Algumas horas atrás...

POV Scorpius Malfoy

Revirei minha mala, que agora estava no lugar onde eu dormia junto com Fred II, a procura de uma roupa quente o suficiente para o clima frio que fazia, estava nevando. Faziam três dias desde que Rose tentara me separar de Lilian, três dias de minha briga com James, das desculpas de Albus e, principalmente, três dias sem Rose ou Albus na Toca, o que fazia com que todos os outros Weasleys culpassem Lily Luna por isso. Ela estava esgotava, eu via isso em todos os seus atos, em seus olhos, ela não aguentava mais e eu não sabia o que fazer. Precisava de ajuda, mas de quem?

A porta foi aberta ao mesmo tempo em que eu vestia um casaco pesado, revelando um Fred II molhado e tremulo.

– Estava o procurando – ele murmurou, abraçando a si mesmo. Arqueei uma de minhas sobrancelhas, confuso – Te procurei por todos os lugares, nunca imaginei que estaria aqui.

– Eu durmo aqui – falei, como se fosse óbvio, e era.

– Exato, você dorme aqui e só – ele revirou os olhos e se jogou em sua cama, se enrolando no cobertor dela, que ainda estava desfeita.

– Minha mala veio para cá – expliquei automaticamente, dando de ombros. Minha relação com o ruivo não era ruim, ele era o único que acreditava em Lilian e a apoiava, eu poderia conviver com sua presença – O que queria falar comigo?

Ele suspirou pesadamente e se sentou, ainda enrolado no cobertor.

– Eu tenho um plano – falou, cruzando suas mãos e me olhando em expectativa.

– Plano? – arqueei novamente minha sobrancelha.

– Minha prima está sofrendo e eu não aguento mais isso – ele murmurou rapidamente, fazendo gestos exagerados com suas mãos – Acho que eu tenho a solução, mas preciso de sua ajuda.

– O que tem em mente? – perguntei, meu interesse havia aparecido subitamente.

– Rose precisa ser desmascarada – ele torceu a cara ao falar o nome da outra Weasley.

– Eles não acreditariam em nada que você dissesse, muito menos eu ou Lilian – falei frustrado, se esse fosse o plano, não daria certo.

– É por isso que eles tem que ouvir isso da própria Rose, ela tem que confessar.

– E por que ela faria isso? – indaguei confuso, não entendendo qual era seu ponto.

– Ela não precisa saber – ele deu de ombros – Rose virá para o jantar hoje, eu me certifiquei disso. Ela sempre chega antes que todos, eu apenas preciso que você leve a Lily até lá e a convença de enfrentar mais uma vez a Rose. Ela está irritada com a Lily e vai fazer de tudo para colocar ela para baixo, é nessa hora que eu apareço com toda a família e eles poderão escutar tudo o que ela disser.

– Isso pode dar errado – falei receoso, considerando todas as alternativas.

– Mas pode funcionar – ele completou, ansioso – Nós podemos fazer isso, pela Lily.

Franzi o rosto, sem saber o que dizer. As chances do plano não funcionar eram grandes, mas Rose sempre fora muito previsível, ela provavelmente cairia e se todos escutassem, talvez percebessem tudo o que fizeram com Lily por esses anos.

A questão era se eu queria aquilo, Lilian era só minha e se ela resolvesse perdoar sua família, eu a perderia. Eu sempre fora egoísta, só pensava em mim mesmo, mas não poderia fazer isso com ela. Lilian sofria, mesmo tentando me esconder isso, ela não aguentava mais.

– Nós podemos tentar – murmurei por fim, fechando os olhos com força e me impedindo de pensar de forma egoísta. Eu a amava e faria isso por ela, mesmo que isso implicasse em perde-la – Mas Lilian não pode saber, não quero que ela crie falsas esperanças e depois se decepcione se de alguma forma isso não funcionar.

– Ótimo! – Fred pulou da cama, um largo sorriso no rosto – Agora eu preciso de um banho.

Agora...

POV Lilian Luna Potter

– Parem, agora! – olhei para a porta, confusa e só então percebi que todos estavam ali, toda a minha família.

– Pai? – Rose perguntou, os olhos lacrimejando e a mão em sua face, que continha a marca exata de meus dedos.

– O que significa isso? – meu pai, que estava ao lado de tio Ron, que foi o que falara, se pronunciou.

– Vocês viram o que ela fez? Ela me bateu! – Rose arregalou os olhos, algumas lágrimas fingidas caindo de sua face – Ela é um monstro, deveriam interna-la.

Eu grunhi irritada, não acreditava que ela conseguiria se salvar mais uma vez e colocar toda a culpa em mim, eu seria expulsa de casa!

– A única pessoa que deveria ser internada aqui não é ela, Rose – a mãe dela murmurou, os braços cruzados e o olhar decepcionado. Como...?

– Mas é claro que é ela, Lilian virou uma psicopata desde que começou a andar com ele – Rose estava vermelha e apontava para Scorpius, que agora estava ao meu lado, um sorriso vencedor no rosto.

– Nós ouvimos tudo, Rose – tio Percy se pronunciou pela primeira vez, os braços cruzados e o olhar reprovador.

– O que? – Rose arregalou os olhos – Não, vocês não escutaram! Aquilo era tudo mentira, ela me forçou a dizer isso – ela apontou para mim, que ainda estava atônica com tudo – Ela me ameaçou, você sabe como são os Sonserinos, umas cob...

– Chega Rose! – tio Ron a interrompeu, elevando seu tom de voz – O que você fez com sua prima é inadmissível, nós nunca esperaríamos uma atitude dessas vindo de você, sempre confiamos em você, a apoiamos e enquanto isso, você nos colocava contra sua prima?

– Vocês não entendem! – ela gritou, as lágrimas correndo livremente por seu rosto agora. Eu ainda não esboçava reação alguma.

– Não, nós realmente não entendemos, Rose – tia Hermione falou, com desgosto – Nunca pensei que diria isso, mas você nos decepcionou. Você é um monstro, qual é a finalidade de fazer isso tudo? O que você ganha com isso? O que o sofrimento de sua prima acrescentou para você?

– Vocês sempre a preferiram, ela era a queridinha de todos, a perfeita Potter, eu não aguentava mais ser a segunda opção, não aguentava mais ser excluída de tudo – Rose soluçava, passando a mão incontáveis vezes pelo rosto, tentando secar as lágrimas.

– Isso não é verdade, nós sempre te amamos e mesmo que fosse, não é desculpa para você fazer tudo o que fez com ela, você n...

Interrompi minha tia soltando uma gargalhada escandalosa, eu não acreditava naquilo.

– Lily... – minha mãe chamou, relutante.

– Vocês todos são uns hipócritas! – exclamei, ainda rindo – O que os fazem pensar que foram melhor que ela? Vocês me abandonaram, me ignoraram e excluíram apenas por eu ser diferente, por eu ter isso para a Sonserina, se deixaram levar por uma criança, fizeram as vontades dela e nem ao menos se importaram comigo! Eu precisava da minha família, precisava de meus pais, meus irmãos, tios, mas vocês viraram as costas para mim!

– Nós achávamos que você estava cega de ódio pela sua prima, Lily...

– Então é essa a desculpa? Por favor, sejam mais criativos, não? Que bruxos são esses que abandonam um dos seus apenas por um desentendimento, uma briga? Eu era uma criança, inocente e tola e vocês nem ao menos se preocuparam com isso, não se importaram. Todos estavam preocupados demais em fingirem ser a família perfeita, o exemplo para todo o mundo bruxo e eu, a Potter problemática, não conseguia se encaixar nesses padrões, por isso era ignorada.

– Você sabe que não foi assim, filha – meu pai falou e eu gargalhei, desacreditada.

– Agora eu sou sua filha? – perguntei incrédula – Se lembrou que tem uma filha agora? Eu me pergunto em que vocês se transformaram, todos vocês. Sempre ouvi historias dos heróis de todo o mundo bruxo, o trio de ouro, que derrotou o maior bruxo das trevas de todos os tempos. Os venerados e bons, aqueles que todos queriam ser e invejavam, o que sobrou disso? Onde estão os garotos que enfrentaram todos por aquilo que acreditavam? Acho que a fama subiu a cabeça de vocês, o grande Harry Potter e seus fieis amigos, Hermione e Ronald Weasley se transformaram em pessoas mesquinhas e sem vontade própria, manipulados por uma criança!

– Filha, acho melhor conversarmos com mais calma, sei que erramos, mas...

– Não mãe! – a interrompi, irritada – Eu não tenho nada a conversar com vocês, não é só porque vocês perceberam tudo que fizeram a mim que eu irei perdoa-los e voltaremos a ser o que era antes. Eu cresci sem vocês, sozinha, não vejo motivo para querer que isso mude agora, não depois de vocês me abandonarem como se eu fosse um animal qualquer, que fez algo que não devia e foi jogado na rua.

– Lilian...

– Eu vou subir, não quero ouvir mais nada de vocês – interrompi tia Hermione e corri até a porta, indo até as escadas.

POV Scorpius

Troquei um olhar preocupado com Fred, que também não parecia saber o que fazer.

– Eu vou atrás dela – o pai de Lilian falou por fim, se encaminhando até a porta.

– Não, você não vai – grunhi, me colocando a sua frente.

– Saia da minha frente, garoto, você não vai me impedir de falar com minha filha – ele exclamou irritado.

– Eu vou – falei, o encarando sério – Não vou deixar você a machucar ainda mais, não depois de tudo isso.

– Quem você pensa que é para falar assim comigo? – ela perguntou irado.

– Eu sou aquele que cuidou de sua filha quando você nem ninguém de sua família estúpida o fez! – aumentei meu tom de voz, sentindo o ódio se espalhar por todo o meu corpo – Eu fui o único que esteve ao lado dela enquanto ela sofria por ser ignorada por vocês, fui eu que a consertei e a fiz voltar a viver e não vou permitir que você estrague isso.

– Seu insolente, você não tem o direito de falar assim comigo! – ele grunhiu, o rosto vermelho – Você não sabe de nada.

– Eu acho que sei de tudo perfeitamente – grunhi e rapidamente adentrei a sua mente, assim como fazia com Lilian, fazendo com que ele revivesse todas as vezes em que esnobara a filha.

– Pare, pare com isso! – ele exclamou, os olhos fechados e a voz desesperada.

– Não consegue ver a verdade, sr. Potter? – perguntei cinicamente – Agora imagine o que uma garotinha de 11 anos pensava toda vez que isso acontecia.

– Eu não... eu – ele piscou, abrindo os olhos, havia conseguido fechar sua mente.

– Não fez isso? – completei, sorrindo ironicamente – Tem certeza disso?

Ele me encarou atônico e antes que pudesse falar alguma coisa, a mãe de Lilian se aproximou, colocando uma das mãos em seu braço direito e murmurando algo em seu ouvido.

– Obrigada por cuidar de nossa filha quando não fomos capazes de fazer isso – ela falou para mim, o olhar sincero.

– Eu não fiz isso por vocês – respondi seco – Fiz por ela.

– Eu sei – ela murmurou triste – Sinto muito.

– É o mínimo que vocês podem fazer – falei ainda no mesmo tom de voz, sem me importar em feri-la, ela nunca confrontou o marido por causa de Lily, não merecia o seu perdão mais que ele – Vou subir para vê-la, você vem comigo, Fred?

Me virei para o garoto, que assistira tudo em silencio, assim como o resto da família. Ele assentiu, se colocando ao meu lado enquanto nos encaminhávamos até a porta, sem se importar com nenhum dos outros.