Era dia dezessete de julho. A folhinha estava no lixo, que eu via ao meu lado. Estava deitada no chão do quarto, sentia a mão de Soul sobre a minha, nossos dedos entrelaçados e quentinhos. Em minhas costas, o piso de lajotas estava gelado, estávamos com os pés sobre a cama e apoiando as cabeças sobre nossas malas.

–Passou tão rápido. –Disse olhando para o ventilador de teto que rodopiava na velocidade mínima.

–É, mas valeu à pena. –Disse Soul.

–Sim, valeu à pena. –Respondi com um sorriso e apertei mais a mão dele, até sentir a sua palma quentinha.

–Eu fico pensando no que seu pai vai dizer. –Disse Soul soltando uma risada sutil.

–Ele vai se desesperar e vai querer que eu more com a minha mãe. –Respondi sorrindo.

–E você vai?

–Claro que não, vou ficar no apartamento mesmo, ele é nosso, além do mais, gosto de lá.

–Bem, sabe que agora estamos meio que, ah, sabe...

–Namorando? –Indaguei, tentando encontrar um final apropriado para o final da frase.

–Ah, você, você! Bem, pode-se dizer que estamos... Ficando. –Respondeu ele me olhando com uma expressão calma estampada no rosto.

–Ficando né? –Disse fazendo biquinho.

–Tá bom, tá bom, pode-se dizer que estamos namorando, mas nada de oficial, estamos só saindo de maneira diferente. –Disse ele tentando fazer com que eu desfizesse o bico. Não adiantou, então, ele apelou para um selinho, que apesar de rápido, foi o suficiente para me fazer sorrir.

–Soul... Você acha que irão nos punir por termos algo? –Perguntei voltando a olhar para o ventilador.

–Diz o pessoal da Shibusen? Duvido, seus pais teriam sido punidos se fosse assim. –Respondeu ele com convicção.

–Bem, acho que tem razão. Mas, você e eu não seremos como meus pais, não é? –Perguntei um pouco insegura.

–Como assim? –Indagou Soul sem compreender.

–Sabe, papai e mamãe se casaram, eu nasci, mas meu pai começou a flertar, traia minha mãe na minha frente, e, sabe...

–Shiu! Eles são eles, nós somos nós. –Disse ele colocando o indicador sobre meus lábios. Soltei uma risadinha tímida e corei.

–O que é tão engraçado?- Perguntou ele tranquilamente e quase rindo.

–Você é a segunda pessoa que me fala isso. –Respondi sorrindo.

–Ah é? E quem foi a primeira? –Perguntou ele fingindo estar enciumado.

–Tsubaki, seu bobo! Ela que descobriu que eu gosto de você. –Respondi apertando a bochecha dele.

–Então tenho que agradecer a ela, afinal, não estaríamos fican... Quer dizer, namorando se ele não tivesse percebido. –Comentou ele colocando a mão em meu ombro e me aproximando dele. Encostei a cabeça no peito dele sentindo o coração dele bater rápido dentro do peito.

–Ele é seu, tá? –Disse ele reparando que eu ouvia as batidas de seu coração.

–E esse é seu. –Disse colocando minhas mãos sobre o peito.

–Assim espero, afinal, eu quero ser o único por enquanto.

–Será o único para sempre.

–Tem certeza? –Perguntou ele com ironia.

–Não mudo de idéia fácil, isso quando mudo de idéia. –Respondi de maneira indireta, mas o sorriso dele foi o bastante para que ele entendesse que eu queria ficar com ele por muito tempo, quem sabe para a vida toda.

–Ei, o que acha de irmos jogar basquete quando voltarmos para a Death City? –Perguntou Soul desviando de assunto e me soltando ao reparar que andavam pelos corredores próximos do quarto.

–Bem, só se você ficar no meu time. –Respondi.

–Bem, que tal eu, você, o Kid, a Chrona e o Nero? –Perguntou ele.

–Pode ser. Mas quer colocar o Kid e Chrona no mesmo time por que? –Provoquei.

–Nunca se sabe, bem, ela sempre fica estranha perto dele. –Comentou ele piscando o olho.

–Verdade, mas quer saber, acho que algum dia ela repara os sentimentos dela, se eles forem maiores.

–Se você que odeia homens reparou um sentimento...

–Pois é, sempre ocorrem exceções no mundo e sinta-se feliz por você ter sido o tal para quem eu abri uma exceção. –Provoquei cutucando-o na altura das costelas.

–Acho que tenho mesmo que ficar feliz. –Respondeu ele me provocando.

–Ei, com licença, Maka, Soul, o Kid mandou avisar que vamos sair agora, o motorista que o Shinigami-sama pediu para vir nos buscar acabou de chegar. –Disse Chrona entrando timidamente no quarto.

–Ok, estamos indo. –Disse me levantando rapidamente e sendo seguida por ele. Bati na roupa para tirar algum possível resquício de poeira e fui abaixando para pegar minha mala.

–Ei, deixa que eu pego. –Disse Soul.

–Não precisa, eu sei carregar as coisas sozinha, afinal, sou uma artesã de foice e foices pesam. –Respondi.

–Me chamou de gordo? –Provocou Soul.

–Não, não chamei, você é um gatinho. –Disse e dei-lhe um selinho.

–Hum, sabia que vocês estavam de segredinhos! –Provocou Black Star entrando no quarto com cara de quem havia descoberto um segredo de Estado.

–Black Star, vamos, me ajude a carregar essa mala. –Disse Tsubaki arrastando-o dali.

–Bem, vamos indo. –Disse pegando minha mala. Ouvi o barulho da mala de Soul sendo erguida, sabia que ele estava atrás de mim, acompanhando meus passos.

A porta estava a alguns centímetros de nós, abri-a com cuidado para não derrubar a mala.

–Acho que vou sentir falta desse lugar. –Disse olhando para a casa que agora estava idêntica ao dia em que chegamos.

–É, mas quem sabe nós voltemos no ano que vem. –Disse Soul.

–Bem, quem sabe no ano que vem a gente não tenha uma história para contar? –Disse olhando para ele.

–Quem sabe. –Respondeu ele sorrindo.

–Maka, Soul, só faltam vocês! –Berrou Liz, que estava perto da limusine que Shinigami-sama mandara para nos buscar.

–Vamos Soul! –Disse e saímos juntos, batendo a porta. Kid foi até ela e trancou-a, certificando-se diversas vezes de que estava bem trancada.

–Vamos Kid! –Berrou Liz de dentro do carro.

–Ok! –Berrou ele e abriu a porta do passageiro, sentando-se ao lado do motorista. Agora seria uma viagem de volta para casa. No caminho, provavelmente eu ficaria pensando na reação de todos quando soubessem da novidade. Mas eu estava feliz por ter passado esses dias na praia com meu amigos e fico mais feliz ainda por ter saído daqui com um... Namorado!

FIM