O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 22
Lei De Rudin


Notas iniciais do capítulo

Bom, aqui está o capítulo. A Isa está desaparecida no presente momento, então ignorem os erros, quando ela voltar, eu peço pra ela betar o capítulo. Até lá, ignorem os erros :)
Eu vou fazer só uns agradecimentos antes:
à Rach Cassini e à Lah, pelas recomendações fofas *-*
e também à linda da Luna Weasley (vou ter um trabalhão pra responder seu review, mas vai ser um prazer fazê-lo).
Leiam as notas finais. São importantes e um pouquiiinho revoltadas. Mas ok.
Boa leitura :*



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– Silas, eu...sim. Eu quero ser sua namorada.

Eu ouvi essas palavras sem ter plena consciência de que elas saíram da minha boca. Era como se outra pessoa as tivesse dito, não eu. Eu olhava para aqueles olhos negros que me fitavam tão intensamente. Eu não entendia, mas algo parecia ter se quebrado dentro deles. Vicente me olhava com dor e acusação, como se, de alguma forma, eu o tivesse traído. E eu tinha. Ele apenas não sabia o quanto.

O meu olhar parecia trancado no dele, eu simplesmente não conseguia desviá-lo. Sabia que devia olhar para o contente Silas na minha frente, eu havia acabado de aceitar ser sua namorada afinal, mas era como se todo o resto desvanecesse quando eu encontrava os olhos escuros, e no momento sombrios, de Vince Müller.

O que, para mim, pareceu ter durado algumas centenas de anos, na realidade foram apenas alguns segundos. Vicente desviou o olhar, deu-me as costas e entrou no colégio, sem virar uma única vez. Ele simplesmente foi embora.

— Tina, você está me ouvindo?

Pisquei e voltei meu olhar para Silas, que me olhava curiosamente.

— Desculpa, eu estava distraída — respondi com um sorriso forçado. — Mas você não acha que é melhor a gente entrar? A aula já vai começar.

Silas assentiu e segurou minha mão antes de começarmos a fazer nosso caminho para a sala. Eu evitei olhar para nossas mãos unidas. Em vez disso, passei discretamente os olhos ao redor, procurando um certo menino meio bobo que se distrai facilmente e gosta de filmes de terror e de me irritar. O último garoto por quem eu esperaria me apaixonar. Metido, arrogante, popular, irritante, chantagista e dono dos olhos escuros mais penetrantes que já vi. Vicente Müller não é, nem nunca foi, o garoto certo para mim. Eu o queria mesmo assim, mesmo sendo totalmente contra todas as leis da cadeia alimentar da nossa escola. Mesmo que ele fosse totalmente errado para mim. Os nerds e os populares têm de ser como óleo e água, não se misturam nunca. Mas a nerd aqui estava cega para os perigos de aceitar se aproximar da estrela mais brilhante da escola. Eu aceitei ajudá-lo a estudar — tudo bem que eu fui chantageada — sem saber que poderia perder meu coração.

Eu sequer sabia que meu coração estava em perigo.

E agora olhar para ele era simplesmente doloroso, sabendo que ele nunca sentiria por mim o que eu sentia por ele. Mesmo que houvesse uma mínima chance de ele gostar de mim, Tiffany destruiu tudo. Eu destruí tudo. Caí na minha própria armadilha. Comecei com uma pequena brincadeira, para dar uma lição de moral no Müller, para me vingar do que ele representava em nome de todos os nerds intimidados no planeta. Eu quis que ele se apaixonasse pela Tiffany. E quando isso aconteceu, eu quis que ele se apaixonasse por mim.

Se arrependimento matasse, as pessoas já estariam chorando em cima do meu caixão agora.

Antes eu queria machucá-lo. Queria que ele sentisse a mesma dor que infringiu a muitas garotas. Queria que ele ficasse louco pela Tiffany para então, abandoná-lo e fazê-lo se sentir o lixo que eu sempre pensei que ele fosse.

Agora eu não queria mais machucá-lo. Não queria vê-lo sofrer. Por trás do garoto popular e metido que circulava pela escola como se fosse o dono do lugar, havia um garoto pelo qual era impossível não se apaixonar. Um garoto meio ingênuo e meio malicioso. Um pouco carente, solitário, mimado e obsessivo. Surpreendentemente compreensivo e generoso. Com péssimos hábitos alimentares (exatamente como os meus) e um gosto muito bom para desenhos animados. Um garoto que achava mais interessante o tempo de vida de uma mosca do que estudar a Revolução Russa, uma das matérias que mais me fascinava, porque eu adoro revoluções. Vince nem sabia a diferença entre a Revolução Russa e a Francesa.

Eu achei que só isso seria o bastante para que eu nunca gostasse dele.

Estava errada.

Eu gosto de ler e romances policiais cheios de violência e mistério são meus preferidos. Temo que a única vez que vi Vicente com um livro foi quando fomos obrigados a ler Rumpelstiltskin no jardim da infância e ele começou a chorar porque não conseguia dizer o nome do personagem.

Eu o conheço durante quase toda a minha vida. Já o vi nos seus piores e, talvez, melhores momentos. E sempre pensei que éramos completamente opostos, quase como se fôssemos de planetas diferentes. E sim, nós somos opostos em muitas coisas. Opostos com muito em comum. Com alguns gostos e pensamentos parecidos. Opostos que, para mim, poderiam se encaixar.

Mas mesmo que a Tiffany nunca tivesse existido, eu não sei se ele conseguiria olhar para mim e sentir o coração bater mais rápido. Talvez ele nunca realmente me enxergasse. E mesmo que o fizesse, mesmo que, por alguma estranha ruptura na ordem do universo, ele pudesse gostar de mim, ainda assim, não poderíamos ficar juntos.

E isso porque eu tinha a grande sorte de ser filha do meu pai.

E ele fez bem claro ontem que nunca permitiria que eu desperdiçasse minha vida com — palavras dele — aquele moleque ridículo e sem futuro.

E era por isso que eu estava indo para Oradea, Romênia.

É, eu não vi isso chegando. Apesar de conhecer meu pai e saber que ele é muito rígido e chega a extremos algumas vezes...eu simplesmente não imaginei que ele fosse me mandar para a Romênia para passar um tempo com meu avô, longe de certas influências negativas.

Foi uma sensação esquisita. Eu cheguei em casa e meu pai estava esperando na varanda. Não houve gritos nem repreensões. Isso me assustou. Ele mandou – com uma voz assustadoramente calma – que eu entrasse em casa e fosse direto para o seu escritório. Eu obedeci. Ele entrou logo atrás de mim e, quando fechou a porta do escritório, apertou bem os olhos ao fitar minhas roupas, mas não disse nada. Depois, sentou-se em sua mesa e fechou os olhos, apertando o polegar e o indicador na ponte do nariz, como se sentisse uma súbita dor de cabeça.

– Eu liguei para o seu avô – ele disse, voltando a abrir os olhos e fitando-me inexpressivamente. – Ele não se importa em ficar com você por alguns meses.

Sabe aquela sensação que você tem quando acha que tem mais um degrau na escada, mas não tem? Quando, por um segundo, seu pé volta ao chão e você pensa que vai cair? E sente aquele frio na barriga?

Multiplique isso por mil e foi a sensação que eu tive quando meu pai disse aquelas palavras.

– Pai – eu comecei, sentindo-me meio desesperada, rezando para que ele estivesse só falando aquilo para me punir, para me fazer sentir culpada e horrível, mas que não fosse verdade. – Você não pode...

– Não venha me dizer o que eu posso ou não fazer, Maria Valentina! – ele finalmente explodiu, batendo a mão na mesa com uma força que me fez estremecer.

– Mas, pai...

– O quê? Você tem uma desculpa para isso?

– Eu só...

– Quem é você? – ele perguntou, levantando-se, voltando a aparentar aquela calma ainda mais assustadora que sua raiva.

Eu não entendi a sua pergunta e só fiquei olhando para ele com os olhos bem abertos e as mãos meio trêmulas.

– Eu não a reconheço mais, Maria Valentina – ele continuou, não esperando por uma resposta. Por um momento, eu pensei ver tristeza em seus olhos. – Você não é a filha que eu criei. Olhe pra você! A Maria Valentina que eu conheço não é essa, melhor, ela não precisa ser essa garota que eu estou vendo agora. Ela é melhor que isso.

Eu baixei a cabeça, sentindo as finas pontadas atrás dos meus olhos, anunciando lágrimas. Apesar de tudo, de todas as regras, de toda a rigidez, de toda a frieza do meu pai, eu o amava e sempre soube que era motivo de orgulho para ele. E é claro que eu o amava. Ele era meu pai e, apesar daquele jeito, eu não conseguia me imaginar longe dele. Ele era como uma muralha de pedra. Intimidadora, intransponível, fria. Mas era essa muralha que estava lá para me proteger e à minha irmã. Era uma figura forte, protetora, invencível. Uma certeza na minha vida cheia de incertezas.

Alguém que nunca ia embora.

Então doía ouvi-lo falar assim. Doía saber que ele não me reconhecia, que eu não era mais o motivo dos seus raros sorrisos. Doía saber que eu o desapontara.

– Eu quero que você vá para ficar longe dessas distrações – ele disse, voltando a se sentar, sem olhar na minha direção. – Eu quero que você volte a ser a menina centrada que era. Eu não vou permitir que você desperdice a sua vida com aquele moleque ridículo e sem futuro. Isso não é para você, Maria Valentina.

Eu não sabia por quanto tempo mais seguraria as lágrimas e eu odiava chorar na frente do meu pai. Ele não se sensibilizava com lágrimas. Para ele, era apenas um sinal de fraqueza. E eu já não estava nas boas graças dele, podia ao menos parecer forte, não é?

– Saia.

Eu levantei os olhos e fitei os dele. Eu não chorei. Assenti com a cabeça e me virei para sair do escritório. Havia apenas aberto a porta quando ouvi a voz dele dizendo atrás de mim.

– O engraçado é que eu sempre esperei isso da sua irmã. Mas nunca de você.

Não me virei, porque não pude mais conter duas gordas lágrimas que transbordaram dos meus olhos. Então apenas fui embora e subi as escadas correndo. A porta do quarto de Geny estava fechada quando eu passei por ele e fui direto para o meu quarto.

Meu travesseiro estava úmido de lágrimas quando eu finalmente consegui dormir.

– Tina?

Virei-me e percebi Silas falando comigo de novo, tirando-me dos meus devaneios. Já estávamos na porta da sala.

– Você está bem desligada hoje, hein? – ele disse com um sorriso meio triste. – É a coisa toda da Romênia?

É, eu havia contado tudo para o Silas assim que o vi, quando nos encontramos na porta da escola. Um milagre ele chegar cedo, eu sei. Estava tudo tão bagunçado na minha cabeça e eu precisava falar com alguém. Geny estava estranha e pegou carona com a Sara para ir para a escola mais cedo. Eu sentia que ia explodir a qualquer momento. E chorar no ombro do Silas por alguns minutos me fez sentir melhor e ele me acalmou como sempre o fez. Mas aí ele disse que um ano passava rápido e que a distância só seria física porque ele...porque ele me amava. Ele disse que não se importava com a distância e que, pelo menos, isso estava dando a ele a coragem de se declarar.

Eu o amei...achei que o amava por tanto tempo...e eu ia embora mesmo...Vicente nem lembraria mais de mim depois de algum tempo, aliás, ele não pensava em mim mesmo. Pensava em Tiffany. E até dela ele se esqueceria com o tempo.

Silas tinha razão. Havia algo de bom em tudo isso. Eu poderia evitar magoar os dois garotos. Ser a namorada à distância de Silas seria bem mais fácil do se eu fosse ser sua namorada de verdade. E isso o faria feliz. E assim, indo embora, eu nunca teria que contar ao Vicente a verdade. Eu diria simplesmente que iria embora, como Tiffany e como eu mesma.

E ele a esqueceria. E me esqueceria mais rápido ainda.

Era o que eu esperava.

– Oradea é um lugar bem legal – eu respondi com um suspiro, encostando-me na parede. – Fica no meio de montanhas e é um dos maiores centros de educação da Romênia. A faculdade de Direito de lá é a mais antiga de toda a Europa Oriental e você precisa ver o prédio da faculdade de Medicina. É lindo. Além do mais, Oradea só fica a umas cinco horas de carro de Sighişoara, a cidade onde Vlad Tepes nasceu. É um lugar incrível.

– Você gosta de lá, então?

– Muito. Você sabe que é onde eu passo todas as minhas férias. E meu avô é muito legal. Além disso, a casa dele é uma dessas mansões antigas caindo aos pedaços. E ele não a reforma porque diz que tiraria o “encanto” dela – fiz aspas com os dedos. – Sério, o sistema de aquecimento central é horroroso. Mas eu meio que entendo, a casa é adorável do jeito que é. Eu sempre me sinto bem vinda ali. Mas...

– Mas mesmo assim você não quer ir – ele completou para mim, apertando minha mão um pouquinho.

– Não, não quero – respondi, olhando para os meus pés.

– Crianças, o que vocês acham de entrar na sala? – perguntou o professor de biologia, que havia se aproximado sem que percebêssemos. Surpreendida, soltei a mão de Silas. – A aula vai começar e vocês estão bloqueando a porta.

Pedimos desculpas e entramos.

Tentei olhar para os meus pés enquanto avançava até minha mesa. Ao mesmo tempo em que sentia uma vontade quase incontrolável de encontrar o olhar de Vicente, tinha um medo quase irracional de fazê-lo.

Afinal, o que havia com ele hoje para estar assim? Bom...nós meio que não nos víamos desde aquele beijo desastroso na porta da minha casa, onde eu tenho certeza que papai não foi exatamente agradável. Aliás, talvez papai nem tivesse sido o pior naquela noite, talvez tenha sido eu. Talvez ele estivesse tão arrependido de ter me beijado que agora ia ficar me ignorando...

Mas e aquelas coisas que ele disse sobre mim na praia? Ele não parecia irritado nem enojado. Ele parecia pensar em mim como uma amiga de verdade. Ele queria me animar.

Ah, ela é linda.

Aquilo era mesmo sério? Eu ouvia a voz dele ecoando essa frase na minha cabeça de novo e de novo. Era uma voz despreocupada e leve, acompanhada de um sorriso e um dar de ombros, como se estivesse admitindo um fato.

Coloquei minha mochila na minha mesa e sentei na cadeira, vendo Silas tomar o lugar ao lado do meu, o lugar que sempre foi dele, mas que ultimamente estava sendo usado por outro aluno. Por que o Vicente não estava ali? Sem conseguir me conter, virei o rosto para trás, para olhar o fundo da sala, e lá estava ele, no seu antigo lugar de sempre, no meio dos seus amigos barulhentos. Até Roberta estava lá, mas não muito perto dele. Mesmo assim, meu coração falhou algumas batidas ao ver aquilo.

Porém, enquanto os amigos dele conversavam e riam ao seu redor, Vicente estava sério, imóvel em sua cadeira. Seu olhar estava em mim e, quando o meu o encontrou, senti um arrepio. Ele parecia frio e, ao mesmo tempo, espumando de raiva. Apenas não sei como era possível. O que diabos havia de errado com ele? Vicente parecia estar com aquela dor nos olhos desde que eu o vi mais cedo, enquanto conversava com o Silas, mas o que tinha causado aquilo?

Quando percebi que o professor havia começado a aula e que os outros estudantes estavam cochichando a respeito de eu estar encarando o Vicente, eu virei-me rapidamente para o quadro, sentindo o calor tingir minhas bochechas.

– Algo errado? – Silas cochichou.

Só fiz que não com a cabeça, tentando ignorar os olhares de todo mundo, especialmente o de Petra, que ainda sentava na cadeira ao lado da minha.

Moluscos, anelídeos, artrópodes, equinodermos, cordados...o que eles tinham em comum mesmo? Sistema digestório completo? Uma camiseta do AC/DC?

Sei lá.

Eu sei, o inferno estava congelando neste exato momento. O momento em que Maria Valentina Lazarov deixou de se importar com biologia para amarrar seus pensamentos ao redor de um garoto.

O fim do mundo está chegando, com certeza.

Assisti às aulas com apenas metade da minha atenção, tentando fazer algumas anotações no caderno. Tentando sendo a palavra chave. Minhas anotações estavam, pela primeira vez na vida, uma bagunça. Confundiam-se com pequenos rabiscos na beira da página, que eu fazia sem perceber.

Três pares de olhos escuros, um rosto em perfil com um nariz bem grande, um livro aberto e um coração partido. Além de alguns riscos aleatórios que não faziam sentido nenhum e a letra V com alguns floreios, repetidas vezes.

É, e eu pensando que nunca seria o tipo de garota a fazer rabiscos idiotas no caderno, quando devia estar anotando as coisas que o professor falava.

As pessoas mudam mesmo.

– Tina!

Silas precisou colocar a mão na frente do meu rosto para eu perceber que ele estava falando comigo.

– Han? – foi a coisa mais inteligente que consegui dizer.

– É hora do intervalo – ele informou. – Vamos?

Eu assenti e levantei, mas parei ao perceber que Petra, Larissa e Arthur ainda na sala, conversando animadamente sobre alguma coisa. Como meu estado de espírito já não era dos melhores, vê-los me deixou ainda mais triste. Eu costumava fazer parte do grupo. Eu costumava ficar ali, conversando com eles e rindo com eles. Discutindo com Arthur que minhas notas eram e sempre seriam melhores que as dele e escutando Larissa falar sobre mangás e jogos online enquanto ela jogava no PSP. Aliás, ela raramente tirava os olhos daquele negócio.

E Petra, minha melhor amiga para todos os momentos. A que sempre me defendia de todo mundo e a única que entendia minhas manias e me forçava a sair um pouquinho da minha concha.

Como acabamos assim?

Os outros alunos estavam se apressando para sair da sala e um deles esbarrou levemente em meu ombro ao passar por mim. Olhei para trás só para ver as costas de Vicente enquanto ele seguia rapidamente para a porta sem um olhar na minha direção. Quando todo mundo já havia saído, eu me aproximei com Silas do único grupo que permanecera.

Os três pararam de falar quando eu cheguei perto e Petra, a única que ainda estava sentada, olhou para mim (quase não precisou levantar o rosto, sendo tão mais alta que eu que, sentada, ficava quase da minha altura enquanto eu estava de pé) com um misto de curiosidade e desconfiança.

– Petra, posso falar com você? – eu pedi.

Durante alguns segundos, ninguém falou nada, até que Larissa disse, enquanto enrolava uma de suas tranças nos dedos:

– Vamos sair daqui, pessoal, não quero respingos de sangue no meu uniforme.

– Vem, Silas – Arthur falou, dando tapinhas amigáveis nas costas do meu..hum...namorado. – Isso ou vai ser legal ou vai ser bem ruim. Acredite, você não vai querer estar por perto em nenhum dos dois casos.

Silas olhou uma última vez para mim e eu balancei a cabeça, silenciosamente dizendo que ele podia ir. Quando todos saíram da sala, eu me virei para Petra e comecei:

– Petra, eu –

– O que está rolando entre você e o Silas? – ela me cortou, perguntando.

Respirei fundo e consegui responder:

– Ele me pediu em namoro e eu disse...sim.

Petra arregalou os olhos por um momento, antes de olhar para baixo, para suas mãos em cima da mesa.

– Ah, é? – ela disse.

– Sim, mas não é sobre isso que eu quero falar com você. Eu só quero pedir desculpas por...

Novamente, ela não me deixou terminar.

– Tina, você não tem que me pedir desculpas – disse, finalmente levantando os olhos para mim. – Você tinha razão esse tempo todo. Você não tem a obrigação de me contar cada aspecto da sua vida. É só que...eu nunca vi você desse jeito antes, você não está agindo normalmente...eu fiquei assustada. Você sempre foi minha melhor amiga e eu não queria te perder.

Eu me sentei na cadeira ao lado dela e segurei suas mãos nas minhas.

– Você sabe que não precisa ter medo de me perder, Petra – eu disse, olhando-a nos olhos. – Nós sempre fomos amigas e eu não estou te trocando por ninguém. E as coisas que eu não dividi com você... não foi porque não queria que você ficasse sabendo, em especial. Foi simplesmente porque eu mesma não entendia o que estava acontecendo. Minha cabeça estava...está uma bagunça. E eu não me sentia pronta para falar.

Ela soltou minhas mãos devagar e disse:

– Eu entendo, Tina. Agora eu entendo. Antes eu estava com raiva e...bom, na verdade eu estava procurando um motivo para brigar com você.

Arregalei meus olhos. Do que raios ela estava falando? Petra procurando deliberadamente um motivo para brigar comigo? Parecia uma piada. A Petra que foi minha amiga por anos não faria isso. Nós nunca brigávamos. Eu simplesmente não entendia.

Vendo que eu estava muito confusa para dizer alguma coisa, ela continuou:

– Eu também não fui completamente aberta com você, Tina – seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. – Eu a acusei de não me contar sobre a sua vida, mas eu escondi algo de você por muito tempo.

– Do que você está falando? – eu consegui perguntar.

– Eu sempre soube que você gostava do Silas, eu podia ver como você se sentia confortável com ele como não se sentia com nenhum outro garoto. E eu sabia que ele gostava de você, podia ver nos olhos dele, no jeito como ele parecia sempre se voltar para você, como parecia sempre mais feliz ao seu lado. E eu odiava isso! Eu odiava tanto...eu morria de raiva de você por dentro...eu queria que você simplesmente desaparecesse!

Eu não conseguia fazer com que suas palavras fizessem sentido em minha cabeça. Como Petra podia se sentir assim? O que eu havia feito? Eu nunca imaginaria, nem em mil anos, que minha melhor amiga tivesse raiva de mim, principalmente daquele jeito. Sua voz era machucada, como se eu tivesse feito algo horrível. Como eu podia ter machucado tanto minha melhor amiga...sem nem saber que o fazia?

O que, afinal, eu tinha feito?

– Você não entende, não é? – ela soltou, junto com algumas lágrimas, enquanto se levantava e ficava de frente para mim. – Você é tão inteligente para algumas coisas, mas tão idiota para outras! Aposto que, até o Silas se declarar, você nem sonhava em pensar que ele gostava de você. E é por isso, Tina, que eu...que eu te odeio. Porque ele gosta de você. Não de mim, que sempre fui apaixonada por ele de um jeito que você nunca vai ser. Ele gosta de você.

Ela me deu as costas depois disso. Saiu da sala e me deixou lá, sozinha e confusa, ouvindo as palavras dela se repetirem em minha cabeça cada vez mais altas. Como uma acusação. E só o que eu podia pensar era...como eu pude deixar aquilo acontecer? Eu podia ter evitado. Eu podia ter sido sincera com a Petra desde o início, desde que descobri que estava apaixonada por Vicente e não por Silas. Eu podia ter evitado magoá-la daquele jeito.

Podia ter evitado que ela me odiasse.

Eu podia ter feito tantas coisas de maneira diferente! Eu devia ter feito tudo diferente! Eu precisava simplesmente tomar todas as piores decisões possíveis?

Sheldon Cooper, quando você inventar uma máquina do tempo, por favor, me empreste. Quem sabe assim eu consigo desfazer todas as burradas que fiz recentemente.

Acho que a Lei de Rudin é a cara da minha vida neste momento.

“Em uma crise, quando as pessoas são forçadas a escolher entre diversos tipos de ação, a maioria escolherá a pior ação possível”

Desgraça, teu nome é Maria Valentina.

Eu só percebi que estava chorando quando as lágrimas começaram a pingar em minhas calças.

Acho que tem um momento em que tudo ao seu redor parece explodir. Era o que estava acontecendo comigo. Meu mundo estava simplesmente desmoronando e tudo o que eu tomava por certo, estava se tornando errado. Isso seria muito para qualquer pessoa, adicione o fato de que eu sou uma adolescente de 16 anos, muito provavelmente na TPM.

Eu estava perdendo minha família, meus amigos, meu amor, minha vida aqui...tudo ao mesmo tempo. Então, não. Eu não pude segurar as malditas lágrimas.

Me processe.

– Já disse que não! Céus, como você pode ser tão chata? É algo natural ou você tomou algum remédio?

Levantei meus olhos marejados e, através dos óculos embaçados, vi um Vicente irritado entrar na sala, falando ao celular.

– Mas que diabos! Eu já disse que... – ele parou ao me ver. Eu escondi o rosto nas mãos, envergonhada por ser vista chorando, especialmente por ele. – Eu te ligo depois.

Eu assumi que ele tivesse desligado o celular, porque a próxima coisa que eu senti foram suas mãos tirando as minhas do meu rosto. Eu não conseguia impedi-lo da mesma maneira que não conseguia parar de chorar. Eu tentei baixar meu rosto, mas ele largou uma das minhas mãos e segurou meu queixo, obrigando-me a olhar para ele, que estava agachado na minha frente.

– Por que tantas lágrimas, Maria Valentina? – ele perguntou, começando a secar as lágrimas em minhas bochechas com os polegares. – O que aconteceu?

Eu não sei o que deu em mim. Eu abri a boca e comecei a falar. Em meio às lágrimas e aos soluços, eu falei que meu pai ia me mandar para a Romênia, que a minha melhor amiga me odiava e que eu era uma das pessoas que escolheria a pior ação possível no meio de uma crise. Maldita Lei de Rudin!

– Calma, Maria Valentina – ele disse, ocupando o lugar antes usado por Petra, ao meu lado, e passando um braço ao redor dos meus ombros. – Eu não entendi nada do que você disse. Só uma tal de Lei de Rudin...o que é isso?

Respirei fundo e tentei controlar os soluços, antes de citar:

– “Em uma crise, quando as pessoas são forçadas a escolher entre diversos tipos de ação, a maioria escolherá a pior ação possível”.

Ele começou a rir e eu o olhei acusadoramente por entre meus óculos embaçados e as lágrimas.

– Você viu isso aonde? – perguntou, tentando segurar o riso. – No twitter?

Eu baixei o rosto, envergonhada, e disse:

– É.

Eu não tenho twitter – conta uma novidade – mas a Petra tem, então...

Pronto, era só o que faltava para o menino engasgar de tanto rir.

Otário.

– Pequena nerd – ele começou, parecendo recuperado da crise estúpida de riso, embora um sorriso torto ainda estivesse estampado em seus lábios. – Duvido que você seja o tipo de garota a escolher a pior ação possível em qualquer cri...ok, esqueça o que eu acabei de dizer, você é mestre em tomar péssimas decisões – terminou com uma careta, como se lembrasse de algo não muito agradável.

– Ei!

– Você precisa se animar – ele continuou. – Depois das aulas, vou te levar num lugar bem legal.

Neguei com a cabeça.

– Não posso.

– Por quê? – ele perguntou carrancudo.

– Porque meu pai não vai deixar.

Ele voltou a sorrir.

– Para a sua sorte, eu também conheço uma lei, uma que pode te ajudar agora.

– Muito me espanta, tenho que confessar.

– É a Lei de Retroação de Stewart.

– Isso não existe, você está inventando! – acusei, finalmente parando de chorar e terminando de secar minhas lágrimas com as costas das mãos.

– Não estou não! – se defendeu, fazendo uma falsa cara de indignação.

– Tá, então por que eu nunca ouvi falar dela? – perguntei o óbvio.

– Porque você não é Deus e não sabe de tudo.

Ok, ele tinha um ponto.

– Certo, e o que diz essa lei? – perguntei com um suspiro teatral.

– “É mais fácil conseguir o perdão do que a permissão”.

Depois dessa foi minha vez de rir. Muito.

– Isso não se aplica na minha casa – soltei enquanto ria.

Percebi que Vicente estava muito quieto e me virei para vê-lo. Ele estava com um sorriso no rosto. Não o torto, o malicioso ou o cheio de si. Era um sorriso bonito, genuíno, quase como se ele não percebesse que estava sorrindo. Seu rosto estava bem perto do meu e eu podia ver o castanho escuro dos seus olhos se diferenciando da pupila. Se eu me aproximasse só um pouco...

Esquece, Tina.

Chega de escolhas erradas.

– Você não ouviu o que eu disse? – perguntei. – Essa lei não funciona lá em casa.

– Não importa – ele respondeu, apertando meu nariz levemente com os dedos, como se eu fosse uma criancinha. – Eu fiz você rir. Estou satisfeito.

Certo, alguém pode realmente me culpar por sempre tomar as decisões erradas quando o errado é tão...irresistível?



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Notas finais do capítulo

Bom, a primeira e não revoltada parte das minhas notas finais: uma amiga minha, a Feeh (autora de COD *-*) está escrevendo uma história e eu estou ajudando! (na verdade ela que escreve,eu só dou um pitacos básicos haha) e é muito legal! Quem estiver interessado, o link tá aqui
http://fanfiction.com.br/historia/281360/Where_I_Can_Fly
:)
Agora eu vou lembrar que estou muito chateada e dividir isso com vocês. Assim, eu tenho mais de 200 leitores. mais de 100 adicionaram a história nos favoritos. E e é difícil que eu consiga que 30 comentem num capítulo. Isso é muito desanimador. Sério. Eu sei que eu demoro pra postar e tudo, mas eu já expliquei a razão disso. E to fazendo o que posso pra não abandonar o nyah, porque eu gosto daqui. Mas eu devia estar estudando, me concentrando e fico me preocupando em escrever aqui. Se fosse só pra mim, tudo bem, eu daria uma parada e escreveria de novo quando tivesse tempo, mas o negócio é que eu não escrevo mais só pra mim. E seria muito legal se vocês tirassem um minuto do tempo de vocês pra deixar um review. Sinto muitos, pessoinhas lindas que sempre comentam, vocês não tinham que estar lendo isso. Culpem os fantasmas! Pra completar, eu descobri que fui plagiada. Plagiaram Trabalho Escolar: Diário De Lidia Brazzi (pra quem não sabe, foi minha primeira história aqui) num outro site. Ou seja, eu me esforço pra escrever pra pessoas que não valorizam isso e ainda estou sujeita a ser plagiada.
Tá ficando simplesmente demais pra mim. Sério.
Bom, é isso, obrigada pela atenção.
(Vou responder aos reviews do cap passado agora)