- Credo. – eu e Carly dissemos ao mesmo tempo.

- Que coisa feia de se dizer, filho. – tia Suzan disse e Malcom revirou os olhos.

- Eu estou indo buscar a Bianca. – ele disse. – Tchau mulheres.

- Não antes de eu tirar uma foto de vocês três. – ela disse pegando uma câmera.

Ela tirou uma foto e Malcom se despediu correndo.

Minutos depois a campainha tocou.

- Percy ou Erick? – tia Suzan disse empolgada e correndo do quarto.

Ri da empolgação dela.

- Não sei quem está mais empolgada, se é você ou sua mãe. – comentei.

Carly olhou sonhadoramente.

- Espero que dê tudo certo hoje. – ela disse dançando pelo quarto.

- Annabeth, Carly, desçam aqui. – tia Suzan gritou. – Rápido.

Olhei para Carly mas ela parecia tão curiosa quanto eu. Descemos até a sala de estar e encontramos tia Suzan carregando uma mala.

- O que aconteceu? – perguntei.

- Temos visita. – ela disse sorrindo.

Logo entrou pela porta a última pessoa que eu esperava ver hoje: a minha vó.

- Vovó! – gritei e corri até ela, esmagando-a com um abraço.

- Annabeth, você vai me matar assim. – ela disse mas me abraçou com mais força.

- O que está fazendo aqui? – perguntei soltando-a. – Porque não me disse que estava vindo?

Vovó me lançou um olhar de ‘’cale a boca’’ que só ela sabia dá.

- Você foi embora e esqueceu da velha aqui então eu tive que vir até aqui te dá uns tapas por não ligar. – ela disse sorrindo.

- Desculpe, vó. – disse corando.

- Como você está? – ela perguntou tirando o casaco.

- Ótima. – disse sorrindo.

Vovó sorriu com lágrimas nos olhos.

- Fico feliz. – ela disse e se virou para a sala. – E onde estão meus outros netos?

Carly abraçou-a e a vovó elogiou-a de todas as formas possíveis.

- Onde está aquele moleque gigante? – vovó perguntou.

- Foi pro baile. – Tia Suzan disse. – Ele estava tão lindo, você precisava ter visto.

- Imagino querida. – ela disse e se sentou no sofá. – Então, como estão as coisas aqui? Carly, você está muito magra. Suzan, você está negando comida pra menina?

- Não, mamãe. – tia Suzan disse revirando os olhos. A campainha tocou.

Tia Suzan pulou e correu pra abrir. Erick entrou pela porta segurando um buquê de tulipas e parecia nervoso.

- É o Erick. – Tia Suzan disse sorrindo e sentando na poltrona.

- Boa noite. – ele disse timidamente. Carly foi até ele e deu um beijo no rosto.

- Vovó esse é o meu namorado, Erick. – ela disse. Vovó olhou pra ele séria por alguns momentos. Erick ficou da cor do seu cabelo.

- Eu gosto de ruivos. – ela disse simplesmente. – Se eu tivesse vinte anos a menos você estaria em problemas mocinha.

- Mamãe. – Tia Suzan disse rindo.  – Controle-se.

- O que? – vovó perguntou inocente. – Ele é um gatinho.

Me espoquei de rir.

- A senhora não existe. – disse sorrindo.

- Então, já vamos. - Carly disse pegando na mão de Erick.

- Não antes de uma foto. – Tia Suzan disse já com a câmera na mão. – Carly, segure o buquê. Erick, isso foi tão romântico.

- Obrigada. – Erick disse ainda vermelho.

Carly foi até a cozinha e botou o buquê num vaso com água, se despediu da gente e foi embora.

Sentei ao lado da vovó.

- Você parece tão bem. – ela disse afagando o meu rosto. – Até o brilho dos seus olhos voltou.

Revirei os olhos.

- Fico feliz que esteja aqui. – disse abraçando-a.

- Você está tão linda. – ela disse limpando uma lágrima. – Sua mãe usou um vestido parecido com esse no seu primeiro baile, sabia? Você se parece tanto com ela.

Sorri tentando conter as lágrimas.

- Eu sinto tanto a falta dela. – eu disse.

- Eu sei, filha, eu sei. – ela disse limpando uma lágrima que escapou. – Mas sem choro.

A campainha tocou.

- Deve ser o Percy. – eu disse e tia Suzan correu pra porta limpando uma lágrima do rosto.

Tia Suzan abriu a porta e Percy entrou.

Levantei e o abracei.

- Você está linda. – ele disse baixinho.

- Obrigada.  – respondi.

Peguei na sua mão.

- Vovó, esse é o Percy. – eu disse. – Meu namorado.

Vovó arregalou os olhos por um momento e sorriu.

- Prazer em conhecê-lo, Percy. – ela disse.

- Já vamos tá? – eu disse abraçando-a. – Te amo vovó.

- Também amo você, filha. – ela disse e olhou pra tia Suzan. – Suzan, agora venha que temos que conversar.

Sorri e sai de casa com Percy.

- Sua avó parece ser bem legal. – ele disse abrindo a porta do carro pra mim.

- Ela é. – disse e ele fechou a porta do carro e entrou no outro lado.

Percy colocou a chave na ignição mas não ligou o carro.

- Já disse que você está linda? – ele perguntou me olhando.

- Já, mas eu posso ouvir mais uma vez. – disse sorrindo.

- Você está linda. – ele disse me beijando.

 - Você também não está nada mal. – disse olhando-o de cima a baixo.

Percy ligou o carro e começou a dirigir.

- Onde quer jantar? – Percy perguntou.

Pensei por um momento antes de responder.

- Não faço ideia. – respondi. – Que tal na lanchonete da esquina?

Percy bufou e revirou os olhos ao mesmo tempo.

- Hoje é um dia especial, precisamos comer algo especial. – ele disse. – Comida japonesa.

- Sushi? – indaguei levantando uma sobrancelha. – Você gosta de sushi?

- Nunca comi. – ele confessou. – Você quer?

Será adorável ver o Percy vomitar polvo.

- Não perderia por nada. – disse e ele foi a caminho do restaurante.

Liguei o som do carro dele e sintonizei numa rádio qualquer. Estava tocando uma música country antiga.

- Que música é essa? – Percy perguntou indignado. – É horrível.

- Eu sei. – disse simplesmente e comecei a cantarolar junto.

- Esquisita. – Percy disse bufando e estacionando o carro na frente do restaurante.

Nunca tinha vindo neste restaurante. Ele era pequeno e claro. Mesas japonesas estavam espalhadas pelo local e havia diversos adolescentes no recinto, grande maioria eu já tinha visto pelos corredores do colégio.

Sentamos numa mesa no canto, um de frente para o outro. O garçom veio anotar os nossos pedidos. Pedi sushi de camarão e Percy de salmão.

Ficamos num silêncio estranho. Achei esquisito pois nunca tínhamos momentos assim.

- Está tudo bem? – perguntei franzindo as sobrancelhas.

- Sim, porque não estaria? – ele perguntou sorrindo. – E você?

- Estou bem. – perguntei achando o comportamento esquisito. Por que ele parecia tão nervoso? – Percy, porque você está tão esquisito?

Percy desviou os olhos com culpa. Agora pelo o que?

- Eu só... – ele começou mas nessa hora o garçom chegou com a comida.

Comemos em silêncio. Estava claro que Percy se arrependera de ir naquele restaurante. A cada sushi colocado na boca ele fazia uma careta horrível.

Tentei conversar pra amenizar o clima estranho.

 - Não é muito fã de sushi, estou certa? – perguntei colocando um na boca.

Percy sorriu.

- São esses palitos, eles são muito difíceis de manejar. – ele disse.

- Você tem que segurar assim. – disse mostrando como se fazia.

Percy tentou sem sucesso.

- Você faz parecer simples. – ele disse tentando de novo e dessa vez conseguindo. – Há.

Mas quando ele colocou na boca fez a mesma careta de antes.

- Ok, eu não sou fã de sushi. – ele confessou de boca cheia.

Com isso, ele quase voltou ao normal. Voltamos a conversar como antes, mas havia uma certa hesitação no Percy que me deixava preocupada.

Não toquei no assunto de novo até estarmos no carro.

- O que está havendo Percy? – perguntei sem rodeios.

Percy limpou a garganta e olhou pra mim.

- Não é nada demais, só um pressentimento. – ele disse dando de ombros.

- Que pressentimento? – perguntei.

- Você vai embora? – ele perguntou ao invés de responder.

Dessa vez eu fiquei realmente confusa.

- De onde você tirou isso? – indaguei sorrindo. – Não, eu acho que não vou.

Percy franziu os lábios.

- Tem certeza? – ele indagou de novo.

- Sem a menor chance. – respondi sem hesitar.

Estava feliz com a minha nova vida, porque haveria de mudar?

- Sua avó não veio te buscar? – ele perguntou finalmente.

Gargalhei.

- Foi isso que você achou? – perguntei. – Não bobão, ela só veio visitar.

Percy suspirou aliviado.

- Ótimo. – ele disse e me puxou para um beijo.

Ele me beijou com urgência. Correspondi sua urgência meio sem jeito.

- Pare. – eu disse quando a sua mão foi pra dentro do meu vestido. – Percy, chega.

Ele me olhou com mágoa e suspirou.

- Certo. – ele disse beijando minha bochecha e ligando o carro.

Recostei-me na janela sem olhar pra ele.

- Desculpe por isso. – ele disse de repente.

- Sem problemas. – disse sem olhar pra ele. – É algo normal.

Percy assobiou.

- Vem aqui. – ele disse estendendo um braço pra mim. Recostei-me em seu meio abraço até chegarmos ao ginásio.

O ginásio estava decorado com panos vermelhos e brancos. Havia muita gente chegando e mais gente ainda lá dentro.

Entramos e vimos Thalia e Nico dançando desajeitados num canto. Acho que eles não estavam ligando muito pra dança pois só ficavam balançando de um lado pro outro e se olhando apaixonadamente.

Sorri. Thalia sempre tinha sido durona com os garotos até conhecer Nico. Ela me viu e sorriu. Acenei.

Percy entrelaçou seus dedos nos meus.

- Me dá a honra dessa dança? – perguntou perto do meu ouvido causando um arrepio.

Sorri e acenei. Ele me conduziu até a pista de dança. Começamos a dançar no ritmo rápido da música.

Algumas pessoas vieram falar conosco. Conversei com muita gente que não falava no dia a dia. Era engraçado, via essas pessoas todos os dias na escola e nenhuma teve coragem de falar comigo, mas numa festa parece que todos nos conhecíamos por anos.

Percy ficava olhando ao redor a procura de alguma coisa mas quando eu perguntava o que era ele desconversava.

- Não é nada. – ele dizia dando de ombros.

Voltamos a dançar até cansar. Percy continuava agindo estranho e isso estava me irritando.

- Percy, o que diabos há com você? – perguntei pela milésima vez. Percy olhou pra mim preocupado.

- Nada Annie. – ele respondeu simplesmente.

- Então pare de agir do jeito que está agindo. – disse explodindo. – Eu não gosto disso.

Percy desviou os olhos.

- Annie, eu... – ele começou.

- Tanto faz Percy, vou ao banheiro. – disse e me dirigi ao banheiro.

Assim que entrei no banheiro, me arrependi da explosão que tive. Percy tinha o direito de guardar segredos seja lá qual fosse o segredo. Thalia entrou no banheiro e eu acabei contando tudo pra ela.

- Você sabe que não pode controlar essas coisas. – ela disse. – Ele é homem. Homens tem essas frescuras.

Ri da forma como ela falou.

- Isso é bem irritante, né? – indaguei ajeitando o cabelo. – E nós somos bem piores.

- Bem piores. – Thalia concordou enfaticamente.

Acabei falando com ela por mais alguns minutos.

- Acho melhor ir atrás dele e pedir desculpas. – disse de má vontade.

Thalia concordou.

- Boa sorte. – ela disse e eu saí pra procura-lo.

Percy não estava aonde estávamos antes e em canto nenhum. Perguntei pra algumas pessoas se o tinham visto mas nenhuma sabia. Senti um frio no início do estômago, será que ele tinha ido embora?

Procurei entre a pista de dança e até fiz Grover procura-lo no banheiro masculino, mas nem sinal dele.

Fui pro lado de fora ver se o seu carro ainda estava ali. Lá fora estava deserto, todos os estudantes já haviam chegado e estavam se divertindo lá dentro. A música alta estava abafada pela acústica então só conseguia ouvir o bum bum bum das batidas.

- Você sabe que tivemos bons momentos. – ouvi uma voz a minha esquerda dizer. Virei silenciosamente pra ver.

- Sim, mas... – ouvi a voz de Percy. Meu coração começou a bater mais rápido. Isso não estava acontecendo.

- Shiu. – a voz que eu menos queria ouvir respondeu novamente. – Esse foi o nosso combinado, lembra? Desde o inicio?

- As coisas mudaram Rachel. – ele disse.

- Mudaram? – ela indagou sarcasticamente. – Não acredito.

- Rachel... – Percy disse mas foi cortado.

- Ninguém vai descobrir nada se você... – ela abaixou a voz para um murmúrio.

Não consegui ouvir o que eles disseram em seguida, mas pude ver o que aconteceu. Um beijo.

Senti meu corpo tremer e vi pontos pretos na minha visão. Me apoiei no que estivesse ao meu alcance, no caso uma planta. Ela fez um ruído. Percy deu um pulo e olhou na minha direção.

Nos encaramos por um momento. Senti meu mundo ruir ao encarar seus olhos. Meu coração bateu mais rápido, minhas pernas ficaram bambas e meus olhos encheram de lágrimas. Não podia acreditar no que estava acontecendo.

- Annabeth, eu... – ele começou a vir na minha direção mas eu me afastei pra longe dele e corri pra dentro.

Corri por entre a pista de dança esbarrando em muita gente. Não sabia o que estava fazendo ou pra onde ir. O melhor a fazer era ir pra casa. Não queria encontrar com o Percy de novo. Não agora. Nem nunca mais.

Procurei por algum rosto conhecido, mas todos pareciam ter sumido diante de mim. Senti meu celular tocar mas o ignorei. Segurei as lágrimas com dificuldade eminente.

Pelo canto do olho pude ver Rachel subindo no pequeno palco onde estava o dj, o diretor e um senhor com terno.

A música parou, fazendo todos os presentes pararem e olharem para o palco. O diretor começou a falar no microfone e os holofotes apontaram pra ele.

- Boa noite estudantes. – ele começou. – É um prazer receber a todos aqui. Estão se divertindo?

Um coro de vivas seguiu-se. Fiquei calada olhando ao redor com urgência. A última coisa que estava era me divertindo.

- Está na hora de anunciar a instituição que ajudaremos esse ano, afinal esse é um baile beneficente. – ele disse. – Rachel, é com você.

Ouvir a voz daquela vadia tão empolgada foi como uma faca atravessando meu cérebro.

- Boa noite a todos. – ela disse quase dando pulinhos. – Esse é o Doutor Robert Butchel, responsável pelo centro de reabilitação de Nova York.

Senti um frio subir pela minha espinha.

- Para quem não sabe, essa instituição é especialista em pessoas com problemas suicidas, bulimia e sérios problemas mentais. – Rachel esclareceu. – Temos um vídeo explicativo mostrando como é o centro e como são as pessoas tratadas por ele.

As luzes apagaram e um momento de puro terror me tomou antes do vídeo começar.  O vídeo começou explicando sobre a história do centro de reabilitação e suas dependências. Achei ter visto Thalia em um canto mas era só uma menina do primeiro ano.

Não conseguia mas ver o rosto de ninguém. Minhas pernas tremiam muito e não conseguia focar em ninguém.

O vídeo começou a falar sobre os pacientes de lá. Foi quando meu inferno começou de verdade. No vídeo aparecia diversas fotos de pessoas com doenças psicológicas mas isso não era tudo.

O problema de verdade era o que estava sendo falado.

‘’Sozinha, a dor era pior, quase palpável, era como se eu estivesse sendo arranhada por cem facas afiadas. E lá estava ela. A ideia absurda e doentia que me fazia tremer de horror e expectativa ao mesmo tempo. O objeto prateado pesava uma tonelada entre meus dedos. ‘’

Não. Não. Não. Não podia ser coincidência. Eu tinha escrito isso, exatamente nessas palavras.

‘’Um lado da minha mente gritava para eu não fazer isso enquanto o outro dizia que isso me faria sentir melhor. Em meio que em um estado de transe, sentei-me na cama e posicionei meu braço em cima da coxa, de forma que meu pulso ficasse exposto.’’

Sentia que não conseguia respirar. O desespero tomou conta de mim. Isso não estava acontecendo.

‘’Pressionei o canivete com força contra uma marca não tão recente que tinha ali até romper a epiderme. Logo um filete de sangue surgiu e como das outras vezes que me cortei o alivio foi imediato. Era como se uma dor sobrepujasse a outra, tornando a dor física mais fácil de suportar. Logo, ambas as dores sumiram e uma terceira e talvez a pior de todas as dores apareceu: o arrependimento. ’’

O vídeo apagou e as luzes se acenderam como um flash, me cegando por um momento. Pude ver Malcom do outro lado e saí em sua direção. Estava difícil chegar lá entre a confusão de estudantes espremidos no caminho.

- Essa é a realidade dessas pessoas mentalmente debilitadas. – Rachel disse como se estivesse sofrendo. – E é com muita dor no coração que eu informo que essa triste história acontece com um de nós.

Ela não vai fazer isso. Ela não pode.

Cheguei no Malcolm e ele me olhou preocupado.

- Está tudo bem? – ele perguntou.   - Me tire daqui, agora. – implorei.

Ele assentiu e fomos em direção a saída.

- Essa narração que vocês ouviram é de uma de nossas estudantes. – Rachel disse confiante. – E é com prazer que ela vem nos dar seu depoimento. Com vocês...

Não faça isso, por favor, não faça.

- ... Annabeth Chase. – ela disse em júbilo.

Um momento de silêncio percorreu o ginásio. Logo, todos olharam em volta, a procura da garota suicida.

- Annabeth, onde está você? – Rachel perguntou. – Venha até aqui.

Os holofotes finalmente me encontraram. Parada, estupefata com o acontecido. Um por um, adolescentes viraram na direção onde eu estava. Ouvi risinhos pelo salão e comentários maldosos. Olhos me encaravam de todas as direções, se divertindo, julgando, afirmando coisas que eu preferia não pensar.

 - Vamos sair daqui. – Malcolm disse sério.   - Vamos Annabeth, não seja tímida. – Rachel disse.

Engoli as lágrimas e me afastei de Malcolm. Por onde eu passava as pessoas davam um passo pra trás, como se eu tivesse alguma doença contagiosa. Cheguei na beira do palco e uma mão me segurou. Olhei e era Percy.

- Não faça isso. – ele disse suplicando.

Ignorei-o e subi os três degraus indo para o meio do palco.

Minhas lágrimas haviam secado. Posicionei-me no meio do palco e encarei a multidão que olhava pra mim como um entretenimento.

- Eu não acho que isso tenha sido adequado... – o doutor começou a dizer para Rachel mas ela o ignorou.

- Então Annabeth, conte-nos como é sofrer disso. – Rachel disse.

Peguei o microfone e hesitei.

- Você roubou a minha história, então leia mais um pouco pra nós. – disse inexpressiva.

Rachel sorriu contrariada.

- Eu não roubei nada querida, a história que chegou até mim. – ela disse dando um risinho. – Como mágica.

Silêncio.

- Então, vamos ler mais um trecho dessa adorável história. – ela disse com um sorriso contido. – ‘’ Coloquei a toalha na boca e comecei a gritar. Gritei até meus pulmões ficarem sem ar, sabia que ninguém me ouviria. Peguei a navalha e comecei a me cortar. Um braço e depois o outro. Coxas, barriga. Cada corte novo, cada dor sentida a cada vez que a lâmina afiada perfurava a minha pele era como uma droga para minha mente.’’

- Dramático, huh? – ela disse para a multidão silenciosa. – Annabeth, você poderia mostrar as cicatrizes?

- Não. – respondi de imediato colando os braços ao redor do corpo.

Rachel fechou a cara.

- Vamos lá, estamos todos curiosos pra ver. – ela disse. – Não é?

Poucas pessoas afirmaram.

- Não. – disse novamente. Porque ninguém interferia? Porque estavam deixando ela fazer isso comigo?

- Mostre para nós. – ela disse novamente.

Rachel pegou no meu braço. Engoli a bile que se formou em minha garganta.

- Você quer ver cicatrizes? – perguntei com sangue nos olhos. – Então você vai ver.

Ergui o braço que Rachel não estava segurando e dei um soco no seu nariz, ouvindo um crac agudo.

Rachel pôs as mãos no nariz que se empaparam de sangue e olhou ao redor.

- Louca! – ela gritou. – Internem essa louca!

Sai do palco e Malcolm estava me esperando. Ele passou os braços ao redor de mim com Carly do outro lado olhando feio para qualquer um que encarasse e me tiraram dali.

Não vi Percy depois disso. Entrei no carro de Malcolm em silêncio. Carly veio ao meu lado no banco de trás, com o braço ao redor de mim. Encostei a cabeça em seu ombro e fiquei olhando pra frente. Não chorei em momento algum.

No caminho de casa, Malcolm falava que tinha vontade de matar Rachel e até falou em contratar um assassino mas eu não estava ouvindo.

Ao chegar em casa, saí em silêncio do carro. Malcolm e Carly me olhavam preocupados.

Não me olhem desse jeito. – disse baixo. – E não falem nada pra tia Suzan ou pra vovó.

Eles concordaram e entramos em casa. Tive que dizer milhares de vezes que ia ficar bem antes deles me deixarem sozinha no meu quarto.

Tranquei a porta na chave e tirei os sapatos e o vestido. Sentei na ponta da cama tentando digerir o que tinha acontecido. 

Comecei a chorar baixinho. Eu fui traída e humilhada. Eu tinha certeza que Percy me amava mas não... Ele mostrou o que eu nunca tinha mostrado pra ninguém a não ser ele. Percy mostrou todos os meus segredos mais íntimos a todos, fazendo-os serem ridicularizados por todos.

Eu confiei nele mas do que tinha confiado em alguém em toda a minha vida. E ele me traiu.

Toda a minha confiança, autoestima, e esperança de vida nova, que foi dificilmente arranjada tornou-se poeira em um segundo. Eu não queria mais viver dessa forma. Eu não tinha forças pra isso.

Cambaleei até o banheiro enxugando as lágrimas dos olhos. Peguei uma lâmina afiada e arranhei contra a minha pele. Uma, duas vezes. Senti o sangue esvaindo do meu corpo ao romper uma veia importante. Pensei na família que eu matara. Será que eu os encontraria? Que eles me aceitariam depois disso?

De repente, minha visão embaçou e tudo apagou. 


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Notas finais do capítulo

Não joguem pedras!!!! Antes de tudo, eu juro solenemente que não vou demorar pra postar o último capítulo! Já até comecei a escrever, acho que no feriado de Carnaval (e meu aniversário uhu) eu posto.
Me digam o que acharam nos reviews, o que vocês esperam pro final de Dream a little dream? Digam-me!
PS: Estou carente de recomendações.
Até breve, beijos :*