POV Scorpius Malfoy

Abri a porta enquanto Fred II resmungava por eu ter o apressado e ele, consequentemente, não ter conseguido achar sua cueca da sorte.

- Cale a boca, Weasley – revirei os olhos, saindo da casa e bufando – Lilian deve querer nos matar por causa da demora e sua cueca não iria ajudar em nada contra a fúria de Lilian Ruiva Potter.

- Mas é claro que ela vai nos matar – ele resmungou – E sabe por quê? Porque eu não achei minha cueca vermelha da sorte! Como eu posso ter sorte sem minha cueca vermelha da sorte?

- Será que você pode parar de repetir cueca vermelha da sorte? - revirei mais uma vez meus olhos e puxei minha mala para fora de casa, sendo seguido pelo ruivo, que ainda falava coisas sem sentido - A mala dela está ali – apontei na direção onde eu via o objeto e andei em sua direção – Mas onde ela está?

- Deve ter voltado para pegar a calcinha verde da sorte dela – Fred respondeu, dando de ombros. O lancei um olhar cortante.

- Lilian não tem uma calcinha verde da sorte, Weasley – resmunguei, finalmente chegando até o local onde a mala estava, caída – E se ela tivesse voltado, nós a veríamos.

- O que é isso? – Fred II se abaixou e pegou algo, o virando em suas mãos.

- Deixe-me ver – murmurei, tomando o objeto dele. Arregalei os olhos enquanto sentia o sangue escapar de meu rosto – Aconteceu alguma coisa.

- Como? – ele perguntou confuso.

- Ela nunca deixaria isso cair, não por vontade própria – apontei para o pequeno objeto nas minhas mãos, um lindo pingente de lírio.

- Talvez ela não tenha vist...

- Chame a sua família, Lilian está em perigo – o cortei, o fitando com urgência. Ele me olhou assustado, antes de assentir e correr até a Toca, chamando por todos.

Me agachei no chão, passando a mão pela grama molhada e respirando fundo. O que havia acontecido aqui?

POV Lilian Luna Potter

Eu sentia minha cabeça latejar e meu corpo dolorido, não lembrava onde estava e nem o que estava fazendo. Abri os olhos, tentando me encontrar, porém, foi em vão. Estava escuro, muito escuro, e frio.

Levei minha mão até minha cabeça e me levantei devagar, tentando não cair. Procurei minha varinha em minhas vestes, mas não a encontrei. Que lugar era aquele? E como havia parado aqui?

Pisquei repetidas vezes enquanto minha visão se acostumava com o escuro aos poucos e eu reconhecia vagamente algumas formas do lugar. Parecia uma floresta, mas o que eu fazia em uma floresta?

Revirei minha mente em busca de respostas e rápidos flashes me fizeram entender, lembrei-me do barulho de passos e logo após o feixe de luz. Alguém havia me estuporado e me trouxera aqui, mas quem? Rose seria a primeira suspeita, mas não queria acreditar que ela fora tão baixa a esse ponto.

Porém, antes que eu pudesse pensar mais sobre o assunto, o barulho de folhas se mexendo me sobressaltou e, em seguida, um uivo indistinto.

Arregalei os olhos, sentindo todo o sangue escapar de meu rosto e andei alguns passos para trás, para logo depois começar a correr, tentando fazer o menor barulho possível.

POV Scorpius Malfoy

A casa estava uma bagunça, assim que todos entenderam o que havia acontecido, começaram a se desesperar e chamaram rapidamente os aurores, que ainda não haviam chegado.

Toda a família estava presente, a mãe de Lily chorava abraçada a senhora Weasley. Albus olhava para o nada, paralisado e James discutia rapidamente com seu pai, ambos tentando entender o que havia acontecido e quem havia feito isso.

As primas de Lilian estavam encolhidas em um canto, algumas choravam baixo e outras conversavam assustadas, os garotos tentavam as acalmar ou procuravam um jeito de resolver aquilo. Rose também estava lá, escondida próxima à escada e soluçando. Ela parecia abalada, mas em minha cabeça a hipótese de que ela que fizera aquilo era forte.

Eu não sabia o que fazer, não conseguia ficar parado esperando os aurores enquanto minha Lilian estava em algum lugar por ai, provavelmente em perigo. Eu precisava fazer alguma coisa.

Me levantei da cadeira, iria começar a procura-la por mim mesmo, quando a porta foi aberta e vários aurores entraram.

- Ótimo, podemos ir agora – Harry falou, deixando o filho falando sozinho e caminhando até eles.

- Eu vou também! – James e Albus falaram ao mesmo tempo, indo até o pai.

- Não vão não – ele grunhiu, se virando para eles – A floresta é perigosa e hoje é noite de lua cheia.

- E é por isso que queremos ir, nossa irmã está em perigo! – Albus falou, exasperado.

- Temos aurores o suficiente para acharmos ela, seus tios vão comigo – ele murmurou, ainda sério – Não quero que vocês em perigo também.

- Eu não sou mais criança, pai! – James elevou seu tom de voz, se colocando em sua frente.

- Isso não está em discussão, James – o pai de Lilian falou severamente, e contornou o filho, indo falar com os aurores.

O segui até o lado de fora, onde ele os dividia em grupos, para procurar Lilian na floresta e em outros lugares.

- Eu também vou – falei sério, o encarando nos olhos.

- Não sabemos que tipos de criaturas existem na floresta, Malfoy, é perigoso – ele me respondeu.

- E é por isso que eu vou, Lilian pode estar em perigo. Eu não sou seu filho, você não pode me impedir.

Ele piscou, parecendo um pouco surpreso e por fim suspirou pesadamente.

- Certo, você vem comigo.

Assenti, tirando a varinha de minhas vestes e me perguntando mentalmente o que eles estariam esperando, Lilian aparecer andando e dizendo que estava tudo bem?

- Vamos – ele falou por fim, depois de dar mais algumas instruções para os outros e andando até a floresta.

- Lumos – uma centelha de luz se fez na ponta de minha varinha e o segui enquanto ele fazia o mesmo.

Estávamos andando em silêncio, ambos atentos em qualquer barulho presente na floresta. Não sabíamos se ela estava ali, mas não tínhamos mais nenhuma pista, de modo que teríamos que começar de algum lugar.

- Você não é...

- Como você pensou que eu fosse? – completei sua fala, sem olha-lo – Pois é.

- Quando vi que queria ajudar nas buscas, percebi que você era diferente de seu pai – ele continuou, parecendo desconfortável – Você realmente gosta dela.

- Eu a amo – o corrigi friamente – Diferente de você.

- O que você quer dizer com isso? É obvio que eu amo minha filha!

- Só acho estranha essa sua maneira de demonstrar isso, esnobando, ignorando e, depois, fingindo que nada aconteceu e tentando se fazer de pai presente de novo – comentei, com sarcasmo.

- Olhe aqui...

- Não, olhe aqui você – o interrompi, irritado – Sua filha foi sequestrada por algum maluco e ninguém tem ideia de onde ela esteja, então eu acho melhor você parar de tentar enganar a si mesmo e, ao menos uma vez na vida, se preocupar de verdade com ela e começar a procurar.

Ele me olhou por curtos instantes, antes de suspirar pesadamente e se virar, voltando à busca.

POV Lilian Luna Potter

Parei de correr um pouco, estava ofegante. Eu não escutava mais nada e não sabia se devia ficar feliz ou não por isso. Me apoiei em meus joelhos e tentei acalmar minha respiração, e parar de tremer. Eu estava assustada, não tinha ideia do que era aquilo e nem sabia quem havia me colocado ali, ou eu torcia para não saber. Rose não faria aquilo, não é?

Outro ruído se fez presente, seguido de um uivo. Arregalei os olhos, minha mente gritando para que eu continuasse a correr, mas eu não conseguia, estava perto demais. O barulho ficava cada vez mais próximo e eu sentia que aquele seria meu fim. Uma sombra emergiu da escuridão, se aproximando lentamente.

 E de repente pareceu que os meus músculos houvessem voltado ao normal, mas não parei para pensar nisso, apenas continuei correndo, sentindo que algo corria atrás de mim.

Tropecei em um tronco grosso que não estava visível e cai de joelhos. Sabia que não daria tempo de me levantar e começar a correr novamente.

Decidi pelo menos, saber o que seria meu assassino. Então virei o corpo para trás e olhei para a criatura monstruosa que se aproximava cada vez mais de mim.

Seus braços e pernas eram longos, seu corpo todo era de uma cor clara e doentia, coberto por pêlos finos. Seus dentes eram grandes e afiados. Sua cabeça era similar a de um cachorro e seu nariz era grande, igualmente aos seus olhos.

Senti seu hálito quente e nojento bater em meu rosto, sabia que aquele era meu fim. Me arrestei para trás e como um ultimo recurso, gritei por ajuda, mesmo sabendo que aquilo era inútil.

O lobisomem pareceu se irritar com meu grito, soltando um uivo estrangulado enquanto pulava para cima de mim.

POV Scorpius Malfoy

Continuávamos a andar em silêncio, eu já não sabia quanto tempo havia se passado e nem tinha mais ideia de onde estávamos. As árvores eram muito parecidas e eu acreditava cada vez mais que estávamos andando em círculos. Foi então que um grito foi ouvido e eu, sem esperar por qualquer outra coisa, saí correndo naquela direção. Porque eu conhecia aquela voz, era Lilian que estava gritando.

Meu coração se apertou e eu tinha medo de já ser tarde demais, quando encontrei uma figura monstruosa pulando em cima de outra coisa, caída no chão e encolhida.

- Lily! – gritei, sem conseguir me impedir e isso chamou a atenção do monstro, que se virou para mim, soltando um ruído irritado – Estupefaça!

Ele se esquivou do feitiço e, assustado, saiu correndo e sumiu de meu campo de visão. Isso não me importava agora.

- Lilian! Oh Merlin, você está bem? – corri até ela, que ainda estava de olhos fechados e encolhida, seu rosto banhado por lágrimas – Lily, olhe para mim.

Ela abriu os grandes e expressivos olhos azuis, brilhantes por causa das lágrimas e deixou um soluço escapar.

- Scorpius! – arregalou os olhos, a voz rouca e assustada, e se jogou em meus braços – Eu fiquei com tanto medo, achei que nunca mais iria vê-lo, ele iria me matar, Scorp.

- Calma, está tudo bem agora, nada irá te machucar – falei, tentando conforta-la e, ao mesmo tempo, me confortar. A ideia de um lugar onde ela não existisse era horrível, eu não conseguiria conviver com isso – Eu estou aqui, eu sempre vou estar aqui por você.