O Peso De Uma Mentira escrita por Arline


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Cá estou com mais um cap pra vocês! (bêbada, mas estou)
Lembrem-se que são seis horas da matina, que eu ainda não dormi e que estou cumprindo com minha promessa, então; sejam boazinhas e deixem reviews!
Se chegarmos aos 270 tem cap extra e vcs ficam sabendo mais rápido como será o encontro da Amanda com o Ed... (e ainda param de me ameaçar de morte)
LEITORAS NOVAS (E COMO EU GOSTO DISSO...) SEJAM BEM VINDAS!
Ao cap e depois, às notas finais!



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CAPÍTULO 13

POV BELLA

“Acho que chegou o momento de te contar tudo o que me levou a te deixar.” A frase de Edward ecoava em minha mente enquanto eu tentava entender tudo aquilo. Por alguns instantes ele me deixou sozinha e deixei que meu corpo tombasse sobre o sofá enquanto eu tentava me recuperar de uma quase catatonia. Como, depois de tudo o que houve, ele queria que eu acreditasse que suas verdades eram mentiras? Como, depois de todos esses anos e depois de tudo o que passei, ele queria que eu acreditasse que na verdade ele não me deixara por conta de um sonho? Simplesmente não dava...

Agora eu não era mais aquela garota idiota que acreditava em tudo o que me era dito. Por mais que aquela não fosse a primeira vez que Edward falava sobre “contar tudo”, eu ainda não sabia se queria ouvir o que era esse “tudo” a que ele se referia. A única certeza que eu tinha com relação a tudo aquilo era que no fim, nada do que me fosse dito mudaria o passado e nada do que vivi até aquele momento.

Assim que Edward retornou, tentei manter a calma e realmente me dispus a ouvi-lo, mas isso não queria dizer que eu acreditaria nele. Assim como eu, ele aparentava certo nervosismo, uma vez que a cada segundo, ele passava as mãos pelos cabelos, deixando-os ainda mais desalinhados.

— A conversa deve demorar um pouco. Não é melhor ligar e avisar à nossa filha que você vai demorar? — perguntou ele, me estendendo o telefone.

Surpreendi-me por ele pensar em nossa filha daquela forma. Não que eu também não estivesse pensando, mas o nervosismo era tanto que realmente não pensei em avisar nada. Aceitei o telefone e liguei para Ângela; contando por alto onde eu estava e que demoraria. Claro que ela disse algumas gracinhas que não me alegraram nem um pouco. Não pude falar com minha filha porque ela havia ido ao mercado com Ben para comprar algumas guloseimas. Bom, minha filha não dormiria comigo naquela noite.

— Pronto. — comuniquei e lhe estendi o telefone.

— Quer beber algo? Está com fome?

— Estou bem, não quero nada.

Aquela não era a verdade. Eu queria estar em casa, vendo algum desenho com minha filha e sem me preocupar com o que viria a seguir. Pela primeira vez na vida eu queria fugir de meus problemas. Ou, nesse caso, dos problemas de outra pessoa.

— Ok. Como sempre disse meu pai; vou começar do começo.

POV EDWARD

Agora não mais havia pra onde ou de quê fugir. Agora era contar tudo e esperar a reação dela, que com certeza não seria animadora. Antes de contar tudo, montei todo aquele quebra-cabeça em minha mente, tentando não esquecer nenhuma peça importante. Seria difícil para nós dois, mas necessário.

— Quando eu e Alice já estávamos com um ano de idade, minha mãe descobriu que estava grávida novamente, mas sua gestação era de risco e tanto ela quanto o bebê corriam risco de morrer quando chegasse a hora do parto. O médico aconselhou um aborto, mas meus pais foram contra e decidiram levar a gestação à diante. Aos sete meses de gestação minha mãe entrou em trabalho de parto e o bebê acabou não resistindo. — respirei fundo, tentando relembrar cada palavra que me havia sido contada — Minha mãe ainda passou mais um mês no hospital; quinze dias em coma e quinze dias se recuperando de tudo aquilo.

“Quando enfim voltou pra casa, ela não aceitava ver o quarto que preparara com tanto carinho vazio e disse ao meu pai que queria uma criança ali. No começo ele não levou a sério; pensou que era uma depressão, uma reação ao fato de ter perdido a filha. Alguns meses depois ele cedeu e foram até um orfanato com a intenção de adotarem uma criança. Minha mãe já havia desistido da ideia de querer um bebê, mas ao chegarem lá, viram Rosalie. A mãe dela havia morrido no parto e o pai era desconhecido. Tendo aquilo como um sinal de Deus, minha mãe resolveu adotá-la.”

“Na verdade, o nome que deram a ela no orfanato era Elizabeth, o nome de sua mãe, mas meus pais quiseram colocar como primeiro nome aquele que seria o nome de minha irmã, caso ela tivesse sobrevivido. — parei novamente, tomando fôlego e observando a expressão um tanto chocada de Bella. Como não houve nenhum questionamento por parte dela, voltei a falar — Até hoje Rosalie não sabe que é adotada e nunca a tratamos de forma diferente por isso. Primeiro porque eu e Alice éramos muito pequenos quando tudo aconteceu e depois... Ela era a filha que meus pais haviam perdido. Não havia motivos para ser diferente.”

“Quando eu já estava com quinze anos meus pais resolveram mudar de Nova York para Londres e foi lá que tudo começou a desandar entre mim e Rosalie. Ela sempre foi muito focada em futilidades e gostava de humilar as pessoas que não tinham condições financeiras. Sua pose sempre foi muito altiva, olhava as pessoas como se todos fossem inferiores a ela e eu nunca aceitei esse comportamento.”

“Mesmo conversando e tentando mostrar a ela que todas as pessoas são iguais, nada adiantou, muito pelo contrário; tudo parecia piorar gradativamente. Na escola onde estudávamos havia uma menina bolsista. Sua família trabalhava para os donos do colégio e eles pagavam seus estudos. Como Alice não pode ver ninguém quieto por muito tempo, logo começou a puxar assunto com a menina e aos poucos nos tornamos amigos. Frequentar nossa casa era algo constante e Rosalie até se dava bem com ela, mas ao descobrir que sua até então amiga não era rica, ela humilhou a menina publicamente acusando-a de se aproximar de mim — e ela frisou bem isso — apenas para “se dar bem””.

Parei de falar quando vi que Bella queria dizer algo e esperei o tempo dela. O que quer que ela estivesse pensando, nem chegaria perto da realidade...

— Ninguém pensou em contar a ela de onde veio? Ninguém quis mostrar a ela sua própria realidade? — inquiriu Bella e vi que ela realmente estava empenhada em me ouvir, por mais que eu soubesse que não acreditaria no que eu ainda contaria.

— Eu pensei e muito nisso, mas meus pais pediram que eu não o fizesse.

— Quanto a ser adotada eu não sabia mesmo, mas o fato de não suportar pessoas de classe inferior já era de meu conhecimento... — comentou ela, meio perdida em pensamentos.

— Bella, as coisas que ela te disse nem se comparam ao que fez a outras pessoas... Sei que não foi fácil pra você ouvir tudo aquilo, mas imagine ser acusado injustamente de roubo? Rosalie fez isso com o filho de um jardineiro que tivemos e isso pelo simples fato de achar que o menino estava interessado nela.

— Isso me parece meio doentio. E acho mesmo que ela deveria saber de onde vem.

— Sim, eu também acho, mas não cabe a mim contar. Quando meus pais acharem necessário, eles dirão a verdade. Continuando. — mais uma vez respirei fundo — Um ano após tudo isso, achamos que tudo havia entrado nos eixos e não nos preocupamos mais. Ainda na escola, conheci uma menina e Alice quis saber se eu não contaria aos nossos pais. Por dois motivos decidi não contar; primeiro eu não amava a menina. Era coisa de adolescente e eu sabia que por mim não iríamos longe com aquilo e segundo; eu não queria mais uma cena de Rosalie.

“Ela passou a ser muito ciumenta, dizia que todas as meninas se aproximavam de mim apenas para tentar dar o golpe, desconfiava de todos, mas o foco era sempre eu. Até que demorou pra ela descobrir sobre a menina, mas quando descobriu foi pior do que eu esperava. Pela manhã, quando chegamos à escola, recebemos a notícia de que Claire, a menina com quem eu tinha alguma coisa, estava em um hospital. Disseram que fora vítima de um assalto na noite anterior e fomos vê-la assim que nossas aulas acabaram.”

“A situação era pior do que um assalto violento. Claire fora espancada e estuprada. Seu corpo estava cheio de curativos... Como se tudo o que fizeram não bastasse, ainda usaram um canivete para fazerem pequenos cortes. Em nada Claire poderia ajudar, uma vez que fora atacada pelas costas e vendada. Quem fez aquilo foi muito cuidadoso e sádico. Antes de largá-la à beira da estrada deram banho nela e não deixaram qualquer vestígio que pudesse levar ao ou aos culpados.”

Bella me olhava horrorizada, talvez não querendo acreditar no que eu estava querendo dizer. Realmente era melhor deixar que ela chegasse à conclusão do que dizer com todas as leras.

— Por favor, não me diga que acha que foi Rosalie quem mandou fazer aquilo... É doentio! E pelo que me diz, ela tinha o quê? Quinze? Dezesseis anos? Isso é loucura, Edward!

— Sim. Quando chegamos em casa e contamos o que havia acontecido, o comentário dela foi: “É isso o que dá ser uma vadia caça-dotes. Mais dia menos dia, algo assim poderia mesmo acontecer e o dia dela chegou.” Eu e Alice compreendemos na hora o motivo daquelas palavras, mas meus pais levaram aquilo como um comentário infeliz.

Deixei que o silêncio tomasse conta do lugar naquela hora. Eu queria mesmo um tempo pra digerir todas aquelas lembranças e era preciso que Bella compreendesse a gravidade dos acontecimentos.

A deixei com seus pensamentos e fui até a cozinha em busca de água. Quando retornei, levando comigo um copo de água pra ela, sua expressão continuava horrorizada, consternada. Mas era preciso tudo aquilo pra que ela me compreendesse. Estendi o copo em sua direção e ela nem hesitou ao pegá-lo e beber tudo quase de uma vez. Eu queria que nada daquilo fosse necessário, mas infelizmente era.

— Ainda não consigo acreditar em tudo o que ouvi. Não consigo acreditar que Rosalie tenha sido capaz de uma monstruosidade como aquela...

— Também não quis acreditar, mas é verdade. Depois disso meu relacionamento com ela praticamente deixou de existir e meus pais me acusaram de estar rejeitando-a depois de todo aquele tempo. Alice também se mantinha distante, mas sempre estava atenta a qualquer movimento que Rosalie fazia. Percebi que na escola ela estava sempre à espreita, querendo saber se eu estava com alguém... Sentia-me vigiado, sufocado com sua atitude, mas nada podia falar aos meus pais.

“Quando viemos pra Forks achei que as coisas se acalmariam, que Rosalie teria contato com pessoas simples e acabaria entendendo que nada se resumia a dinheiro. Esperei também que ela encontrasse um namorado, alguém com quem se preocupar e me deixasse em paz, mas me enganei. Aqui Rosalie se isolou mais ainda, não procurava se aproximar de ninguém e dizia que aqui era o pior lugar que poderia existir pra que eu morasse. Como sempre, não dei atenção ao que ela dizia e fui viver minha vida.”

“Naquele primeiro dia em que te vi; meu mundo já meio conturbado se transformou numa loucura. Alice deu gritos e mais gritos quando eu disse que estava apaixonado pela primeira vez e quase me obrigou a me tornar seu amigo — sorri ao me lembrar das loucuras de Alice e Bella deu um quase sorriso —, me aproximar... Claro que isso nem me passou pela cabeça... Pensei que você era uma daquelas líderes de torcida esnobes que namorava o capitão do time de futebol e que haveria uma fila de adolescentes espinhentos babando atrás de você.”

Dessa vez ela riu mesmo. Eu senti falta daquele sorriso... Para não perder o foco do que eu dizia, fitei o copo que estava sobre a mesinha e reorganizei meus pensamentos. As coisas ainda não tinham acabado...

— Disso eu não sabia... Eu sendo líder de torcida? Só saindo da sua cabeça mesmo... Não consigo nem andar de salto, quanto mais fazer acrobacias... Muito menos havia uma fila de adolescentes atrás de mim... Sempre fui o patinho feio da Forks High.

— Não tenho culpa se todos eram cegos. Mas acontece que eu estava mesmo apaixonado por você então decidi que deixaria de ser um idiota e comecei a me aproximar, deixando Alice feliz e não mais gritando em meus ouvidos, me chamando de idiota.

“Quando passamos a andar juntos pra cima e pra baixo cheguei a me preocupar com Rosalie e com o que ela poderia vir a fazer; por isso perdi tanto tempo até te pedir em namoro. A necessidade de estar ao seu lado era maior do que qualquer receio que eu poderia ter e contei à Alice que te pediria em namoro naquele dia em que marcamos o piquenique. No dia em que contamos aos meus pais e Rosalie se descontrolou, eu soube que nada seria fácil. Apenas Alice sabe o que aconteceu naquela noite, após estarmos sozinhos... E agora você vai saber também.”

Bella respirou fundo e fitou o chão, não me deixando saber o que passava por seus olhos. Agora viria a parte mais difícil, eu sabia. Como se não bastasse tê-la feito sofrer anos atrás, agora a faria reviver tudo aquilo novamente. Também respirei fundo, tentando controlar as emoções e lembranças que vinham com força total.

— Você está bem? — perguntei ao ver o corpo de Bella estremecer levemente.

Como não obtive resposta, levantei e me sentei ao seu lado, abraçando-a meio desajeitadamente. Ela chorava baixinho, me deixando péssimo com tudo aquilo.

— Me desculpe por isso, meu amor. Me desculpe por estar te fazendo sofrer outra vez, mas te contar é necessário pra que entenda tudo... — minha voz quase não saiu e, por mais que eu quisesse parar com tudo aquilo, ainda não era o momento. Ela tinha que saber.

Ficamos daquela forma por alguns minutos, cada um imerso em seus pensamentos e lembranças. Naquele momento Bella mais parecia uma criança indefesa e não ofereceu resistência quando a apertei mais contra mim. Encostei-me  no sofá e a cabeça de Bella repousava sobre meu peito, seu choro se acalmando aos poucos. Levei uma de minhas mãos até seus cabelos, enrolando meus dedos entre eles como eu gostava de fazer.

— Continue. — a voz dela soou embargada, mas eu continuaria sim. Aquela seria a primeira e última vez que toda aquela história seria contada por mim.

— Quando fui para meu quarto Rosalie estava lá e notei seu estado alterado. Pedi que ela saísse, mas não adiantou. Num momento de distração ela se lançou sobre mim e tentou me beijar, disse que me amava, que seria capaz de qualquer coisa por mim, inclusive matar se fosse preciso. Alice já havia desconfiado de algo assim, mas nunca levei a sério...

“Vendo que eu não correspondia e ainda a afastava, ela se descontrolou mais. Chorava dizendo que você era a culpada por eu não poder ficar com ela e arquitetou um plano mirabolante em questão de segundos... Seu plano era fugirmos para um lugar distante e ficarmos juntos. Disse que não se importava com o fato de sermos irmãos e nem com o que nossos pais pensariam. — um suspiro escapou dos lábios de Bella, mas resolvi continuar — Por mais de uma vez eu disse a ela que te amava e que ela deveria sair e conhecer pessoas, que aquele sentimento que ela dizia ter por mim era fantasia, que passaria assim que encontrasse um namorado, mas ela foi categórica ao dizer que só queria a mim e que se não pudesse ficar comigo você também não ficaria.”

“No dia seguinte contei à Alice e ela me aconselhou a contar a nossos pais, mas eu sabia que eles não acreditariam em nada do que eu dissesse. Uma semana depois eu estava no quarto de Alice contando a ela que assim que terminássemos o colégio eu te pediria em casamento e Rosalie ouviu... Sua reação foi tão violenta que foi necessário alguns safanões dados por Alice pra que ela parasse de gritar.”

“Depois disso a situação foi se complicando a cada dia... Cheguei a pegá-la nua em minha cama e minha vontade era pegá-la pelos cabelos e jogar em um hospital psiquiátrico... Alice achou melhor que eu conversasse com você e fingíssemos que o namoro havia acabado, mas não concordei. Não havia motivos para esconder nada e eu não cederia às loucuras de Rosalie.”

“Certo dia, quando cheguei depois de te deixar em casa, encontrei Rosalie em meu quarto com uma tesoura na mão. Ela destruiu o travesseiro no qual você havia deitado pelo simples fato de estar com seu cheiro. Ela fez ameaças dizendo que seria muito triste para seus pais perder a filha, dizia que não demoraria até que lêssemos na manchete do jornal que você estava morta, que fazia questão de que você sofresse muito...”

As lágrimas me impediram de continuar. Relembrar tudo o que Rosalie me havia dito não era fácil... Só de relembrar o que ela havia mandado fazer com Claire, meu corpo estremecia.

— É tudo tão horrível... — disse ela com a voz chorosa.

— Sei que é, mas é a verdade.

— Continue contando.

— Ok. As ameaças duraram um bom tempo e quando a vi vigiando sua casa, passei a acreditar que ela não hesitaria em cumprir o que dissera. Foi então que tudo começou a se formar em minha cabeça.

“Estávamos no fim do ano letivo e nada prenderia meus pais por aqui. Sempre gostei muito de kart e corridas, chegando até a disputar alguns campeonatos amadores e vi nisso a chance de ir embora sem que nada de grave te acontecesse. Contei aos meus pais que queria correr profissionalmente e que falaria com você a respeito. Alice tentou me dissuadir da ideia; achou que realmente não valia a pena acabar cedendo às ameaças de Rosalie, mas eu simplesmente não podia arriscar... O medo do que pudesse vir a te acontecer foi maior do que qualquer coisa e achei que te deixar causaria menos danos do que ficar e não saber o que viria pela frente.”

Bella suspirou alto o suficiente para me fazer parar de falar. Ao mesmo tempo em que um peso me saía dos ombros, a angústia se fazia presente. O quanto ela ainda suportaria? Depois de tudo o que eu dissesse, qual seria sua reação?

— Porque não me contou a verdade? Porque não me deixou decidir? Era minha vida e eu tinha o direito de saber das coisas que aconteciam a minha volta.

— Por medo. Eu sabia que o que sentíamos um pelo outro não era coisa de adolescente e sabia também o quanto você era teimosa. Assim como eu não queria me afastar, você também não ia querer.

— Claro que não! Eu te amava e nada mais, além disso, me importava.

— Acredite, eu sei. Mas eu não conseguia pensar direito com tudo aquilo acontecendo. Ao começar a pensar em te deixar, uma sucessão de mentiras começou a se formar em minha vida e eu nunca poderia imaginar o quanto pesaria...

“Menti pra você quando disse que não te amava, que era coisa de adolescente... Menti quando disse que estava indo embora por causa de um sonho que sequer existia... Ser piloto nunca foi um sonho; era apenas algo que eu gostava de praticar como hobby — expliquei e Bella suspirou outra vez —. Depois menti para meu pai quando disse que você não havia aceitado o que eu escolhera fazer e que tinha terminado comigo. Essa é a versão que minha mãe conhece... O peso da mentira começou a ficar insuportável depois de um tempo e acabei contando parte da verdade ao meu pai; ocultando apenas o que se referia à Rosalie.”

“Continuei sustentando a história de que tinha te deixado por conta de um sonho e ele não aceitou isso. Foi assim que paramos de nos falar. Saí de casa e Alice, sabendo de toda a verdade, não demorou muito pra ir atrás de mim... Foi dela que tirei forças pra continuar, foi ela quem me segurou quando pensei em desistir de tudo... Não seria difícil... Acidentes em corridas acontecem.”

“Quase não tenho contato com minha mãe, não falo com meu pai há oito anos e nunca mais vi Rosalie. Alice sempre disse que eu estava sendo burro, que deveria te procurar e contar toda a verdade, mas eu achei que não era mais necessário remexer em tudo. A burrada já estava feita e nada poderia mudar o passado. Quando te vi no restaurante Alice falou que era uma chance... Mais uma vez eu não quis falar nada... Eu pensei que...”

— O que pensou? — perguntou Bella e se afastou, me fitando — Vamos Edward, você disse que contaria tudo e estou me esforçando pra acreditar em cada palavra e pode estar certo que está sendo bem difícil.

E o que eu poderia dizer? Ela estava certa em duvidar, em ficar com os dois pés atrás, em continuar não acreditando em nada mesmo depois que eu contasse tudo. Mas, como ela reagiria ao ouvir o que pensei durante aqueles anos? Essa era a pergunta que não queria calar. Ficava rondando meu cérebro desde o momento em que decidi contar... Eu já não tinha mais o que arriscar, o que perder...

— Durante esses anos, quando Alice conversava comigo e me pedia pra te procurar, pra contar a verdade, eu sempre relutava... Oito anos é muito tempo e pensei que você já estivesse casada, com filhos, feliz e eu não queria voltar e causar problemas em sua família. De que adiantaria vir atrás de você e contar tudo? Algo mudaria? Tudo o que falei, por mais que tenha sido mentira, deixaria de ter sido dito? O sofrimento que nos causei desapareceria? A culpa que eu sentia deixaria de existir? A resposta para todas essas perguntas é “não”.

Bella suspirou pesadamente, mas não desviou os olhos dos meus. Perguntas e mais perguntas passavam por eles e eu responderia a todas elas.

— E o que te fez me contar agora; saber que ainda não casei ou consciência pesada?

Mais uma vez ela assumiu uma postura distante; nem parecia a mulher indefesa que tive em meus braços poucos minutos atrás. Agora eu percebia que nada poderia fazê-la crer em mim. Obviamente pedir isso já seria demais, mas ela disse que estava tentando, não disse? Qual o motivo dessa atitude agora? Mas eu lhe devia uma resposta...

— Não diria consciência pesada e sim culpa. Quando te vi acompanhada no restaurante, o sentimento de perda ficou mais forte. Antes eu apenas imaginava que você já estaria com alguém, que estaria feliz, mas ver foi bem mais difícil. Então Alice me veio com uma psicologia barata, dizendo que a distância entre vocês e a falta de um anel era prova suficiente de que ele era só um amigo. Por alguma razão idiota acabei acreditando em minha irmã e decidi contar, após me certificar que nenhum dano seria causado em um possível relacionamento que você tivesse.

Depois do que eu disse, uma expressão cínica surgiu no rosto de Bella, juntamente com um sorriso totalmente falso e frio. Essa nova Isabella não me agradava... Não que eu a quisesse cordata e sem vontades ou opiniões, mas sentia falta daquela Bella compreensiva, amável, carinhosa e que sabia se impor sem ser arrogante.

— Ora, Edward! Isso me soa muito egoísta de sua parte. Além de olhar na minha cara e dizer que não me ama, dizer que o que eu sentia era coisa de adolescente e passava, ainda queria que eu deixasse de viver? Então eu não mais poderia arrumar um namorado e ser feliz? Teria que viver me lamentando eternamente por você não ter confiado em mim e ter preferido ir embora?

Bella levantou e foi até a janela. Eu continuei sentado, apenas me virando para acompanhá-la com o olhar. Ela estava irritada, nervosa e eu já sentia uma briga se aproximando.

— Como você se sentiria se fosse ao contrário? Como você se sentiria ao me ouvir dizer que preferia te ver sozinho e sofrendo? — sua voz se elevou e apenas respirei fundo, tentando não me alterar.

Antes que eu pudesse pensar, meu corpo já se movia, indo em direção a ela. Tudo estava mais complicado do que pensei que seria...

— Não Bella... Como eu ia querer isso? Eu poderia sentir ciúmes, raiva por não ser eu a estar ao seu lado, mas jamais preferiria te ver sozinha e sofrendo. Sei como é viver sozinho e não é nada bom.

— Qual é Edward? Agora quer que eu acredite que ficou esse tempo todo sozinho? Conte uma piada melhor porque essa não teve graça.

— Não é piada. Depois de você não houve outra. Desde aquele dia no estacionamento da Forks High, só existe você.

Algo em minha voz lhe chamou a atenção. Talvez agora ela estivesse acreditando em tudo o que eu disse. Seus olhos se fixaram nos meus, como se procurassem algum indício de verdade ou mentira, e não desviei de seu olhar. Não dizem que os olhos são espelhos da alma? Se isso for realmente verdade, ela saberia enxergar o que passava pelos meus.

— Você não está brincando. — foi uma afirmação — Mas mesmo assim; Rosalie já não estava por perto, não havia nada que o impedisse... Por que ficou sozinho? — a curiosidade estava estampada em sua voz e posso afirmar que uma ponta de esperança também.

— Sim, Rosalie não estava por perto... E nem você. Fiquei sozinho porque nunca deixei de te amar e não faria sentido ficar com alguém apenas por estar, pra preencher um vazio que nunca deixaria de existir. Sem contar que eu estaria repetindo o mesmo erro.

Silêncio. Bella me fitava meio confusa, a boca entreaberta, a respiração um tanto acelerada. Eu estava mais calmo. Poder dizer de uma vez que a amava — ainda — me tirou um peso de oito anos das costas. Só me restava esperar e ouvir o que ela me diria e, levando em consideração as mudanças de atitudes que ela vinha tendo, eu esperava de tudo... Um ataque histérico de riso, choro, desmaio, ela me batendo outra vez... E a coisa mais estúpida que eu poderia querer... Ela dizendo que ainda me amava. Claro que isso não aconteceria.

— Se me ama como diz, devia ter confiado em mim! Devia ter me contado, ter me perguntado o que eu queria... Teria evitado brigas, sofrimentos... Eu teria ficado ao seu lado, enfrentado Rosalie... Por que Edward? Por que não confiou em mim?

— Eu sei Bella. Quando voltei pra cá fui remexer em umas caixas que estavam no sótão e encontrei tudo o que você havia me dado. Entre os papéis e fotos empoeirados, encontrei um texto que me fez ver que não importava o que aconteceria, você sempre estaria ao meu lado, enfrentaria tudo... Só que eu percebi isso tarde demais... — um suspiro nos escapou. O meu de desânimo, agonia, frustração. O dela, de pura surpresa — Não contei, é verdade, mas achei que estava te protegendo. Por te amar demais, achei que te deixar seria menos doloroso do que acabar, mesmo que indiretamente, causando sua morte.

“Não foi falta de confiança em você, foi por não acreditar em mim. Foi medo de não poder te proteger, de não chegar a tempo caso algo acontecesse. Eu sabia que indo embora poderia nunca mais voltar a vê-la, mas saberia que estava viva, mas se eu ficasse... Se eu ficasse e algo te acontecesse, não demoraria pra que o mesmo acontecesse a mim. Eu simplesmente não suportaria.”

“Eu sei do que Rosalie é capaz e ainda tenho medo. Hoje minha mãe me ligou, disse que viria me visitar. Imagine como eu estou só de pensar que Rosalie pode vir com ela, que pode estar perto de você e da nossa filha... Imagine como é amar alguém de forma desesperada e sentir um medo constante de perder esse alguém. É assim que me sinto com relação a você desde que eu comecei a perceber a gravidade das coisas que minha própria irmã falava.”

Parei de falar quando vi o rosto de Bella vermelho, as lágrimas rolando incessantemente, a respiração entrecortada. Seu corpo chocou-se contra o meu com certa violência, uma queda sendo evitada porque eu estava encostado contra a parede. Suas palavras eram incompreensíveis, misturadas ao choro. Seus dedos segurando com força meu casaco, me impedindo de me afastar.

Certo, eu não estava preparado para aquilo. Tentei acalmá-la, mas de nada adiantava. Abracei-a apertado numa tentativa de mostrar a ela que eu estava ali, que sempre estaria. Seu corpo estava amolecendo em meus braços e antes que caísse, a peguei no colo e a levei até o sofá, deixando-a em uma posição confortável. Sua cabeça repousava em minha perna enquanto eu tentava secar suas lágrimas. Vê-la tão vulnerável daquela forma me deixava angustiado, mas agora ela sabia de tudo, inclusive que eu a amava. Aos poucos seu choro foi se acalmando, sua respiração normalizando, mas ela permaneceu quieta, sem dizer nada.

— Mais calma? — perguntei, fazendo carinho em sua bochecha avermelhada.

Em resposta recebi um leve aceno. Continuei o que estava fazendo e ela permaneceu de olhos fechados. Perguntei-me o que seria dali pra frente. O que ela falaria depois de processar todas as informações com mais calma e racionalidade. Talvez ela não acreditasse mesmo em nada do que eu disse. Talvez acreditasse. Talvez me perdoasse. Talvez não... Agora era esperar. E eu o faria independente do quanto demorasse... Sempre esperaria...


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Notas finais do capítulo

Por hj é só!
Viram só? Nem foi nada tão grave assim.
Feliz Natal e pra quem bebe... Se for dirigir, não beba e se for beber; me chame!
bjs e até o próximo!