– Terminei! - exclamei mais para mim mesma do que para Scorpius, que caminhava despreocupado ao meu lado. O sorriso habitual e típico, que agora poderia considera-lo apenas dele, pairava sobre seus lábios. Sua gravata verde e prata frouxa pendia sobre seu pescoço e ele tinha a capa jogada sobre o ombro. O vento agradável e primaveril soprou contra nós e o pedaço de pergaminho em minhas mãos quase fora levado por ele.

– Deixe-me ver - murmurou Scorpius arrancando a folha de minhas mãos e afastando-se.

– Ei! - avancei em sua direção, tentando recuperar o pergaminho - Eu sei que vai copiar! Nem pense nisso Hyperion!

– Como adivinhou tão facilmente, Luna? - arqueou as sobrancelhas, erguendo o pergaminho para longe de mim.

– Você é inteligente o bastante para fazer sua lição sozinho! - bufei, batendo o pé e cruzando os braços.

– Sou inteligente o bastante para usar disso - ele balançou o papel com um olhar de presunção - uma chantagem. Não acha Lilian Luna?

Aos poucos, um sorriso malicioso se abria em seus lábios, até alcançar seus olhos cinza tornando-os escuros. Aquilo era tão... Scorpius Malfoy.

Ele aproximou-se, o papel ainda erguido fora do meu alcance. Seus lábios se entreabriram e chegaram mais perto dos meus.

Deixei que um leve sorriso se abrisse em meus lábios, enquanto os aproximava também.

Seus lábios roçaram sobre os meus e pude senti-lo sorrir com malicia ainda. E sem perceber, ele abaixara o braço e aproveitei no mesmo instante para arrancar o pergaminho de sua mão, dando um passo para trás fazendo-o cambalear para frente. Ri ao vê-lo me fitar furiosamente, balançando o pergaminho.

– Seu momento de chantagem terminou, Hyperion - falei, ajeitando minha mochila nos ombros e me afastando - mas mais deveres me esperam.
Seus olhos escureceram mais, ele parecia um predador prestes a caçar sua presa.

– Ei, pare de olhar para minha irmã como se ela fosse sua janta, Malfoy - uma voz soou distante, juntamente de passos.

Olhamos para o lado, e fitamos James e Albus caminhando em nossa direção.

– Ou você vai acabar virando a janta de alguma criatura faminta da Floresta Proibida - James completou sua ameaça com a cara amarrada.

Albus revirou os olhos, me dando um rápido abraço e trocando um aperto de mão com Scorpius. James beijou minha testa, não se dando o trabalho de olhar mais uma vez para Scorpius, virando-se para o Lago Negro.

– Está reclamando desde manhã - bufou Albus encarando James, que começara a jogar pedrinhas no lago, fazendo-as quicar pela superfície. Ele provavelmente aprendera isso com Hagrid, mas não era tão bom quanto.

– Ei! - um grito ecoou mais ao longe, todos nos viramos para trás, com exceção de James que parecia concentrado demais em não afundar as pedrinhas. Avistamos Fred saindo de um dos corredores e correndo até nós.

Ele beijou minha bochecha e trocou um aperto de mão com Albus e Scorpius.

– Por que demorou tanto, Weasley? - perguntou Scorpius, em tom de deboche - Procurando sua cueca vermelha da sorte?

Olhei para Albus, e ele retribuiu o mesmo olhar, sem entender. Pelo jeito, eles já partilhavam piadinhas internas.

Fred riu, socando o braço de Scorpius, que fora revidado com um tapa na cabeça. Os dois afastaram-se, iniciando uma lutinha infantil.

– Teve noticias dela? - a voz de Albus cortou minha linha de pensamentos enquanto eu encarava Scorp e Fred que riam enquanto ainda se batiam de brincadeira. Pisquei algumas vezes, e encarei meu irmão. Vi seus olhos verdes esmeraldas brilharem, uma pontinha de esperança ainda queimava bem lá no fundo.

Rose.

É claro que ele se referia á ela, ao seu eterno amor. Á quem mais ele iria se referir? Albus era tão puro, nunca se apaixonara, a não ser por ela. Ele prezava aquilo mais do que tudo.

Rose fora para Beauxbattons, e por incrível que pareça, por vontade própria. Ela mesma contara aos pais que fora ela a culpada por eu ter quase tido a garganta dilacerada por um lobisomem. Eles não ficaram bravos, apenas decepcionados. E a decepção fora demais para a perfeita e certinha Rose suportar, ainda mais vindo de seus pais e principalmente sua mãe. E logo que pôde, ela pediu transferência e por sorte, havia uma aluna de Beauxbattons que também pedira transferência.

– Não... - respondi á Albus, encarando seus olhos, mas nem mesmo diante de minha resposta, a esperança se apagou - Ela manda apenas uma carta a cada mês, você sabe disso...

– Só estava com esperança... - murmurou ele cabisbaixo.

– Ainda está com esperança, Al - baguncei seu cabelo - Não a deixe morrer.

Ele me fitou por longos segundos e abriu a boca, mas outra voz interrompeu suas palavras:

– Lily!

Novamente, todos se viraram para trás. Scorpius parou a luta infantil com Fred, bufando para os recém-chegados, mais especificamente para a dona da voz que agora corria em nossa direção. Fred parou, estático, encarando sem sequer piscar um ponto logo atrás de minha melhor amiga AnnaBelle.

Ela jogou seus braços ao meu redor, beijando minha bochecha e cumprimentou a todos.

– Olá Malfoy - ela acenou friamente, o encarando com desdém.

– Nott - ele a cumprimentou, retribuindo o olhar - Onde está o leãozinho? - ele sorriu maldosamente.

Antes que Anna pudesse lhe responder de forma nada educada, virei-me para trás me deparando com os recém-chegados.

Gabe Finnigan, que rapidamente cumprimentou a todos com um sorriso brilhante e aproximou-se de Anna, repousando seus braços sobre os ombros da namorada.

A segunda pessoa era Apoline Nott. Ela saltitou em seus passinhos de fada até seu namorado Fred, e cumprimentou á todos com um Olá carregado pelo seu sotaque francês. A deslumbrante Apoline fora a aluna transferida de Beauxbattons para Hogwarts, ocupando a vaga da perfeita Rose Weasley.

Ela não era descendente de veelas, como a maioria das alunas de Beauxbattons, possuía cabelos castanhos claros e ondulados e os olhos verdes idênticos aos de minha melhor amiga. Nós havíamos nos conhecido no Ano Novo, Apoline viera até Londres para passar o fim de ano com seus tios e, consequentemente, com os Malfoys.

Flashback ON

Eu estava um pouco nervosa, ou muito, se levasse em consideração minhas mãos trêmulas e suadas, que Scorpius largara logo após limpar as suas em suas próprias vestes pela quarta vez e, depois, envolver meus ombros com seu braço, que fez com que Fred gargalhasse enquanto eu bufava. Pra que preciso de inimigos quando eu tenho um primo e um namorado como esses?

– Chegamos – Scorpius declarou assim que paramos no imenso portão da imponente Mansão Malfoy. Havíamos vindo através de uma chave de portal, que nos deixara um pouco longe da Mansão por isso tivemos que andar por alguns minutos.

Mexi em meu cabelo nervosa e Scorpius me apertou mais em seus braços, mesmo revirando os olhos.

– Eles não vão te matar, Lilian Luna – resmungou, me puxando para dentro do terreno, já que o portão havia sido aberto por mágica, literalmente.

– Eu não estaria assim tão confiante – Fred murmurou ao meu lado, observando atentamente as estatuas estranhas e assustadoras que pareciam nos seguir com seu olhar a medida que passávamos por elas.

– Acho melhor nós irmos embora, talvez sej...

– Filho! – uma voz doce e animada me interrompeu, fazendo com que eu arregalasse os olhos e sentisse todo o sangue se esvair de meu rosto. Astoria Greengrass andava apressada em nossa direção e logo atrás, vinha o pai e os avós de Scorpius, nos olhando friamente – Não tínhamos certeza se o veríamos hoje, você não nos mandou sua resposta.

– Desculpe, tive alguns contratempos – seus olhos se viraram rapidamente para mim e Astoria, que havia o abraçado rapidamente, notou minha presença.

– Oh, e quem são esses? – ela perguntou, me olhando com curiosidade.

– Mãe, pai, essa é minha namorada – Scorpius murmurou, voltando ao meu lado e passando o braço por minha cintura. Seus avós ainda estavam um pouco afastados.

– É um prazer, Sr. e Sra. Malfoy, sou Lilian Luna...

– Potter – uma voz arrastada e sem vida me cortou, fazendo com que eu ficasse tensa rapidamente. Lucius Malfoy me encarava, como se me desafiasse a negar meu sobrenome.

– Potter – concordei, minha voz firme mesmo que por dentro meu cérebro mandasse diversos alertas para meu corpo, indicando perigo – E esse é meu primo, Fred Weasley.

Puxei-o para perto enquanto ele olhava ao avô de Scorpius ameaçadoramente.

– O prazer é meu, querida – Astoria murmurou, fazendo com que minha atenção se voltasse novamente para ela, que vinha em minha direção – Fico feliz que Scorpius a tenha trago, ele sempre foi tão solitário...

Sorri desconfortável enquanto ela me abraçava carinhosamente.

– Obrigada, Sra. Malfoy – falei baixo e ela logo se afastou novamente, indo para o lado do marido e o dando uma leve cotovelada, como se o incentivasse a dizer algo.

– Potter? – ele perguntou, me analisando. Astoria o repreendeu baixo, o fazendo revirar os olhos e esticar uma de suas mãos para me cumprimentar – Estou surpreso com sua presença, seu pai...

– Está mudando – o interrompi, sem querer parecer rude.

– Tenho certeza que sim – ele comentou, sarcástico. A mãe de Scorpius o olhou severamente e ele se encolheu.

– Inclusive, ele se sentiria honrado em oferecer um jantar à sua família, Sr. Malfoy – continuei firme, mesmo sem ter, de fato, certeza sobre isso.

– Soube que foi para a Sonserina, Srta. Potter – a voz arrastada e venenosa de Lucius voltou a falar – Admito que não esperava por isso, acho que o Chapéu Seletor cometeu um terrível engano.

– Talvez realmente o tenha ou talvez ele tenha um motivo por me colocar nela – falei com acidez - O senhor não me conhece, posso surpreende-lo.

Antes, porém, que ele falasse algo, Narcisa se aproximou e murmurou algo em seu ouvido, que fez com que o homem me olhasse com frieza e, logo após, se afastasse, voltando para a Mansão.

– Não ligue para ele, Lucius ainda não aceitou muito bem a ideia de que seu pai derrotou Voldemort – ela comentou baixo, enquanto me cumprimentava – Você se parece muito com sua mãe.

– Meu pai falou sobre a senhora, disse que era uma mulher incrível – sorri minimante.

– Obrigada querida.

– Nossos convidados chegaram – a mãe de Scorpius falou depois de trocar algumas palavras com meu primo.

– Lily! – uma voz conhecida me chamou atenção e logo minha melhor amiga apareceu, me abraçando.

– AnnaBelle! – ri baixo, ainda um pouco nervosa por ter conhecido os Malfoys. Eu não sabia que ela estaria aqui.

– Malfoy – ela se virou para meu namorado, sorrindo amargamente.

– Nott – ele respondeu ácido.

– Weasley! – Fred exclamou ao meu lado, sorrindo que nem um idiota. O olhamos incrédulos e ele apenas deu de ombros – Vocês sempre se esquecem de mim, eu só queria participar.

Revirei os olhos, prestes a falar alguma coisa, quando uma risadinha desconhecida fez com que eu me calasse.

– Ah, essa é minha prima, Apoline Nott, estuda em Beauxbattons – Anne apresentou a garota de cabelos castanhos e olhos verdes.

– Fred Weasley, ao seu dispor – meu primo se adiantou e pegou uma das mãos da garota, a beijando – Estou encantado, senhorita.

– Não seja idiota, Weasley – meu namorado falou, revirando os olhos e se apresentou – Scorpius Malfoy.

– Lilian Luna Potter – a cumprimentei – Pode me chamar de Lily se quiser.

– É um prazer – a garota falou, o sotaque francês forte. Ela soltou uma risadinha sem graça ao olhar novamente para meu primo.

–*-

Sorri minimamente ao observar aquela cena. Scorpius e Fred estavam a caminho da mesa, onde algumas bebidas e aperitivos estavam servidos antes do jantar em si, com a desculpa de que precisavam de algo para beber, e conversavam como se fossem velhos amigos. AnnaBelle e Apoline me chamaram para ir ao banheiro, mas eu me recusei, dizendo que esperaria os garotos. A francesa era muito alegre e falante, de forma que rapidamente conquistou a todos nós, principalmente a Fred.

Voltei meu olhar para os garotos, que agora já se serviam na mesa, trocando algumas palavras e risos.

– Você o faz bem – a voz contida e gélida do pai de meu namorado me sobressaltou e logo me virei para ele, que havia se postado ao meu lado silenciosamente.

– Não tanto quanto ele fez para mim, Sr. Malfoy – respondi, sorrindo fraco ao me lembrar de tudo que acontecera desde o inicio do ano letivo – Eu o amo.

– E ele a você – Draco murmurou, observando o filho, que agora nos olhava com curiosidade e receio. Sorri, indicando que estava tudo bem, e logo ele voltou a conversar com Fred – Fico feliz que ele a tenha encontrado.

– Eu também – falei – Você não faz ideia...

Flashback Off

Ainda perdida em lembranças, não percebi que havia sido erguida do chão e a próxima coisa que notei foi a água gélida em contado com minha pele.

– Fred Weasley! – grunhi irritada assim que voltei à margem do Lado Negro.

– Eu não fiz nada dessa vez! – ele ergueu as mãos para o alto e uma risadinha ao seu lado me chamou a atenção.

– Scorpius... – o olhei ameaçadoramente, não acreditando que fora ele que havia me jogado no lago.

– Desculpe, foi mais forte do que eu – ele comentou, sorrindo – Você estava tão concentrada que eu não resisti, você nem nos escutava.

Olhei incrédula para todos os que estavam ali. Albus, Fred, AnnaBelle, Gabe, Scorpius e até James riam da minha cara. Apoline, segurando o riso, se aproximou do lago para me ajudar a sair.

– Eu odeio vocês – comentei emburrada, já do lado de fora e tremendo de frio. Poderíamos estar na primavera, mas ainda estávamos em Hogwarts.

Com minha frase, eles riram abertamente, inclusive Apoline, e sem conseguir me conter, ri junto com eles, dando um tapa fraco no braço de meu namorado, que logo me envolveu em seus braços, sem se importar se eu estava molhada.

The End?