- Que droga, Hefesto. - reclamou Afrodite. - Como se você não soubesse do meu caso com Ares há séculos. Isso já é fofoca velha.

- Mais uma palavra e você volta para dentro da gaiola. - ameaçou Hefesto. A deusa pareceu ofendida.

- Credo. Isso é jeito de tratar sua esposa?Ou qualquer outra dama?

- Calada.

- Chega, os dois. - brigou Zeus. - Cadê Hades? Será que ele se importa se começarmos sem ele?

- Hm... - Atena levantou a mão como uma boa aluna. - Pai, será que preciso mesmo participar dessa cantoria? É totalmente sem propósito.  - ela não queria ter que cantar. E sabia que isso seria inevitável, pois tinha uma voz ótima.

- Ah, irmã, por que esse mau humor todo? - quis saber Apolo. Ele queria que ela cantasse. - Sua voz é ótima.

- Pai. - insistiu Ártemis. - Cantar? 

- Parem de frescuras. - o pai ralhou. - Sim, nós vamos cantar. Vamos contar histórias de terror, se é isso que os mortais fazem. A ideia não era fazer como eles?

- Não. Era acampar. Mas ao estilo divino.

- Não estou nem aí. Vamos cantar e ponto final. O próximo que reclamar vai engolir muita eletricidade!

- Por mim está ótimo.  -  Poseidon falou preguiçosamente. - Desde que eu não tenha que tocar nenhum instrumento.

- Hades está demorando muito. Vamos começar sem ele. - decidiu Deméter. Apolo pegou sua lira e todos tomaram fôlego para cantar e...

Silêncio total. Nenhum deles tinha ideia do que cantar. As canções de acampamento falavam sobre reis malucos, deuses e como avós se preparavam para a guerra. Pelo menos, as gregas. Nenhum deles queria falar sobre si mesmo (exceto Ares) nem sobre reis mortais (exceto Hera) e nenhum deles estava deprimido o suficiente para falarem de avós, até porque não tinham a mesma avó.

- Link it to the word, link it to yourself, strech it like a birth squeeze... - eles ouviram uma voz cantando baixinho. Viraram-se e viram Hades indo em sua direção. Ele parou ao ver que todos o encaravam. - Que é?

- Nada. - falou Poseidon com ironia, olhando assustado para o irmão. - Estamos sem ideia do que cantar aqui. Alguma sugestão?

- Precisamos mesmo cantar? - o deus dos mortos perguntou, franzindo a testa. - Digo, para que serviria?

- SIM, NÓS VAMOS CANTAR, SIM! - urrou Zeus, furioso, e o ar estalou ao seu redor. - AGORA CALA A BOCA E SENTA AÍ PARA PODERMOS COMEÇAR A CANTORIA!

Hades, Ares, Hermes e Poseidon riram. 

- Tudo bem, pai. - disse o deus dos viajantes. - Conheço uma música sobre semideuses malucos. 

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Na manhã seguinte, antes do amanhecer, Poseidon foi até a barraca de Hades e o acordou, fazendo sinal para este falar baixo.

- O que você quer, Poseidon? - o deus dos mortos perguntou aborrecido.

- O que você acha de fazermos uma festa naquele lago hoje e ... - ele sussurrou o resto. Um sorriso malvado se espalhou pelo rosto de Hades.

- Ah, isso vai ser divertido. - comentou. - Ele não vai ficar nada feliz, mas eu topo.

***

Estava tudo muito feliz na festinha do lago, com Apolo cantando, Hermes tocando saxofone, Dioniso e Deméter fornecendo vinho e cereais, os outros deuses dançando e tal.

O senhor dos mortos e o senho dos mares se aproximaram do senhor dos céus, que estava na beira do lago. Hades pegou os pés de Zeus e Poseidon pegou os braços do mesmo. 

Então eles jogaram o irmão, seu soberano, no lago.

A maioria dos deuses riu, apesar de tentar esconder o fato. Somente Hera, Atena e Ártemis permaneceram sérias.  Só podia ser, pensou o senhor dos mares, As três deusas mais sem graça que existem.

Zeus emergiu, pingando água e literalmente soltando vapor. 

- SEUS... - ele falou alguns insultos bem criativos. - COMO OUSAM?

- Por favor, não nos frite. - pediu Hades, sentindo o cheiro de ozônio no ar. - Senão as almas vão ficar descontroladas.

- Os pégasos também. - acrescentou Poseidon. O senhor dos céus bufou.

- Não vou incinerar ninguém. - declarou. - Mas eu quero vingança.

Para surpresa geral, ele sorriu, correu rio afora e empurrou os irmãos na água. Minutos depois, estavam fazendo guerra de água como adolescentes, enquanto uma tempestade estourava no céu. Logo outros se juntaram ao banho e foi muito divertido. 

Até Atena e Deméter estavam no lago, rindo e jogando água uma na outra. Foi surpreendente ver o modo como de repente todos aqueles deuses diferentes que viviam em guerra e que acusavam uns aos outros de tudo estavam se dando tão bem, agindo como adolescentes e se divertindo muito. 

O que mais os surpeendeu foi quando Ártemis se juntou à festa. É bem verdade que ela ficou longe dos homens, jogando água em Atena e rindo como qualquer outro deus ou deusa ali presente. Mas ela estava lá. 

A deusa da caça pensou que talvez ela até tivesse tido uma ideia boa ao pensar naquele acampamento. Pelo menos, ninguém tentara incinerar ninguém... Ainda. Ela parou de pensar nisso quando foi atingida por uma pequena onda disparada por Afrodite. Virou-se e jogou uma onda três vezes maior na irmã.

Porque, às vezes, até as deusas mais serenas têm que se divertir.