Sarah

 Aqueles esqueletos estavam me dando medo. Eles apertavam meu braço com força, como se eu fosse forte para fugir, e me olhavam com medo. Eu que tinha medo deles! Por que estavam com tanto pavor? É difícil identificar a emoção de um esqueleto, mas aqueles dois com certeza estavam com medo.

 Eles trabalhavam para Hades, com certeza. Nesse momento, e estava sentindo falta dos fantasmas que ficavam me encarando todos os dias que eu estive presa aqui, que foram três semanas!

 Cada hora que se passava, mais preocupada com o Nico eu ficava. E se ele tivesse morrido? Hades não faria uma coisa dessas com o filho. Mas Hades machucou o seu próprio filho, então eu não duvido nada que Nico fosse morto pelo pai.

 Tira esse assunto da cabeça Sarah! Nico está bem, eu espero.

 Bom, o plano B de Hades era um pouco assustador. Os esqueletos me levaram para uma espécie de... Lago? Sim, um lago. Mas era um lago assustados. Que nem os de filme de terror. Tinha um monte de pedras e só se via neblina.

 Eu não duvidava nada de que deveria ter monstros naquele lago. E eu não quero ver monstros. O único que eu vi foi o minotauro que atacou meu pai, fora isso nada. Nico me disse que quando se sai do Mundo Inferior você é toda hora atacada por monstros.

 Era uma das vantagens de viver no Mundo Inferior. Lá não tem monstros, então eu não fui atacada. Mas Nico me ensinou como atacar cada um dos monstros, me ensinou cada detalhe, cada força e cada ponto fraco. Nico... Nico... Sinto sua falta.

 Por algum motivo, que eu não sei explicar, quando eu estou ao lado de Nico eu me sinto mais... Protegida. Sei que Nico sempre vai me defender. Mas no momento ele não estava ao meu lado. Eu estava sozinha, como sempre.

 Mas eu não consegui fazer nada. Eu poderia ter salvado o Nico. Poderia ter, sei lá, lutado contra esses esqueletos e ele não teria, talvez, morrido. Foi tudo por minha causa. Eu só trago tristeza, dor, sofrimento, devo ser um monstro. Não duvido nada que minha mãe seja um monstro.

 Os esqueletos me colocaram nesse lago, que eu percebi que era muito fundo, e me prenderam com correntes. Percebi que quanto mais eu tentava sair, mas fundo eu ficava. E eu não queria morrer afogada.

 Todos saíram me deixando sozinha. Eu comecei a entrar em desespero. Eu sentia alguma coisa se mexendo de baixo da água, não via nada além de neblina, meus braços doíam por causa das correntes e eu tinha que ficar parada para não afogar.

  Tudo aquilo era horrível, mas não me faziam chorar. Sou muito boa. Hades não vai conseguir o que quer.

 Já se passaram quase um dia que eu estou presa aqui. Nada aconteceu comigo. Meus braços doíam muito pelo fato de estarem acorrentados. Eu não posso dormir, e estou com muita fome e sono. A água já esta batendo em meu queixo.

 A única coisa que me resta a fazer é esperar. Não sei pelo que. Mas eu preciso esperar.

Hades

 A garota já está lá há um dia. Uma hora ela terá que implorar para sair, eu não vou deixar e ela irá chorar. Esse não é um plano muito bom, mas vai esgotar as forças dela.

 Perséfone não está mais aqui, não poderá ajudar. Nico, meu filho, não está em condições para ir atrás dela.

 Escute bem, Nico é meu filho e tal, mas eu tive que fazer aquilo. Não me restava outra saída. Eu já matei o pai dela. A única solução é destruir aqueles que ela ama.

 E ela foi amar bem o meu filho. Foi à sorte batendo em minha porta. Quem que apaixona por um filho meu? E o pior é que o amor foi recíproco. Nico foi se apaixonar por ela.

 Isso é meio obvio, por conta de seus encantos. Não está entendendo? Sarah tem o poder de conquistar quem quiser. Só pela sua beleza e simpatia todos se apaixonam por ela.

 A mãe dela fazia isso. Só que a diferença dela e sua mãe é que Sarah gosta mesmo do Nico, e Nico no começo caiu nos encantos da garota. Nico fazia tudo para tê-la por perto. Mas o que aconteceu é que ele começou a gostar realmente dela, sem encantos.

 Quando eu soube disso, foi só mais um jeito de conseguir a lagrima. Não me entendam mal. Todos acham que eu sou do mal, eu só sou cruel, não tenho dó. Só quero uma coisa.

 Fui até o lago onde a menina estava acorrentada. Ela ainda não tinha me visto. Ela estava pálida e fraca, muito fraca. Aquele lago suga as energias dela e de quem entrar em contato com a água. Ela fará de tudo para sair de lá, inclusive me dar a lagrima.

-Olá – eu disse e, com dificuldades, ela virou a cabeça em minha direção.

-Me tira daqui. – ela disse. Sua voz estava fraca e rouca. Seus lábios estavam roxos.

-Me de a sua lagrima – eu disse.

Ela suspirou.

-Me explique o que ela faz. – ela implorou.

 Tudo bem, eu sou legal.

-Sua lagrima – eu comecei – É bem rara. Ela tem certo poder. Com apenas uma gota de sua lagrima eu posso ter o que quero. Poder, força, riqueza, amor. O que eu quiser, eu apenas preciso de uma gota misturado com a água do rio estige, que eu já tenho.

 Ela me olhava confusa.

-Seu eu ter sua lagrima – continuei – terei o que tanto quero. Eu não vou contar o que. Mas agora você já sabe o que eu quero.

-Eu não darei a lagrima a você – ela disse.

-Uma hora dará. O que você quer? – eu tinha que perguntar. – Seu pai de volta? Eu posso fazer isso.

-Eu quero – ela disse muito fraca – Quero o Nico.

-Querida – eu disse rindo – Você teve tempo demais para consegui-lo, agora terá que sofrer com as conseqüências.

-Você matou seu próprio filho! – ela gritou, o que eu me surpreendi, já que ela não estava conseguindo nem falar direito.

-Ele é apenas meu filho. – eu disse – Sempre no seu canto, não tem amigos e mais nada. Sempre ficou comigo, e agora ele continua aqui.

Ela limpou a garganta, estava segurando o choro. Aquele era o defeito dela.

-Nico esta morto! – eu gritei.

-Não está, eu sei disso – ela disse baixo.

-Morto, eu sou o deus da morte, sei disso.

Ela engoliu o seco, ela queria chorar.

-Eu sei que ele esta vivo. – ela disse – Eu sinto isso.

 Bufei.

-Você sofrerá mais um pouco aí, pense em minha proposta – eu disse e saí.

Precisava de um plano, algo para conseguir essa lagrima.