Dioniso olhou para os deuses que permaneceram do lado de fora das barracas, se entreolhando atônitos.Afinal, nenhum deles entendia a atitude de Afrodite. Ela geralmente se deliciava com os homens que brigavam por sua atenção.

- Isso aqui está tenso, gente. - comentou o deus. Apolo concordou com a cabeça e olhou para o céu.

- Hm...Já vai amanhecer. - concluiu.

- Ah, falando nisso,Apolo... - começou Zeus. - Você tinha deixado Perséfone responsável por guiar o sol, mas ela caiu aqui... Então, quem está no comando? 

- Ah...Anh... Eu... Olhei, não tive opção, certo? - o deus do Sol parecia encabulado e despenteava os cabelos com as mãos. - Iiiih, você não vai gostar nem um pouco! Precisa mesmo saber?

- PRECISO! - gritou Zeus, perdendo a cabeça por alguma razão e tendo certeza de que iria odiar a resposta. - QUEM FOI?

- Hm,Hipnos. 

- QUÊ? - gritou Hera, alarmada. - VOCÊ DEIXOU O DEUS DO SONO PILOTANDO O SOL?É SÉRIO?

- Eu não tinha opção!Todos os outros deuses estavam ocupados! Era ele ou Éris. Quem você queria que eu escolhesse? 

- Éris, é claro. - disse Ártemis com calma, analisando cuidadosamente uma de suas flechas de prata.

- A deusa da discórdia? - seu gêmeo estava boquiaberto e perplexo. - Ela ia semear o caos!

- Ela estaria pilotando o Sol, seu idiota. Não tinha como causar a discórdia de dentro do seu carro. - ela argumento com as sobrancelhas erguidas. Apolo pensou por um instante.

- É verdade... - disse, lentamente. Sua irmã gêmea bufou.

- Claro que é. 

- Bem, mas agora não tem mais jeito. - sentenciou Hades. - Resta torcer para Hipnos não dormir ao volante, ou teremos um sério problema. Acho que os mortais não iam gostar se o sol não nascesse. Se bem que eu mesmo não me importaria...

- Bem - interrompeu Atena, olhando para o céu. Uma claridade rosada despontava a oeste. - Não tem sentido dormir agora. Mas acho que Afrodite vai ficar muito zangada se a acordarmos antes das duas da tarde... - um plano começou a se formar em sua mente. - Ártemis, preciso conversar com você. 

***

- Espere, papai. - chamou Dioniso com sarcasmo, parando o senhor dos céus quando este deu meia-volta para voltar para a barraca. - Preciso falar com o senhor. 

Senhor, notou Zeus. Então o negócio era sério!

- Que foi, Dioniso?- perguntou cansado.

- Tá todo mundo muuuuito tenso aqui por causa daquela briguiha imbecil. - ele deu uma risadinha. - Não que eu não aprove...

- Pare com isso. Você não é pago para ser o deus da discórdia.

- Nem para nada, por falar nisso. Aturo aqueles pirralhos de graça...

- Foi o seu castigo.

- Eu sei, eu sei...Mas ainda acho que um século foi tempo demais... Uma semana já tira qualquer um do sério...Mas não estou aqui para discutir minha injusta punição. Quero falar sobre uma ideia que tive para descontrair. Depois de toda essa agitação e tensão, tudo o que precisamos é de uma festinha básica com uma apresentação teatral e muito vinho...

- Me poupe, Dioniso! Descontrair uma vírgula. Você só está tentando arrumar um pretexto para fazer uma festa e ficar bêbado. Nem adianta negar. Te conheço, moleque.

- Um: Não me chame de moleque! Dois: Talvez sim, talvez não. Mas não negue que precisamos de uma festinha básica. Afinal, o que é o Olimpo sem festas? Mesmo que seja no meio do mato? Isso mesmo: Nada.

- Tudo bem, tudo bem! - cedeu Zeus, exasperado. - Já vi que não vai me deixar em paz até eu dizer que sim. Planeje logo essa droga de festa e cale essa boca!

- Ui,credo. Não precisa ficar tão irritadinho...

Eles voltaram para suas barracas,para se aprontar para o novo dia.

***

POV>Ártemis 

- Hm,tem certeza, Atena? - perguntei, mal podendo acreditar no que ouvia. - Não faz muito o meu estilo.Quer dizer, é meio infantil...

- Ela obrigou você a se vestir como ela. - lembrou Atena. 

- Verdade...Mas,mesmo assim,me parece algo meio tolo. - E sem propósito. E inútil. E idiota. Totalmente diferente do que eu esperaria ouvir da deusa da sabedoria e da razão. 

- E é tolo. Mas pode ser divertido. Além do mais, nenhuma de nós gosta muito dela. Ela zoa com a nosa cara há milênios. Não acha que pode ser hora de uma vingancinha?

-Não sei...Acho que não é uma boa ideia.

- Ah, vamos! Nem que seja só pela experiência!

- Atena, você andou bebendo? Que história é essa de querer ter essa experiência?

Ela pareceu levemente ofendida com minhas palavras.

- Não, Ártemis, eu não andei bebendo. Eu sou a deusa da sabedoria. E,como sempre digo, a natureza da sabedoria é a busca pela informação. Experiências são informações. Experiência pode ser útil se precisar sabotar um inimigo em uma guerra.

E ela estava certa. Eu nunca tivera esse tipo de experiência antes. Poderia ser bom,divertido e útil. Ou poderia ser ruim e completamente inútil. Afrodite não iria gostar nem um pouco...Mas o que ela podia fazer? Nos deixar permanentemente feias? Percebi que esse era realmente o pior que poderia acontecer.

Foi o que me fez decidir. Afinal, somos deusas, conseguimos arrumar nossa aparência. Além do mais, não me importo com a aparência. O que vou perder se estiver feia?O que posso ganhar se estiver bonita?Sou uma deusa casta,afinal.

- Está certo. - falei,por fim. Ela deu um sorriso maligno. Nos levantamos e fizemos os preparativos. Então carregamos, com certa dificuldade, nossos equipamentos até a barraca de Afrodite, que dormia tão pesadamente que nem nos notou. 

- Quando eu contar três. - decidiu Atena. - Um...Dois...Três!

Esvaziamos um balde de água fria na cara da deusa da beleza, que se sentou e começou a nos chamar de todos os tipos de palavrões imagináveis e inimagináveis. Duvido que vocês,mortais, tenham palavras tão feias. 

Mas não me arrependi. É estranhamente gratificante zoar com a cara daquela deusazinha fútil.