Eu estava tentando encarar tudo o que estava acontecendo como uma viagem. Que eu estava só de passagem, ficaria pouco tempo, teria meu quarto, comida, um amigo... Mas eu não conseguia.

Em todo lugar vários fantasmas me olhavam, caso eu chorasse. Era novidade para mim, eu acabei de descobrir um novo mundo, cheio de novidade que eu nunca imaginaria existir, e ter fantasmas me encarando no inferno, me assustava um pouco.

Nico me prometeu que o pai dele não iria me machucar, ou me fazer sofrer, ele disse que ele mesmo iria me proteger. Até agora ninguém tentou me fazer chorar, na verdade, eu estava tranqüila.

Parecia que o que Hades disse foi só para me deixar com medo, que na verdade eu era uma hospede em seu castelo, seria uma companhia a mais, teria tudo o que preciso para viver nesse lugar. Uma hora ou outra eu iria chorar, nos pensamentos de Hades, e ele iria conseguir o que tanto queria.

Eu preferia desse jeito, ficar presa aqui para sempre tendo o que preciso, do que sendo torturada até chorar.

Eu ainda tenho Nico. Eu acabei de conhecê-lo, mas ele é bem legal. É um ótimo amigo. Minha única companhia. Ele me ajuda, me orienta (já que conhece o castelo de canto a canto) e ainda me ajudou a curar meus ferimentos. Ele é legal, engraçado e atencioso, faz de tudo para me ver melhor, me trata como se eu fosse de vidro e fica me encarando de um jeito engraçado.

É claro que ele também tem seus lados negativos. Fica dando cantadas indiretas a cada cinco minutos, que agora não são mais indiretas. Se você olha para ele pela primeira vez diz que ele é um garoto isolado, que deve sofrer de depressão. Ao conhecê-lo percebe que ele é gentil, mas que também é muito malandro, acho que todos os garotos dessa idade são assim.

Nico só usa preto, desde as jaquetas até a meia. Ele tem cabelo preto, leiam-se negros e seus olhos são pretos, que dão medo. Resumindo a tudo: tudo que eu falar aqui, que pertence ao mundo inferior é preto. Diria que ele é emo, mas não tenho tanta certeza disso, preciso saber seus gostos. Então, por enquanto vou chamá-lo de Bad Boy.

Tudo isso eu descobri em uma hora que eu estou aqui.

Nico me levou para fora do castelo, um lugar um pouco distante, mas que valeu a pena andar. Era um jardim, um jardim lindo, cheio de flores e plantas desconhecidas. Lá, nada era preto, o que foi um alivio, já que eu estou vendo tudo preto.

As flores eram de varias cores, o que me deixou alegre. Uma mulher linda, que eu acho que era Perséfone, estava mexendo nessas plantas. Com apenas um toque nelas, a planta ganhava luz e água.

A mulher vestia um vestido até o pé marrom. Ela ria e parecia se divertir cuidando das plantas.

Quando ela viu Nico seu sorriso se desfez.

–O que você quer aqui? – ela disse – Aqui é o único lugar que posso ser feliz, e eu já disse para você não vir aqui.

–Calma Perséfone! – Nico disse. – Só vim te apresentar uma pessoa.

Ela percebeu que eu estava no jardim e abriu um leve sorriso.

–Quem é ela?

–Meu nome é Sarah – eu disse.

–Ela é a nova prisioneira de meu pai. – Nico disse.

–Seu pai aprisionou essa linda menina aqui?

–Sim. – ele disse.

–Mas por quê? – ela parecia aterrorizada.

–Eu não entendi direito. – Nico disse – Mas a lagrima dela é especial, não sabemos o porquê, e meu pai quer essa lagrima. Mas Sarah prometeu ao pai, que acabou de morrer, que não daria. Então, meu pai fez com ela ficasse aqui até chorar.

–Seu pai e essa mania de achar que prender pessoas no mundo inferior resolve os problemas. – ela disse.

–O problema é que meu pai disse que vai fazê-la sofrer até ela chorar. – Nico disse.

–Ele não vai! – ela disse – Eu não vou deixar.

Uma esperança surgiu dentro de mim.

–Quer dizer que eu vou poder sair daqui? – eu disse animada.

Percebi que Nico ficou um pouco triste.

–Não sei... – ela disse – Talvez eu não consiga fazer isso. Mas, você terá um quarto só para você, poderá comer e não será machucada, ninguém vai tocar em você.

Eu sorri.

–Obrigada – eu disse.

–Hades também me aprisionou aqui, eu sei como você deve estar se sentindo. Se quiser conversar eu estou aqui. – ela disse.

–Claro!

–Nico. – ela disse – Mostre o quarto dela.

–Onde? – ele disso.

–Vai aparecer na frente do seu. Já está pronto e com roupas para ela.

–Já? – eu perguntei.

–Eu sou uma deusa! Agora me deixem aqui, antes que eu transforme o moleque em um girassol.

Eu ri.

Fomos indo até meu quarto deixando Perséfone em seu jardim.

–Ela não gosta muito de você. – eu disse.

–Sério? Nem percebi!

Eu ri.

–Olha o lado bom. – ele disse – Você terá uma companhia!

–Perséfone?

–Não! Eu!

–Ah! Claro! – eu disse.

–Vai ser bom ter você aqui...

Eu sorri.

–Sabe – ele disse com outra voz, a voz de idiota que vai me dar outra cantada, sorrindo do mesmo jeito de quando ele vai me dar uma cantada – Eu não acreditava em amor à primeira vista, mas quando te vi mudei de idéia.

Pensei em ignorar pela 283438747 vez, mas estava cansada então sorri tímida, para que ele pensasse que tinha conseguido.

–Sabe, - eu disse com a voz mais fofa que eu podia fazer – É pura coincidência! – ele sorriu malicioso e vitorioso – Eu também não acreditava em assombração!

A cara dele foi hilária! Eu só estava brincando, mas segurei o riso. Deixei ele parado com a boca aberta e fui ver meu novo quarto.