O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 23
O Amor É Cego, Surdo, Burro E Manco


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu demorei séculos, eu sei. Desculpem, mas eu, além de estar estudando pro vestibular (eu tenho prova domingo e segunda, me desejem sorte, vou precisar u.u), atravessei uma crise criativa e esse capítulo não saía por nada u.u (quem tem meu msn sabe o quanto eu sofri hsuehaueha). Bom, eu quero agradecer a um monte de gente, então vou deixar pra fazer isso lá embaixo, pra vocês lerem logo.
Espero que gostem :)
(A Isa teve uns problemas com a conta dela e anda muito ocupada, por isso ela não betou o cap, mas eu vou pedir pra ela assim que as coisas se acalmarem ^^)



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A minha vida é uma grande merda.

Alguém poderia perguntar por que eu diria uma coisa dessas já que sou popular, talentoso, razoavelmente inteligente – não importa o que diga uma maldita nerd de olhos bonitos –, sem problemas financeiros – sem contar a última semana, a que minha mãe bloqueou o meu cartão de crédito – e, além de tudo isso, ainda sou o cara mais sexy dessa cidade.

Ok, isso não soou legal.

Enfim, mesmo com todos os motivos para ser feliz, eu ainda odeio minha vida. Pelo menos no momento.

Eu costumava gostar dela. Costumava ser despreocupado e aproveitar o máximo de cada dia. Gostava de surfar, jogar futebol e sair com minha namorada. Ela podia ser uma chata, mas beijava bem. A minha única preocupação era fazer de tudo para chamar a atenção da minha mãe.

E os que disserem que isso é infantil e gay, que vão apodrecer no inferno. Não importa se tenho 6, 16 ou 60 anos. Uma mãe é sempre uma mãe. E sempre vai doer se ela não te amar.

Mas voltando ao meu momento emo, em que eu enumero os motivos por odiar minha vida neste momento. Na verdade é só um motivo. Ela. A culpa do meu estado de espírito atual é toda dela. A desgraçada que entrou na minha vida de forma tão violenta – literalmente – e bagunçou tudo. Me bagunçou. Me fez ficar perdido pela primeira vez na vida, sem entender o que diabos estava acontecendo comigo e como uma garota como ela podia me afetar tanto.

No fundo, eu sei que não é realmente culpa dela. Maria Valentina não tem noção do que faz comigo, eu tenho certeza. Ela não faz de propósito pra me confundir. E quanto ao fato de ela ter dito sim para o idiota com cara de palhaço tarado...bom, ela sempre gostou dele. Ela não sabia o quanto eu odiaria isso. Porque eu não devia odiar. Eu não devia me importar. Eu gosto de outra. Eu sei que gosto.

Eu tenho dito isso para mim mesmo muitas vezes esses dias. Como se eu precisasse me lembrar.

Eu odeio minha vida porque, há uma semana, eu preciso ver a Maria Valentina sorrir para aquele ruivo dos infernos. Preciso vê-lo tocar nela com aquelas mãos imundas (que eu tenho certeza que ficaram tocando outra coisa durante a noite, do jeito que o garoto tem cara de tarado). Eu preciso escutar o riso da nerd e saber que foi Silas Koury que a fez rir, não eu. Eu posso não ter visto, mas eu sei que são os lábios dele que tocam os dela todos os dias. E isso me faz ter vontade de socar alguma coisa.

Lucas já está perdendo a paciência comigo. Meu castigo já acabou e eu recuperei meu cartão de crédito e meu motorista – apesar de ainda precisar dividi-lo com a Lana – mas continuo – palavras dele – me esgueirando por aí com cara de quem foi condenado à morte.

– Sério, cara, você virou um stalker mesmo? – foi o que ele disse no lugar de bom dia naquela manhã.

Virou um hábito chegar cedo à escola. Assim pelo menos eu podia manter um olho na nerd e no palhaço tarado, que também começou a chegar cedo todos os dias. E era mais ou menos isso que eu estava fazendo. Eu não estava perseguindo a garota, o Lucas estava exagerando. Eu só estava escondido atrás de uma coluna com o olhar casualmente anotando cada movimento dos dois pombinhos.

Isso não é ser stalker. Certo?

– Para de falar merda – eu disse para o Lucas, sem tirar os olhos da Maria Valentina, que sorria de alguma coisa que o cabeça de ferrugem havia dito.

– Ok, quando a garota conseguir uma medida de restrição contra você, não vai dizer que eu não avisei – ele retrucou enquanto se escorava na coluna ao meu lado. – E, por falar nisso, aquela prima da Tiffany também. A garota já fica verde só de olhar pra sua cara. Não é bem a reação que um cara quer arrancar de uma garota.

– Eu não tenho culpa – eu disse. – Se ela respondesse minhas perguntas sobre a Tiffany, eu pararia de persegui-la.

– Claro, e essa é uma linha de pensamento muito normal – o deboche pingava de sua voz.

– Cala a boca.

– Vince, até você tem que admitir que é estranho. Faz uma semana que você não consegue falar com a sua namorada misteriosa –

– Tiffany não é minha namorada – eu disse.

– ...e fica perseguindo a prima igualmente misteriosa dela por informações. Essa família é tensa. Eles são da máfia, por acaso? – continuou ele como se eu não tivesse dito nada.

Bufei e não disse nada. Do mesmo jeito que eu já estava irritando o Lucas, ele também estava me dando nos nervos. Nem sei bem o porquê, mas cada vez que ele abria a boca para falar da Tiffany – que sumiu do planeta terra há uma semana e aparentemente o alcance do celular dela não vai até Marte – ou da prima dela ou de como eu estou perseguindo a Maria Valentina e o cabeça de abóbora, eu só queria cortar a língua dele. Eu não preciso que ninguém me diga o que eu já sei. Que a garota que eu gosto sumiu e eu fico pateticamente perseguindo uma nerd e seu namorado tarado.

Eu sei que estou agindo como um idiota.

Só não consigo me impedir.

– Sério, eu não sei como você aguenta – continuou Lucas. – Essa Tiffany é a namorada mais esquisita que você já te –

– ELA NÃO É MINHA NAMORADA! – gritei, finalmente virando-me para ele.

Lucas piscou, a expressão totalmente chocada. As poucas pessoas que já haviam chegado ao colégio estavam olhando para nós. Até Maria Valentina e o McDonald. Eu senti meu rosto ficando vermelho e minha respiração estava acelerada com a raiva.

– Cara, qual o seu problema? – Lucas soltou.

Eu não disse nada, apenas peguei minha mochila e saí de lá com passos rápidos. Fui direto para a sala, que ainda estava vazia àquela hora e sentei no meu lugar de sempre, largando a mochila no chão e apoiando os braços e a cabeça na mesa.

Por que só o fato de Lucas dizer que Tiffany é minha namorado me deixou tão alterado? Eu a pedi em namoro, do meu jeito torto e estranho, mas pedi. Ela não respondeu, certo, mas se eu pedi, não é por que gostaria que ela dissesse sim?

E por que agora só o fato de eu pensar nisso, me deixa...estranho?

Que grande merda.


...

Aquele dia de aula durou uma eternidade. Não que não durasse sempre, mas naquele dia foi uma eternidade especialmente longa. O Ronald McDonald se inclinou para cochichar no ouvido da Maria Valentina vinte e três vezes. Vinte e três, não estou brincando, eu contei. Será que ele não via que ela queria se concentrar na aula? Será que não é estranho eu ter contado quantas vezes aquele palhaço se inclinou para falar com minha nerd? Será que eu estou precisando de um terapeuta?

No intervalo, eu fiquei na sala. Meus amigos me olharam incrédulos, mas eu só disse que queria ser deixado em paz. Lucas deu uns tapas no meu ombro e me deixou sozinho também, ele percebeu que era do que eu precisava.

Eu precisava pensar. Ainda preciso. Mas parece que, quanto mais eu tento colocar ordem nos meus pensamentos, mais eles ficam fora do meu controle. Quando eu não sei mais o que pensar, a coisa está bem ruim mesmo, já que eu sempre fui o cara que tinha todas as certezas do meu mundo nas mãos.

Quando o sinal bateu no fim da manhã, eu pensei que já estava enraizado na cadeira. Levantei-me sem vontade e peguei minha mochila do chão. Despedi-me rapidamente dos meus amigos, agradecendo aos céus por não ter treino do futebol. Eu só queria ir pra casa. Saí logo atrás da minha nerd e o maldito cabeça de abóbora. Maria Valentina estava conversando com ele, mas eu não me prendi em suas palavras, apenas no som da sua voz. Quando o palhaço começou a falar, ela deu uma olhada discreta para trás, para mim, e havia um vinco de preocupação entre suas sobrancelhas. Ela parecia preocupada comigo. Eu tentei sorrir, mas acho que não me saí muito bem. Ela sorriu antes de voltar a olhar para o namorado.

Namorado.

Por que eu odiava tanto aquilo? Por que eu tinha vontade de quebrar a cara daquele garoto asmático com cabelo de água de salsicha? Certo que ele era normalmente irritante, mas eu nunca troquei uma palavra com o garoto. E, ao contrário do que as pessoas possam pensar, nem todo o cara popular tem surtos de violência. Eu sou até bem pacífico. Posso dizer, com conhecimento de causa, que os nerds são muito mais adeptos da violência. Então, por que minhas mãos coçavam pra que eu desse uma bela surra naquele ruivo tarado?

Talvez a culpa não fosse dele também. Talvez eu só o achasse irritante porque ela gostava dele. Ela falava dele com um sorriso nos lábios. Ela olhava para ele com um brilho diferente nos olhos por trás dos óculos. Ela tinha uma naturalidade e uma suavidade com ele que não tinha com mais ninguém. Que não tinha comigo. Comigo, seus ombros estavam sempre tensos e sua postura era sempre defensiva. Quase sempre, na verdade. Eu não iria esquecer tão cedo de quando a encontrei chorando na sala há uma semana.

Ela estava toda encolhida na cadeira, com o rosto escondido nas mãos. Tentou me dizer o que estava acontecendo, mas ela falava tão rápido e soluçava tanto que eu não entendi quase nada. Mas no fim, eu me esforcei para fazê-la sorrir, porque eu amo o seu sorriso.

Espera aí, eu amo o seu sorriso?

Uma garota esbarrou em mim ao passar e me tirou dos meus pensamentos. Quando olhei ao redor, percebi que já estava no pátio lotado de estudantes contentes com o fim da semana e havia perdido Maria Valentina de vista. Bom, já era hora de eu parar de persegui-la, certo? Talvez Lucas estivesse certo e isso realmente fosse estranho. Suspirei e ajeitei a mochila pesada nas costas. Eu devia ser a única pessoa com uma aura negra ao redor da cabeça naquele dia quente e ensolarado. Todos pareciam muito animados. Há pouco tempo atrás, uma simples sexta feira me deixaria no mesmo estado de felicidade. Não hoje. Continuei andando em direção ao portão da escola, mas pensei ter visto um borrão avermelhado com o canto do olho e estava tão obcecado com a nerd que parei para ver o que era.

Era ela. Aquele era um canto escondido do pátio, atrás de um banco de pedra e uma grande árvore. Aproximei-me e vi a M.V. e o palhaço tarado lá. Eles não me viram, não estavam prestando atenção em nada do que acontecia ao redor deles. A mão nojenta do McDonald estava apoiada no ombro da minha nerd e ele estava inclinado na direção dela. Maria Valentina estava parada como uma estátua, seus braços soltos dos lados do seu corpo, os olhos fechados. Uma brisa suave e morna bagunçou alguns dos fios do seu cabelo que haviam escapado do coque severo.

E eles estavam se beijando.

Não parecia ser mais que um encostar de lábios, mas eu não parei para ver a coisa se desenvolver. Eu saí correndo dali, como um perfeito idiota. O perfeito idiota que eu sou. Meu coração batia rápido quando eu finalmente parei, no portão do colégio. E cada batia parecia doer um pouco mais a cada segundo. Eu sentia que minhas mãos estavam geladas, meus olhos pareciam desfocados.

Maria Valentina estava beijando outro cara.

Mas é o namorado dela, Vince.

Eu fiquei repetindo isso para mim mesmo, como um mantra. É o namorado dela, é claro que eles se beijam, o que eu esperava?

Mas por que eu me sentia traído? Como eu sentia que isso era, de alguma forma, errado? Ela não deveria beijá-lo. Nunca. Ela não deveria beijar ninguém. Mas principalmente, ela não deveria beijar aquele ruivo maldito. Ele não era bom o suficiente para a minha pequena nerd. Ele nunca seria bom o suficiente para ela.

Eu podia ver aquele sorriso bonito dela se fechasse os olhos, podia ouvir o som da sua risada boba, podia ver aqueles olhos...aqueles olhos azuis enevoados, como o céu nublado numa manhã fria. Tão lindos que era difícil encará-los por muito tempo, era até bom que ela os cobrisse com os óculos. Eu perderia o rumo da conversa facilmente se ela os tirasse. Maria Valentina é especial do jeito que todas as meninas gostariam de ser, mas poucas conseguem. Ela é especial sem esforço, ela é linda sem ser bonita, adorável sem tentar.

– Ei, sua lesma, anda logo!

Levantei os olhos e vi Lana gritando pela janela do carro ali na frente. Aparentemente, ela estava parada ali há algum tempo enquanto eu estava no meu transe. Balancei a cabeça para espantar os pensamentos inúteis e fui caminhando com passos pesados e lentos até o carro, em parte para irritar Lana ainda mais, em parte porque eu me sentia meio tonto.

Entrei no banco de trás e sentei ao lado da minha adorável prima, que me xingou o caminho inteiro até em casa. Eu apenas a ignorei, o que a deixou ainda mais enfurecida. Lana é muito mais parecida com mamãe às vezes, sempre ignora as pessoas, mas odeia ser ignorada.

Quando chegamos em casa, mamãe não estava lá. Para variar, ela tinha um almoço de negócios. Lana e eu almoçamos num silêncio irritante e, antes de eu ir para o meu quarto, ela disse:

– Eu vou precisar do motorista daqui a pouco, vou sair.

Dei de ombros.

– E que horas volta? – perguntei.

– Não é da sua conta, priminho – respondeu com um sorriso largo. – A não ser que queira ir comigo.

– Passo.

– Babaca.

Dei de ombros mais uma vez e subi as escadas pra ir pro meu quarto. Até os xingamentos de Lana, que sempre me incomodaram tanto, não me faziam esboçar reação nenhuma agora. Sério, acho que preciso de um antidepressivo.

Assim que me joguei na cama e fechei os olhos para descansar por um minuto, senti o celular vibrar no bolso da minha calça. Irritado e cansado, peguei o aparelho e atendi sem ver quem era.

– Vince? – disse a voz do outro lado da linha.

– Tiffany?! – soltei enquanto levantava rápido.

– É, sou eu. Tudo bem?

Aquilo era sério?

– Garota, você sumiu a semana inteira! – eu soltei, ficando ainda mais irritado com o fato de ela ligar do nada e agir como se desaparecer por sete dias sem dizer nada fosse normal. – Não atendeu o celular, não respondeu às minhas mensagens...sua prima não quis falar onde você estava... –

– Espera um pouco – ela me interrompeu, com uma voz trêmula. – Você disse prima? Que prima?

– É, a que estuda na minha escola. A Geny.

Silêncio.

– Alô? Tiffany? Você tá aí?

– Er...sim. E-eu...quer dizer...você quer fazer alguma coisa hoje?

Suspirei e passei a mão pelo cabelo, percebendo que eu tinha estado andando de um lado para o outro pelo quarto. Aquele mistério que envolvia Tiffany tinha sido tão excitante no começo, tinha prendido meus pensamentos a ela, tinha me feito sentir algo que eu nunca havia sentido antes.

Quando havia se tornado cansativo?

– Claro – respondi, indo até a janela e vendo o motorista abrindo a porta do carro pala Lana entrar. – Por que você não vem pra minha casa?

Talvez se eu visse aquela garota – que era a garota mais bonita do mundo inteiro – eu me sentisse normal de novo. É, era exatamente do que eu precisava. Uma tarde com a Tiffany. Mamãe e Lana estavam fora então teríamos a casa só para nós. Seria perfeito.

– Ahn...c-claro – respondeu ela, soando meio nervosa. – Agora?

– É.

– Ok, estou indo. Tchau.

– Espera, você não quer saber o endereço? – perguntei, rindo um pouco.

Silêncio novamente.

– Ah, claro! – riu ela. – Que cabeça a minha, eu nem sei aonde você mora!

Eu ri, dei meu endereço pra ela e desligamos.

Pensei em me jogar novamente na cama e cochilar por alguns minutos, mas não sabia quanto tempo Tiffany demoraria para chegar, então achei melhor ir logo tomar um banho e trocar aquele uniforme. Vesti-me só com uma bermuda jeans qualquer quando saí do banho e estava secando meu cabelo com a toalha quando uma das empregadas da casa bateu na porta do meu quarto, avisando que eu tinha visita. Ela até que foi bem rápida, ao contrário de todas as outras garotas com quem saí, que achavam que podiam demorar o quanto quisessem e eu ficaria esperando. Vesti rapidamente uma camisa qualquer e desci.

Tiffany estava linda, como sempre. Ela usava um vestido verde musgo com uma estampa tão pequenininha que eu não conseguia identificar o que era. Seus sapatos eram marrons e tinham um salto pequenino, mas ela parecia concentrada em se equilibrar neles. Seus cabelos estavam soltos em pequenas ondas sobre os ombros e ela usava uma fivela de borboleta do lado direito. A beleza dela sempre me emocionava de algum jeito. A garota era simplesmente bonita demais e eu sei que já devo ter repetido isso mais vezes do que posso contar, mas é simplesmente impossível pensar em outra coisa quando você tem Tiffany na frente dos seus olhos.

– Hey – ela disse e sorriu um pouquinho.

– Tudo bem? – eu perguntei, indo até ela.

– Sim. Você?

– Melhor agora.

Ela riu e rolou os olhos e eu a puxei escada acima, para o meu quarto.

– Bem vinda aos meus humildes aposentos – falei com um floreio.

Ela riu e disse:

– Muito humildes mesmo, humildes demais para mim.

– Sinto muito, mas eu posso compensar de outras formas – eu disse, chegando perto dela, prendendo-a entre mim e a porta fechada do quarto.

– Sinto que vou me arrepender por perguntar, mas que formas?

Eu não respondi, só segurei em sua cintura e a empurrei contra a porta. Beijei-a antes que pudesse dizer alguma coisa. Seus lábios estavam quentes e ligeiramente trêmulos. Por um momento, ela não respondeu e eu pensei que fosse me empurrar, pois colocou as mãos em punhos no meu peito com um pouco de força. Mas esse momento de indecisão pareceu não ter existido um segundo depois, quando ela passou os braços pelo meu pescoço e me abraçou forte, entreabrindo os lábios e deixando-me aprofundar o beijo.

Ela tinha gosto de pasta de dente de uva.

Eu passei os braços por suas costas, tentando trazê-la para mais perto, se é que era possível. Sem deixar de beijá-la, fui puxando-a em direção à minha cama. Empurrei-a delicadamente e a fiz se deitar de costas, parando de beijá-la por um momento e deitando-me ao seu lado. Ela se virou para me olhar e deu um sorriso fraco enquanto suas bochechas se tingiam do mais adorável tom de rosa. Eu sorri também e segurei a mão dela com a minha, entrelaçando nossos dedos. Aproximei-me e a beijei de novo.

Mas ao mesmo tempo, sentia que algo estava muito, mas muito errado mesmo.

Como aquele beijo podia ser tão perfeito se eu tinha outra garota na cabeça?


...

– Então, qual foi seu primeiro amigo na infância? – Tiffany perguntou enquanto mexia nos meus cabelos.

Depois de ficarmos nos beijando por um longo tempo, eu sugeri que assistíssemos um filme, mas ela disse que só podia ficar por mais uma hora e não daria para ver até o fim. Então ficamos apenas largados no meu quarto – ela sentada na cama e eu com a cabeça apoiada em seu colo – conversando sobre tudo e nada.

Não sei como, acabamos fazendo perguntas aleatórias um para o outro.

– O nome dele era Bob – respondi, de olhos fechados. – E ele era imaginário.

– Você teve um amigo imaginário? – ela perguntou, rindo. – Você não parece ter muita imaginação...

Eu abri os olhos e peguei uma das mãos dela que estavam no meu cabelo e tentei mordê-la, mas ela gritou e riu e se afastou de mim.

– Eu tenho muita imaginação sim, ok?

– Se você diz... – ela falou, ainda sorrindo, e voltou para o mesmo lugar, com minha cabeça apoiada no colo.

– E você, teve um amigo imaginário? – perguntei, voltando a fechar os olhos ao sentir as mãos dela no meu cabelo.

– Não, eu...não fui uma criança surtada – ela respondeu rindo.

– Eu não era surtado! – reclamei. – Era uma criança normal!

– Tá sei...mas e como foi o seu primeiro beijo?

Pensei um pouco e respirei fundo antes de responder:

– Foi muito bom, é claro!

Na verdade foi horrível. Eu tinha 11 anos e a garota tinha 13, e não era o primeiro beijo dela. Eu fiquei muito nervoso porque não queria que ela me visse como um garotinho inexperiente e acabei pisando no pé dela sem querer, tropeçando e, quando nossas bocas se chocaram foi com tanta força que eu consegui abrir meu lábio superior.

Foi um banho de sangue. Literalmente.

Mas eu não podia contar isso pra ela. Nem pra ninguém, é claro. Só quem sabia era o Lucas e ele não perdia uma oportunidade de me zoar pelo meu primeiro beijo sangrento. E isso já era suficiente.

– Qual foi a coisa que você sempre quis fazer, mas não tem coragem? – perguntei, querendo fugir do assunto “primeiros beijos”.

Abri os olhos quando percebi que ela continuava calada. Ela estava com o olhar perdido e, enquanto uma de suas mãos continuava passeando pelo meu cabelo, a outra estava apoiando seu queixo, os dedos batendo de leve em suas bochechas.

– Ei, ruivinha, não vai responder?

Ela pareceu acordar dos seus devaneios e olhou para mim de lado, com um sorrisinho apenas num canto da boca.

– Uma tatuagem, eu acho – finalmente respondeu, voltando a olhar para o vazio. – Acho que seria...libertador. Como um protesto.

– Um protesto contra o quê? – fiquei curioso.

Ela balançou a cabeça e olhou para mim, ficando corada.

– C-contra nada em especial – gaguejou e franziu as sobrancelhas. – Contra garotos que perguntam demais!

Eu ri e desfiz o franzido entre suas sobrancelhas com o polegar.

– Pensei que esse era o propósito do nosso joguinho.

– É, mas é minha vez de perguntar – ela argumentou.

– Ok, vá em frente. Mas espera um segundo.

Levantei-me e fui até a mesa para pegar um marcador preto.

– O que você vai fazer com isso? – Tiffany perguntou quando eu me aproximei e tirei a tampa do marcador.

– Realizar seu sonho – respondi e puxei a mão esquerda dela.

A garota não parou de sorrir um segundo enquanto eu desenhava uma estrela completamente torta nas costas da sua mão.

– Se isso fosse uma tatuagem de verdade, eu te processaria – ela disse, mas ainda sorria.

Eu dei de ombros e voltei a me deitar com a cabeça em seu colo.

– Mal agradecida...faz logo a sua pergunta.

Ela pensou um pouco antes de perguntar, com um sorriso irônico:

– Qual foi a coisa mais idiota que você já fez na vida? E eu sei que é difícil, mas vai ter que ser só uma, tá?

– Muito engraçadinha você – retruquei, rindo um pouco.

Aí parei pra pensar. A coisa mais idiota que eu já fiz? Tiffany tinha até razão, foram muitas coisas, mas eu nunca admitiria, claro. Resolvi contar uma meio recente – da época que eu namorava a Roberta – e que era uma das mais ridículas mesmo.

– Eu entrei no banheiro de uma garota uma vez e vi um vidro com um líquido cor de rosa – contei, omitindo que a garota era, na época, minha namorada. – Achei que era antisséptico bucal e joguei metade na boca.

– E o que era? – ela perguntou, já parecendo estar segurando o riso.

Eu me levantei do seu colo e a olhei com uma expressão sofrida.

– Adstringente – respondi.

Antes que eu terminasse de dizer a palavra, Tiffany já estava se contorcendo em gargalhadas. Pequenas lágrimas até escorreram de seus olhos de tanto rir. Eu não pude me impedir de acompanhá-la. Era mesmo engraçado.

Mas enquanto estávamos lá rindo, eu senti algo estranho. Acho que poderia chamar de epifania. Eu imaginei que a Maria Valentina estava ali, não a Tiffany. E comecei a pensar nela. A ver seu rosto. Ouvir sua voz. Repassar todos os nossos momentos juntos em minha cabeça.


“– Vem cá – ela disse, aparentemente se recuperando do susto. – Você nasceu sem cérebro mesmo ou perdeu ele numa aposta? Já disse que não gosto de ninguém e não quero ter nada a ver com você! É tão difícil assim de entender?”

“— O meu problema — ela começou, se levantando e começando a guardar o material na mochila, parecendo furiosa — é que, enquanto eu estou aqui contra a minha vontade, mas me esforçando pra fazer você aprender alguma coisa, você fica aí com essa cara de tapado, pensando na morte da bezerra.

— Na verdade, era na morte da mosca...Aaaai! — esse caderno dela é uma arma! — Dá pra parar de me bater?

— Não! Você merece apanhar mesmo!”

“– Eu... – comecei, mesmo sem ter a menor ideia do que dizer.

Nós temos um acordo, certo? – ela me cortou, sua voz fria. – Não vou voltar atrás só porque você é um idiota. Aliás, não é como se fosse muita novidade, não é?”

“– Vicente – ela disse finalmente, parecendo mais calma. – Olha para mim – pediu.

– Mas eu estou olhando! – exclamei. Ela tinha fumado o grafite da lapiseira ou era doida assim o tempo todo?

– Não, não está! Olhe de verdade!”

“– Então você quer ser meu amigo para que eu pare de bater em você?

– Confesso que a ideia passou pela minha cabeça. E não é de todo má.

Ela riu e então levantou a mão para mim.

– Amigos? – perguntou.

Eu apertei a mão dela com a minha.

– Amigos – confirmei, sentindo-me estranhamente satisfeito.”

“— Pensei que você tivesse parado de me chamar desse jeito, Cérebro de Mosca — ela disse, sorrindo por entre as lágrimas que ainda marcavam seu rosto e segurando minha mão.

– Eu paro se você parar.

– Eu não vou parar, Cérebro de Mosca Aleijada.

– Ótimo, porque eu adoro chamar você de Maldita Valentina.

Ela riu e, antes que eu percebesse, enlaçou seus braços em volta da minha cintura e escondeu o rosto na minha camisa.

– Obrigada – ela disse, a voz abafada pelo tecido. – Obrigada por ter vindo.”

“– Vamos dançar – eu propus.

Ela começou a balançar a cabeça em uma negativa apressada e a lutar para se livrar das minhas mãos em seus ombros.

– Nem pensar! Nem pensar! – ela gritou, horrorizada. – Nós não temos doze anos, Vicente, por favor!”

E principalmente, aquele acidente. Um acidente doce e macio. Aquele beijo que eu não podia tirar da cabeça. Eu estava tão frustrado naquela noite, tão irritado. E a pequena M.V. estava horrorosa naquelas roupas, mas foi a única vez em que a vi com um penteado diferente. Ela estava com uma trança. E seu cabelo era tão comprido que eu tive vontade de soltar os fios e passar as mãos por eles. Pareciam ser macios. Do que estou falando? É claro que eram macios, era a minha nerd, não podia ser diferente.

Como eu gostaria de poder ter tirado aqueles malditos óculos antes de beijá-la. Eu gostaria de ver seus olhos no momento em que nossos lábios tocassem um ao outro. Queria ler aquele azul acinzentado tão único. Eu queria beijá-la de novo. E de novo. E mil vezes. Por mil anos.

Eu queria que ela estivesse ao meu lado agora. Eu queria ter contado a ela a história do adstringente. Eu queria ter ouvido a risada dela. Queria tê-la escutado me chamar de idiota e ajeitado os óculos no rosto, porque eles estariam escorregando de tanto que ela riria.

Eu não podia dar um nome a esse sentimento. Eu só sabia que era ela quem eu queria ali, comigo, naquele momento. Não Tiffany.

– Vince, tudo bem? – ouvi Tiffany perguntar, balançando a mão na frente do meu rosto.

Eu a fiz abaixar a mão e a olhei nos olhos, mas sem vê-la de verdade. Eu não podia ver mais nada do que estava na minha frente.

– Eu sinto muito, Tiffany – finalmente disse, soltando o braço dela. – Eu sei que é repentino. Eu sei que isso vai fazer de mim o maior canalha da face da terra e você tem todo o direito de me odiar, mas...acho que é melhor a gente não se ver mais.

Ela ficou uns segundos em silêncio, antes de soltar:

– O quê?!

– Eu sei – falei, levantando-me e calçando um chinelo qualquer que estava ali, sem nem prestar atenção ao que estava fazendo. – Desculpa. De verdade. Mas eu preciso ir agora. Eu preciso fazer uma coisa importante. Tchau – e me apressei para fora do quarto.

– Mas espera! – ainda a ouvi gritar. – Essa é a sua casa! O que você tá fazendo?

Sim, era covarde, eu sei disso. Mas eu não podia lidar com Tiffany quando estava tão cheio de Maria Valentina. Eu precisava vê-la. Precisava...nem sei o que eu realmente queria. Saí do meu condomínio e não olhei para trás nem uma vez. Eu só senti que devia estar com ela, correr até ela.

E era o que eu estava – literalmente – fazendo. Estava correndo pelas ruas, como nunca fiz. Parei por um segundo. Qual era o meu problema? Onde diabos eu estava com a cabeça? Eu estava parado no meio da calçada e um homem esbarrou em mim. Eu não liguei. Acabei indo me encostar na parede de uma loja de conveniência que havia ali. Senti o celular vibrar no bolso da bermuda e o peguei mecanicamente.

– Alô? – perguntei.

– Hey, Vince – a voz de Lucas soou. – Tudo bem, cara? Você parecia bem acabado hoje na escola.

– Eu encontrei com a Tiffany hoje – eu respondi, sem saber exatamente o que dizia nem por que.

– O quê? Como assim? Onde? – ele soltou as perguntas sem respirar.

– Ela me ligou e eu a convidei para ir lá pra casa – respondi.

– E ela disse por que sumiu por todos esses dias?

– Não, eu não perguntei.

– Vince, você tá doido? – meu amigo fez a pergunta que, no fundo, estava martelando na minha cabeça.

– Acho que sim – respondi, sentindo minha respiração entrecortada e ouvindo meu sangue nos bombeando nos ouvidos. – Lucas, enquanto eu estava com ela, eu só conseguia pensar na Maria Valentina. A nerd! Eu só penso nela, o tempo todo. Eu tenho raiva daquele maldito palhaço que ela está namorando! Hoje eu vi os dois se beijando e foi como...foi como quando o papai morreu e eu percebi que estava sozinho. Eu estou me sentindo assim agora, Lucas. Eu não quero ver a Maria Valentina com aquele ruivo tarado, eu a quero comigo. Eu preciso dela. O que tá acontecendo comigo?

Ouvi apenas a respiração do meu amigo do outro lado da linha por algum tempo, até que ele disse:

– Vince, eu realmente esperava não precisar te dizer isso. Mas você está apaixonado pela Maria Valentina. E já faz algum tempo.

As palavras dele pesaram na minha cabeça. Mas era algo tão absurdo que eu neguei na mesma hora. Era o que eu esperaria de mim mesmo se alguém dissesse que eu estava apaixonado pela nerd. Eu nem pensei antes de falar:

– Você bebeu? É claro que eu não tô apaixonado por ela! Como eu poderia? Ela é nerd, estranha, não é atraente...o que eu veria nela?

E, ao ouvir as palavras que saíam da minha boca, eu me senti realmente estúpido. Esse cara não era mais quem eu era. Era o Vince Müller babaca de semanas atrás. Eu não tinha porque dizer essas coisas. Eu sabia o quanto a minha nerd era especial e linda do seu próprio jeito, e eu...

Eu estava apaixonado por ela.

– O amor é cego, surdo, burro e manco, meu amigo – Lucas disse no telefone. – Não importa se ela é feia ou bonita, estranha ou normal. Não importa nem se ela tiver um olho faltando, se você gosta dela. E você gosta. É o fim da linha cara. Você está irreversivelmente apaixonado por uma nerd chamada Maria Valentina. Não tem mais como negar.

Ele estava certo. Droga, ele estava muito certo.

Eu... eu...

– Eu estou apaixonado pela Maria Valentina – tentei falar em voz alta e minha voz soou surpreendentemente clara.

– É isso aí, cara.

– E o que eu faço? – perguntei desesperado.

Lucas suspirou e depois praticamente gritou:

– Deixa de ser idiota e vai atrás dela! Já estava na hora de aquele ruivo maluco rodar mesmo...

Eu não esperei para ouvir o que mais ele tinha pra dizer. Eu precisava pensar, mas algo me dizia que eu não poderia passar muito tempo pensando. Eu tinha aquele sentimento de urgência, como se eu tivesse que tomar uma decisão rápida ou iria perder algo muito importante. Eu precisava decidir o que fazer. E precisava fazer aquilo sozinho.

Desliguei o celular e o coloquei de volta no bolso.

Comecei a andar meio sem rumo, devagar, mas com os pensamentos no meio de um tornado. Eu ainda não tinha tido tempo para assimilar a grande verdade sobre mim. Eu estava apaixonado por uma garota a quem nunca havia olhado duas vezes antes de precisar dela. Uma garota que não era, nem de longe, o tipo que normalmente me atraía. Uma garota que, desde o início, eu sabia que significava problema.

E eu estava certo.

Ela era um grande problema.

Mas...era o meu problema. Ou pelo menos eu gostaria que fosse.

Eu não podia evitar me apaixonar por ela. Mas também não podia ter previsto isso. Era algo que, ao mesmo tempo em que me surpreendia, eu não conseguia deixar de pensar que era...certo de algum jeito. Que eu deveria ter esperado por isso. Que a garota ruiva e pequenininha, que gostava de South Park, de fazer doces e de estudar era aquela pra mim.

Começou a chover, mas eu não me importei. Fui andando devagar, tomando meu tempo, até a casa de Maria Valentina. Não me importei de estar ficando mais encharcado a cada segundo. Não me importei com o cabelo grudando em minha testa. Não me importei com mais nada. Eu só precisava vê-la.

Mesmo com todo o tempo que passei vagando por aí, não pensei no que faria quando a visse. Não planejei nada. Talvez fosse meio bobo, mas eu só pensei em ir até lá e...dizer como eu me sentia. Sim, uma declaração. Não existe nada mais fora de moda, mas era o que eu realmente gostaria de fazer. O que eu sentia que devia fazer.

“Oi, Maria Valentina, tudo bem? Eu estava passando pela vizinhança e lembrei que estou apaixonado por você. Por falar nisso, quando você vai me ensinar a matéria de biologia?”

Patético, mas pela primeira vez na vida, eu queria ser patético.

O amor é cego, surdo, burro e manco.

É mesmo. E quer saber? Eu não me importava nem um pouco.

Umas duas horas depois que saí de casa, finalmente cheguei a da minha nerd. A chuva continuava caindo forte e eu estava completamente ensopado. Confesso que travei por um momento antes de atravessar o jardim. Minhas pernas e mãos tremiam um pouco e minha respiração sair em jorros. Então era isso. Eu iria simplesmente bater lá e dizer “nerd, eu gosto de você” nem levar flores ou bombons, nada?

Eu podia ter pensado em pelo menos comprar o DVD com o filme do South Park. Acho que ela gostaria mais.

Mas eu não podia adiar isso. Eu compraria as flores, os bombons, o DVD do South Park depois. Eu sabia como ela se sentia sobre aquele namorado dela e eu sabia que havia uma boa chance de ela simplesmente dizer “obrigada, mas eu não me sinto do mesmo jeito”. Mas eu precisava ser corajoso e tentar. Eu precisava ser sincero se quisesse ter uma chance. E, se realmente houvesse uma mínima chance de ela corresponder ao que eu sentia, eu precisava ser só eu agora. Sem nada, só o que eu sentia.

Certo, eu sei como isso soa, mas no momento realmente não me importo de soar bobo e clichê.

Respirei fundo e, reunindo toda a minha coragem, atravessei o jardim e parei na porta dela. Antes que pudesse realmente pensar sobre isso, apertei a campainha. O som saiu cortante em meus ouvidos. Meu coração parecia que ia bater até conseguir quebrar minha caixa torácica. Minhas mãos estariam suadas se não estivessem molhadas de chuva. Eu nunca havia me sentido tão nervoso em toda a vida.

Era uma sensação assustadora e incrível.

Boa. Viva.

A porta finalmente se abriu e eu pude ver a minha nerd me olhar atônita.

Ela estava vestida com uma calça de moletom e a minha camisa do South Park. Sorri ao vê-la vestida assim. Se dependesse de mim, ela nunca mais tiraria aquela camisa.

– O que aconteceu com você? – ela perguntou, chocada. – Por que você saiu na chuva?

Eu respirei fundo e a encarei, desejando ver por trás daqueles grossos óculos.

– Eu preciso te dizer uma coisa, Maria Valentina – eu disse.

Ela engoliu em seco.

– O quê? – perguntou com a voz fraca.

Eu me aproximei para tirar os óculos do seu rosto – eu precisava olhar em seus olhos para dizer que estava apaixonado por ela – mas ela rapidamente tentou me impedir, levando as mãos até o rosto. Eu fui mais rápido e consegui puxá-los dela.

Algo capturou minha visão.

Os óculos caíram no chão e se partiram ao meio.

E eu vi, borrado como se ela tivesse esfregado com água e sabão, um desenho na mão esquerda da Maria Valentina.

Uma estrela.

Uma estrela muito torta.



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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Quem acertou? haushuaehuhea
Bom, eu quero agradecer a todos que comentaram no cap passado, vocês foram incríveis, foi mais do que eu esperava. Sei que tem gente que falou que não deixa reviews por não ter tempo ou por preguiça, mas não precisa ser muita coisa. Eu me contento com o que vocês quiserem me dizer. Quem gosta de review grande, pode escrever tratados sem problema, porque eu adoro ler a opinião, as críticas e as sugestões de vocês. Mas quem tem vergonha ou não tem tempo ou não gosta, pode deixar qualquer coisa hauehusheahs
Bom, obrigada às pessoinhas fofas que recomendaram a história:
- Pum Hutch (fofa é você, sua linda *-*)
- RoBeX (vi que OAEC foi sua primeira recomendação, que honra *-*)
- Carol Malfoy (que bom que OAEC já virou um vício pra você *-*)
- Msr Nanda
- Bibi (sua primeira recomendação? *-* Muito obrigada mesmo, estou honrada)
Bom, tem também as pessoas que ficaram me aguentando ontem e hoje no msn, e as que ficaram me mandando mensagens enquanto eu tava na aula escrevendo hsaehauehaueh
Bom, espero mesmo que tenham gostado e eu vou responder a todos os reviews do cap passado, ok? Só me deem um tempinho.