Assim que acordou, fez as coisas de costume e foi atrás do quadro, não teve dificuldades em encontrá-lo e o retirou da parede com cuidado levando-o para seu quarto. Lá começou a examinar o quadro com cuidado, olhando cada pequeno detalhe da pintura, retirando da moldura e olhando tudo por trás, olhando até a própria moldura e nada, ficou cansada e foi dar uma volta pelos jardins. Novamente subiu no muro e foi olhar a janela, ficou olhando por muito tempo e nada de ver a tal sombra que vira da outra vez “será que aquela vez foi uma miragem? Mas eu sei que tinha alguém me olhando, tenho certeza disso”. Voltou todo o caminho e na hora que foi descer da árvore pisou em um galho seco e caiu com tudo no chão por cima de seu braço esquerdo o machucando. Levantou dolorida e segurando o braço entrou na casa indo ver o pai, ele então resolveu levá-la para o hospital. Hikaru foi para a garagem na frente de seu pai e assim que entrou no carro ao olhar para um canto escuro teve a impressão de ver um par de olhos amarelos a olhando do alto de uma silhueta negra que não lhe deixava saber se o que via era homem ou mulher, ou até mesmo se era real, ficou congelada olhando a figura que lhe encarava, um frio imenso subiu por sua espinha e seu coração disparou, teve um ímpeto de gritar mas não conseguiu. Ouviu então a voz de seu pai e olhou desesperada para onde vinha a voz, vendo seu pai aparecer todo sorridente, olhou então de volta para onde vira os olhos e não havia nada mais, tentou então se acalmar pra que seu pai não percebesse que estava alterada e se encostou no banco enquanto ele saia com o carro, fechando os olhos e só os abrindo depois de muito tempo.

Quando chegou ao hospital logo foi atendida, saiu de lá com o braço engessado e ao chegar em casa, comeu algo e foi para o quarto. Sentou em frente à sua mesa de desenhos, olhou para sua cama e notou algo estranho no quadro, como se ao olhá-lo de outro ângulo ele mostrasse um mapa, ela começou então a copiar o que via. Era um mapa, que mostrava um caminho pelos corredores do casarão e começava no lugar onde o quadro ficava pendurado, Hikaru foi até lá e começou a seguir as indicações do mapa, chegando ao fim de um corredor escuro ficando frente a frente com uma armadura muito antiga que ela logo reconheceu e ao abrir o elmo encontrou pendurado dentro a chave com o cordão, assim como no sonho, porém pegou os dois e voltou para seu quarto os guardando dentro de uma caixinha, descendo em seguida para jantar e descansar um pouco, pois seu braço estava começando a doer novamente.

Hikaru passou o resto do dia com sua mãe, conversando na varanda e olhando o céu que com o passar das horas ficava mais e mais lindo, estrelado de um jeito que ela nunca havia visto antes.

No dia seguinte acordou muito cedo, ninguém havia se levantando ainda, Foi comer algo, pegou a chave, pôs o cordão no pescoço e foi até a tal porta, queria desvendar tudo de uma vez por todas. Parou em frente a porta tomando coragem, respirou fundo e colocou a chave na fechadura, girando devagar até ou vir o estralo da tranca liberando a porta. Um pouco trêmula segurou a pesada maçaneta a girando e abrindo a porta, entrando em uma sala muito escura, foi dando passos vacilantes até que a porta se fechou atrás dela a deixando presa naquela escuridão sem fim, ela tinha muito medo e só conseguia pensar “meu Deus, o que estou fazendo e aonde vim parar?”. Ficou parada um tempo de olhos fechados controlando a respiração que havia começado a ficar pesada e rezando para que ao abrir os olhos não visse algo assustador, se é que conseguiria ver algo no meio das trevas daquela sala.