- Eu não vou dividir barraca com homem nenhum. - disseram Ártemis, Héstia e Atena ao mesmo tempo. Poseidon revirou os olhos.

- Claro que não. - falou. - Não podemos ter cada um uma barraca? Seria bem mais fácil. - E menos destrutivo,pensou, mas não dissse nada.

- Não. - respondeu Hermes. - A ideia não era fazer que nem os mortais? Pois os mortais dividem barracas. E se eles conseguem fazer isso sem fulminar uns aos outros, nós também devemos conseguir.

- Os mortais não têm poder para fulminar uns aos outros. - observou Hades com as sobrancelhas erguidas. O deus dos viajantes desprezou o comentário com um gesto.

- Detalhes, meu caro tio.

O deus dos Mortos suspirou silenciosamente. Por que aquele pessoal o chamava de tio? Não haviam sido nada gentis quando ele havia sido expulso do Olimpo. O que, em sua opinião, só servia para mostrar que ninguém ligava para ele.

Hades tivera que sequestrar Perséfone para ela casar com ele. Que diabos era aquilo?Por que chamar ele de tio? Titio Hades.Tio Hades, ele experimentou o nome mentalmente e estremeceu.

Encontraram um lago. A maioria foi se banhar, mas Apolo, Poseidon, Ares e Hermes ficaram se exibindo para as náiades, Deméter ficou lendo debaixo de uma macieira e Hades ficou perambulando por aí, solitário e melancólico como sempre. Ficaram assim até a noite, quando foram se deitar para dormir.

O que não quer dizer que eles conseguiram.

***

A confusão começou quando Afrodite acordou com mosquitos zumbindo em seus ouvidos.

- Humpf. - resmungou, sentando-se na cama de armar. - Mosquitos idiotas.

A deusa saiu de sua barraca e foi de fininho até a de Ares. O deus da guerra dormia profundamente.

- Ares. - Afrodite o sacudiu de leve, depois mais forte, falando baixinho. - Ares! Acorda! Ares!

O deus da guerra acordou assustado e, sem saber que era a namorada, tentou acertá-la com o punho. Felizmente, ela desviou, encolhendo-se.

- Ainda bem que você não leva uma arma para a cama. - comentou. Ares levantou-se, pôs os óculos escuros e a levou té uma clareira no bosque. Então começaram a se beijar. 

Quando se separaram em busca de ar, Afrodite sorriu.

- Agora esse acampamento está valendo a pena.

- Sempre vale a pena, desde que eu esteja com você. - o deus da guerra sorriu. Podia ser bem romântico quando queria - desde que tivesse um cartão para decorar as frases ali escritas.

- Que lindo. - a deusa do amor suspirou, completamente feliz. - Me beija de novo?

Ares ampliou o sorriso.

- Isso vai ser muito divertido.

- Concordo. - disse uma voz atrás deles.

De repente, Afrodite e Ares estavam presos em uma gaiola de ouro, com todos os outros deuses em volta, rindo. Afrodite gemeu.

- De novo não! - ela escondeu a cara no ombro do namorado e tentou desesperadamente arrumar os cachos embaraçados. Porque até mesmo a deusa da beleza pode ter seus dias de cabelo revoltado, se ela não os arrumar com magia.

- Hefesto! - urrou Ares. - Que diabos é isso?

- Sorriam, vocês estão na pegadinha do Hefesto! - disse o deus dos ferreiros. - De novo. Pela milésima vez. Isso nunca perde a graça.

- Haha. - resmungou a deusa do amor. - Não sabia que você era piadista.

- Não sou. - Hefesto concordou. - Mas temos alguém que é.

- Culpado. - falou Hermes, fingindo arrependimento. - Mas devo dizer que vocês ficam ótimos em HD tevê.

- Não posso discordar. - Apolo disse, balançando as sobrancelhas. Ártemis revirou os olhos.

- Claro que não, Apolo. - então ela olhou para os deuses engaiolados e seu rosto de garota de doze anos se iluminou. - Aposto que agora você está arrependida por não ter feito o voto de castidade.

- Não. - Afrodite respondeu com firmeza, jogando os cabelos para trás. - Estou arrependida é de não ter arrumado meu cabelo antes de vir.

- Superficiaaal... - cantarolou Atena.

- Ei, é como eu sempre digo: Nós, garotas, devemos nos permitir ser fúteis e superficiais.

- Mas algumas de nós abusam desse direito. - Ártemis retrucou, e ela e a deusa da sabedoria começaram a rir. A deusa do amor sacudiu a cabeça, tentando não ficar vermelha como um tomate.

- Hm, safadinhos hein? - disse Poseidon, embora seu tom fosse de aprovação. - Saindo escondidos no meio da noite,hum?

- Cale a boca, Barba de Algas. - resmungou Ares.

- Viu só, irmãzinha? - zombou a deusa da caça, usando o apelido que o irmão lhe dava e que ela mesma odiava. - Homens. Você lhes dá seu amor, e olhe no que eles te metem.

- Você.... Você chamou... - Apolo olhou abismado para a irmã gêmea. - Você chamou ela de irmãzinha! E ela é sua irmã mais velha! 

- Eu sou sua irmã mais velha, e você me chama de irmãzinha, mesmo eu tendo pedido para você parar desde que nascemos.

- Somos gêmeos! - sem perceber, ele repetiu o que a irmã vinha dizendo ao longo dos séculos, o mesmo comentário que ele sempre desprezava.

- Enfim admitiu. Então pare de me chamar de irmãzinha. E eu masci primeiro.

- EI! - berrou Afrodite. Todos olharam para ela. - Podemos sair agora?

- Acho que posso deixar vocês aí por mais um tempinho... - ponderou Hefesto.

- Quanto tempo?

- Até o próximo anoitecer, talvez.

- O quê? Não pode fazer isso! Meu cabelo vai ficar horrível caso eu fique aqui pegando sol!

Suas irmãs cantarolaram "superficiaaaal" de novo.

- Posso provocar uma chuva, se isso ajudar. - ofereceu Poseidon. Afrodite olhou abismada para Hera.

- Mãe! - apelou. - Por favor!

- Até o amanhecer, querido. - a rainha dos céus falou para o filho deformado. - Ou sua irmã vai acabar matando você quando sair.

- Tudo bem. - o deus ferrreiro cedeu. - Até o meio dia. Depois disso eu os solto.

- Jure. - insistiu Ares. - Pelo Rio Estige.

- Não confia em mim, irmão?

O deus da guerra arreganhou os dentes, e Hefesto jurou.

Hades estava se acabando de rir. Discórdia! Era tudo o que ele queria. Nunca gostara de Afrodite, pois ela era a única que o chamava de titio. Os dois engaiolados perceberam que ele era o único que literalmente rolava de rir.

- Pode rir, titio. - a deusa falou. - Me aguarde. Quando voltar à sua barraca, não estranhe se suas roupas estiverem uns cinco números menor.

O que só o fez rir ainda mais. 

- Por falar em amanhecer, Apolo - Zeus mudou de assunto. -, quem você deixou conduzindo o carro?

- Ah, o carro. - ele pareceu culpado. - Uma amiga minha. Ela me devia um favor.

- Não foi nenhum semideus,não é? A última vez em que você deixou um semideus pilotar...

- Eu sei, eu sei. Sua filha colocou fogo na Nova Inglaterra. Não se preocupe, não vai acontecer de novo. Aprendi a lição.

A última frase fez algumas sobrancelhas se erguerem. Eles imaginaram quem seria o próximo infeliz a ser arrancado do céu por estar dirigindo o carro solar. Só espero que seja o irritante do Jackson, pensou Zeus, Adoraria arrancá-lo do céu.

Então a atenção de todos foi desviada quando uma enorme bola de fogo caiu perto dos deuses, incendiando metade do bosque.

- Que diabo...? - Hades interrompeu a frase ao ver uma figura familiar se erguer das chamas, cambaleando. Deméter também viu.

- Perséfone?