Dream A Little Dream escrita por milacavalcante


Capítulo 13
Capítulo 13 - Fire and Ice


Notas iniciais do capítulo

Hey, nem demorei pra postar uhuuuuuu
Leiam as notas finais, tenho um aviso pra dar.
Aproveitem o capítulo o



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POV ANNABETH 


Novamente tive uma noite sem sonhos. Na verdade, eu não dormia bem desse jeito a séculos.

Senti um braço ao redor da minha cintura. Deve ser Rue, minha irmãzinha. Toda vez que ela tem pesadelos vem dormir comigo. Entrelacei minha mão na dela. 

Demorei alguns segundos pra lembrar. 


Rue estava morta.

Meus pais também. Fiquei sem ar por um momento, lutei contra isso. 

Respire Annabeth.

Apertei a mão que segurava com mais força, aos poucos minha respiração voltou ao normal, isso já tinha acontecido antes.Ainda sentia os braços ao meu redor.

Abri os olhos e dei de cara com Percy. 

Ai meus deuses, eu dormi com Percy?

 Espera, não. Eu pedi pra ele ficar aqui comigo porque estava com medo de me cortar de novo e ele ficou, então eu apaguei.

 Ele deve ter apagado junto.

 Ele dormiu com um sorriso bobo no rosto e um pouco de baba escorria pelo canto da sua boca. Sorri, ele parecia ter uns 10 anos.

 - Percy. - o chamei. - Acorde.

Ele nem se mecheu. O balancei freneticamente.

 - Annie... - ele balbuciou.

 - É, sou eu. - disse ficando impaciente e o balançando. 

- Annie. - ele repetiu de novo. 

- Se você não acordar agora eu vou te jogar da cama. - falei.

Ele continou dormindo, o empurrei pro chão com um tombo silencioso.

 - Mas que merda é essa? - ele perguntou e olhou pra mim. - Annie? O que você tá fazendo no meu quarto?

Eu sorri.

- Esse é o meu quarto Percy. - disse me levantando.

 - Eu dormi aqui? - ele perguntou levantando do chão.

- É o que parece. - disse arrumando a cama.

- Porque você não está dando um ataque? - ele deu um sorriso torto. 

- Porque foi eu quem pedi pra você ficar. - falei olhando para seus olhos verdes sonolentos. - E obrigado por ficar.

- Sempre que precisar donzela. - ele disse fazendo uma mesura engraçada.

- Você precisa ir. - disse. - Temos aula daqui a pouco. 

- Droga. - ele disse. - Boa sorte com o primeiro dia.

- Obrigado. - falei sorrindo.

Ele saiu pela janela e eu fui para o banheiro.  Pensei no que aconteceu ontem.

Ver Percy se agarrando com outra garota foi meio chocante mesmo que eu tenha feito piada disso pra ele.

 Minha tia falando aquelas coisas também me deixou abalada, na verdade fiquei desolada. Minha vontade era de deitar em posição fetal e me cortar até que todo o sangue do meu corpo se esvaisse. 

Graças aos deuses Percy estava comigo. 

Esse era outro problema. Ele me viu em um momento de fraqueza duas vezes. Logo ele sacaria que eu sou uma louca depressiva, isso se ele já não tivesse sacado.

E nós nos beijamos. 

Bom, não beijamos do tipo beijo de verdade, mas dava no mesmo. Droga, eu vejo ele transando com a namorada e depois eu o beijo.

Eu sou uma vadia depressiva. 

Sai do banho com raiva de mim mesma e de Percy por ser tão estupidamente safado e procurei o que vestir.

 Peguei um jeans escuro apertado e uma camiseta preta sem mangas, coloquei um casaco xadrez de mangas pra esconder meus cortes. Coloquei o meu all star favorito e sequei meus cabelos.

Passei uma maquiagem leve no rosto e peguei minha mochila que já estava arrumada. Desci para tomar café. Tia Suzan estava fritando ovos e bacon e estava vestida para trabalhar.

Usava uma saia de cintura alta que ia até os joelhos que valorizava as suas curvas e uma blusa branca, seus cabelos estavam presos num coque apertado.

- Bom dia. - falei a todos. - Tá gata tia.

- Obrigado. - ela disse rindo. 

Não via Carly desde que sai pra festa duas noites atrás. Ela estava sentada na cadeira e retocava a maquiagem num espelho.

 - Está linda. - falei para ela. - Onde esteve esses dias?

- Obrigada. - ela disse sorrindo para mim. - Por aí. 

Ela deu um olhar rápido para tia Suzan que estava de costas para nós mas podia nos ouvir. Entendi o que ela quis dizer. Seja lá o que ela estava fazendo, sua mãe não podia saber. 

- Tem certeza que não vai fazer o teste para as líderes de torcida? - ela perguntou. - Você é muito boa. Melhor até que Rachel.

Interessante.

 - Talvez eu faça. - falei botando suco de laranja no copo. - Ainda estou pensando no assunto.

 - Quando Thalia foi embora? - Malcom perguntou.

 - Porque? - perguntei arqueando uma sobrancelha.

Carly segurou o riso.

- Por nada. - ele disse desviando os olhos. - Só curiosidade. 

- Você está afim da Thalia. - Carly disse apontando para Malcom.

 - Claro que não. - ele rebateu fechando a cara. - Ela é gótica e esquisita.

- Você não se importou muito com isso antes.- falei fingindo que tossia.

 - Eu estava abalado pela perda da Bianca. - ele disse. 

Tia Suzan colocou um monte de ovos e bacons na mesa e sentou-se. 

- Adolescentes. - ela disse revirando os olhos.

 - Vou falar isso pra ela. - disse dando um sorriso malicioso.

 - Você não faria isso. - ele rebateu. 

- Eu faria sim. - disse pegando ovos e bacons pro meu prato.

 - Tá certo, Thalia é bem legal. - ele confessou comendo.

 -  Vocês vão se atrasar, comam logo. - Tia Suzan disse levantando.

Terminamos de comer em silêncio. Subi para escovar os dentes e desci as escadas correndo. Malcom e Carly já estavam no carro, me esgueirei pro banco de trás em silêncio. 

A escola não ficava muito longe de casa, podíamos ir andando sem problemas, mas claro os populares não chegavam andando. O que eu estava fazendo com eles? Ri internamente. 

Chegamos na escola rapidamente. O estacionamento estava apinhado de adolescentes se reencontrando depois dos dois meses de férias. Me senti deslocada. Será que Thalia já tinha chegado?

Peguei o celular e mandei um sms perguntando onde ela estava. Logo chegou a resposta.

''Esperando você no estacionamento. Estou vendo o carro do Malcom e estou indo pra aí.''

Sorri, pelo menos não iria enfrentar esse dia sozinha. 

Saímos do carro silenciosamente. Carly e Malcom pareciam estrelas de cinema rodeados de pessoas perguntando como foram as férias e coisa parecida. 

A maioria me ignorou, mas alguns poucos tiveram a educação de acenar pra mim. Procurei Thalia ao redor e ri quando a encontrei.

Ela atravessava o estacionamento com uma cara de desprezo. Muitos olhavam pra ela e cochichavam, mas ela dava um olhar fulminante e eles abaixavam a cabeça intimidados. 

Ninguém iria querer zoar com aquela novata.

 - Essa escola está repleta de idiotas. - ela disse para mim.

- Notei. - digo. - Precisamos pegar nosso horário na recepção.

 - Maravilha. - ela disse olhando para Malcom cercado de meninas. Toquei seu ombro.

 - Você sabia que isso aconteceria. - eu disse.

Thalia sorriu. 

- Não me arrependo nem um pouco. - ela disse. - Vamos corujinha.

 Fomos até a recepção. A sala era pequena e amarela, uma senhora de meia-idade estava sentada com os olhos vidrados no computador. 

- O que desejam? - a mulher perguntou sem tirar os olhos do computador.

 - Atenção. - Thalia disse ironicamente.

 A mulher tirou os olhos da tela e os voltou para nós. Ela entortou o nariz pra Thalia e deu um sorriso pra mim.

 - Sim, querida? - ela disse ignorando Thalia.

 - Huh, somos novatas e estamos meio perdidas. - disse.

 - Ah claro claro. - ela disse e mecheu numa pilha de papéis. - Nomes?

- Annabeth Chase e Thalia Grace. - digo. 

Ela continuou fuçando nos papéis até encontrar o que procurava. Ela deu dois papéis pra mim e outros pra Thalia.

- Ai está os seus horários, armários e um mapa da escola. - ela disse. - O protocolo pede que um veterano mostre a escola para os calouros, mas tenho certeza que vocês podem dar um jeito nisso.

 - Tudo bem, obrigada pela atenção. - falei sorrindo e sai da sala com Thalia. 

Thalia riu assim que fechei a porta. 

- Sim querida? - Thalia falou imitando-a. Eu ri.

 - Não seja tão cruel. - disse revirando os olhos. - Qual o número do seu armário? 

- 307 e o seu? - perguntei. Thalia sorriu. 

- 300. - ela disse. 

Procuramos por nossos armários, eles ficavam bem no meio da escola, pelo menos não teríamos que atravessar a escola entre uma aula e outra. 

Thalia foi para o armário dela, olhei a combinação no papel e abri. Os livros que usaríamos esse ano estavam todos empilhados lá. Olhei o horário e peguei o livro de história. 

Maravilha, minha primeira aula do ano é a matéria que me deixa mais sentimental por causa do meu pai. Sorte a minha. 

Suspirei e peguei o livro indicado.

O dono do armário a minha esquerda apareceu, o ignorei.

- Acho que estamos destinados a sermos vizinhos, huh? - Percy perguntou ao meu lado.

Revirei os olhos.

 - Você só pode estar me seguindo. - disse sorrindo.

Ele riu baixo e pegou um livro de história igual ao meu. 

- Definitivamente você está me seguindo. - disse levantando o livro.

 - Você vai ter que me suportar todos os dias Annie. - ele disse dando um sorriso torto. 

Notei algumas meninas suspirando. 

- Precisamos conversar. - disse baixo. - Sobre o que aconteceu on...

- Aqui não. - ele me interrompeu. 

Franzi as sobrancelhas.

Tinha esquecido que Percy era um dos populares. É claro que seria ridículo pra reputação dele ser visto conversando com uma novata por tanto tempo. Algumas pessoas começavam a nos olhar. 

- Não se preocupe. - disse ríspida. - Só ia dizer que não vai acontecer de novo. 

- O que quer dizer? - falou confuso.

Uma garota ruiva apareceu do seu lado.

 - Oi amor. - ela disse agarrando sua cintura e o beijando.

Contei até 20 na minha cabeça e fechei a porta do armário com um estrondo. Rachel deu um pulo.

 - Tá louca garota? - ela perguntou olhando feio pra mim.

Dei um sorriso falso.

- Completamente. - dei uma piscadela pra Percy e fui até Thalia que revirava os olhos. 

- Namorada? - ela indagou. 

Assenti bufando.

- Que droga. - falou. - Qual o seu tempo?

- História. - falei. Thalia bufou.

- Química. - ela disse fazendo um beicinho. 

- Vamos procurar essas drogas. - falei sorrindo.

Thalia  riu e começou a andar. Por sorte, a minha sala ficava ao lado da de Thalia. 

- Vejo você depois. - disse e entrei na sala. 

Já tinha alguns alunos sentando nos lugares. Alguns me olharam com curiosidade e outros me ignoraram. Sentei numa cadeira na parede e pensei em colocar os fones de ouvidos mas em vez disso fiquei rabiscando a última folha do caderno. 

Alguém sentou ao meu lado, não levantei a cabeça.

- Oi novata. - uma voz rouca falou ao meu lado.

Levantei a cabeça reconhecendo-a.

- Erick. - disse sorrindo largamente. 

Tinha esquecido completamente que ele estudava aqui. Ele deu um sorriso torto pra mim.

- Parece surpresa por me ver aqui. - ele disse passando a mão nos cabelos ruivos.

 - E estou, quer dizer é bom conhecer alguém por aqui. - eu disse corando. 

- Primeiro dia ruim? - perguntou.

 - Nem tanto. - disse sorrindo. 

Notei Percy entrando na sala seguido por sua namoradinha e Carly. Ignorei Percy e dei um sorrisinho pra Carly, ela piscou pra mim e olhou pra Erick.

Ela parou no meio da sala e piscou atônita para ele, Erick acenou pra ela. Ela piscou como se para clarear as ideias e foi sentar na frente de Rachel e Percy.

 - Preciso perguntar? - indaguei com uma sobrancelha levantada.

 Ele sorriu sem graça.

 - Longa história. - disse.

 O sinal bateu e logo o professor entrou. Ele estava numa cadeira de rodas motorizada e usava um casaco de tweed. 

- Bom dia alunos. - ele disse. - Meu nome é Quíron e eu sou o professor de história, abram seus livros no primeiro capítulo.

Abri o livro tediosamente.

-  Que tal um jogo? - Professor Quíron disse com um sorriso malicioso. - Perguntas e respostas, quem responder certo ganha meio ponto.

 Os gemidos de protesto da turma foram a resposta. Ninguém gostou de coisas valendo nota no primeiro dia de aula.

- Primeira guerra mundial. - ele disse empolgadamente. - Ocorrida entre... você ai atrás. Nome e resposta, correta de preferência.

 A garota piscou atônita.

- Silena Beauregard. - ela disse. - 1914 e 1918. 

O professor Quíron deu um sorriso.

- Esta é a senhorita Beauregard mostrando que além de bonita tem um cerébro. - ela disse.

A garota chamada Silena corou.

 - Ocorrida entre 1914 e 1918 e causou um grande choque entre as potências mundias. Seis motivos fizeram a guerra acontecer. - a ruiva ai atrás. - Quais foram eles?

A ruiva em questão era Rachel. Ela olhou para os lados como se aquela pergunta fosse um absurdo e sorriu para o professor. 

- Desculpe senhor, mas o professor aqui é você. - ela disse dando um sorriso sedutor.

Ai que garota estúpida. O professor suspirou e olhou para mim. 

- Você, faça com que eu não me arrepende de ter virado professor. - ele disse sorrindo. - Nome e a resposta. Quais foram os motivos da primeira guerra mundial?

 Engoli em seco.

 - Annabeth Chase. - disse alto e suspirei. - O imperialismo, o rompimento do equilibrio europeu, o nacionalismo, a política de alianças, as questões balcânicas e finalmente o assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, em junho de 1914. 

A sala ficou quieta. 

- Graças aos deuses. - Professor Quíron disse.

 - Nerd. - uma garota cantorolou.

Nem precisei olhar pra saber quem era - Rachel. A sala inteira deu risinhos abafados. Abaixei a cabeça pra esconder o meu rosto vermelho. 

O professor Quíron ignorou o comentário e os risos e voltou a aula.

 - O grande estopim da guerra foi o assassinato de Francisco Fernando... - ele continuou falando mas eu parei de ouvir.

 - Isso foi incrível. - Erick sussurrou pra mim colocando sua mão por cima da minha. - Não ligue para o que ela disse.

 Levantei a cabeça e sorri para Erick.

 - Obrigado. - disse baixinho. 

Olhei de relance pra trás e notei Percy olhando na minha direção. Na verdade, ele estava olhando para as minhas mãos no meio da mesa juntas com a mão de Erick.

 Involuntariamente, tirei as mãos debaixo das suas e abaixei a cabeça novamente. Erick pareceu não se importar.

 A aula acabou rapidamente. Em seguida, outras quatro.

A minha segunda aula do dia foi Matemática junto com Thalia, a garota chamada Silena e outras pessoas que eu lembrava de ter sido apresentada na festa.

 Na terceira aula que era psicologia eu tive a grande sorte de ser da sala de Percy, ele sentou atrás de mim mas não falamos nada a aula inteira.

Na quarta aula eu tive a grande sorte de ter Luke como companheiro de classe. Quando ele me viu sentada sozinha deu um sorriso e sentou do meu lado. 

- Oi caloura. - ele disse dando um sorriso malicioso.

- Oi veterano. - falei sarcasticamente. Ele sorriu ainda mais.

- Annabeth, certo? - ele perguntou e eu assenti. - Claro que é, nunca iria esquecer o nome de uma garota tão linda e rebelde.

Mordi a bochecha pra não rir dele. Será que ele consegue ficar com alguma menina com esse papinho?

- Sorte a minha. - disse com ironia.

O sorriso dele vacilou um pouco. 

- Garota difícil. - ele comentou. - Gosto assim.

Tossi pra abafar o riso. Nessa hora o professor entrou, me salvando de uma crise de risos histéricos. A hora do almoço chegara rapidamente, graças aos deuses.

Encontrei Thalia e juntas fomos até o refeitório. Compramos nossa comida e nos vimos perdidas. Onde sentaríamos?

Olhei rapidamente ao redor procurando por uma mesa vazia até que vejo Erick acenando.

- Vem. - digo a Thalia. 

Erick não estava sozinho na mesa, havia três garotas e três garotos lá. Nos sentamos.

 - Huh, pessoal, esta aqui é minha amiga Annabeth e, huh... - Erick disse e franziu as sobrancelhas.

- Thalia. - ela disse. 

- Thalia. - ele ecoou. - E estes são Grover, Bianca, Piper, Silena, Leo e  Jason.

 - Oi pessoal. - falei. - Não sabia que você ia estudar conosco Jason.

Jason era o irmão menor de Thalia. Ele era do primeiro ano e eu não fazia ideia que ele estudaria aqui.

- Oi Annabeth. - ele disse sorrindo e olhou carrancudo pra Thalia. - Oi Thalia.

Thalia deu uma piscadela pro irmão.

 - Annabeth está na minha aula de história. - Silena disse. - E Thalia na minha de psicologia. 

Silena era muito bonita. Tinha os cabelos ondulados até a cintura e a pele marrom-avermelhada, seus olhos mudavam de cor assim como os de Piper, notei. 

- Você impressionou todo mundo respondendo aquela pergunta impossível. - ela comentou. Sorri envergonhada.

- Meu pai era professor de história. - falei desviando os olhos.

 Bianca sorriu amarelo pra mim, com certeza Malcom tinha contado algo pra ela. 

- Lembra de mim Annabeth? - ela perguntou. - Eu sou... era a namorada do seu primo.

- Claro que eu lembro. - falei batendo na perna de Thalia. - Bianca DiAngelo. 

Ela sorriu como se estivesse surpresa por eu lembrar seu nome.

 - Tem um DiAngelo na minha aula de inglês, ele é seu parente? - Thalia perguntou interessada. 

Hum, interessante.

 - Meu irmão. - ela disse revirando os olhos. - Somos gêmeos.

- Jura? - ela perguntou chocada. - Eu nunca iria adivinhar. 

- A maioria não acredita. - ela disse sorrindo. - Pensam que eu sou uma irmã postiça ou coisa parecida. 

Nós rimos. Podia parecer falso ou rápido demais, mas eu já gostava de Bianca.

Notei Jason conversando animadamente com a menina chamada Piper. Eles formavam um casal fofo.

Comemos o nosso almoço conversando animadamente. Todos ali eram muito legais e pareciam sinceros no que diziam.

Descobri que Silena era irmã de Piper e que Grover usava muletas, Leo era o palhaço da turma e vivia fazendo palhaçadas na mesa. Erick falava e ria das piadas contadas, Thalia e eu nos enturmamos facilmente entre eles. 

Notei uma mesa no canto do refeitório. Lá sentavam Percy, Nico o irmão da Bianca, Rachel agarrada ao pescoço de Percy, Malcom, Carly, Luke, Drew e uma garota que eu não conhecia. Todos lá exibiam um olhar esnobe que dizia - eu sou melhor que cada um de vocês.

 Quer dizer, quase todos.

Percy parecia apenas um pouco diferente exibindo um sorriso esnobe, Nico usava fones de ouvidos e lançava olhares de desprezos a todos. Os populares tem uma mesa só pra eles. Não tinha como isso ser mais clichê.

- Vocês já escolheram que atividades extra-curriculares irão fazer? - Grover perguntou.

Pensei por um momento. 

- Eu não faço ideia. - disse.

- Nem eu. - Thalia falou.

 - Eu vou fazer parte do coral. - disse Silena sorrindo.

- E Piper teatro, Grover vai fazer culinária.

Erick, Bianca, Silena e Leo riram. Grover bufou.

 - Huh, qual a graça? - Thalia perguntou confusa.

Ela odiava tanto quanto eu boiar na conversa. 

- Grover tem um apetite bem... - Erick pensou por um momento. - grande, por assim dizer. 

Grover baliu. Sério, ele baliu como um bode.

- Bode. - Bianca disse e deu um tapinha na cabeça de Grover. 

- Se vocês quiserem ficar a toa, façam leitura. - Erick disse. - É um tempo livre pra ler, mas claro, a maioria dos alunos não lê. 

- Eu leria. - falei sorrindo.

 - Eu também. - ele disse dando de ombros.

- Nerds. - todos na mesa ecoaram e começaram a rir. 

- Isso parece muito bom pra mim. - disse. - Mas ainda tenho que escolher outra coisa. 

- Tenho certeza que vai pensar em alguma coisa. - Erick disse piscando pra mim. Sorri para ele.

- Na verdade, eu vou fazer teste pras líderes de torcida. - falei.

Todos na mesa me olharam com a boca aberta.

- Huh, sério? - Erick disse franzindo as sobrancelhas. - Nunca me passou pela cabeça que você queria ser uma delas. 

Sorri.

- Antes eu queria. - disse. - Agora eu só quero provar que poderia ser uma delas se quisesse. 

- Você seria uma chata. - Leo disse. - E nunca iria querer sentar conosco. 

- Entendi. - Piper disse sorrindo. - É como se fosse uma conquista pessoal. 

- Isso. - disse sorrindo. - Se eu me tornasse igual a elas eu teria nojo de mim mesma.

Todos riram. O sinal indicando o final do almoço tocou. Todos nós continuamos sentados, os próximos dois tempos eram destinados para os alunos se inscreverem nas aulas extras e nos times. 

- É melhor irmos. - falei a Thalia que assentiu. - Até logo.

Fomos até o mural onde diversos alunos estavam empilhados para se inscreverem nos seus cursos. Procurei leitura no meio das pranchetas e preenchi o meu nome. Thalia tomou a prancheta da minha mão e assinou o nome dela. 

Procurei a prancheta de líderes de torcida. Haviam vários nomes lá, assinei o meu embaixo.

 - Tem certeza que quer fazer isso? - Thalia perguntou. - Você e eu sabemos que você é a melhor ginasta do mundo e quando você as rejeitar vai ferir o orgulho das piranhas.

 Olhei para Thalia com a sobrancelha levantada. Ela gargalhou. 

- O que eu estou dizendo? Pro inferno com elas. - ela disse rindo. - Você vai deixá-las de queixo caído. 

Deixei meus livros no armário e peguei o uniforme de ginástica que era uma regata azul com o símbolo da escola e um short de ginástica tão curto que só de olhar me senti nua. 

- Foi você quem nos meteu nessa. - Thalia me lembrou.

- Cala a boca. - falei puxando-a em direção ao que eu achava ser o ginásio. 

Os testes para líder de torcida e pra equipe de basquete seriam no ginásio - que depois de seguir o mapa o encontramos -. Havia várias pessoas lá, diversos meninos vestidos com o uniforme do time e outros com um parecido com o meu. 

Havia também diversas garotas, a maioria vestida com o uniforme de ginástica e algumas vestidas como líderes de torcida. Entre elas estavam Rachel, a garota chamada Drew e Bianca.

Vi Percy vestido com o uniforme de basquete gritando ordens para os vestidos de ginástica e anotando algo em uma prancheta, ele parecia concentrado. 

Thalia foi para a arquibancada e eu fui para o vestiário. Troquei de roupa e amarrei meu cabelo num rabo de cavalo alto, me aqueci pois não praticava a meses e voltei para o ginásio. Sentei ao lado de Thalia. 

- Já começou. - ela disse. - A vadia ruiva está chamando uma por uma, fala algo que as deixa pra baixo e as desconcentra.

- Ela não vai conseguir isso comigo. - sorri confiante. 

Esperei garota após garota se apresentar ficando cada vez mais irritada com as coisas que Rachel falava para elas. Logo mais pessoas se aglomeravam nas arquibancadas pra ver os testes.

 Os testes do time de basquete terminaram também, mas a maioria dos garotos ficou pra ver garotas em shorts curtos dançando.

 - Annabeth Chase. - chamaram.

Como eu sou uma pessoa muito sortuda, meu nome foi o último a ser chamado. Caminhei até o o local indicado e cometi o erro de olhar para a arquibancada. 

Tinha mais pessoas do que eu imaginara. Como já estava no final do teste a maioria das pessoas já tinham se insrito nos cursos. Avistei Erick sentado junto com o povo do almoço, eles sorriram pra mim.

Engoli em seco, minhas pernas estavam paralisadas.

 Vi cada rosto da arquibancada olhar pro meu corpo com atenção. Drogas de shorts.

Avistei Malcom junto com Percy, Nico e Luke num canto. Malcom mandou um ok com o polegar, Nico não olhava pra mim e sim pra Thalia do outro lado da arquibancada.


 Hum, depois que eu me recuperar da humilhação que isso vai ser eu preciso me lembrar de falar com Thalia sobre isso.


 Luke olhava para as minhas pernas com desejo, fiquei com vontade de revirar os olhos, mas eles também não me obedeciam. Percy olhava pra mim com as sobrancelhas arqueadas como se não acreditasse que eu estava ali.

Ou só estava impressionado com as minhas pernas.

 - Então, Annabeth Chase. - Rachel falou. - A nerd, certo? 

Algumas pessoas riram. Estreitei os olhos.

- Ser uma líder de torcida é uma questão de talento natural, ou você tem ou não, entende? - ela disse sorrindo falsamente. - Não se adquire esse tipo de talento em livros. 

Endireitei as costas e dei um sorrisinho.

- Você não saberia a diferença. - falei em voz alta recuperando a minha confiança. 

Algumas pessoas riram. Rachel me lançou um olhar fulminante. Olhei para Thalia que se juntara a Erick e as outros, ela tinha uma expressão orgulhosa.

 - Você acha que tem esse talento? - Rachel perguntou. 

Empinei o nariz.

- Vamos ver. - disse confiante.

 Rachel franziu os lábios pra mim e sentou no colo de Percy que olhou pra ela inexpressivo. Alguém pôs a música pra tocar.


 A introdução da música preencheu meus ouvidos e logo todo o meu corpo.

Todos os meus problemas, inquietações e pensamentos saíram da minha mente no mesmo segundo. Comecei a balançar o corpo no ritmo da música. 

Perna. Braço. Perna. Salto. Passo. Quadril. Perna. Braços. Pirueta seguida de um arabesque alto. Passo. Quadril.

Sabia exatamente o que fazer. Os 8 anos de balé e 5 de ginástica não foram esquecidos nesses últimos meses. Lembrei de todos os movimentos que sabia. 

Passo. Chuta. Passo. Quadril. Braços. Ponte. Gira.

Agora entrava a ginástica.Segura a perna no alto da cabeça e gira.

Cinco estrelas seguidas e então uma abertura no chão. Gira e levanta sensualmente. 

Liberdade era o que eu sentia. Ali eu não precisava fingir estar feliz ou bem, todos os meus problemas pareciam evaporar por meus poros.

 Pirueta seguida de um movimento de dança. Vi que a música estava no seu fim, tomei impulso e dei cinco saltos pra frente seguidos de um mortal pra frente e fiz um último passo de dança, bem a tempo do último segundo da música.

Sorri meio ofegante.

Olhei para Rachel que ainda estava no colo de Percy, boquiaberta. Ela fechou a cara pra mim.

Um aplauso solitário ressoou pelo ginásio, então outro e mais outro. Logo todos estavam aplaudindo, assobiando e gritando coisas indecentes.

 Carly veio na minha direção e me deu um abraço sem jeito.

- Eu sabia que você não desistiria. - ela disse sorrindo. - Isso foi perfeito.

 - Obrigada. - eu disse meio envergonhada. 

Mais tarde eu diria pra ela que eu não tinha a intenção de entrar para a torcida. Sai do ginásio e fui até o vestiário, algumas pessoas me parabenizaram e outras me olharam com inveja. 

Vesti minha roupa de volta, enfiando o uniforme na mochila. Meu casaco xadrez ia na mão por causa do calor. Sai do vestiário e dei de cara com, ah isso mesmo, Percy.

Ele estava apoiado de lado na parede e eu esbarrei nele na minha pressa de ir pra casa.

 - Desculpe. - disse sem olhar pra ele. 

- Tudo bem. - ele disse sorrindo. - Belo show.

Bufei. 

- Estou falando sério. - ele disse sorrindo torto. - Não sabia que você sabia fazer aquelas coisas.

- Você não sabe muito sobre mim, Percy. - disse me encostando na parede do mesmo jeito que ele. 

- Ainda. - ele disse sério. - Mas eu a conheço o suficiente pra saber que você não quer ser uma líder de torcida.

Desviei os olhos, o sorriso dele se alargou.

 - Eu falei. - ele disse triunfante. 

- Cala a boca, cabeça de alga. - disse dando um murro no seu peito. 

- Precisamos conversar sobre o que aconteceu ontem. - ele disse. 

- Aqui não. - repeti o que ele falou mais cedo.

Ele me olhou confuso.

- Porque? - ele indagou. Bufei.

- Ora, alguém pode nos ver conversando. - eu disse com ironia. - Isso seria terrível para a sua reputaçãozinha. 

- Você andou conversando com os drogados dessa escola? - ele indagou com uma sobrancelha arqueada.

 - O que? Vai dizer que não se importam se começarem a falar sobre Percy Jackson estando de  conversinha com a nerd. - retruquei. 

- Eu não me importo. - ele disse incomodado. - E depois daquilo que você fez nenhum cara nessa escola vai ter pesamentos decentes ao seu respeito. 

Fiquei vermelha.

- Então é por isso que você ainda está falando comigo? Porque eu chamei atenção? - perguntei elevando a voz um pouco. - Você me ignorou o dia todo.

 - Não ignorei. - ele disse. - Eu falei com você nos armários, você é quem ficou me evitando.

- Não faça esse joguinho comigo, Perceu. - disse apontando meu dedo no seu peito. 

- Eu não estou fazendo nenhum jogo. - ele disse me encarando.

 - Você é um cínico. - falei baixo. - Não acredito que quase deixei você me beijar.

 - Você queria que eu te beijasse. - ele disse com um sorriso malicioso. - Esse seu jeito difícil e ontem a noite quando você pediu pra mim ficar, isso tudo foi parte do seu jogo, não é?

 - Você pirou? - perguntei exasperada. - Deixa de ser egocêntrico garoto, meu mundo não gira em torno de você.

 - É tudo mentira, não é? Você é uma mentirosa, manipuladora, aposto que estava mentindo sobre a sua família ter morrido também, não era? 

Fiquei boquiaberta, lágrimas surgiram no canto dos meus olhos. Como ele podia falar algo desse tipo? 

Ele pareceu ter notado o que disse.

- Ah droga, desculpe. - ele disse passando a mão nos cabelos. - Eu não quis dizer isso.

- Mas você disse. - falei inexpressiva engolindo as lágrimas.

 Eu não iria chorar aqui, na frente dele. Virei-me e sai andando. Ele segurou meu braço com força, em cima do corte mais recente, senti-o pulsar e estremeci.

- Annie, por favor me desculpa. - ele disse ainda me segurando. - Eu sou um idiota, falo as coisas sem pensar, eu nem sei porque estamos brigando, só queria conversar com você pra saber se você estava bem e estraguei tudo, me desculpe. 

Involuntariamente, olhei para o meu braço preso. Percy olhou também e soltou, meus cortes - alguns vermelhos, algumas cicatrizes e alguns realmente visíveis - ficando amostras.

Percy continuou olhando para o meu braço, coloquei a outra mão por cima, numa tentativa debil de esconder o que ele tinha visto.

- Annie, o que é...? - não escutei ele terminar de falar pois tinha saido correndo.

Respirei ofegante ao chegar no estacionamento. Thalia tinha me mandando um sms enquanto eu estava trocando de roupa dizendo que estava indo embora então corri até o carro de Malcom.

 Ele, Carly e mais algumas pessoas estavam ao redor do carro, rindo e conversando.

 - Hey Ann, onde você est... o que aconteceu? - Malcom perguntou quando olhou pra mim.

 - Preciso ir pra casa. - disse ofegante.

Carly apareceu ao meu lado, passando o braço pela minha cintura.

 - Você está pálida Ann, o que aconteceu? - Carly perguntou preocupada. 

Respirei fundo.

- Depois explico. - disse. - Podemos ir? 

Eles entraram no carro sem se despedir de ninguém e Malcom pisou fundo. 

Se controla Annabeth, ficava dizendo a mim mesma.

 - O que aconteceu? - Malcom perguntou olhando pelo retrovisor. - Eu vi você falando com Percy.

Hesitei. Não podia dizer o que tinha acontecido e nem que estava tendo uma crise nervosa, nenhuma palavra. 

- Não foi nada. - eu disse baixo e então a mentira saiu facilmente. - Depois do teste eu comecei a sentir muita cólica, talvez porque nunca mais tinha treinado. 

Malcom suspirou, ele e Carly trocaram um olhar rápido.

Respira Annabeth, respira.

- Desculpe por ter preocupado vocês. - falei olhando pra janela.

Só mais um pouco.

- Sem problemas loirinha. - Malcom disse sorrindo novamente. - Só estavamos esperando você aparecer. 

Fizemos o resto do caminho em silêncio. Cada segundo que passava eu corria o risco de começar a gritar ali. 

Quando chegamos em casa, eu já estava no meu limite. Só mais um pouco Annabeth, aguente.

Para não deixá-los desconfiados, peguei remédio pra cólica e um copo d'água na cozinha.

Quando passei pra sala, Malcom me olhou do sofá preocupado.

 - Você devia dormir um pouco, loirinha. - ele disse ligando a tv.

- Eu vou. - disse dando um sorriso falso. - Obrigado pelo conselho. 

Subi as escadas e me tranquei no quarto, fechei a janela e fui para o banheiro.Me olhei no espelho.

Eu estava meio suada por causa do teste, parecia pálida e meus olhos estavam arregalados. Tentei lutar contra isso, mas era forte demais.

 Cai de joelhos no chão e comecei a chorar descontroladamente, as lágrimas cegavam a minha visão e caiam como chuva sobre meus jeans.

 Senti que ia vomitar e um segundo depois que coloquei minha cabeça em cima do vaso sanitário, um líquido quente veio queimando a minha garganta, a bile me fez engasgar e tossir.

Levantei e puxei descarga, o cheiro do vômito infestando o banheiro. Abri a torneira da pia e deixei a água correr por um momento. Lavei minhas mãos e em seguida minha boca.

Me despi e peguei a navalha no armário da pia e uma toalha. Abri o chuveiro e sentei no chão embaixo dele. 

Abracei minhas pernas soluçando alto esperando que o barulho do chuveiro abafasse os soluços. Minhas lágrimas se misturaram com a água que caia em mim.

 Percy não podia ter visto isso. Eu fui uma burra em não ter colocado o casaco quando sai do vestiário, tudo isso era minha culpa.

 Coloquei a toalha na boca e comecei a gritar. Gritei até meus pulmões ficarem sem ar, sabia que ninguém me ouviria.

Peguei a navalha e comecei a me cortar.Um braço e depois o outro. Coxas, barriga. 

Cada corte novo, cada dor sentida a cada vez que a lâmina afiada perfurava a minha pele era como uma droga para minha mente.

 Aos poucos fui cansando, o choro histérico passou a ser soluços abafados. Terminei de tomar banho e me embrulhei numa toalha felpuda.

Bebi o copo d'água e tomei os remédios que deixei na escrivaninha. Vesti uma blusa de mangas e calça de moletom.

 Deitei na cama enrolada como uma bola e logo adormeci.


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Notas finais do capítulo

Final dramático hein? O que acharam?
Eu fiz essas perguntas no capítulo anterior mas só a
biancawzorek me respondeu.
1_ Me contem, o que vocês gostam na fic? O que vocês não gostam? O que gostariam de ver aqui? Quais casais? Me digam nos reviews.
2_ As aulas vão começar e vai ficar mais difícil de escrever, então eu posso demorar pra atualizar a fic, por favor não me abandonem.
3_ Vou tentar postar um capítulo novo até quarta-feira, ok?
Amo vocês s2



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