POV Lily Luna

É natal... O pensamento rodeava minha mente, mas eu não queria descer, não queria olhar nos olhos daquelas pessoas e fingir que estava tudo bem, pois não estava. Depois de que todos ouviram o que Rose falara, no dia seguinte, parecia que eu tinha voltado há seis anos, quando todos falavam comigo e não existia a implicância de Rose, não abertamente, devo dizer. Eu vivia em uma família de aparências e apesar de tudo o que eu havia dito, eles continuavam fingindo e fingindo... Eu não conseguia entender, é demais para mim.

- Lily – escutei alguém batendo na porta, junto com o chamado de Fred II – Está na hora.

Suspirei pesadamente, olhando para o espelho e tentando entender no que eu me tornara. A imagem no espelho refletia uma garota com longos cabelos ruivos e brilhantes olhos azuis, ela me encarava curiosamente, mas era apenas isso que demonstrava. Quem olhasse para essa garota nunca saberia o que ela sentia por dentro de tudo aquilo. Eu conseguira finalmente aprender a colocar a mesma máscara que Scorpius, mas isso parecia fazer com que eu me sentisse ainda pior. Eu queria sair daquele lugar, queria voltar para minha casa, Hogwarts.

- Já vou – respondi finalmente, alisando meu vestido azul pela última vez. Calcei minha bota por cima da meia-calça grossa, devido ao frio, e peguei meu casaco, o vestindo enquanto abria a porta e encontrava meu primo e Scorpius me esperando.

Sorri forçadamente para os dois, o que qualquer um acreditaria, se não me conhecesse como eles. Fred passou seus braços pelos meus ombros, como se me reconfortasse e Scorpius apenas me olhava, transmitindo tudo que eu precisava com seus enigmáticos olhos cinza.

- Vamos acabar logo com isso – murmurei a contragosto, me repreendendo por estar tão melancólica ultimamente.

- Você consegue – Fred me assegurou, me guiando até as escadas, Scorpius tomou uma de minhas mãos, se colocando em meu outro lado.

- Não tenho tanta certeza disso – respondi em uma careta, mas logo suspirei e continuei a descer as imensas escadas.

A casa estava completamente iluminada, a mesa repleta de comida de todos os tipos e a grande árvore cheia de embrulhos coloridos. Meus tios conversavam entre si, próximos uns aos outros e meus primos se dividiam em grupinhos, também conversando.

- Lily! – a voz de minha avó me fez voltar a ela, que conversava com meus pais em um canto mais afastado – Estávamos apenas esperando vocês para comermos.

- Você não desceu o dia todo, a esperamos para abrir os presentes – tia Angelina falou, parando de conversar com tia Fleur e apontando para a árvore.

Sorri minimamente para elas, minha vó não tinha culpa de nada e Angelina, assim como tio George, não ficavam na Toca tempo o suficiente para me fazer mal.

O jantar se passou rapidamente e todos faziam questão de falar comigo ou me incluir em alguma conversa. Era como se nada tivesse acontecido... Eu respondia qualquer coisa e voltava ao que eu fazia antes, me controlar para não explodir mais uma vez.

Rose estava no canto mais afastado da mesa, brincava com sua comida e era ignorada por todos, como se nem existisse. Como eles faziam comigo nos últimos seis anos.

Assim que acabamos a ceia, todos correram para a árvore, pegando seus presentes e os entregando entre si. Minha vó me entregou um embrulho e o abri lentamente, sorrindo ao ver o mesmo de todos os anos, um suéter azul feito por ela mesma com minhas iniciais bordadas e, junto com ele, vários doces.

- Obrigada vovó – murmurei enquanto a abraçava.

Ela sorriu para mim quando nos soltamos e logo pegou outro presente, o entregando para Scorpius, que parecia um pouco assustado.

- Esse é para você, querido – vovó falou docemente, ainda sorrindo.

Scorpius piscou repetidamente antes de começar a desembrulhar o papel. Retirou de lá um casaco parecido com o meu, verde e masculino, e com um ‘S’ elegantemente bordado, em cinza.

- O-obrigado – ele gaguejou, sorrindo relutante para minha vó, que o envolveu em um abraço, que meu namorado retribuiu desajeitado.

Todos acabaram de entregar seus presentes, alguns para mim, em que eu abria sem vontade alguma e sorria falsamente, agradecendo. Eu não havia comprado nada, nem ao menos para Scorpius ou Fred II. Olhei um pouco incomodada para os dois, eu deveria ter comprado alguma coisa para eles, depois de tudo o que fizeram por mim, eles conversavam entre si ao meu lado, a mão de Scorpius fazendo desenhos desconexos por minha coxa, já que estávamos sentados.

Olhei para a sala rapidamente, todos já haviam voltado a formar seus próprios grupos e conversavam animadamente, com exceção de alguém, Rose.

Minha prima estava sentada na escada, encolhida e encarando tudo com os olhos lacrimejantes.

- Já volto – murmurei para meu primo e meu namorado, saindo rapidamente e caminhando até ela, que se encolheu ainda mais ao me ver.

- O que veio fazer aqui? – ela perguntou com raiva.

- Ver o quão patética você está sendo – falei seca, a olhando com desgosto – Você que fez isso tudo e agora se voltou contra você. Acho que se fingir de coitada não vai adiantar agora, eles são tão ruins quanto você.

- Isso, vamos Lilian Luna, jogue na minha cara agora, jogue! – ela se levantou, o rosto vermelho – Você venceu, não foi?

- Eu não vou fazer isso – sorri sarcasticamente – Sou melhor que você.

Suas mãos se fecharam em punho e a cor de seu rosto se assemelhava a seu cabelo, mas alguém interrompeu sua resposta.

- O que você está fazendo com ela, Lily? – Molly II falou alto, atraindo a atenção de todos para nós duas.

- Ela não merece que alguém dirija a palavra a ela – Hugo completou, olhando a irmã com desprezo.

- É um monstro – Dominique continuou – Uma cobra.

Eu olhei a todos atordoada, a mesma expressão se encontrava em todos os rostos, não importando a idade.

- O que há de errado com vocês? – perguntei incrédula – Me digam por que eu não consigo entender. O que os fazem pensar que são ao menos um pouco melhores que ela?  Vocês conseguem ser mais desprezíveis ainda e eu estou cansada de tudo isso.

- Lily...

- Se vocês estão tentando consertar alguma coisa, cometer o mesmo erro não é a melhor maneira. Olhem para o que se tornaram e depois, quem sabe, eu consiga perdoar a vocês.

- Lilian, você não pode sair assim – meu pai falou assim que percebeu que eu iria até a porta.

- Faz tempo desde que sua opinião importava para mim, pai – falei seca e corri até o lado de fora, saindo para a neve e o vento gélido.

Eu andava sem rumo pelas ruas desertas e frias, não prestava atenção no caminho e nem me importava em me perder. Eu só queria me afastar daquela casa cheia de pessoas hipócritas. Eu não conseguia mais fingir que estava tudo bem, porque não estava. Não sabia quando aquela família se tornara isso ou se, alguma vez, ela fora qualquer outra coisa. Minha infância parecia tão distante e borrada agora, como se não passasse de um sonho, uma farsa.

Abracei a mim mesma, tremendo pelo frio que fazia mesmo eu estando de casaco. A neve já não caia mais, mas o chão branco e escorregadio não parecia que iria derreter tão facilmente, provavelmente voltaria a nevar em breve.

Olhei ao redor, me surpreendendo ao ver uma grande movimentação não muito longe dali. As luzes cintilantes e a musica tipicamente natalina se misturava entre a neve e várias barracas, repletas de pessoas. Andei até lá, observando curiosamente as pessoas e o lugar. Seria um vilarejo trouxa?

Os pais brigavam com seus filhos que insistiam em se jogar na neve enquanto tentavam conversar ou comprar alguma coisa. As barracas vendiam coisas diversas e desconhecidas. Algumas tinham diferentes tipos de comidas e outras vários objetos estranhos e suspeitos.

As cores predominantes eram o verde e o vermelho e árvores de plástico cobriam toda a extensão da feira, contendo varias caixas em baixo delas, as enfeitando.

Caminhei até o fim das barracas, encontrando uma espécie de campina aberta e um lago congelado, onde casais patinavam.

- Pensei que não conseguiria te encontrar – uma voz conhecida me sobressaltou e me virei rapidamente, encontrando Scorpius atrás de mim – Nunca achei que te encontraria aqui.

- Então como...

- Eu sabia que isso existia? – ele completou, sorrindo minimamente – Vim até aqui mais cedo. Precisava comprar uma coisa.

Ele tirou uma das mãos do bolso e me estendeu uma caixa pequena, com um laço vermelho.

Pisquei atordoada, olhando o pequeno embrulho em suas mãos.

- Scorpius...

- Abra – ele me interrompeu, colocando a caixa em minhas mãos.

Tirei o laço cuidadosamente, com medo de estragar a caixa. O olhei mais uma vez e ele me incentivou a abrir. Abri a tampa e arfei ao ver o pequeno objeto dentro dele.

- Feliz Natal, Lily Luna – ele sorriu enquanto eu tirava o pequeno pingente da caixa – Eu te amo.

Pisquei atordoada, tirando os olhos do pequeno lírio em minha mão e focando o olhar nele.

- Você não gostou? Foi clichê demais? Não sent...

Ele começou a fazer varias perguntas, o olhar preocupado, mas rapidamente o calei, selando nossos lábios.

- É perfeito – murmurei, me afastando centímetros dele – Perfeito como você, eu também te amo.