POV> Hades

Então eu tinha que adotar a filha bastarda da minha mulher. Eu queria dizer que não ia fazer isso nem morto, mas achei que (a) ia soar como um trocadilho idiota e (b) Afrodite provavelmente ia me amaldiçoar com vestidos cor-de-rosa por um século, então achei melhor ficar calado.

Portanto, fui atrás da pirralha e ficamos parados, analisando um ao outro (como eu imagino que muitos pares ficaram). Então eu disse:

- E aí.

- E aí. - disse ela friamente.

- O que você quer fazer?

Para minha surpresa, ela não fez nenhum comentário petulante. Pensou um pouco e disse:

- Pular de bungee jump.

- Sério? - eu não imaginava que ela escolheria uma coisa tão divertida. - Eu nunca pulei de bungee jump.

- De verdade? Você tem mais de mil anos e nunca pulou de bungee jump? Então está na hora de pular!

Fiquei surpreso ao constatar que eu concordava.

POV> Katie

Eu tinha a impressão de que Héstia seria uma ótima mãe, por isso fiquei feliz ao me juntar a ela perto de uma fogueira na floresta. Ficamos um tempo jogando conversa fora, até que ela perguntou:

- E o que há entre você e Travis Stoll?

- Ah, o Travis? - senti meu rosto ficando vermelho. - Não há nada. Ele me beijou. Mas, sei lá, ele é filho de Hermes e muito sacana. Acho que ele não quer nada sério. Já vi isso acontecer com muitas garotas no acampamento e com os Stoll. Eles nunca namoram. Eles só meio que... Ficam, acho que essa é a palavra.

- Eu não acho que ele parece querer só ficar com você.

- Como asssim?

- Ah, o jeito que ele te olha, como ele fala com você. Ele é totalmente louco por você, querida.

- Você acha mesmo? - perguntei, esperançosa. Afinal, Héstia era uma deusa e devia saber mais que eu.

-  Acho.

- Mas... Minha mãe nunca ia aprovar.

- Hoje, sua mãe sou eu. E eu aprovo.

Olhei-a, chocada. Ela era uma das deusas donzelas, por isso achei que me diria alguma coisa sobre como o amor é detestável, como os homens não prestam, etc. e tal, como eu sei que Ártemis faria. Mas ela estava me dando a maior força.

Como se lesse meus pensamentos - o que não é totalmente impossível -,  Héstia sorriu.

- Eu não odeio o amor ou os homens. Você é jovem e não tem nada a ver com meus motivos para me tornar uma donzela. E quer saber o que mais?

- O quê?

- Eu vou arrumar um jeito de esse garoto se tornar seu namorado. Vou lhe arrumar uma oportunidade para pegá-lo de vez.

- Como?

A deusa deu de ombros.

- Eu sei lá.

Foi engraçado vê-la falar daquele jeito, e eu ri. Héstia riu comigo.

POV> Will

- Muito bem. - elogiou Ártemis. - Bom para um garoto.

Supus que deveria agradecer.

- Obrigado. Mas acho que era de se esperar.

Um sorriso surgiu em seus lábios.

- Não é melhor que minhas Caçadoras. Sabe, Apolo nunca foi tão bom quanto eu no arco e flecha.

Assenti. Não era difícil acreditar; meu pai podia até ser bom com o arco, mas Ártemis era simplesmente espetacular. Ela tinha uma concentração que Apolo não tinha - nem eu, aliás.

De repente, Ártemis ficou séria.

- Will... Você tem uma namorada, não tem? Quem é?

- Hm... É a Drew, filha de Afrodite. - Ártemis perguntando sobre minha vida amorosa?É melhor correr.

A deusa franziu um pouco a testa, provavelmente tentando se lembrar que era. Sua pergunta seguinte me surpreendeu.

- E você gosta dela porque ela é bonita?

- Bem, essa é uma das coisas que gosto nela, mas não a principal. - admiti. - Tipo, a beleza foi só o que me fez reparar nela. Comecei a gostar dela depois que a conheci. Ela tem uma coisa especial, sabe. Uma coisa só dela, que a torna única. Como se ela não fosse bonita só por fora. Ela é inteligente, divertida... E, é, bonita. Mas isso não é tudo*.

Ártemis pensou um pouco e assentiu.

- Talvez você não seja tão insensível e burro quanto eu imaginei.

- Anh... Obrigado?

Para minha surpresa, ela riu.

- Venha, vamos ver como estão seus conhecimentos sobre caçada.

Oh-oh.

POV> Travis

- Agora, filhote, vamos treinar tiro ao alvo com um canhão. - disse Ares.

- Legal! - não precisei fingir entusiasmo. Adoro explodir as coisas! É tão divertido! - Onde está o equipamento?

Ele fez um gesto com as mãos e um canhão surgiu do nada. Mas faltava alguma coisa...

- Onde está o alvo? - perguntei.

O deus da guerra ergueu as sobrancelhas e sorriu malignamente.

- Você não ouviu? Eu disse: vamos treinar tiro ao alvo com canhão. Isso quer dizer que eu opero o canhão e você é o alvo.

- O QUÊ? - gritei. - Mas você não pode matar seu filho adotivo!

- Onde está escrito isso?

- Eu sei lá! Mas você não pode! Pais não matam seus filhos!

- Cronos comeu seus filhos.

- É, e você viu como aquilo acabou bem... - falei com sarcasmo. - Ele acabou sendo feito em pedaços e jogado no Tártaro por matar os filhos!E depois sendo morto de novo por tentar dominar o mundo.

- Isso é uma ameaça, moleque?

- Claro que não, é um fato!

- EU SOU UM DEUS! - gritou Ares, já irritado. - FAÇO O QUE EU QUERO! E AINDA POR CIMA SEU PAI ADOTIVO, POR ISSO...

- Mas é justamente o que eu estou dizendo! Você não pode me mandar fazer isso porque sou seu filho adotivo... Que espécie de pai mata seu filho com um tiro de canhão por pura preguiça de materializar um alvo?

- E que tipo de filho rouba as armas mágicas de seu pai?

- Ei, você não era meu pai ainda, ok? - defendi-me. Então baixei a voz. - Por favor, não me mate! Podemos usar outra coisa como alvo... Como a barraca de Hefesto!

Isso o fez parar e pensar. Um sorriso ainda mais maligno surgiu no rosto de Ares.

- Boa ideia, moleque. Aquele ferreiro desgraçado ainda está me devendo uma.

- Então! É a oportunidade perfeita de se vingar.

- É isso o que vamos fazer.

Ele começou a se deslocar na direção do canhão quando eu me lembrei de um pequeno detalhe...

Eu não sabia operar um canhão.