POV Nico

Eu odeio mar. Tenho que agradecer que Sarah está no mesmo barco que eu. Desde o momento em que encontramos Poseidon (eu não sabia que era Poseidon na hora), ele não parava de me olhar como se quisesse me matar.

Se eu estivesse sozinho já estaria morto, mas Poseidon não mataria sua talvez filha, ou seja, tenho que agradecer. Mas mesmo não morrendo eu estou odiando.

O balanço do mar era horrível e eu estava muito enjoado. Minha vontade era de ir até a Grécia pelas sombras, mas é muito longe, eu perderia muita força, e alem disso teria que levar os outros juntos. A única saída que tenho é agüentar esse mini navio.

Eu olhava para um lado e via água, olhava para o outro e via água. Era água em toda a minha volta, e eu não via à hora de chegar até a Grécia.

De acordo com Sarah nós chegaríamos amanhã de noite.

Passamos o dia sem fazer nada. Sarah e Liz conseguiram fazer comida (o barco era mágico, tinha energia). Fiquei vendo TV e ouvindo musica o dia inteiro.

De noite decidi ir até meu quarto, que eu teria que dividir com o idiota do Leonardo. Ele estava lá, deitado em sua cama olhando para cima com uma cara de bobo apaixonado.

–Olha – eu comecei – É melhor você tirar essa cara do rosto logo.

Ele me olhou como se eu fosse maluco.

–Você não pode me obrigar, ok?

–Eu não suporto essa cara de bobo apaixonado, então tira ela do rosto ou eu mesmo tiro.

–Não estou com cara de bobo apaixonado!

Bufei.

–Fala serio! Ta na cara que está! Em quem você estava pensando?

Ele tirou o sorriso do rosto percebendo a cara que estava.

–Eu estava pensando na Sarah – ele disse com um sorriso desafiador no rosto, como se fizesse de propósito, para me provocar, o que eu não entendi.

Senti uma pontada dentro de mim. Por que ele estava pensando na Sarah? Ele não pode pensar nela assim?

–Você gosta dela? – eu perguntei tentando parecer normal e não com ciúmes.

–Muito – ele disse sonhador.

Fiquei com muita raiva, alem dele não poder sentir isso, ele vem esfregar na minha cara?

–Pois é melhor parar – eu disse tentando me controlar para não dar um soco na cara dele. Ele me olhou esquisito e desafiador.

–Não, obrigado. Eu gosto da Sarah e vou continuar gostando.

–Você está me irritando.

–Por que está implicando? Pelo o que eu saiba você a chamou de maluca e disse que nunca tinha visto a garota na sua vida!

–Eu perdi a memória! Não sei o que está acontecendo! Não me lembro dela mesmo, mas sinto algo por ela. E eu sei que essa sensação não é de agora.

–Olha, ela até gostava de você. Tudo que ela disse foi verdade. Ela foi sim prisioneira do Mundo Inferior, você a salvou e eu tenho que te agradecer por isso. Mas quando ela veio para o acampamento, você não estava mais lá, ela só teve a mim como amigo.

Eu não estava entendendo o que ele estava dizendo.

–Mas aí você voltou – ele continuou – E eu pensei que eu ia perdê-la, já que ela sempre falou de você. Mas você não lembrava dela, por isso a magoou e assim ela voltou para mim. Então, mesmo que você esteja lembrando dela, eu peço para que esqueça de novo, ou pelo menos finja. Ela está bem sem você, eu sou uma boa pessoa, posso cuidar dela.

–Ela ainda não é sua – eu disse com o melhor olhar mortal que eu poderia fazer, mas ele nem sentiu medo, ele descobriu o meu erro, que é a Sarah, não tem como eu ganhar.

–Mas ela vai ser – ele disse – Ela está “escolhendo com carinho”. Ela vai preferir um cara que há elogia o tempo todo e que a ama, ou um cara que nem se lembra dela e que tem um pai que quer matá-la? Se toca!

–Você ainda não ganhou – eu disse – Eu ainda estou nessa batalha e eu já a conquistei uma vez, posso conquistá-la de novo.

–Eu estou ganhando – ele disse sorrindo.

Decidi que não devia ficar ali, não era bom para mim, a não ser que eu cometesse uma morte dolorosa. Fui até a porta, mas antes de sair eu consegui ouvir:

–Ela não te ama mais – Leo disse – Ela já me beijou.

Soquei a porta com tudo, mas aquelas palavras me magoaram muito. Por que?

Flashes começaram a vir em minha cabeça: O dia que eu encontrei Sarah toda machucada em frente ao meu pai. Quando cuidei dela. Todas as minhas cantadas e as patadas dela. Seu sorriso, seu olhar, seu cabelo. O dia na piscina. Nossas brigas. Quando meu pai tentou mata-la. Quando eu a salvei. Quando ela pensou que eu tinha ajudado meu pai. Sua lagrima. Seus gritos. Seu sumiço. Meu pai. Poder. Eu sem memória.

Não entendi o porquê de a memória ter voltado agora, mas o que importa é que eu lembrava dela, melhor do que antes. Eu me sentia feliz por isso, mas ao mesmo tempo triste.

Eu disse aquelas coisas horríveis para ela? Eu? Ela beijou o Leo? Ela o ama? Fui até a sala, sem me importar com o balanço do barco. Joguei-me no sofá e fiquei pensando em tudo que estava acontecendo, quando percebi já estava chorando.

POV Sarah

Eu estava lendo escrevendo meus textos no meu quarto e Liz estava tomando banho, eu estava impressionada com o tamanho daquele barco. Ou seria navio? Todos estão chamando de mini-navio, então vai ficar assim.

Parecia um hotel, só que estava na água.

Liz saiu do banho e se jogou na cama.

–Eu estou com muito sono – ela disse.

Meu texto estava ficando muito interessante, e minha inspiração estava muito boa, então decidi mudar de lugar para continuar a ler e deixar Liz dormir. Fui até a sala, acendi as luzes e continuei escrever.

Um tempo depois ouvi alguns passos e Nico apareceu na sala, só que correndo e se jogou no outro sofá, ele nem me viu. Não entendi o porquê de ele fazer isso. Fiquei observando-o até que ouvi uns murmuros, ou seja, ele estava chorando.

Aquela cena realmente me chocou. Deixei meu livro de lado e sentei ao lado dele, passei as minhas mãos pelas suas costas, tentando acalma-lo. Ele se assustou quando percebeu que eu estava lá e se sentou secando as lagrimas.

–Eu não estava chorando – ele disse rouco e com os olhos inchados.

–Não precisa ter vergonha – eu disse – Chorar é bom às vezes. Eu mesma, nunca pude chorar, quando chorei, foi uma sensação boa.

Quando disse isso ele voltou a chorar, escondendo o rosto no meu ombro. Estranhei essa aproximação, mas deixei-o chorar. Não é todo dia que você vê o Nico chorando, o que me deixou bem preocupada.

–O que aconteceu? – eu perguntei um tempo depois.

–Eu... Lembrei – ele disse quando estava mais calmo.

–Lembro do que? – eu disse obrigando ele a olhar para mim.

–De tudo – ele sussurrou e eu entendi tudo, estava tão feliz.

–Se você se lembra – eu disse sorrindo – Por que está chorando?

–Não quero te perder – ele disse – O Leo me contou tudo. Eu te tratei da pior forma possível, você merece ficar com ele.

Olhei assustada para ele. Do que ele estava falando?

–O que o Leo te disse?

–Eu cheguei ao quarto e disse para ele tirar a cara de apaixonado, daí ele disse que gosta muito você e eu senti ciúmes. Ele começou a dizer que eu te magoei muito e que era para eu esquecer de vez você. Ele disse que você iria escolher ele e que vocês já tinham se beijado. Que você não me ama mais. Foi quando minha memória voltou.

Fiquei com a boca aberta.

–Aquele...

–Não! – ele me interrompeu. – Ele tem razão! Você gosta dele, se beijaram, desejo toda a felicidade do mundo para vocês dois! – ele falava gritando e com raiva.

–Nico! Para com isso!

–Se você realmente me amasse não teria se apaixonado por ele!

–Quem disse que eu me apaixonei por ele? – eu gritei.

–Vocês se beijaram! Alguma coisa você sente!

–Eu não sinto nada pelo Leo! – eu disse, mas logo me arrependi, eu sinto sim algo pelo Leo, eu o amo. Eu falei a maior mentira de todas. E Nico tinha razão: se eu amava o Nico, por que eu me apaixonei pelo Leo?

–Nossa – ouvi uma voz atrás de mim, me virei e vi Leo – Desculpa, eu pensei que você sentisse algo por mim.

Ele estava bem triste e olhando bem nos meus olhos com desprezo.

–Leo... – eu comecei – Me desculpa, não foi isso que eu quis dizer.

–Acho que é a única coisa que você quis me dizer. Então por que me beijou? Por que prometeu que iria pensar com carinho?

–Leo... – eu fui até ele, mas ele recuou.

–Não quero saber – ele disse ríspido – Vamos acabar com essa missão e continuar nossas vidas, separados – ele deu ênfase em separados o que me magoou.

–Quer saber? – eu estava com raiva – Você disse coisas ridículas para o Nico, mentiras! Você é completo idiota.

–É, eu pensava que você sentia algo, me desculpa por ter dito uma mentira!

Ele foi embora batendo os pés e só deu para ouvir a batia da porta ecoar no silencio.

–Olha... – Nico disse.

–Não começa! A culpa é toda sua!

–Minha?

–Quem começou com a palhaçada de “desejo a maior felicidade do mundo” foi você!

–Mas eu tinha razão! Mas agora vejo que você não merece aquele idiota!

–Nem você! – eu gritei e saí até o meu quarto.

Liz já estava dormindo, fiz silencio para não acorda-la e deitei em minha cama e acabei dormindo.