Shattered Dreams escrita por Labi
Notas iniciais do capítulo
Vocês vão me matar por isto. Sério. De qualquer forma, este cap foi escrito enquanto ouvia Nemo-Nightwish e Looking for Angels - Skillet....
*corre*
Alfred nunca tinha tido uma semana tão horrível como aquela.
O estado do seu pai não tinha piorado nem melhorado e isso causava tanto nele como na sua mãe uma agitação inexplicável. Faziam turnos para ir ao hospital, já que só podia haver uma visita de cada vez. E como tal, Alfred começou a faltar às aulas. Tanto a SrªJones como Arthur insistiam que ele devia voltar para casa e para as aulas. Até mesmo Kiku e Matthew lhe tinham telefonado para saber o que tinha acontecido, mas ele apenas explicou por alto e disse-lhes que estava bem.
Arthur tinha vontade de lhe pegar no telemóvel e ligar ao canadiano a dizer que o seu "primo" na verdade não estava nada bem. Praticamente não comia e tinha insónias. Aos olhos do anjo, o americano parecia um farrapo humano. O inglês tentava ajudar, mas o americano não deixava. Ignorava-o e escondia-se debaixo dos cobertores.
Ao princípio Arthur deixava-o sozinho, mas depois também ele começou a sentir-se frustrado... Tentava iniciar conversa, convence-lo a fazer alguma coisa, e isso provocou muitas discussões e atrito entre eles.
Num final de tarde, depois da SrªJones ter ido para o hospital, Arthur foi ao quarto do americano e sentou-se na beira da cama:
"Alfred... Já chega."
"Não me chateies."
"Já reparaste que até a tua mãe quer que voltes para casa?"
"Cala-te."
"Tens de reagir! Vais agir como um cobarde agora?"
O americano sentou-se na cama bruscamente e olhou furioso para o anjo:
"Não estou a ser cobarde!"
"Não. Que ideia." , respondeu, cruzando os braços.
"Mete-te na tua vida."
"Não mudes de assunto."
Alfred respirou fundo e quase gritou:
"Tu não compreendes!"
"Não? Como-"
"Para de tentar meter-te na minha vida! Deixa-me agir como eu quero. Tu não entendes como me sinto! O meu pai pode morrer a qualquer momento! TU NÃO COMPREENDES!"
Arthur arregalou os olhos com espanto e ia falar, mas Alfred não deixou:
"Para ti não te faz diferença pois não? Quer dizer, tu daqui a dois ou três meses desapareces. Que diferença te faz se eu ajo ou não como um cobarde? O facto da tua família não se importar contigo não significa que eu não me preocupe com a minha!"
"Alfred-"
"Desaparece de vez! Desaparece da minha frente!"
O anjo pressionou os lábios numa linha fina e olhou furiosamente para o americano:
"Com todo o prazer."
Levantou-se e saiu do quarto, batendo com a porta.
Alfred colocou uma mão á frente da boca e ainda tentou agarrar no pulso do outro, mas não foi a tempo. Levantou-se a correr mas quando chegou á sala, Arthur já tinha saído do apartamento.
Voltou para o quarto, deixou-se cair de costas na cama e atirou a almofada para a porta.
"MERDA!"
##
Arthur nem se tinha dado ao trabalho de usar magia para ficar visível. Apenas andava apressadamente em direcção ao hospital. A sua sorte é que nem tinha muita gente na rua aquela hora, então ele não corria o perigo de bater contra alguém distraído.
Limpava furiosamente as lágrimas que lhe caiam pela face. Odiava chorar... Ainda para mais quando o motivo era um caso perdido. Alfred não compreendia que ele só tentava ajudar? Trincou o interior da sua bochecha e fungou. Pelos vistos os seus irmãos sempre tinham tido razão: ele era um inútil.
Quando chegou ao hospital passou com o maior cuidado pelo porteiro e pelas enfermeiras que andavam pelos corredores. Quando chegou ao último corredor, viu a mãe de Alfred falar com a enfermeira. Aproveitou o momento e entrou no quarto.
O Sr.Jones estava deitado na maca. Tinha ligaduras na cabeça e no braço, pelo menos era o que Arthur conseguia ver. Aproximou-se dele e tocou-lhe com a mão na testa, pegando na varinha com a outra mão.
Fechou os olhos e concentrou-se. Ele sabia que não podia curar as feridas do homem, a única vez que tinha tentado isso foi com Alfred e foi apenas uma febre, não algo tão grave como isto. Ouviu passos e receou que fosse a SrªJones a voltar, então apressou-se. Ia lhe passar toda a energia que tinha, talvez assim ele assim conseguisse regenerar mais depressa...
"Desaparece de vez! Desaparece da minha frente!" , as palavras de Alfred ressoavam na sua mente. Ele não tinha outro lugar para ir, então mesmo que desse toda a energia ao Sr.Jones e desaparecesse antes do tempo previsto, não ia fazer diferença a ninguém e pelo menos ficaria com a ideia que não foi totalmente inútil.
Apertou a varinha na sua mão e ela começou a brilhar. A cada momento que passava, o anjo sentia-se mais fraco e a sua visão começava a ficar desfocada. Sentiu o Sr.Jones mexer-se ligeiramente e então aumentou ainda mais o fluxo de energia.
Uma máquina a que ele estava ligado começou a apitar e quase logo entrou a enfermeira aos gritos:
"Srª Jones!! Ele está a acordar! Ele saiu do coma!"
Arthur vacilou e afastou-se do homem. Sentia as suas pernas a tremer e mal se conseguia mexer, mas tinha de sair dali. Deu alguns passos atrás e sentou-se na janela, que estava aberta, e já não tinha quase energia nenhuma. Caiu para trás e aterrou no jardim de rosas no lado de fora.
"Ainda bem que era o rés-do-chão" pensou, antes de fechar os olhos e esperar que alguma coisa acontecesse.
##
Mal recebeu um telefonema do hospital, Alfred foi o mais depressa que conseguiu para lá. Ao chegar á recepção, a senhora que lá estava disse-lhe que o seu pai tinha saído do coma e mudado para um quarto diferente. Alfred ouviu as direcções e foi a correr até lá. Mal viu a sua mãe, abraçou-se a ela.
"Alfred!"
Ele sorriu levemente e beijou-lhe a testa, "Ele agora está bem?"
"Mais do que bem! Está a recuperar a uma velocidade estonteante!" anunciou o médico, ao entrar pelo quarto.
"Quando acha que ele vai acordar e voltar a falar, doutor?" perguntou timidamente a SrªJones.
"Isso não sei. Temos de esperar e ver."
"Certo." ela sorriu e apertou Alfred novamente num abraço , "Pelo menos agora não corre tanto perigo."
A enfermeira entrou no quarto com uns aparelhos esquisitos e sorriu para eles:
"Parece que o Sr.Jones tem um anjo da guarda."
O coração de Alfred bateu mais forte. Com tantas notícias ao mesmo tempo, tinha-se esquecido do anjo...
"Já sabe as regras não é? Um visitante de cada vez."
"Mas doutor-"
"Já abrimos excepção por agora, mas vai ter mesmo de ir embora."
"Alfred... Volta para casa. Se ele acordar eu aviso ok? E tu na segunda-feira voltas para as aulas."
"Mãe!"
"Ponto final."
Alfred rolou os olhos, aproximou-se do seu pai e beijou-lhe de leve a testa. Sentia-se muito mais leve agora que sabia que o seu pai não estava em perigo.
"Ele fica bem, não te preocupes." disse o médico.
"C-certo... Até amanhã."
Passou pela mãe e abraçou-a novamente.
Depois de descer as escadas e ter voltado a sair do hospital, tinha ainda um assunto na sua mente: Arthur.
Ia a passar pelos jardins do hospital para encontrar a saída, quando olhou por instinto para a janela do quarto antigo do seu pai. E foi então que sentiu todo o seu sangue a esvaiar-se.Num dos arbustos, tinha penas. Penas que ele conhecia demasiado bem.
"Parece que o Sr.Jones tem um anjo da guarda."
Alfred arregalou os olhos com a súbita compreensão. O seu pai tinha melhorado graças á magia de Arthur! Lembrou-se de quando ficou doente e Arthur o tinha curado e por culpa disso não tinha conseguido usar magia durante umas horas. Para curar o seu pai ele devia ter usado quase toda a magia...
"Arthur!"
Correu na direcção do arbusto e encontrou o inglês deitado no meio da relva. Mas algo não batia certo.
O anjo parecia semi-transparente, como um holograma. E cada vez desaparecia mais.
"Arthur! Acorda!"
Caiu de joelhos ao lado dele e pegou-o ao colo.
"Arthur... Por favor..."
Sentia a sua visão ficar embaciada com lágrimas enquanto tirava a franja da frente dos olhos dele.
"D-desculpa... Fui estúpido e injusto e- P-por favor acorda!"
O anjo no seu colo quase não tinha peso nenhum, nem temperatura corporal.
"A-Alfred?" ele abriu os olhos, piscando para se adoptar á luz e logo foi apertado contra o peito do americano com mais força.
"Desculpa Arthur... Desculpa... Eu..."
O inglês sorriu ligeiramente e disse, " Pelo menos não fui inútil até ao último momento."
"Tu- Tu nunca foste inútil!" as lágrimas corriam ainda mais rápido pelo seu rosto, "Eu- Arthur... Eu... Não desapareças!"
O anjo levantou a cabeça e juntou os seus lábios aos do loiro. Alfred ficou surpreendido pela acção, fechou os seus olhos e acariciou a nuca dele. Quase nem sentia o outro…
Quando os voltou a abrir, já não tinha ninguém no seu colo.
Arthur tinha desaparecido.
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