Olhei para baixo e ainda percebi que segurava o endereço, que agora era uma mancha de café e letras borradas sob a folha.

– Droga! – murmurei.

– O que houve? Precisa de ajuda?

– Da sua ajuda não. – respondi secamente.

Apesar de não saber o que fazer, virei às costas e sair marchando em direção as minhas malas abandonadas no saguão da sala de espera, peguei-as e me sentei em um das varias cadeiras. Estava decidida ficar ali até ágüem aparecer.

Justin veio atrás de mim.

– O que está fazendo? – perguntou ele com um vinco de confusão na testa.

– As pessoas vão te ver. – ignorei sua pergunta.

– Não vou precisar ficar aqui se você me disser o que está acontecendo. – insistiu.

– Mas você não precisa ficar aqui. – eu o encarei.

Ele me ignorou e se se sentou ao meu lado.

Eu fiquei de pé com fúria.

– Escuta aqui, Justin Bieber –disse seu nome com ênfase – não acha que já estragou demais as coisas? Eu estou toda melada e sem pra onde ir por uma falta de atenção sua.  Então não tenta melhorar as coisas quando você só piora, ta legal? – empreguei em minha voz o máximo de raiva possível.

Peguei minhas malas e sai as arrastando atrás de mim. Estava fora de lista permanecer ali com aquele garoto.

Se a bateria do meu celular não tivesse acabado no avião as coisas estavam menos piores. Eu tinha alguns dólares na minha bolsa, o suficiente para pagar um taxi e a diária de um hotel não muito caro. Bem... Eu esperava que sim.

Lá fora o sol se escondia atrás das nuvens carregadas, o ar estava úmido.

Pegar um taxi em Nova York parecia uma tarefa impossível. Quase todos eles pareciam já ter passageiros, não queria dividir o taxi com alguém, estava feia demais para isso, meu dia já estava bem ruim para ter que aturar pessoas me olhando torto.  Era de se esperar taxis ocupados em uma cidade tão grande.

Algo molhado e gélido caiu em minha pele me sobressaltando.

Pronto! Estava tudo acabado! Até os pombos conspiram contra a mim agora! Mas depois percebi que estava gélido demais para ser coco de pomba. Olhei para cima, não tinha pomba nenhuma quanto menos sol, uma tempestade se formará. Começou a cair um chuvisco, pinicando minha pele aqui e ali.  A chuva aumentou e o vento também, agora as gotas não viam mais do alto, caiam em diagonal, vinham do oeste. O que era antes só minha blusa melada, agora era eu encharcada por completa em questão de alguns segundos.

Não é tão ruim! Não é tão ruim! Minha mente tentava me confortar.

No momento que eu ia correr em busca de um abrigo do outro lado da rua, um carro preto de vidros escuros parou ao lado da calçada.

Sobressaltada mergulhei na calçada.

O vidro elétrico do carona se abaixou enquanto a chuva nada agradável caia sobre mim, embaraçando meus cílios e meu cabelo batendo no rosto grudando nos lugares molhados.

Surpreendi-me ao ver que diria o carro, só podia ser brincadeira!

Garoto persistente e idiota. – pensei.

– Entra no carro. – pediu ele.

– Não. Eu não vou entrar no carro de um estranho. – Gritei lutando contra o barulho da chuva.

Ele não era o único persistente aqui.

–Entra Logo. – agora ele ordenou – só estou tentando te ajudar, não percebe?

Eu cedi, era minha única alternativa.

Antes de pular para o banco do carona coloquei as malas no banco de trás. O carro era seco e agradável.

Justin sorriu satisfeito, eu revirei os olhos enquanto fechava o vidro elétrico.

O carro seguiu na rua movimentada, o único barulho dentro do mesmo era dos pára-brisas limpando o vidro molhado. Era um silencio constrangedor.

Justin ligou o aquecedor, deixando o clima dentro do carro mais agradável. Depois ele deu uma risada baixa.

Suspirei, derrotada.

Porque não rira? Eu estava terrível.

– Do que está rindo? – perguntei incomodada, tirando o cabelo molhado grudado nas maças do meu rosto.

Eu estava pouco confortável no mesmo ambiente que Justin.  Para piorar as coisas os transito estava terrível, prolongando o momento.

– Você. – respondeu após alguns minutos se passarem.

Ah, claro.

– Eu posso rir dos micos que pago, você não. – eu olhei para ele, que continuava com um sorriso em seus lábios com os olhos na estrada.

Ele gargalhou.

– Não estou rido, porque você está encharcada... Apesar de ser engraçado.  – ele riu novamente. Agarrei minhas mãos no banco de couro na tentativa de controlar minha raiva – Estou rindo por você ter dito que não entraria no carro de um estranho. – esclareceu.

Fiz uma careta.

– E que graça tem isso?

– A metade do mundo me conhece. – explicou presunçoso.

– Mas você é estranho. – disse com conotação. –Não te conheço, Além de saber seu nome. Olha só, eu não sou uma dessas garotinhas que vai pular dentro do seu carro na primeira alternativa.

– Você pulou. – argumentou ele com divertimento na voz e o mesmo sorriso.

– Eu estava sem uma alternativa, diferente. – respondi irritada com sua petulância.

Senti o carro parar, o sinal havia fechado. De repente uma onde de frio subiu pelo meu corpo me fazendo tremer, meus dentes trincaram.

Justin me olhou sem deixar de perceber meu frio repentino, então ele girou seu corpo para pegar algo no banco de trás. Instantes depois ele estendeu um casaco preto para mim.

– Não preciso. – recusei apesar do frio, tremi de novo.

– Porque simplesmente não tenta ceder? Você pode ficar doente, tome. – Ele se parecia com minha mãe falando.

Pensando nessa possibilidade, peguei o casaco passando os braços pelas mancas cumpridas. Seu casaco era perfumado, tinha um cheiro agradável até.

– Obrigado. – Agradeci com um sorriso fechado.

Ele assentiu com a cabeça.

Sabe quando dois olhares se cruzam e eles desviam rapidamente os olhos constrangidos, então...

De repente um barulho que não pertencia à ocasião soou atrás do carro,

A buzina impaciente do carro de um motorista logo atrás do de Justin, que por sinal, atrapalhava que o transito seguisse.

Percebemos que o sinal abrirá e o transito no nosso lado já corria com agilidade. Então Justin arrancou com o carro na rua com rapidez.