Entrei no Salão Principal com um sorriso discreto no rosto, bom, não tão discreto assim. Já que, não somente AnnaBelle, como quase toda minha família, me encaravam assustados e confusos. Será que eu nunca entrei naquele lugar sorrindo? Bom, eu não me lembrava disso.

Revirei os olhos, ignorando o olhar da minha família e me sentando ao lado de AnnaBelle, que me analisou por alguns segundos antes de se pronunciar.

– Você está bem? – ela perguntou, com cautela.

– Por que não estaria? – respondi com outra pergunta, tinha consciência que ainda sorria.

– Você passou mal na sala e não a vimos pelo resto do dia – ela deu de ombros, comendo um pouco.

– Não aconteceu nada demais, eu só não tinha comido direito – repeti seu gesto, colocando algo em meu prato.

– E o sorriso é... – ela insinuou, fazendo uma careta engraçada.

Ri um pouco, nunca vira a garota tão animada, somente quando começou a namorar com Gabe Finnigan.

– Não acho que ficará muito feliz se eu contar – respondi, me lembrando da rixa idiota que AnnaBelle tinha com Scorpius.

– Oh, o Malfoy – ela fez outra careta, essa de desgosto – O que mais poderia ser? – ela resmungou, revirando os olhos - Vocês estão juntos?

– Não tenho certeza... – olhei para o nada, tentando entender o que tínhamos juntos – Ele não me pediu em namoro ou qualquer coisa assim, se é o que você quis dizer.

– Não achei que pediria – ela deu de ombros, soltando um risinho – Ele parece gostar de você.

– Acho que sim – murmurei, mordendo os lábios, e tentei me concentrar em meu jantar.

– Seus primos não param de olhar para você – Anna comentou, fazendo eu desviar meu olhar do prato e fitar a mesa da Grifinória, onde meus primos jantavam.

– Ótimo – dei de ombros, não iria me preocupar com eles hoje. Com ninguém, nem Rose Weasley.

Mas de uma coisa eu estava certa, não deixaria Rose estragar nada que eu possa ter com Scorpius, não mais.

–*-

Bocejei, coçando meu olhos, enquanto levantava da cama sonolenta. Mas um dia de aula, ótimo.

Fiz minha higiene matinal e rapidamente me vesti, me arrastei até o Salão Comunal para esperar AnnaBelle. Me sentei em uma das confortáveis poltronas, em frente ao fogo verde que dançava animado na lareira. Eu queria dormir... Havia passado a noite toda me lembrando da conversa com Scorpius e me sentia nervosa. Como seria hoje?

– Lily Luna? – uma voz conhecida me chamou, vinda de trás da poltrona.

– Scorpius? – me virei para ele, sem saber o que fazer ao certo.

Ele abriu um sorriso sarcástico, se aproximando.

– Algum problema, Lilian? – ele perguntou, me fazendo corar.

– Eu... – tentei achar algo para falar, desistindo quando ele chegou perto o suficiente para que eu sentisse sua respiração.

– Te deixo desconcertada, Lily Luna? – ele fez outra pergunta, sorrindo cinicamente.

Senti meu rosto queimando ainda mais e ele finalmente acabou com o espaço entre nós, selando seus lábios aos meus.

– Bom dia – ele falou, depois que nos separamos, o sorriso ainda presente.

– Bom dia – respondi de volta, já mais calma, revirando os olhos.

Ele riu baixo, me puxando para a entrada do Salão Comunal e ignorando os meus protestos quando disse que estava esperando AnnaBelle.

Entramos no Salão Comunal fazendo um pouco mais de barulho que o necessário, já que eu ainda brigava com ele, que apenas mantinha o sorriso cínico, os olhos enigmáticos como sempre. Mas as poucas pessoas que estavam sentadas em suas mesas, não se deram ao trabalho de nos olhar, mais preocupados em não cair em cima da comida, de sono.

Comemos rapidamente, eu ainda irritada com ele, já que teria que ouvir AnnaBelle depois, e ele em silêncio, a expressão impassível, e as vezes revirava os olhos quando eu resmungava algo.

– Vamos – ele me puxou de novo, dessa vez para fora do Salão, que já estava mais cheio, fazendo com que chamássemos um pouco de atenção. Minha família ainda não havia chegado.

– Qual o seu problema? Talvez eu não tivesse acabado ainda! – grunhi, quando ele finalmente parou, me soltando.

Ele apenas me encarava, com o sorriso de sempre.

– Idiota – resmunguei, cruzando os braços em um gesto infantil.

– Lilian? – ele perguntou, se aproximando mais.

– Sai Scorpius – falei, sem olhar para ele ainda.

– Tem certeza? – ele disse, mais perto ainda – Eu tinha outros planos...

O olhei, confusa. Seus olhos brilhavam maliciosamente, acompanhados por um sorriso igualmente malicioso.

– Eu estou com raiva de você – resmunguei, desviando o olhar novamente.

– Sei uma ótima maneira de fazer com que você me perdoe – ele respondeu, me prensando na parede e selando novamente nossos lábios, dessa vez em um beijo mais urgente. E bem mais intenso.

Suspirei inconscientemente entre o beijo, fazendo ele rir um pouco, sem se afastar, e logo depois voltar a me beijar. Suas mãos foram até minha cintura, fazendo com que nos aproximássemos ainda mais. As minhas, sem que eu percebesse, já estavam entre seus cabelos.

– Ainda quer voltar para o Salão Principal? – ele perguntou cinicamente quando nos separamos um pouco, para respirar.

– Cala a boca – grunhi, um pouco ofegante, voltando a selar nossos lábios, querendo tirar o sorriso convencido de seu rosto.

Ele riu novamente, uma das mãos subiu até minhas costas, me apoiando um pouco mais, enquanto as minhas puxavam os cabelos macios e loiros. Nossas línguas travavam uma batalha única e desesperada, uma tentando vencer a outra.

– Mas o que é isso? – uma voz irritada nos sobressaltou, e Scorpius se afastou de mim, as mãos em minha cintura novamente, olhando com raiva para quem nos havia irritado – Ela é minha irmã mais nova!

– James? – perguntei incrédula. Meu irmão não desviou o olhar de Scorpius, com uma expressão igualmente assassina – Você só pode estar brincando comigo!

– O que você estava fazendo agarrando esse garoto, Lily? – James perguntou, se virando para mim.

– Quem você pensa que é para falar assim comigo? – perguntei irritada, me soltando de Scorpius e me aproximando do moreno.

– Sou seu irmão mais velho, Lilian – ele respondeu, me olhando sério – Não vou deixar que você fique se agarrando com ele!

– Ah, faça-me o favor! – grunhi, mexendo as mãos irritadas – Você me ignora desde meus onze anos, não venha querer se fingir de protetor agora James, porque você não me convence – fechei os olhos, com raiva – E outra, não lhe interessa com quem eu estou ou não, isso é problema meu!

– Eu não vou deixar você com um Malfoy! – ele cuspiu o sobrenome de Scorpius, o olhando com repulsa – Um Son... – arregalou os olhos, interrompendo sua frase.

– Um o que? – minha voz se elevou – Um Sonserino, James? Era isso que você ia dizer, não era? – eu gargalhei, mesmo não achando graça alguma – Vou apenas te informar de uma coisa, irmão, eu sou uma Sonserina! E se você não gosta da minha casa, faça como sempre fez, me ignore, não irá fazer falta alguma.

– Lily, eu...

– Cale a boca, James! – grunhi – Eu estou cansada de você, de todos vocês. Agora eu não vou deixar que vocês afastem a única pessoa que gosta de mim pelo que sou e não se importa se eu não sou a perfeita Rose Weasley.

– O que está acontecendo aqui? – Albus chegou, acompanhado de Rose e Louis.

Eu gargalhei alto, histericamente.

– Nada, Albus, nós estávamos de saída – murmurei, puxando Scorpius pela mão, que ainda olhava com raiva para meu irmão mais velho.

– Eu já disse que você não vai ficar com ele – James se pôs a minha frente, bloqueando a passagem, o rosto vermelho.

– Ficar com ele? – Rose perguntou, sem entender.

Me virei para ela, sorrindo ironicamente.

– Sim, priminha – comecei, falsa – Estamos juntos, não é ótimo?

– Juntos, como assim? – Rose voltou a falar, o rosto adquirindo a mesma coloração que seu cabelo.

– Quer que eu mostre? – sorri falsamente, me aproximando de Scorpius, que tinha um sorriso divertido no rosto, e o beijando.

Coloquei meus braços em volta de seu pescoço e ele me segurou pela cintura, podia sentir que ele sorria.

– Satisfeita? – perguntei para Rose, sorrindo vitoriosa, enquanto ela possuía o rosto vermelho e os olhos cheios de água. Eu não iria ter compaixão – Bom, nós estávamos de saída.

Puxei Scorpius novamente, dessa vez ninguém impediu, todos mais preocupados com Rose. Patético.