O Peso De Uma Mentira escrita por Arline


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Hey! Cá estou com mais um cap! (bêbada novamente, mas não vem ao caso...)
A todas, um feliz ano novo!
Obrigada pelos reviews lindos que recebi.
Ao cap!



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CAPÍTULO 15

POV EDWARD

O que Bella quis dizer com “depois do almoço vou trazer Amanda?” Ela ia realmente levar minha filha até minha casa ou foi só uma distração pra que não desse tempo de ir atrás dela e querer levá-la pra casa? Não, ela não brincaria com algo assim quando sabia o quanto eu queria conhecer minha filha... Então, se isso ia mesmo acontecer, o que eu tinha que fazer? Limpar a casa? Não... O que ela ia comer? Não, elas iam almoçar primeiro... Mas poderiam sentir fome depois, não? E eu só tinha porcarias em casa... Isso Edward! Incentive mesmo sua filha a se alimentar mal... Você será um ótimo pai, com certeza! Frustrado, deixei que meu corpo tombasse sobre o sofá. Só o que havia a ser feito era esperar.

Vendo os ponteiros do relógio trabalharem de forma miseravelmente lenta, me pus a pensar. Bella era uma caixinha de surpresas, sem dúvidas... Quando contei sobre os motivos que me levaram a cometer a burrice de deixá-la, esperei que ela dissesse que não acreditava, que eu estava querendo jogar a culpa pra cima de outra pessoa, contudo, ao perceber que ela acreditava verdadeiramente em cada palavra, uma ponta a mais de esperança renasceu em mim.

Não era a esperança de que de uma hora pra outra Bella se jogasse em meus braços; era só o poder acreditar que algum dia tudo se acertaria. Nunca nada entre nós seria como antes fora e eu nem queria que assim fosse... Antes não tínhamos Amanda. Antes sabíamos que nos amávamos, tivemos um tempo de relativa felicidade e nada de sofrimento, mas depois de tudo o que passamos se esse amor ainda existisse em nós, seria diferente... Eu saberia confiar em Bella pra contar qualquer coisa, saberia que ela estaria ao meu lado em qualquer dificuldade, que enfrentaria o que quer que fosse; assim como eu estaria sempre ao seu lado.

Meus vinte e cinco anos não foram responsáveis por meu amadurecimento, e sim tudo o que aconteceu ao longo deles. O caminho que me levou a descobrir o que era amar verdadeiramente a alguém foi cheio de pedras e dificuldades — e eu sabia que mais coisas estavam por vir —, mas eu poderia dizer que me valeu o aprendizado. Aprendi a confiar. Aprendi que às vezes, a forma que parece ser mais fácil é a mais dolorosa. Aprendi o verdadeiro significado da palavra amor.

Bella era completamente livre — ou pelo menos eu assim pensava — e nada me impediria de ao menos tentar mostrar a ela que a amava. Nada de pressões, nada de infinitos pedidos de perdão, nada de auto piedade. Se aquela era a segunda chance que a vida estava me dando, eu trataria de agarrá-la com unhas e dentes.

Fui para meu quarto pensando em como seria o momento em que visse minha filha, mesmo sabendo que nenhuma imaginação faria jus a um momento como aquele. Novamente o medo se fez presente. Eu tinha certeza que Amanda não gostaria de mim e se gostasse, jamais me veria como pai. Sim, ela sabia que eu não havia rejeitado-a, mas sabia que eu havia abandonado sua mãe, por mais que Bella nunca tenha utilizado essas palavras... Eu me sentia tão mal que minha vontade era ligar pra Bella e pedir que não viesse. Mas se fizesse isso, estaria fugindo novamente, além de estar magoando-as, coisa que prometi não mais fazer.

Rodei pelo quarto sem saber muito bem o que fazer, no que pensar. De repente, ligar pra Alice e ouvir suas maluquices não me pareceu má ideia... Eu só teria que me acalmar um pouco pra que minha voz não denunciasse meu nervosismo e ela acabasse percebendo que havia algo de diferente acontecendo. Inspirei uma grande quantidade de ar enquanto discava seu número e prendi a respiração quando ela atendeu perguntando o que havia acontecido. Às vezes eu me perguntava se ela lia mentes...

— Nada aconteceu. Eu só liguei porque, por acaso do destino, sou seu irmão e sinto sua falta. Não que eu goste de admitir, mas... — eu sabia que com essa, ela não mais perguntaria nada. Alice adorava quando eu me rendia e dizia essas coisas...

— Ainda não me convenceu, Ed.

Eu imaginava a cara que ela estava fazendo naquele momento... Um sorriso debochado e ela olhando as unhas, como se fossem muito importantes, me desprezando.

— Ok! Você é a irmã mais linda, mais inteligente, mais maravilhosa e mais irritante que alguém poderia ter. — falei por fim, ouvindo-a bufar do outro lado.

— Você estava indo tão bem... Mas enfim! Eu sei que sou perfeita e que é difícil pra você admitir algo assim. Eu te perdoo.

— Obrigado. — eu ri — Eu esqueci de dizer; ontem a mãe ligou. Ela já falou com você?

— Aham. Eu ouvi um puta sermão, mas eu tive que aproveitar que o “espanta namorados” não estava por perto, não é? — eu ri outra vez. Já devia ter imaginado que ela estava aprontando alguma.

— Claro, claro... Mas você não reclama quando o “espanta namorados” se faz passar por seu namorado pra espantar um cara chato. — ela riu — Eu queria você aqui, Alice. Quero o colo da minha irmã. — suspirei.

— Maninho, não fique assim... Problemas com Bella?

— Contei tudo a ela. — ouvi uma exclamação de Alice — Contei todas as loucuras de Rosalie, tudo o que me levou a deixá-la, tudo...

— E o que ela disse? — agora ela estava curiosa.

— Nada. Depois que contei ela chorou bastante, ficou nervosa e acabou dormindo no seu quarto.

— Mas você é um jumento! Tinha que ter lavado a Bella pro seu quarto e ter deixado que ela acordasse ao seu lado. Tem ideia das coisas que passariam pela cabeça dela?

— Tenho. Talvez fossem piores do que as que passaram quando ela notou que eu troquei suas roupas.

Alice caiu numa gargalhada, me deixando sem graça com aquilo. Preferi não me estender muito no assunto com Bella porque ela acabaria ficando pior do que eu e agora vem Alice e faz isso...

— Retiro a parte do jumento. Aproveitou pra dar uma conferida no material, hein? Tá ficando danadinho, Edward Cullen!

— Não enche! Você sabe que não foi nada disso!

— Oh! Eu sei, eu sei! Você é quase um monge! Sabe aquele filme; O virgem de quarenta anos? Você tá quase ficando igual a ele.

— Tchau!

Desliguei o telefone sem esperar que ela dissesse mais alguma gracinha. Nesses oito anos Alice vivia me enchendo a paciência, dizendo que ela mesma iria contratar uma “menina eficiente” pra me ensinar “as coisas boas da vida” novamente, pois eu, com certeza, já as teria esquecido. Minha irmã não é um amor de pessoa?

Olhei ansioso para o relógio. Onze e quarenta da manhã. A que horas Bella almoçava? Até queria aproveitar que o telefone esta ali, em minhas mãos e ligar, mas eu tinha que aprender a me controlar! Eu não era mais nenhuma criança que esperava ansioso por algum presente que lhe fora prometido. Porém, antes que enlouquecesse, eu tinha que procurar algo pra fazer e passar o tempo. Meu quarto ainda estava em ordem; eu ainda conseguia enxergar a cama, então não tinha o que arrumar, já estava de banho tomado e barbeado; minha filha não me acharia relaxado... Então meus olhos foram parar na caixa com as coisas que Bella me dera e que ainda estava sobre a poltrona. Rever tudo aquilo seria uma forma de passar o tempo... Peguei a caixa, retirei a tampa e sentei no chão, uma a uma, fui revendo as fotos.  Fui separando algumas delas, onde estávamos eu e Bella e pensei se não seria uma boa ideia mandar que restaurassem. Eram lembranças de uma época feliz e valia a pena tê-las de forma nítida novamente, mesmo que em um papel.

Em meio àquelas fotos, encontrei uma ou duas onde meu pai estava presente e aquilo me entristeceu um pouco. Agora eu era pai e queria ter o meu perto de mim pra dividir aquela alegria, ainda mais sabendo o quanto ele ansiava por netos. Se antes eu já tinha vontade de procurá-lo, agora essa vontade só aumentara. Mas eu também sabia que ao tomar conhecimento de tudo o que acontecera à Bella desde que a deixei, ele só teria mais raiva de mim. Seria um avô completamente babão e com certeza faria tudo o que Amanda pedisse, mas quanto a mim... Eu tinha medo de jamais ter o perdão de meu pai.

Tive ímpetos de pegar o telefone e ligar pra casa, nem que fosse pra ouvir sua voz. Todas as vezes que eu falava com minha mãe era através de seu celular ou então ela que me ligava, portanto, nem que acidentalmente, tive a oportunidade de ouvi-lo outra vez. Eu sentia falta das histórias que ele contava do tempo que era criança e das coisas que fazia com meu avô. Os dois eram muito unidos e isso passou pra nós. Meu pai era meu herói; aquele cara que eu queria ser exatamente igual quando crescesse. Com a distância entre nós, eu poderia entender como Amanda se sentia... Mesmo que eu tivesse convivido com meu pai durante dezessete anos, perder isso era mais doloroso do que nunca ter chegado a conhecê-lo. Quando se perde alguém por obra do destino é muito mais fácil aceitar do que quando você mesmo faz com que essa pessoa se perca de você.

Um tempo considerável passou enquanto eu fiquei perdido em pensamentos. Só lembrei que eu tinha que comer porque meu estômago me avisou e acabei por esquentar uma lasanha congelada. Notei que meus suprimentos de comida rápida já estavam chegando ao fim e fiz uma lista do que eu precisaria, embora nem eu mesmo soubesse o que comprar. Alice me fazia muita falta nessas horas...

Olhei para o relógio que havia na cozinha; uma e dez da tarde. Quanto tempo mais demoraria? Quando pensei em ligar pra Bella, ouvi a campainha soar. Era ela. Tinha que ser ela.

— Já vai! — gritei — Eu vou... O que eu vou dizer? O que minha filha vai falar? O que eu faço? Ela vai gostar de mim? — murmurei as perguntas pra mim mesmo enquanto ia em direção à porta. Meu coração batendo de forma acelerada, quase saltando do peito. Minha agonia poderia ter um fim assim que eu abrisse aquela porta ou poderia aumentar consideravelmente caso minha filha simplesmente não olhasse na minha cara.

Respirei fundo e abri a porta de vez. Bella estava com uma expressão neutra, difícil saber o que ela pensava naquele momento... Então olhei pra baixo e o que vi, me fez chorar no mesmo instante. Qualquer pessoa que me conhecesse não teria dúvidas quanto ao fato de eu ser pai de Amanda... Seus olhos muito verdes — e bastante assustados naquele momento —, os cabelos ruivos, as sardinhas nas bochechas... Ela era minha cópia.

Creio que assustei mais ainda minha filha quando, sem esperar que elas entrassem em casa, a ergui do chão e a abracei apertado. Eu não tinha como esperar que ela quisesse se aproximar ou por qualquer tipo de formalidade. Muito timidamente, seus pequenos bracinhos se enroscaram em meu pescoço, me apertando. Palavra nenhuma seria suficiente para descrever aquela sensação de estar com minha filha nos braços, mesmo que depois de tanto tempo. Novamente pensei em meu pai, no que ele sentiu quando eu e Alice nascemos ou quando mamãe perdeu o bebê. Queria saber se ele sentiu que seu coração ia explodir, assim como eu sentia o meu. Naquele momento era como se Amanda estivesse nascendo pra mim, mas ao mesmo tempo havia o risco iminente de perdê-la.

— Minha filha... Como é bom te conhecer... — murmurei, ainda abraçado a ela.

— É mesmo? — sua voz saiu abafada e notei que ela chorava.

— Não chora... E é mesmo muito bom te conhecer e saber que eu tenho uma filha bem lindona.

Acho que falei um pouco alto demais e ouvi a risada de Bella.

— Será que agora podemos entrar?

Só então atentei para o mundo ao redor. Ainda estávamos parados em frente à porta aberta, Bella do lado de fora e eu quase saindo. Ouvi o riso baixo de Amanda e sorri com aquilo. Mesmo estando ali, com ela em meus braços, tudo me parecia irreal. Ainda era preciso qualquer tipo de confirmação para que meu cérebro aceitasse o que estava acontecendo... Bella quase me empurrou casa a dentro e eu não queria desgrudar de Amanda.

Já acomodados no sofá, deixei que minha filha decidisse o que fazer; se continuaria ali, grudada em mim, ou se acharia melhor sentar ao meu lado e confesso que não pude deixar de ficar feliz quando ela não se afastou.

— E então, querem ficar sozinhos ou eu posso continuar por aqui? — perguntou Bella, vendo que estávamos tão perdidos em nós mesmos que nem nos dávamos conta do que acontecia.

— Não vai não, mamãe... Agora parece até que eu tenho uma família de verdade.

Eu e Bella suspiramos ao mesmo tempo e, com certeza, pelo mesmo motivo.

— Você tem uma família de verdade. — disse Bella, visivelmente desconfortável — Quando você for maior, vai entender tudo o que aconteceu, meu amor.

— Mas você já me contou tudo e eu já entendi. — replicou Amanda, muito distraída em bagunçar — mais — meu cabelo pra se dar conta de alguma coisa.

Aquele poderia não ser o melhor momento, mas só tinha aquele. Amanda sabia dos motivos que me levaram a deixar Bella, por mais que não fossem os reais motivos. Também não era culpa de Bella ter contado; era aquilo que eu queria que ela pensasse, portanto, nada mais justo do que ela saber da verdade. Claro que não tão detalhada, mas saberia.

— Não meu amor. — comecei e Bella me olhou um tanto incrédula — Eu tenho uma irmã que é... Digamos... Doida. — procurei usar palavras que ela entendesse, mesmo sem saber se eu mesmo conseguiria fazer aquilo...

— Doida? É minha tia Alice? — eu até ri disso. Bella não escondeu nada mesmo...

— Não meu bem. É Rosalie. Mas ela não é doida como Alice. Digamos que Alice é uma doida boazinha.

— A mamãe disse que a tia Rosalie não gostava dela porque ela era pobre...

Eu esperava sinceramente que aquela fosse a primeira e a última conversa séria que eu teria com minha filha... Isso era complicado. Muito complicado...

— Isso também acontecia... Mas o problema todo era que Rosalie ficava com muita raiva e eu fiquei com medo de que ela fizesse algo com sua mãe. Então eu fui embora com minha família pra que ela pudesse se tratar.

— Ah! Você foi embora pra potregê a mamãe! Igual meu padrinho diz que vai fazer sempre comigo.

Bella riu da forma simples como Amanda conseguia interpretar as coisas e eu fiquei orgulhoso e com um sorriso enorme por saber que tinha uma filha esperta.

— É, mas não é “potregê”. O certo é proteger. — Bella corrigiu e Amanda fez um bico — igual ao meu.

— Ah, mãe! Eu tô de férias...

Férias? Isso era bom! Eu teria mais tempo de ficar com minha filha, de conhecê-la... E Bella poderia deixá-la comigo enquanto ia trabalhar...

— Você sabia que faz um bico igual ao meu? — falei e ela riu; os olhos brilhando.

— É Edward... Você ainda não viu nada... — Bella falou e fiquei curioso — O bico é igual, o olhar atravessado, o sorriso torto... É também voluntariosa... Tem a mesma mania que você, de dormir com a mão sob o travesseiro... Ou seja; é um Edward de saias.

A cada mínima coisa nova que eu descobria sobre Amanda, eu ficava mais encantado, mais babão... Era incrível o fato de ela ter alguns hábitos meus mesmo sem que tivesse convivido comigo antes. Era bem verdade que eu estava meio sem saber como agir, mas eu esperava ter tempo suficiente pra que nos acostumássemos um com o outro.

Por alguns minutos, ficamos em silêncio, apenas nos observando. De vez em quando Amanda ria quando eu quase a esmagava em um abraço ou enchia seu rosto de beijos. Bella observava tudo em silêncio, mas com os olhos brilhando. Eu sentia que para ela, aquele encontro estava meio que fazendo com que ela se redimisse de uma culpa que não tinha. Tanto havia o que se conversar ainda...

Me perdi em minha filha, ouvindo suas várias perguntas sobre os avós e as tias. O fato de Bella ter mostrado algumas fotos não me espantou, afinal, Amanda sabia quem eu era e não faria sentido esconder os outros. Ela se mostrou empolgada quando eu falei de meus pais e deixou claro seu desejo de conhecê-los e eu fiquei sem saber o que falar. Como eu faria aquilo? Como eu pediria ao meu pai, depois de tanto tempo, que fingisse nada ter acontecido e que viesse conhecer a neta? Mesmo sem saber como, eu faria... Minha filha já perdera muito e eu faria o que fosse possível pra que ela tivesse algo o mais próximo possível de família. Mesmo que para isso fosse preciso enfrentar meu pai.

Nossa conversa foi interrompida pelo toque do telefone de Bella, que me deixou curioso ao se afastar para atender. Talvez fosse... Não, eu não queria nem pensar naquela mínima possibilidade... Por mais que fosse o certo, eu jamais ficaria feliz por ela estar com alguém... Eu era egoísta sim. Acho que minha curiosidade foi tão grande, que Amanda chamou minha atenção tocando em meu rosto. Sua expressão era hesitante e o que vi me fez ficar maravilhado; ela estava mordendo o lábio, assim como Bella fazia quando queria perguntar algo, mas hesitava.

— O que foi princesa? Quer me perguntar alguma coisa? — questionei e ela apenas assentiu — Pode perguntar o que quiser meu amor.

— Eu posso te chamar de papai?

Um enorme sorriso se formou em meu rosto. Era tudo o que eu mais queria; ser chamado de pai!

— Claro que pode! E fico muito feliz com isso, mas só se você quiser me chamar assim. Não se sinta obrigada a isso.

— Eu quero! — sorrimos juntos, mas logo sua expressão tornou-se confusa — Você me ama mesmo? Igual a mamãe me ama?

— Amo. Quando sua mãe me contou sobre você eu pensei que ia morrer de tanta felicidade. Meu coração batia muito rápido, eu queria gritar e sair correndo pra te ver... Desde aquele dia que eu te amo tanto!

Amanda se atirou em meus braços e repousou a cabeça em meu ombro. Eu a abracei apertado e repeti que a amava.

— Eu também te amo papai. Igual eu amo a mamãe.

Ouvir aquilo me deixou em êxtase. Era muita felicidade pra uma pessoa só. Uma felicidade que eu sabia não merecer, mas que agradecia. Contrariando todas as possibilidades possíveis, ali estava minha filha, em meus braços, dizendo que me amava.  Se tudo o que antecedeu àquele momento não tivesse sido tão difícil, eu diria que seria capaz de fazer tudo de novo, apenas para ouvir novamente suas palavras.

Eu nunca saberia expressar o que sentia estando com minha filha tão perto de mim era uma emoção sem tamanho, uma sensação de acerto, de que algo estava no lugar. Não tudo, mas alguma coisa estava. E o acerto era finalmente poder assumir meu papel de pai, de estar presente na vida de minha filha, poder fazer tudo o que um pai faria... E, quando suas férias acabassem, eu a levaria à escola e depois a buscaria; como deveria ter feito muitas e muitas vezes.

Claro que eu estava muito curioso com o telefonema que Bella recebera, mas não podia ficar pensando naquilo e decidi levar Amanda pra conhecer a casa. Com Bella não foi preciso, ela conhecia cada cantinho, mas Amanda... Tudo era novo pra mim.

— A mamãe não vem? — perguntou ela, assim que chegamos ao último degrau da escada.

— Depois ela encontra a gente.  — ela sorriu e concordou com a cabeça — Então, que tal a gente bagunçar um pouco o quarto da sua tia Alice?

Sem esperar sua resposta, abri a porta do quarto e Amanda imediatamente se dirigiu a uma enorme foto de Alice, que ficava em uma das paredes. Seu olhar era de admiração.

— Ela é tão bonita!

— É sim. Sabia que ela trabalha com moda? Faz desenhos de roupas.

— Minha mãe me contou e eu vi algumas fotos dela na internet.

Internet? Na minha época, com oito anos, eu via desenhos e brincava com Alice! Eu estava velho ou as crianças estavam evoluindo rápido demais? Acho que eu estava começando a perceber que Amanda não era um bebê...

— Será que ela vai gostar de mim? — Amanda veio em minha direção com aqueles olhos grandes e brilhantes cheios de expectativas.

— É claro que vai. Todos vão gostar muito de você, não se preocupe.

A guiei pra fora do quarto e segui para um que estava vazio. Aquele era o antigo quarto de Rosalie, mas que eu fiz questão de deixar vazio, já que não tinha a mínima intenção de morar debaixo do mesmo teto que ela novamente. E aquele seria o quarto de Amanda. Tudo bem que era um perigo deixá-la tão perto de Alice, mas era o único mais perto do meu.

— Tá vazio. — disse ela, meio confusa.

— Eu sei. O que você acha de pensar numa decoração bem legal pra ele?

— Eu?

— É. Agora esse quarto é seu e pode decorar do jeito que quiser.

— Vou ter um quarto aqui? E se minha mãe não deixar? Quando você for embora eu vou poder dormir aqui também?

Respirei fundo. Agora eu tinha que convencer minha filha de que não a deixaria... Fomos para meu quarto enquanto eu pensava numa forma de falar com ela, de explicar que eu não iria embora e que estaria a seu lado. Amanda sentou-se em minha cama e eu me abaixei a sua frente, olhando em seus olhos.

— Eu não vou embora. Vim pra Forks só para tirar férias, mas não posso ir embora e te deixar aqui.

— Não vai? Eu vou te ver todo dia?

— Sempre que quiser. Eu prometo que nunca mais vou ficar longe de você.

Uma lágrima escapou de seus olhos e tratei logo de secá-la. Mas eu sabia que ela não estava triste.

— Não chora... Eu prometo que vou ser um pai bem legal, mas nada de garotos!

— Tá bom... Meu padrinho diz que eu não vou poder casar até ficar bem velhinha.

— E eu concordo com ele!

Acabamos rindo e depois eu peguei um bloco de desenhos, que eu mantinha sempre por perto. Alice poderia ter talento pra desenhar roupas, mas eu também sabia fazer meus rabiscos, que ficavam muitos bons, por sinal. Me deitei de bruços na cama e Amanda me acompanhou; muito interessada no que eu ia fazer. Sem elaborar muito, fiz um esboço do quarto e passamos a discutir a disposição dos móveis, as cores...

— Posso ter uma foto igual aquela da minha tia Alice? — perguntou Amanda, um tanto ansiosa.

Só acenei positivamente e voltei ao desenho, dispondo tudo da forma que ela queria.

— Posso saber o que se passa? — a voz de Bella nos interrompeu e Amanda a chamou com um gesto.

— Vem! Meu papai está desenhando meu quarto! Vai ficar lindo!

Ia mesmo... Se fosse pra um menino... Amanda queria papel de parede com carros de corrida...

— Que bom! Aposto que está a cópia do seu lá em casa e o da casa de Ângela.

Elas riram e só desviei minha atenção do desenho quando senti a cama afundar. Bella estava ao lado de Amanda, sua expressão era calma e eu poderia dizer até que estava feliz. Talvez fosse obra daquele telefonema...

— Sabia que meu pai vai morar aqui? E que eu vou poder dormir aqui? E que...

— Ei! Calma! — Bella a interrompeu — Sabia que a gente deve respirar entre as frases?

— Eu sei, mas parece que as formigas estão andando em mim outra vez.

— Hein? — me meti na conversa.

Bella me olhou como se eu fosse um idiota ou tivesse problemas de aprendizado. Eu perdi alguma coisa ou era impressão minha?

— Ela só está feliz, Edward.

— Ah!

Parei um momento e me sentei. Quem olhasse a cena de fora imaginaria que aquela era uma família feliz, mas a realidade era outra... Não que eu não quisesse uma família como aquelas de comercial de margarina, mas o fato era que, mesmo se eu e Bella um dia viéssemos a ficar juntos — e esse era meu maior desejo —, jamais seríamos plenamente felizes; não por eu acreditar em contos de fadas e querer o “felizes para sempre”, e sim por saber que tudo o que nos aconteceu jamais se apagaria de nossas lembranças e sempre se fariam presentes. O peso, por mais leve que estivesse com o passar dos anos, continuaria ali.

Bella chamou minha atenção e disse que queria falar comigo por um momento. E agora, o que seria? Deixei Amanda em meu quarto e segui com Bella para o corredor. Sua calma me deixava nervoso.

— Vou precisar ir até em casa, Edward. Posso voltar depois e buscar Amanda ou prefere que eu a leve logo?

— Levar? Eu pensei que ela ia ficar aqui hoje.

Uma expressão de surpresa surgiu no rosto de Bella e eu queria saber o motivo... Será que ela esperava mesmo que eu fosse querer ficar longe de Amanda? Talvez ela não tivesse levado a sério minhas palavras...

— Bom, eu não pensei que fosse querer que ela ficasse aqui... Pelo menos não por agora.

— Já perdi tempo demais. — confesso que soei um tanto rude e sabia que colocar a culpa no ciúme que eu estava sentindo era completamente infantil e inaceitável, mas não era algo que eu podia controlar. Não naquele momento.

— Tudo bem. Vou falar com Amanda e depois eu passo aqui pra trazer algumas roupas.

Apenas indiquei o quarto com a mão, como se dissesse pra que ela ficasse à vontade. Bella ainda me olhou, talvez buscando alguma resposta para minha atitude, mas creio que nada conseguiu encontrar.

Tentei não pensar no que ela ia fazer em casa, quem a estava esperando ou o que disse ao telefone, mas minha imaginação ia longe... Cenas e mais cenas dela, deles... Se é que existia um “eles”. Talvez ela já me tivesse dito que não, mas naquele momento não me importava...  Sem me dar conta do que fazia, acabei chegando até a sala e parei em frente à janela. Eu queria ter coragem suficiente para perguntar com quem ela falou ao celular e acabar de vez com aquela agonia, contudo, esse não era um direito que eu tinha e teria que controlar minhas atitudes, para que não colocasse tudo a perder de vez... Se bem que nem havia um “algo”, quanto mais um “tudo”.

— Edward? — Bella me chamou e relutei em encará-la e ver seus olhos brilhando por conta do encontro iminente que ela teria — Já falei com Amanda e como eu disse antes, mais tarde venho trazer algumas peças de roupas; a que tem na bolsa dela não é confortável.

Apenas concordei com a cabeça, ainda sem encará-la. Aquilo era ridículo, mas incontrolável.

— Algum problema? — ela insistiu. Respirei fundo, tentei me controlar e finalmente me virei em sua direção.

— Nenhum. — sorri fracamente — Bom, talvez alguma preocupação com relação à minha falta de alimentos em casa, mas nada que uma ida ao supermercado não resolva.

— Ah, sim. Eu estava mesmo precisando fazer compras. Podemos nos encontrar no supermercado mais tarde; Amanda adora andar dentro do carrinho.

— Claro. É só dizer a hora. — e eu queria saber se ela levaria alguém com ela...

— Quando eu chegar em casa, te ligo e aviso.

Mais um aceno em concordância.

— Caso aconteça algo, me ligue na mesma hora. — disse ela, se dirigindo à porta.

— Tudo bem.

Ela se foi e eu voltei ao quarto. Amanda estava em minha cama, fitando o teto. Me deitei ao seu lado, vendo seu rosto se iluminar com um sorriso.

— A mamãe disse que você quer que eu fique aqui hoje. — comentou ela e seu tom era casual. Não propositalmente.

— Eu quero, mas só se você quiser. Se não quiser ficar aqui, posso te levar pra casa.

— Não... Eu já dormi muito com a mamãe e com a minha madrinha... Eu nunca dormi com meu papai. Quero dormir aqui.

— Aqui? Na minha cama? Ah! Mas a senhorita não vai me jogar pra fora da cama não né?

— Não! — ela respondeu, rindo da minha cara — Mas a mamãe diz que eu durmo bem quietinha, só que falo às vezes.

E ela falava enquanto dormia... Apesar de ser muito parecida comigo e ter algumas manias, Bella estava mais presente do que eu poderia supor... Talvez nem ela mesma soubesse dessas manias... Eu pelo menos, nunca comentei que ela falava enquanto dormia...

Passamos o resto da tarde vendo desenhos que eu nem sabia que existia, mas que me foram úteis no processo de “tentar não pensar no que Bella estaria fazendo àquela hora”. Bom, nem tão úteis, mas me ajudaram a não surtar e bater na porta dela. Eu estava era meio perdido com tudo aquilo... Saber que é pai é bem diferente de ter seu filho ali, na sua frente, saber que agora é responsável por uma vida e que deve cuidar e proteger essa pessoa com sua própria vida se necessário. Por vezes, enquanto Amanda via o desenho, eu apenas a observava, pensando em como seria ver seu rostinho pela primeira vez, ainda bebê... Por vezes a pegava me olhando também, com um meio sorriso no canto dos lábios rosados e eu apenas sorria de volta, tendo a certeza de que aquilo era mesmo real.

Fizemos um lanche e até que consegui não quebrar nada e nem me queimar. Isso era realmente um milagre. Disfarçadamente eu observava o relógio, contando os segundos, que se transformavam rapidamente em minutos, aumentando assim minha agonia. Já era noite, Bella não ligara e eu já havia desistido da ideia de ir ao supermercado. Só o que me restava era esperar Bella voltar, mal encará-la, fingir que tudo estava bem pra mim e sorrir. Não que eu não estivesse feliz. Eu estava. E muito. Mas esse era o lado pai. O lado homem estava se roendo de ciúmes, de vontade de procurar quem quer que fosse e dizer que eu lutaria pra ter minha mulher de volta, que não desistiria dela tão fácil... E isso era errado. Mas só isso me restava.

Amanda trocou seu vestido cheio de babados por outro vestido, mas mesmo assim dizia que estava incomodando. Queria ligar pra mãe e pedir que levasse logo suas roupas, mas eu — fingindo uma falsa naturalidade — pedi que ela esperasse, pois Bella estava ocupada. Talvez no dia seguinte Amanda já quisesse ir embora e pedir pra nunca mais me ver; não desgrudei dela um segundo que fosse e com certeza aquilo deveria ser meio chato.

Eu mais parecia um investigador... Fiz tantas perguntas e respondi a tantas outras que parecia que eu não teria mais nada o que saber sobre ela. E fiquei muito curioso quando ela disse que tinha uma surpresa pra mim, mas que eu teria que esperar um pouco... Logo eu, que era um tanto curioso... Mas eu estava feliz, querendo ligar pra minha mãe e contar logo sobre Amanda, contar pra Alice, meu pai... E teria que preparar as duas, Amanda e Bella, para um possível ataque de Rosalie, que com certeza ficaria sabendo.

— Eu acho que a mamãe não vem mais. — comentou Amanda, desviando sua atenção da televisão.

— Sou muito chato, não é?

— Não... Mas é que a mamãe disse que ia ligar e que depois voltava...

Medo. Era esse sentimento que minha filha tinha. Medo que sua mãe a deixasse, medo que não a quisesse mais. Fiquei péssimo com aquilo. Se eu estivesse ao lado dela desde sempre, agora ela não precisaria passar por esse tipo de coisa; saberia que, por mais que eu ou a mãe demorássemos a chegar, sempre voltaríamos pra ela.

Mesmo não gostando da ideia, decidi ligar e saber se ela ainda demoraria muito, mas nem cheguei perto do telefone quando a campainha tocou. Amanda deu um pulo do sofá e perguntou se poderia abrir a porta. Bella surgiu cheia de sacolas e com uma expressão cansada. Mas é claro que estaria... Ela esteve ocupada por toda a tarde e parte da noite...

— Será que eu mereço ajuda ou vou ter que carregar tudo isso até a cozinha? — perguntou ela, dando um meio sorriso.

Peguei as sacolas de suas mãos e Amanda pegou uma mochila, que pelos desenhos, era dela. As duas me seguiram em silêncio. Um silêncio quase incômodo, que eu não ousei quebrar. Bella, notando o ar pesado, creio eu, pediu que Amanda subisse para trocar de roupa, mas pelo olhar desconfiado de minha filha, nem ela acreditou naquilo...

— E então? Vai dizer o que está acontecendo ou vou ter que esperar sua boa vontade de contar? — inquiriu Bella, um tanto brava.

— Contar o quê? Que estou feliz por finalmente conhecer minha filha? — desviei do assunto e fingi interesse em tudo o que ela retirava das sacolas.

— Tudo bem Edward. É um direito seu não me contar o que quer que seja; só perguntei por achar que talvez pudesse ajudar em algo. — ela deu um sorriso forçado — Eu trouxe algumas coisas lá de casa.

— Não precisava, mas obrigado.

Novamente o silêncio. Bella arrumou todas as vasilhas que retirou das sacolas, me pediu alguns ingredientes e disse que ia fazer um bolo. Aquilo estava me irritando. Ela estava agindo como uma empregada enquanto eu estava a ponto de explodir com tudo aquilo. Quando pensei em levantar e falar alguma coisa, ela se virou em minha direção e tinha uma expressão tão doce que me senti um idiota. O rumo dos meus pensamentos mudou completamente. Aquela era a imagem que eu sempre tive de Bella; nós dois em nossa casa, com nossos filhos. E era quase isso o que acontecia.

Fui deixado sozinho, pois ela disse que ia prender os cabelos e depois ia atrás de Amanda, que já estava demorando a voltar. Realmente não me importei. Não me importei porque ela estava ali. Estava perto de mim. E, por mais incrível que fosse; eu sentia que ela estava diferente. De repente, toda aquela história de ciúmes me pareceu ridícula e acabei rindo disso. O que eu faria? Contaria a ela sobre o que pensei e com certeza ela ficaria muito, muito brava...


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Notas finais do capítulo

Por hj é só!
E lembrem-se: Se for dirigir, não beba e se for beber, me chame!
Beijos!