POV ANNABETH

Novamente tive uma noite sem sonhos. A sensação de não acordar gritando era tão boa que um gemido escapou por meus lábios. Respirei fundo e notei braços ao redor de mim.

 Suspirei lembrando onde estava. Abri os olhos e vi que minha mão estava entrelada com a dele, nossos corpos se encostando.

Virei e olhei para o seu rosto.Seus olhos estavam fechados e sua boca relaxada, um pouco de baba escorria por seu queixo. 

 Dei um sorriso bobo e me repreendi. Não faça isso, você vai se arrepender depois. 

Peguei minhas roupas e troquei de roupa. Dobrei a camisa de Percy e coloquei ao seu lado na cama, voltei para o meu quarto - dessa vez morrendo de medo da altura - e fui me arrumar para a escola.

Não parecia que alguém tinha descoberto que eu passara a noite fora então arrumei a cama e me vesti para a escola, colocando um vestido branco sem mangas e sapatilhas vermelhas. Tomamos café com a mesma empolgação dos outros dias e fomos pra escola.

Carly me lançava olhares maliciosos então tinha certeza que ela sabia que eu não tinha dormido em casa. Chegamos mais cedo que o costume. Peguei os livros do primeiro e do segundo tempo e sentei no chão esperando Thalia chegar.

Abri o livro de física e tentei resolver as últimas questões, minutos depois alguém sentou do meu lado. 

- Bom dia Annie. - Percy disse sorrindo. - Dormiu bem?

- Já tive noites melhores. - menti sorrindo. - E você?

- Foi a melhor noite da minha vida. - ele disse sorrindo. 

Mordi os lábios pensando se ele estaria brincando ou não.

- Pare com isso. - disse batendo no ombro dele. - Eu não sou uma garota boba e romântica. 

Ele gargalhou.

- Claro que não. - ele disse revirando os olhos e dando um muxoxo. - Você tem que ser sempre tão complicada.

 - Ah, cala a boca. - eu disse fazendo bico.

 Ele riu e tocou meu lábio inferior com a ponta do dedo. Virei o resto pro outro lado, Percy bufou.

- O que eu fiz de errado? - ele perguntou se inclinando na minha direção. 

- O que nós fizemos de errado. - o corrigi. - Quase nos beijamos, de novo, dormimos juntos de novo.

- Como amigos. - ele disse inocentemente.

 Ri sem humor. 

- Fale isso pra sua namorada, Cabeça de alga. - o provoquei. - Ela não vai gostar de saber que o namorado está dormindo com uma amiga. 

Percy fechou a cara.

- Você fala como se tívessemos feito sexo até o amanhecer. - ele disse e deu um sorriso malicioso. - O que seria ótimo, mas não fizemos nada.

 - Argh, você é muito cabeça de alga. - eu disse, minhas bochechas esquentando. Resolvi mudar de assunto. - Já sabe o que vai fazer em relação ao seu pai?

 Percy deu um muxoxo de decepção.

 - Não. - ele disse claramente decepcionado. - O que eu devo fazer?

Seus olhos me olharam com tamanha intensidade que eu tive que usar todas as minhas forças para não desviar os olhos.

Ele estava tão perto que eu podia sentir sua respiração contra meu rosto, seus olhos verdes-mar tão pertos que eu podia me afogar neles. Senti minhas bochechas corarem e minha respiração ficar entrecortada.

Ah droga, isso nunca é um bom sinal.

Me afastei e limpei a garganta. 

- E-eu não posso te dizer o que fazer. - gaguejei.

Ele franziu os lábios e fez uma cara de cachorro sem dono. Ah droga, sai dessa Annabeth.

- Para de fazer essa cara. - disse sorrindo. Ele revirou os olhos. - Mas na minha opinião de orfã eu acho que você deveria tentar pelo menos.

Respirei fundo e involuntariamente afaguei o pulso. Só fazia uma semana mas pareciam meses que eu não encostava nada afiado no meu pulso.

Em alguns momentos como quando eu falava sobre a minha vida ou em coisas sérias a ansiedade era tão grande que era quase palpável, mas eu precisava resistir.

 - Desculpe. - ele disse olhando para a minha mão no pulso. - Eu aqui rejeitando o meu pai e você...

- Sem pai. - completei sorrindo fraco. - Não precisa se desculpar.

Ele suspirou e afagou a costa da minha mão.

- Você deve me achar um egoísta idiota. - ele disse sorrindo.

 - A parte do idiota é verdade. - disse sorrindo. 

Ele revirou os olhos e sorriu pra mim.

- Sério, me desculpe. - ele disse.

Abaixei minha cabeça mordendo os lábios.

 - Eu estou bem com isso. - menti. - Só vamos mudar de assunto, tudo bem?

 Ele suspirou.

- Quando você vai parar de mentir pra mim? - ele perguntou entrelaçando nossas mãos. - Você fala dormindo, sabia? Você gemia no sono, dizia que era culpa sua e gritava por seus pais. 

Arregalei os olhos assustada. Ele estava falando sério?

 - Dá pra ver nos seus olhos que você não está tão bem assim. - ele disse afagando meu rosto com a outra mão. 

Tentei me desvencilhar dele e me levantar, mas ele me segurou pela cintura e me segurou junto a ele, quase no seu colo. 

- Para, por favor. - falei fechando os olhos.

Porque ele fica me torturando?

- Annie, olhe para mim. - ele disse. 

Abri os olhos. Novamente ele estava tão perto que nossos narizes quase podiam se tocar. Meus batimentos cardíacos aceleraram ainda mais. 

- Você pode confiar em mim. - ele disse. - Por favor, me conte o que...

O sinal tocou e Percy me soltou. Sai correndo de lá, indo parar nos limites da escola. Deitei na grama e tentei relaxar. 

Será que Percy tinha descoberto tudo? Toda a verdade sobre mim e o meu passado? Os erros que eu cometi que me levou a ficar orfã? 

Tentei pensar racionalmente. Era impossível ele ter descoberto tudo. Respirei algumas vezes até me acalmar.

- Hey, você está bem? - ouvi alguém me perguntar em cima de mim.

Levantei rapidamente abrindo os olhos e dando de testa com Erick.

- Calma corujinha, sou só eu. - ele disse sorrindo.

Suspirei e deitei novamente.

- Você está me seguindo? - perguntei. 

Ele levantou uma sobrancelha.

- Vi você sair correndo e resolvi te seguir. - ele disse passando a mão nos cabelos. - Desculpe.

- Tudo bem. - disse sorrindo sem mostrar os dentes.

- Então, o que aconteceu?

- Não queria assistir a aula de psicologia. - menti.

 - Bom, então temos um tempo inteiro sem fazer nada. - ele disse. - O que quer fazer?

- Que tal deitar e olhar o tempo passar? - sugeri.

- Parece bom. - ele disse sorrindo e deitando ao meu lado.

 Ficamos um tempo olhando para o céu.

 - Então... - ele disse. - Eu estava lembrando outro dia, quando saímos juntos e você...

- E eu te agarrei. - brinquei. Ele riu.

- Mais ou menos isso. - ele disse sorrindo. - Rola um flashback?

Gargalhei e olhei pra ele. 

- Sério? - perguntei sorrindo.

Seu rosto ficou meio vermelho. Mordi os lábios hesitante. Erick era lindo, educado, fofo e  eu me sentia atraída por ele, confesso. Então porque não?

 - Feche os olhos. - disse.

Ele levantou uma sobrancelha indagando, mas fechou os olhos. Virei de bruços ficando meio em cima dele e mordi seu lábio inferior.

Ele suspirou e eu rocei meus lábios nos dele, ele gemeu em protesto.

- Você vai querer me torturar? - ele perguntou abrindo os olhos.

Ri e o beijei. Ele pediu passagem com a sua língua e eu dei entrelaçando nossas línguas numa dança. Ele afagou minhas costas por cima do vestido me arrancando um suspiro.

Por um segundo um par de olhos verdes-mar me veio a mente. Descolei nossas bocas arfando. 

Erick sorriu envergonhado pra mim e beijou meu queixo.

 - Arrependida? - ele perguntou mordendo os lábios.

 Afaguei seu cabelo.

- Não. - disse hesitante.

Ele me deu um sorriso de tirar o fôlego e encostou nossos lábios novamente. Ficamos juntos até o fim daquele tempo, então eu voltei para a aula.

Passei o resto das aulas distraída e confusa. 

Certo, eu gostava de Erick mas porque me sentia culpada em gostar dele? E onde estava Thalia?

Peguei o celular e digitei um sms pra ela.

''Cadê você?'' - enviei. Minutos depois a resposta chegou.

''Sem paciência pra escola, estou no topo do Empire State.'' - ela disse. 

Suspirei.

''Estou morrendo de inveja. E tenho novidades sobre Erick... e Percy. '' - digitei e enviei.

A resposta veio segundos depois.

''Ai meus deuses. Porque as coisas só acontecem quando eu falto aula?'' - ela perguntou.

 ''Bem feito.'' - digitei e mandei. 

POV THALIA

Guardei o celular no bolso traseiro da calça e voltei a observar o alto da cidade de Nova York. A vista daqui fazia a cidade parecer minúscula lá embaixo. 

Sorri para o nada. Eu simplesmente amava essa sensação de superioridade.

 - A vista é incrível, não é? - alguém perguntou ao meu lado. Olhei de soslaio para o garoto.

- Sim. - disse simplesmente e completei. - É o melhor lugar do mundo. 

Ele deu uma risada baixa.

- Concordo. - ele disse e eu olhei pra ele.

Ah destino lindo.

- Huh, eu conheço você, não? - indaguei com um meio sorriso. 

Nico deu um sorriso torto pra mim. 

- Temos algumas aulas juntos. - ele disse estendendo a mão. - Sou Nico DiAngelo.

- Irmão da Bianca, certo? - disse estendendo a mão e apertando-a. - Thalia Grace.

Ele assentiu.

 - Então, você não deveria estar na escola? - ele perguntou voltando a observar a paisagem. 

- Deveria, mas estava sem vontade de perder um dia incrível. - disse observando um pássaro sobrevoar perto do observatório. - E você?

- O mesmo eu acho. - ele disse sorrindo. - Pretende passar o dia aqui?

-Não. - disse mordendo os lábios. - Vou ficar andando por ai.

- Quer um guia turístico? - ele perguntou com um sorriso brincalhão.

 - Seria ótimo. - disse sorrindo.  

Ficamos andando por toda Manhantan o dia todo. Diferente do que eu esperava, Nico mostrou ser um cara bem legal, engraçado e gosta das mesmas bandas que eu.

 - Você é legal. - falei quando estávamos no Central Park. 

- Obrigado. - ele disse sorrindo. - Você também é legal. 

- Obrigada. - disse batendo meu ombro no seu. - Achei que você era, sei lá, egoísta e esnobe que nem os seus amigos. 

Ele riu. 

- Mas eu sou. - ele disse mostrando um sorriso de covinhas. - Com as pessoas certas.

Arqueei uma sobrancelha.

 - Não me olhe assim. - ele disse fazendo careta.

 - Deus, você é um idiota. - eu disse. 

- E você é a santa Thalia, sem hipocrisia garota. - ele disse me olhando feio. 

- Você me chamou de hipócrita? - indaguei bufando. - Quem você pensa que é pra me chamar de hipócrita garoto? 

Nico deu um sorriso malicioso.

- Alguém que gostou de você desde a primeira vez que te viu. - ele disse e me beijou.

Ele agarrou minha nuca com força e a outra mão ele pôs na minha costa me empurrando contra o corpo dele. Tentei me desvencilhar do beijo, mas logo não me restou força ou vontade para isso.

Ele pediu passagem com a língua e eu permiti. Nossas bocas se moldaram com perfeição. Coloquei minha mão no seu ombro e a outra entrelacei nos seus cabelos, puxando com força. 

Nico deu um suspiro e mordiscou meu lábio inferior, depois o sugou com força. Quando faltou ar, nos separamos ofegantes. Olhei em seus olhos negros e vi que eles tinham um brilho diferente.

 - Thalia... - ele disse ofegante.

 Eu precisava recuperar o controle, isso não era eu. Meu estômago não podia estar borbulhando de emoções como estava nesse momento, é irracional pensar em borboletas. 

- Nunca mais me agarre desse jeito, entendeu? - disse apontando meu  dedo pro seu rosto.

 - Thalia, espere. - ele gritou mas eu já tinha corrido dali. 

Depois de correr por dois quilômetros inteiros, entrei em casa e me joguei na cama. 

Toquei meus lábios com a ponta dos dedos quase podendo sentir o calor dos lábios dele contra os meus. Nico não tinha passado despercebido pra mim nesses últimos dias, mas ser beijada por ele foi uma grande surpresa. 

As palavras dele ecoaram na minha mente por um tempo '' Alguém que gostou de você desde a primeira vez que te viu. ''

Meu estômago embrulhou de novo.Gemi de frustração.

Eu não podia estar me apaixonando por ele!

POV ANNABETH

Duas semanas haviam se passado desde que eu tinha ficado com Erick. Decidi manter nosso relacionamento em segredo por enquanto e Erick entendeu.

Pra falar a verdade, estava com receio de contar a Percy. Não tinhamos nos falado direito a uma semana. Só um oi ou outro quando ele ia lá em casa atrás de Malcom e olhares nos corredores. 

Não sei porque estava receiosa de contar para Percy, afinal ele era só o meu amigo. Sem perceber estava com as unhas enterradas no pulso.

Suspirei e afrouxei o aperto.Eu não ficava sem me cortar por tanto tempo assim desde que começara.

Por um lado era a sensação de não ser dependente de algo afiado era ótima mas por outro lado a ansiedade me atormentava a cada segundo.

 A tentação de me cortar era tão grande que ficava martelando na minha cabeça como um relógio irritante. Corte, corte, corte. 

Quando isso acontecia tentava me concentrar em coisas diferentes como livros ou milkshake. O sinal da última aula bateu, peguei as minhas coisas e fui até meu armário.

- Hey Annie. - Percy disse ao meu lado. 

- Oi Cabeça de alga. - respondi prontamente.

- Sabe, eu estive pensando...

- Sério? Isso é novidade. - brinquei.

 - Engraçadinha. - ele disse me dando um peteleco.

- Como eu estava dizendo, eu estive pensando naquele dia que fomos para a festa. - ele disse. - Eu tinha prometido a você que te ensinaria a dirigir. 

- Acho que eu lembro disso. - falei depois de um momento.

Percy sorriu.

- Então, vai me deixar cumprir a promessa? - ele perguntou.

 - Tudo bem. - disse. - Mas você deveria se concentrar no jogo de hoje e não em me ensinar a dirigir. 

Ele bufou.

 - Nós vamos ganhar hoje. - ele disse confiante. - E cada cesta que eu fizer vai ser pra você.

Desviei os olhos corando.

- Pare com isso, cabeça de alga. - disse constrangida.

Ele afagou a minha bochecha corada. 

- Já falei que você fica linda corada? - ele perguntou sorrindo.

- Amanhã, depois da escola. - disse mudando de assunto. - Às 10.

- Mas amanhã é sábado, eu só acordo três da tarde. - ele reclamou. 

- Certo, amanhã as 8 da manhã. - disse e fechei meu armário. - Não se atrase. 

- Eu odeio você, sabia? - ele disse revirando os olhos.

Sorri ironicamente.

- Confessa que você me ama. - brinquei tocando seu nariz. Ele riu.

- Olha quem está ficando meio convencida. - ele disse.

- Aprendi com você. - disse rindo e ele me acompanhou. 

Rachel apareceu atrás de Percy, olhando feio pra mim.

- Amor? - ela perguntou me fuzilando.

Arqueei uma sobrancelha. 

- Sim, Rach? - ele perguntou sem tirar seus olhos de mim.

 - Estava lhe procurando, vamos lá pra casa? - ela disse olhando sugestivamente pra ele. 

Percy desviou os olhos de mim e mordeu os lábios. Ele parecia indeciso. 

- Não posso Rach, hoje a noite tem jogo, lembra? - ele disse.

- Exatamente. - Rachel ronronou. - Eu posso lhe dar uma alegria antes, não acha?

 Blergh, acho que eu vou vomitar.  Percy olhou pra mim rapidamente e eu o encarei séria.

 - Perdeu algo aqui, nerd? - Rachel perguntou me olhando como se eu fosse um lixo.

Os cantos dos meus lábios se repuxaram num sorriso debochado.

- Só o meu estômago. - disse sarcástica. - Até mais Percy. 

Voltei pra casa com Malcom e Carly absorta nos meus próprios pensamentos. Eu não conseguia ver Percy e Rachel juntos sem sentir um aperto no peito e isso me deixava confusa. 

Só de pensar naquele dia em que eu os vi na varanda me deixava com lágrimas nos olhos o que era muito muito ruim.

Droga, eu precisava desabafar. Onde estava a Thalia quando eu precisava dela?

Eu realmente precisava de um milkshake. Fui para o meu quarto e liguei pra Thalia, ela atendeu no segundo toque.

- Onde diabos você está? - perguntei.

 - No shopping. - ela disse calmamente. - Quer vir aqui? Preciso te contar umas coisas.

- Também preciso te contar umas coisas. - disse e suspirei. - Estou indo.

Desliguei o telefone e fui até o quarto do Malcom.

 - Malcom. - entrei fazendo cara de cachorro sem dono. - Preciso de ajuda. 

Malcom levantou e agarrou meus ombros.

 - O que aconteceu? - ele perguntou preocupado. - Você está bem? Está grávida? É do Percy?

- Porque eu estaria grávida do Percy? - perguntei atônita.

Ele riu sem graça.

- Brincadeira Ann. - ele disse. - Qual o problema?

Mordi os lábios.

- Preciso de uma carona. - disse.

Ele bufou.

-Só dessa vez. - ele disse sorrindo. - Hoje é um grande dia.

- Vai fazer umas cestas pra mim, huh? - indaguei.

- Quantas você quiser loirinha. - ele disse passando o braço ao redor do meu ombro. 

Malcom me deixou no shopping e antes de qualquer coisa eu comprei um milk shake gigante de chocolate. 

Paraíso. 

Encontrei Thalia na praça de alimentação olhando com antipatia pro nada. Sentei na sua frente.

- O que aconteceu? - perguntei pra ela.

 - Eu estou terrivelmente ferrada. - ela disse desviando os olhos.

- Deuses, o que aconteceu? - perguntei preocupada.

- Eu nem consigo dizer Annie. - ela disse olhando pra mim com desespero. - É ridículo.

- Thalia para com isso e fala de uma vez. - ordenei.

 - Ok. - ela respirou fundo e falou muito rápido e baixo. - Euestouapaixonada.

- O que? - perguntei confusa.

- Euestouapaixonada. - ela disse de novo.

- Assim não dá Thalia, eu não consigo entender. - falei indignada.

- EU ESTOU APAIXONADA, DROGA. - ela gritou e todo mundo olhou para nós.

 - Ah, uau. - falei.

Isso era algo difícil de acontecer.

- Eu quero morrer. - ela disse encostando a testa na mesa. 

- Ai meus deuses, você está apaixonada pelo Malcom? - perguntei. - O meu primo?

 Thalia levantou a cabeça.

- Não, é pior. - ela disse.

 Não diga Erick, não diga Percy. Não diga Erick, não diga Percy. 

- Por quem você está apaixonada Thalia? - perguntei.

- Nico DiAngelo. - ela disse num suspiro sofrido.

Olhei para ela atônita e comecei a gargalhar.

- Porque diabos você está rindo, garota? - ela perguntou frustrada. - Eu estou falando sério, droga.

- Sinceramente? - perguntei. - Vocês combinam. 

Thalia desviou os olhos.

- Você acha? - perguntou franzindo os lábios num sorriso.

- Claro que sim. - disse sorrindo.Ela sorriu e suspirou.

- Ele me beijou. - ela confessou.

- Deuses. - disse. - Como? Onde? Quando?

- Central Park. Semana passada. Como assim como? - ela disse sorrindo.

- Esquece Thalia. - disse revirando os olhos. - E o que aconteceu depois?

- Eu gritei com ele e mandei ele nunca mais fazer isso. - ela disse baixo.

- Ah droga. - eu disse. - Sem problemas, podemos resolver isso.

- Podemos? - ela indagou com uma sobrancelha arqueada.

 - Nesse instante. - dei um sorriso malicioso. 

- Como assim nesse instante? - ela indagou confusa. - Ele nem...

- Oi meninas. - Bianca apareceu saltitante com um Nico constrangido atrás. Timing perfeito. 

- Oi Bianca. - eu disse. - Nico.

- Oi. - Thalia disse baixo sem olhar pra Nico.

 - Querem se juntar a nós? - perguntei com um sorriso.

 - Claro. - Bianca disse sentando do meu lado.

Nico não teve escolha a não ser sentar ao lado de Thalia. Notei que os dois estavam tensos. Bom sinal.

Bianca levantou uma sobrancelha pra mim com uma pergunta muda nos lábios.Abafei um sorriso e Bianca entendeu.

 - Então, o que vieram fazer aqui? - perguntei tentando quebrar o gelo. 

- Relaxar antes do jogo. - Bianca disse. - Isso é tão empolgante.

- Você me fez ficar nervosa Bianca. - disse. - Agora eu preciso de outro milk shake.

- Que seja, vamos comprar o maldito milkshake. - ela disse levantando. Eu a segui.

 - Vocês dois conversem um pouco. - Bianca disse olhando para Nico que tentava abafar um sorriso.

 Saímos de perto deles.

- Acha que isso foi uma boa ideia? - perguntei a Bianca.

 - Veremos em breve. - ela disse maliciosamente.

POV THALIA

Annabeth e Bianca estão mortas.

Olhei para minhas mãos tentando não fazê-las tremer. Eu odiavam e sentir assim, sem controle. Respira Thalia.

- Então... - Nico começou. - Você não vai mais olhar pra mim?

Olhei pra ele de má vontade.

- Estou olhando e daí? - resmunguei.

Ele deu um sorriso bobo.

- É isso que eu gosto em você. - ele disse. - Esse seu jeito de garota má.

 Desviei os olhos.

- Mas que droga você fumou garoto? - perguntei. Ele riu.

- Viu? Tentando ser má. - ele disse dando de ombros.

- Você é muito irritante, sabia? - indaguei.

- Que seja. - ele disse dando de ombros mais uma vez e se inclinando na minha direção. 

 -O que você quer DiAngelo? - perguntei me inclinando na sua direção.

- Sinceramente? - ele perguntou. - Eu não sei. Talvez só descobrir porque um certo par de olhos azuis elétricos não sai da minha cabeça e me deixa acordado a noite inteira. 

Olhei pra ele tentando encontrar algum vestígio de que ele estava brincando, mas ele parecia falar sério.

- Sabe, é frustrante essas sensações. - ele disse tocando os meus lábios com a ponta do dedo. - Passar a noite sonhando com alguém e ao acordar não poder tocar nela.

- Sabe que eu não acredito nisso, certo? - indaguei. - Eu não sou uma garotinha apaixonada esperando por um príncipe, Nico.

 - Nunca imaginei que fosse. - ele disse, o canto de seus lábios se repuxando num meio sorriso. - E isso é o que eu gosto em você.

Ele colocou a mão na minha nuca. Me puxando lentamente até ele, me dando a chance de virar o rosto. Mas eu não virei.

Em vez disso, acabei com a distância entre nós. 

POV ANNABETH

Bianca e eu estávamos observando os dois ao longe. Eu sei, isso era terrível mas não tinha nada melhor pra fazer.

- Olha lá, eles se beijaram. - Bianca disse empolgada.

 Sorri. Pelo menos a minha amiga estava feliz. Minutos depois voltamos até eles com um sorriso bobo no rosto.

 - Vocês estão mortas. - Thalia disse quando nos sentamos.

- Estamos? - indaguei com um sorriso malicioso.

Notei que eles estavam de mãos dadas.

- Mortas. - ela disse sorrindo. 

Ficamos batendo papo e tomando milk shake até as 5 da tarde. O jogo seria as 7 então Thalia me deu uma carona pra casa - depois de se despedir de Nico e desejar boa sorte pra ele -. 

Fui para o meu quarto e tomei um banho demorado. A água quente massageiou meus músculos e me deixou relaxada. Sai no banheiro enrolada numa toalha e coloquei o uniforme de líder de torcida.

O uniforme decente, vale ressaltar.

 Fiz uma maquiagem um pouco mais forte do que o normal, sequei o cabelo e fiz um rabo de cavalo alto. 

Respirei fundo pra evitar o nervosismo e fui atrás de Malcom e Carly. Eles já estavam me esperando impacientes.

- Desculpe. - murmurei. 

Chegamos na escola apenas meia hora antes do jogo. Malcom foi para o vestiário dos garotos e eu e Carly fomos para o outro.

 Me aqueci rapidamente. Contei até mil em minha mente e bufei. Quanto tempo eu teria que esperar?

 Sai do vestiário e dei de cara com Rachel se agarrando com Percy. Senti meus olhos lacrimejarem e o coração bater freneticamente contra as minhas costelas.

Ah não. 

Reprimi as lágrimas e dei meia volta, mas minhas pernas estavam tremendo tanto que eu acabei topando meu pé num armário o que fez ecoar por todo o corredor. 

Saída super discreta, Annabeth, parabéns.

Olhei por sobre o ombro e vi que Percy me olhava de um jeito esquisito e bem, Rachel me fuzilava, pra variar.

- Você estava nos espionando? - Rachel perguntou com raiva.

- Claro. - me virei olhando para ele. - Porque não?

 - Você é completamente louca garota. - Rachel disse.

- Que seja. - disse. - Não faz a mínima diferença pra ninguém. 

Me escondi num canto do vestiário, enterrando as unhas no pulso até sentir a pele romper. O ciúmes que eu sentira a poucos minutos se transformando em tristeza. 

Eu não deveria sentir ciúmes do Percy,  isso é irracional. Não temos nada, além de uma estranha amizade, eu não tinha o direito de ficar com ciúmes. 

Ouvi alguém dizer que estava na hora do jogo então respirei fundo e me concentrei. Primeiro as líderes de torcida se apresentariam e em seguida o jogo iria começar e então nos apresentariamos novamente no intervalo.

Tudo bem, eu posso fazer isso. Fomos até o ginásio em silêncio, as pessoas começaram a aplaudir e gritar coisas indecentes.

Tentei não olhar pra ninguém, nos organizamos no meio do ginásio, as luzes focadas em nós. A introdução da música preencheu meus ouvidos, me deixei levar pela música. 

Rachel criou uma coreografia um pouco sensual demais com uma música da Britney. Tentei não ficar com vergonha e sair correndo pra um lugar escuro.

Comecei a dançar o que tinhamos ensaiado. Os rebolados seguidos de todos os passos e os saltos em seguida. Não errei nada e como sempre eu me senti bem. 

Esqueci Percy e todos os sentimentos confusos que rodavam por minha cabeça. Agora era apenas eu  e meu corpo. 

Fiz uma pirueta seguida de um salto para trás e uma abertura. A música estava em suas últimas notas. Fiz os últimos passos de dança com perfeição. 

Todos voltaram a aplaudir com mais animação que antes, sorri aliviada e fui pro canto do ginásio com as outras.

Logo o jogo começou. Estávamos jogando contra uma escola inimiga da Goode, a arquibancada estava tensa e vaiava toda vez que o outro time fazia uma cesta.

 O primeiro tempo acabou rapidamente, o placar ficou 23 a 40 para o time rival. Os garotos descansaram enquanto dançamos novamente. 

Percy estava sentado no banco respirando meio ofegante. 

- Cansado Cabeça de algas? - indaguei sentando ao seu lado.

Ele me deu um meio sorriso.

- Estamos perdendo. - ele disse triste. 

- Ainda há um tempo para virar o jogo. - eu disse esperançosamente.- Você pode fazer isso.

- Acha mesmo? - perguntou mordendo os lábios.

Afaguei seu joelho. 

- Claro que sim. - disse. - Além do mais, cadê o seu espírito esportivo? Você é o capitão, portanto, lidere esses marmanjos. 

Ele riu.

 - Você não existe, sabia? - Percy disse balançando a cabeça. 

Uma campainha tocou, indicando que o jogo retornaria em dois minutos.

Por um momento esqueci que havia milhares de pessoas ao meu redor e dei um beijo na bochecha de Percy.

- Faça umas cestas pra mim, tudo bem? - perguntei dando um sorriso malicioso.

- Eu irei. - ele disse devolvendo o sorriso.

 Percy levantou e foi até onde o resto do time estava. Notei que estava sorrindo abobadamente e abaixei a cabeça constrangida.

Senti que alguém me olhava e levantei a cabeça. Rachel me fuzilava como olhar, sustentei seu olhar até que ela desviou os olhos.

 No segundo tempo o time da Goode conseguiu virar o jogo. Percy fez quatro cestas de três pontos, Malcom fez duas e Nico também fizera duas.

Faltando 30 segundos pro jogo acabar o jogo estava 68 a 67 pra Goode. Malcom quicava a bola no chão e quando dois do time adversário foram pra cima dele ele passou a bola pra Luke, que passou pra Nico que estava perto da cesta, mas dois atletas o interceptaram e roubaram a bola.

 Eles correram novamente pelo campo, mas antes de fazer a cesta Percy roubou a bola deles e correu pelo campo.

Faltavam só 5 segundos para o final do jogo, metade do time adversário foi pra cima de Percy. Milagrosamente, ele conseguiu jogar a bola para Nico que jogou em direção a cesta. 

A bola oscilou sem entrar na cesta.

Todos no ginásio prenderam a respiração. 3...2...1... e finalmente a bola entrou, logo em seguida a campainha indicando o final do jogo ressoou. 

O ginásio inteiro começou a vibrar com a vitória e começaram a invadir a quadra. Percy veio até mim com um sorriso bobo no rosto.

- Conseguimos Annie. - ele disse eufórico.

 - Eu sabia que você conseguiria. - eu disse empolgada. 

Ele me abraçou e me rodou como uma garotinha. 

- Você é a melhor. - ele disse me soltando.

Ignorei o rubor que se formou no meu rosto.

 - Eu sei. - brinquei. Ele riu e me deu outro abraço.

 - Annabeth. - ouvi Thalia gritar. Logo um par de braços me abraçaram com força. - Você arrasou garota. 

- Obrigada. - disse baixinho.

 - E porque não me contou que estava com Erick? - ela disse me olhando maliciosamente.

Erick apareceu por trás dela e me deu um beijo. 

- Ela descobriu sozinha, eu juro. - ele disse revirando os olhos.

Olhei para Percy hesitante. O sorriso dele tinha se desfeito e ele me olhava com tristeza.

Percy deu um aceno rápido e sumiu e nos deu as costas.

- Percy. - gritei mas ele já tinha sumido no meio da multidão. 

Fuzilei Thalia e ela arregalou os olhos entendendo.

Erick passou o braço ao redor da minha cintura.

- Não faz mais sentindo esconder, certo? - ele perguntou.

 - Não, não faz. - disse. 

Afinal a única pessoa que eu não queria que soubesse tinha acabado de descobrir.