O Peso De Uma Mentira escrita por Arline


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Hey! Mais um cap! Espero que gostem.
Leitoras novas, bem vindas! Obrigada por comentarem!
Gêmula, valeu! Se não fosse vc, não teríamos cap hj!
Ao cap!
p.s: Será que conseguimos passar dos 200?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/174844/chapter/11

POV EDWARD


A noite tornou-se dia e eu estava ali, em meu quarto, fitando o teto e revivendo o dia passado inúmeras vezes. Mesmo tendo certeza, ainda não acreditava que era pai, que tinha uma filha com a mulher que eu amava; que sempre amaria... Parecia perfeito demais pra ser verdade e por esse motivo, na verdade, não dormi. Tive receio de que tudo não passasse de fruto da minha fértil imaginação. Durante a madrugada refreei meus impulsos de ligar pra Bella apenas para ouvir sua voz mais uma vez. Aí sim que eu poderia me considerar doido de vez.


Imaginei como seria ver Isabella grávida, eu a acompanhado ao médico, comprando as primeiras roupinhas... Depois imaginei o nascimento de Amanda, como seria a emoção de segurá-la nos braços a primeira vez, ouvir seu choro e saber que estava bem, que era perfeita... Tudo estava em minha cabeça... Seus primeiros passos, o primeiro aniversário, as primeiras palavras enroladas... Até o surgimento dos primeiros dentes eu imaginei... Primeiro dia na escola... E os garotos... Mas isso eu iria acompanhar de perto. Bem de perto.


Não considerei a noite de sono perdida, não me sentia cansado ou com sono e sim ansioso e eufórico. Mil coisas passavam por minha cabeça... Do quê minha filha gostava? Que presente dar a ela? Eu deveria levar um? Bonecas? Jogos? Filmes? Argh! Que ótimo pai eu seria... Nem dos gostos de minha filha eu sabia!


Olhei para o relógio e vi que não passava das sete da manhã; pensei em ligar pra Alice, mas sabia que seria xingado e que ela desligaria na minha cara, então achei melhor esperar um pouco. Um banho e café; era disso que eu precisava pra me tornar um ser humano apresentável, ou como minha filha diria; lindão. Sorri com esse pensamento. Imaginei como seria vê-la a primeira vez, ouvir sua voz... Mas faltava pouco, só mais algumas horas e eu estaria com minhas princesas.


Alice sabia que eu não conseguiria fazer nada que prestasse e organizou minha geladeira e armários para o tempo em que ela ficaria fora. Dei graças a Deus por isso; eu adorava mesmo comer aqueles pacotes enormes de Cheetos e tomar refrigerante. Esse foi meu café da manhã e depois... Bom, depois me joguei no sofá e fui assistir televisão. Meus pensamentos misturados... Pensava se Amanda estaria acordada, se estaria na escola, se tomara café... Incrível como meus sentimentos de proteção ficaram aguçados... E por outro lado tinha Bella. O que ela estaria fazendo? Já estaria no trabalho? Estaria dormindo? Se ela sonhasse com a intensidade dos meus sentimentos, me mandaria internar.


Por volta do meio dia Alice me ligou e fiquei tentado a contar a ela sobre Amanda, mas me contive. Agora eu teria que fazer tudo com calma e racionalidade; não era só Bella agora... E eu sabia que muitas coisas ainda estavam por vir e que muitas delas não seriam boas. Tentei mudar meus pensamentos e deixar os problemas de lado. Naquele momento, nada mais importava além da mulher que eu amava e da minha filha.


Em meu quarto, abri novamente a caixa com as coisas que Bella havia me dado e peguei os vários papéis já amarelados. Bella sempre gostou muito de escrever e eu adorava ler todas as coisas novas que ela me dava.


“Então, não perca seu tempo comigo. Eu não sou um corpo que você achou na noite. Eu não sou uma boca que precisa ser beijada por outra qualquer. Eu não preciso do seu dinheiro. Muito menos do seu carro. Mas, talvez, eu precise dos seus braços fortes. Das suas mãos quentes. Do seu colo pra eu me deitar. Do seu conselho quando meu lado menina não souber o que fazer do meu futuro. Eu não vou te pedir nada. Não vou te cobrar aquilo que você não pode me dar. Mas uma coisa, eu exijo. Quando estiver comigo, seja todo você. Corpo e alma. Às vezes, mais alma. Às vezes, mais corpo. Mas, por favor, não me apareça pela metade. Não me venha com falsas promessas. Eu não me iludo com presentes caros. Não, eu não estou à venda. Eu não quero saber onde você mora. Desde que você saiba o caminho da minha casa. Eu não quero saber quanto você ganha. Quero saber se ganha o dia quando está comigo.”


Bella nunca desejou mais do que apenas a mim... Eu sabia da intensidade dos meus sentimentos por ela, mas jamais poderia dimensionar os dela por mim. Não era possível que todo aquele amor que um dia me foi dispensado tivesse acabado, por mais que eu merecesse isso. Peguei outro papel.


"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.”*


E eu não soube ofertar corretamente tudo o que tinha pra ela, enquanto eu recebia muito mais do que merecia. Eu sabia, lendo aqueles papéis, que o amor de Bella por mim fora mais do que um amor adolescente, uma inconsequência. Eu sabia que, por mais que ela tivesse sofrido, tivesse passado por situações dolorosas, aquele amor ainda existia. Eu sabia que por mais amarelados que aqueles papéis estivessem, o amor que neles continha continuava o mesmo, senão mais maduro. E, com toda a certeza, meu amor por ela estava muito mais forte. O passar dos anos só serviu pra reforçar isso.


Sorri bobamente ao me lembrar de minha menina, minha mulher... Sorri ao lembrar como suas bochechas ficavam vermelhas ou quando seus olhos brilhavam... Seu sorriso meigo, doce; a expressão sempre serena... Tudo nela ela perfeito e certo. O modo como as mechas de seus cabelos caíam sempre sobre seus olhos, o modo como seu corpo reagia ao meu e como ela sempre ficava envergonhada depois de fazermos amor. Eu simplesmente amava suas reações. Era espontâneo e tão ela... Sua aversão a presentes também me trazia boas lembranças...


Em seu aniversário de dezoito anos, quando lhe dei um colar, ela aceitou na boa porque estava na frente de muita gente, mas depois...


Eu estava feliz, minha pequena estava linda e o colar que lhe dei ficara perfeito. Alice havia feito o desenho há quase um mês antes e mandei pra joalheria. Minha ansiedade por vê-lo e saber como havia ficado só não era maior que a de Alice. Esperei pelo momento certo de dá-lo a ela, quando estivéssemos todos juntos, pois assim ela não poderia reclamar.

Quando vi sua expressão de encantamento, sabia que havia acertado, mesmo se eu tivesse dado apenas um papel de bombom. Eu não saberia dizer quem estava mais feliz, se eu ou ela. Aquele colar era muito mais do que isso pra mim, era a prova do meu amor por ela. Assim como eu estaria sempre junto dela, ela estaria sempre comigo, por mais que a distância física existisse.

— Edward! Como você faz uma coisa dessas? — perguntou ela, apontando o colar. Como eu sabia, ela esperou estarmos sozinhos para reclamar.

— E eu fiz o quê? Te dei um presente de aniversário, oras! — minimizei, mas não a amoleci.

— Sim, um presente que provavelmente custou mais caro do que eu poderia pagar em vinte anos! Você sabe que não precisa me dar coisas caras, presentes absurdos. E mais, isso só serve pra dar mais munição a sua irmã, que já me acha uma oportunista.

— Exagerada! Nada seria caro o suficiente. Não quando posso ver seus olhos brilhando e seu sorriso. Quanto à Rose, pare de se preocupar. Ela sempre foi ciumenta e sempre vai encrencar com você, mas isso passa.

— Mesmo assim, Edward... Não gosto quando me vem com essas coisas caras. Fico feliz só por estar com você e não preciso de mais nada. Nenhum presente, por mais caro que seja, seria mais valioso do que o que sinto por você.

Foi impossível não sorrir com aquilo. Eu simplesmente adorava quando ela dizia essas coisas, quando dizia que me amava e que nada mais era importante, senão estar comigo.

— Por que reclamou apenas do colar? Você também ganhou um carro... Enfim, ganhou coisas muito mais caras.

— E você acha que meus pais teriam dinheiro para me dar um carro 0/km? Claro que não! Mesmo sendo usado, tenho certeza absoluta que seu colar e a pulseira são mais caros do que ele.

Ela ficaria muito zangada se eu dissesse que os dois saíram pelo preço de US$ 80.000? Melhor ficar calado...

— Bella... Já disse que o preço não importa. Dei os presentes porque eu quis, porque queria te dar algo que deixasse claro o quanto te amo e o colar é perfeito pra isso.

— Você é muito cabeça dura! Mas, por favor, não me dê nada tão caro assim outra vez. Se quiser me ver feliz, continue assim, me amando.

— Sempre.

E não houve mais discussões bobas.


E eu sempre a amaria, por mais que ela não mais sentisse o mesmo por mim. O sofrimento e a distância nos ensina a enxergar o que realmente é importante, quem realmente nos faz falta, quem de fato nos faz feliz. E agora eu sabia — sempre soube — que era ela; que sempre seria ela.


Vaguei pela casa, procurando o que fazer, mas nada me chamava atenção. Tentei ler, mas o livro foi abandonado na segunda página. A televisão não me prendia, nada me era suficiente. Pensei em ligar pra Alice novamente, mas ela saberia que havia algo errado — ou muito certo, na verdade — e aquele ainda não era o momento.


Meus olhos recaíram sobre o bloco de anotações, onde Bella havia deixado seu endereço. Sim, eu sabia que ela estava trabalhando, mas eu queria ir até lá, realmente saber que ela estava ali, tão perto de mim. Sem pensar muito, tomei um banho rápido, me vesti mais rápido ainda e saí, pegando seu endereço antes.


Dez minutos depois eu estacionava o carro em frente à casa de Bella. Não era muito grande, mas pelo que eu via, devia ser confortável. Era branca, com um pequeno quintal na frente, um banco de madeira e um balanço preso a uma armação de ferro. Na casa ao lado, uma mulher cuidava de seu jardim e imaginei que se não fosse amiga de Isabella, pelo menos poderia saber algo de sua vida, afinal, em Forks todo mundo sabe de tudo... Como quem não quer nada e sabendo que Bella não me responderia, segui até a porta de sua casa com a esperança de que aquela mulher me desse alguma notícia, me dissesse onde trabalhava...


Toquei a campainha e quase ri daquilo. Era tão idiota! Mas eu simplesmente não conseguia esperar até a noite...


— Com licença. — a mulher se aproximou — Bella não está. — ela disse e estreitou os olhos em minha direção.

— Hã? Ah! Sou um amigo dela. Voltei à cidade há pouco tempo e não sabia se ela estava trabalhando. — com certeza minha cara era a mais decepcionada possível — Bom; obrigado. Eu volto mais tarde. — poderia dar certo, como não.


Dei dois passos em direção ao meu carro e então ouvi a mulher me chamando. Sorri minimamente antes de me virar.


— Olha, eu bem sei o que me acontecerá depois, mas espere que vou te dar o endereço de onde ela trabalha.


A impressão que tive era que ela me conhecia. Não, não como piloto e sim como o cara que abandonou a namorada. Ela era, com certeza, amiga de Isabella. Instantes depois ela voltou e me entregou um cartão: Withlock & McCarty associados. Agora eu já sabia onde encontrá-la.


— Muito abrigado. Isso é realmente importante pra mim. — falei e ela me olhou meio torto.

— Espero mesmo que seja e espero mais ainda que eu esteja viva amanhã.


Ok. Acho que eu não agradava por ali... Me despedi e fui para o carro. Passava um pouco das quatro da tarde e como Bella disse que estaria em casa por volta das seis, segui direto pra lá. O lugar não era longe e ainda daria tempo de encontrá-la. Pensei em pedir sua ajuda para encontrar um presente para Amanda e, dependendo da hora que ela saísse, daria tempo de ir até Por Angeles.


Em menos de quinze minutos eu já estava parado em frente ao prédio onde funcionava o escritório em que ela trabalhava. Fiquei dentro do carro para evitar qualquer tipo de problema e esperei. Liguei o rádio para tentar me distrair, mas não surtiu muito efeito. Meus dedos batucavam no volante, meus pés batiam no assoalho do carro e meus olhos não desviavam da porta do prédio. Dezesseis e quarenta e cinco. Ela ainda estaria lá dentro? E se já tivesse saído, pra onde fora? Não seria bom me prender a esse tipo de pensamento...


Dezesseis e cinquenta e cinco e nada de Isabella. Peguei o papel onde seu endereço estava anotado e liguei pra casa dela. Nada, apenas chamou. Peguei então o cartão do escritório e liguei para o número que havia nele. Minha esperança era de que ela atendesse; assim eu saberia que ainda estava lá, mas a voz do outro lado não era a dela e fiquei inquieto. Será que era ali mesmo que ela trabalhava?


Dezessete horas. Desci do carro e encostei-me à lataria. Pouco me importaria se alguém me reconhecesse, se aquele inferno de gente atrás de mim fosse começar, eu estava nervoso, querendo saber se ela estava ali, quando sairia, o que diria quando me visse... Ela poderia simplesmente rejeitar minha carona ou descer acompanhada... E se isso acontecesse? Que desculpa eu daria para estar ali?


Dezessete horas e oito minutos. Quase fim do meu tormento. Isabella saíra pela porta do prédio e sua expressão não era boa, parecia estar passando mal e levou a mão à testa. No instante seguinte eu já a estava segurando. Seu rosto estava pálido e sua pele estava fria. Mas fora isso, tê-la assim, tão próxima a mim era bom. A preocupação me atingiu e senti-me meio frustrado quando ela desviou de minha pergunta. Mas poderia ser pior, ela poderia estar me expulsando dali naquele momento.


— Edward? O que faz aqui? — ela parecia um tanto incrédula.

— Eu... Dizer que estava passando por aqui seria ridículo. Vim te buscar. — sorri, tentando não demonstrar meu nervosismo e receio.


Ainda estávamos muito próximos e eu mais próximo ainda de fazer o que tinha vontade há tempos! Achei melhor sairmos dali enquanto eu ainda conseguia pensar coerentemente. Não esperei que ela dissesse qualquer coisa e a conduzi até o carro. Ela fez um comentário sobre meu Volvo e sorri por saber que ela se lembrava de minha preferência por aquela marca carros. Já fazendo o caminho até sua casa, perguntei novamente como ela estava e mais uma vez não obtive resposta. Isabella estava desconfortável e isso era notável. Senti-me desanimado, quase desistindo de reconquistar seu amor.


Achei que a conversa morreria ali e que seguiríamos em silêncio até sua casa, mas então ela me questionou a respeito de como eu sabia onde trabalhava. Fiquei completamente sem graça com aquilo e com medo de que ela me achasse invasivo de mais, mas eu simplesmente não pude refrear esse impulso. Eu queria estar ali; era o que tinha que ser feito.


— Fui até sua casa. Ok, eu sei que estava muito fora do horário combinado, mas não sei... Me deu vontade de ir até lá. Tinha uma mulher parada na casa ao lado e perguntei por você, como quem não quer nada e ela acabou me dizendo onde você trabalhava... Então eu... Apenas entrei no carro e quando vi já estava parado, esperando que você saísse. — falei e ela ficou um tempo calada, como se analisasse o que eu acabara de contar. Como o silêncio dela continuou, tornei a falar — Passei a noite em claro, contando quantas voltas os ponteiros do relógio dava. Estou ansioso, com medo e sem saber como agir direito. Na verdade, estou apavorado... Só a possibilidade de minha filha não gostar de mim é angustiante.


E era verdade. Em mim, a confusão de sentimentos era notável. Eu mais estava parecendo uma bomba emocional ambulante, prestes a explodir a qualquer momento. Tudo estava confuso, meio fora de órbita, em suspenso. Era como se eu estivesse preso entre dois mundos; de um lado o mundo real, onde eu teria que arcar com todas as consequências por meus atos e assumir de vez os erros que cometi. Do outro, um mundo onde eu me via feliz ao lado da mulher que eu amava — que amo — e de minha filha. No mundo real, minha filha passaria a me odiar e nunca mais ia querer me ver. No outro mundo, ela me aceitaria e eu poderia dar a ela o amor, o carinho e a atenção que eu nunca havia dado.


Meus pensamentos eram intensos e eles só foram desviados quando ouvi um soluço vindo de Bella. Ela chorava de forma descontrolada, me deixando preocupado. Mais do que já estava. Poderia ter acontecido algo a ela ou à Amanda e ela poderia estar escondendo... Sem pensar, joguei o carro no acostamento e antes que eu pudesse virar pra ela e perguntar o que estava acontecendo, ela já estava do lado de fora do carro, deixando que seu corpo tombasse contra a lataria. Seus braços cruzados em frente ao corpo, como se estivesse se protegendo de algo.


Eu estava muito preocupado e o fato dela apenas chorar e não responder às minhas perguntas aumentava e muito a minha preocupação... Talvez fosse algo muito sério... Mas será que ela tinha tanta aversão assim por mim? Sua falta de confiança era tanta que nem poderia me contar um problema? Sua expressão era tão torturada, não tinha como não notar e eu queria poder fazer qualquer coisa para amenizar o que ela sentia, mesmo que eu não soubesse o que era. Tive medo de sua reação caso eu me aproximasse e hesitei um pouco, mas eu não poderia deixar de estar perto dela... Por mais que ela viesse a me mandar sumir.


Seus cabelos caíam por seu rosto, ocultando seus olhos e minha primeira providência foi afastá-los, eu queria ver seu rosto sem nada impedindo. Como sempre fiz quando ainda namorávamos, pus a mecha insistente atrás de sua orelha e pude ver o quão arrasada ela estava.


— Por favor, me diz o que está acontecendo...? — perguntei mais uma vez, não aguentando ver sua angústia.

— Não a tire de mim, por favor.


Creio que meus olhos quase saltaram das órbitas naquele momento. Ela estava achando que eu tiraria Amanda dela? O que eu mais queria era criar minha filha ao lado dela! Num rompante a abracei apertado, tentando lhe passar segurança, mas nem eu a tinha... Isabella agarrou minha camisa, ainda chorando de forma copiosa. O difícil seria fazê-la entender que eu não tiraria nossa filha dela, já que ela estava quase implorando para que eu não o fizesse. Soltei um palavrão qualquer antes de me recompor.


— Por Deus! Que loucura é essa? Eu jamais tiraria nossa filha de você! — falei, tentando imprimir o máximo de sinceridade em minha voz, mas não adiantou muito.


Bella se afastou e começou a gritar, dizendo que eu mentia; que ia tirar Amanda dela... Senti seus punhos se chocando contra meu peito, tentando me infligir a mesma dor que ela sentia. Mesmo que eu dissesse que ela ia se machucar, seus punhos continuaram a se chocar contra mim. Ouvi-la pedir que eu fosse embora e que sumisse foi a gota d’água. Ela ia entender por bem ou por mal que eu não faria nada contra ela.


Aproximei-me dela, fazendo com que seu corpo ficasse prensado entre mim e o carro. Agora ela não mais fugiria e eu poderia fazê-la me ouvir. Sem ser bruto, infiltrei minha mão por seus cabelos, mantendo sua cabeça parada enquanto eu a fitava, a outra mão eu usei para prender as suas que, depois de tantos socos, já deviam estar doendo e ela estava cansada, quase não me batia mais. Não foi difícil imobilizá-la. Seus xingamentos também não me atingiam mais, mas se queria xingar, que fosse por algo que eu faria.


Não esperei um segundo a mais e cobri seus lábios com os meus e como eles continuavam doces! Mesmo tendo resistido por um milésimo de segundo, ela correspondeu, o que me fez exultar. Eu a estava beijando e ela estava correspondendo. O que mais poderia ser melhor? Claro que eu não poderia ir com muita sede ao pote e não passei de um beijo calmo, sem aprofundar, apenas lábios contra lábios, sentindo-os, relembrando como eram macios, doces, quentes. Bella foi amolecendo e soltei suas mãos, que foram parar em meus cabelos. Nesse momento me afastei, estava disposto a dizer-lhe que a amava, mas o que veio a seguir me pegou desprevenido.


Bella me puxou de encontro ao seu corpo novamente, e quase não acreditei. Dessa vez, me deixei levar por tudo o que sentia. Ela não mais se controlava... Prova disso e que eu a sentia exigindo menos proteção e mais ardor, menos cuidado e mais paixão e eu correspondi, pelo menos em sentimento... Nossas línguas se encontraram num beijo cálido, mas que não matava toda a saudade que senti e creio que a dela também não, já que eu tive que me afastar novamente, deixando leves selinhos em seus lábios. Minha vontade era pegá-la no colo e girar, como se faz com uma criança. Por um instante a tive novamente em meus braços, pude sentir seu gosto, sentir seus lábios... Retiro o que eu disse antes, aquele beijo foi melhor do que o primeiro.


— Você me beijou. — ela disse e parecia bem sem graça,

— Só conheço duas formas de acalmar uma mulher nervosa e te bater está completamente fora de cogitação. — claro que isso era verdade, mas eu a beijei também porque ela estava absurdamente linda brava daquele jeito.


Ela já não mais me olhava, suas bochechas estavam vermelhas, mas acho que ela não notou, pois estava mais preocupada em olhar para os lados. Minha Bella... Era sempre assim...


Peguei seu rosto entre minhas mãos, fazendo com que me fitasse e falei tudo aquilo que ela precisava ouvir para se acalmar e saber que eu jamais tiraria Amanda dela e que a protegeria também. De tudo e de todos.


— Bella, ao contrário do que pensa e disse, jamais vou tirar nossa filha de você, ninguém vai tocar nela. Já agi errado com você uma vez e espero nunca mais repetir meu erro. Farei o possível para não magoá-la outra vez. — suas mãos pousaram sobre as minhas — É claro que estou louco pra conhecer minha filha, pra ficar perto dela, saber tudo a seu respeito... Mas tirá-la de você?

— Fiquei com medo! Amanda é a pessoa mais importante da minha vida e não sei o que faria caso a perdesse.

— Não vai. Quero estar perto, ajudá-la daqui pra frente, participar de tudo que a envolva. Antes eu não sabia que era, mas agora... Agora quero ser pai e estou tão feliz que tenho a impressão de que vou explodir a qualquer momento. E estou com tanto medo também! Ela pode me rejeitar, me odiar, me pedir pra sumir... — não consegui mais falar, só a possibilidade de que aquilo pudesse acontecer fez meus olhos marejarem.

— Desde que contei a ela sobre você, Amanda pirou... Sabia que ela é louca por Fórmula 1? Fala de você com tanto orgulho... Ela não te odeia. Contei a verdade a ela; que quando você se foi, ainda não sabia que eu estava grávida. Ela sabe que não foi abandonada, rejeitada por você.


Fiquei realmente emocionado com aquilo; Bella poderia ter dito as piores coisas sobre mim, poderia nem ter contado a meu respeito, mas não... Ela contou simplesmente a verdade e era isso que eu faria dali pra frente. Quando dei por mim, já estava abraçado a ela, meu coração parecendo que ia saltar do peito, e piorou no momento em que ela me abraçou. A esperança estava renascendo em mim.


— Me arrependo de ter partido, de ter perdido tanta coisa de sua vida... Eu poderia ter visto sua barriga crescer, ter te acompanhado no primeiro ultrassom, ter escutado o coraçãozinho dela batendo... Passei a madrugada imaginando, vivendo uma vida paralela à que tive e me amaldiçoei por ter perdido tanto... Por mais que o tempo passe, que você diga que não me odeia, não vou poder me perdoar. — falei verdadeiramente e ouvi seu suspiro.

— Pensar no que perdeu não adianta, passou. Pense que agora tem muito a descobrir... Vai ter muito com o que se preocupar ainda... Não se esqueça de que Amanda é uma linda menina e isso implica garotos afoitos. Conto com você para afastá-los. Quanto a não ter passado pelas agonias de um pai de primeira viagem, um dia vai encontrar uma mulher com quem queira passar a vida e vai poder desfrutar das agonias paternas em tempo integral.


Como dizer a ela que eu já havia encontrado essa mulher? E Amanda ainda era criança, mas o modo como Isabella falou, me deu a entender que ela me queria por perto... E eu ficaria pelo tempo que ela quisesse.


— Você não facilitou mesmo as coisas pra mim... Uma menina... Garotos... Festas... Faculdade... Acho que podemos mantê-la trancada em casa. Vou ficar velho cedo... — brinquei um pouco mais relaxado e ouvi sua risada.

— Ora, eu também vou ficar velha, não é privilégio seu. E mais... Agora vai saber como os pais das garotas se sentem quando um rapaz se aproxima delas...

— Isso não está me ajudando... — soltei as palavras quase num gemido e ela riu um pouco mais alto.


Palavras eram desnecessárias naquele momento e ficamos apenas abraçados por um tempo que eu não sabia quanto foi. Só que era incrível tê-la tão perto de mim, tão receptiva. O passado não voltava realmente, mas eu ainda tinha o futuro pela frente e faria as coisas diferentes agora. Nossas emoções estavam à flor da pele e eu não sabia se conseguiria aguentar o encontro com minha filha, então sugeri que a encontrasse no sábado, assim daria tempo para me acalmar e Bella também, além de preparar Amanda.


Mesmo Isabella tendo relutado, a deixei em casa e dessa vez, a beijei na bochecha. Não... Não por não querer beijá-la na boca e sim por achar que ela poderia me rejeitar agora. A mulher que me dera seu endereço estava parada na porta de sua casa e exibia um enorme sorriso.


Ao chegar em casa, joguei-me no sofá, sabendo que estava sorrindo feito um idiota. Peguei meu celular e mandei uma mensagem à Alice, que ia querer me matar, mas não pude resistir...


Nem tudo está perdido. E C”.

Obs:* os textos em itálico, escritos por Bella são de autoria de Caio Fernando Abreu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Chegou até aqui? Deixe um review. Não dói, não cansa e é de graça! E ainda me deixa feliz!
bj bj e até o próximo!