O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 20
Como Num Filme Adolescente Idiota


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeey, olha quem está aqui, cogumelos? Não, não é ilusão! Sou eu! Yeeei! (Não liguem, é que eu bebi energético...).
Enfim, não é milagre, mas aqui está um cap novo com menos de 10 dias do outro hahaha. Adivinhem quem não tem aula amanhã? Pois é, eu de novo! Yeeei!
Então, ignorando meu momento retardada, quero dizer que fiquei o dia inteiro escutando uma música e ela me deu uma vontade louca de escrever esse cap. A música não tem nada a ver com ele, mas se vocês quiserem ouvir é essa aqui:
http://www.vagalume.com.br/owl-city/good-time-feat-carly-rae-jepsen.html
E é muuuito legal.
Bom, algumas informações antes de vocês lerem o cap:
1-Ele tá muito bobo e romantiquinho, mas eu ameeeei escrever ele, então mesmo assim eu gosto dele, peguem leve.
2- Não revisei, na pressa de postar antes que hoje seja amanhã, então se tiver algo errado me avisem.
3- Cap dedicado a raggamuffin e a MariWinchester pelas recomendações fofas *-*
Só isso. Beijiiinhos :*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/174341/chapter/20

Quem nunca acordou numa manhã qualquer e se sentiu vivendo em um universo alternativo?

Ninguém?

Bom, isso já aconteceu comigo duas vezes. A primeira foi quando minha mãe foi embora. Apesar de eu ser bem pequena na época, eu lembro muito bem da sensação. Era uma coisa irreal, algo que a gente nunca espera que aconteça. Por meses eu me senti vivendo em um mundo estranho, ainda esperando ouvir a voz da minha mãe pela casa ou vê-la pintando uma xícara, as mãos sujas de tinta colorida.

A outra vez foi bem mais recente. Foi no último natal que passamos com o vovô na Romênia. Depois que a mamãe foi embora, costumávamos passar a maioria dos nossos natais lá, mas era sempre uma coisa meio deprimente. Apesar de todos os esforços do vovô, meu pai nunca comemorava o natal com a gente. Não nos dava presentes nem participava da ceia. Ficava trancado na biblioteca o dia todo e nós nem tínhamos permissão de comprar presentes para ele.

Mas nesse último natal, foi diferente. Quando Geny e eu acordamos e fomos para o solar onde tomávamos o café da manhã de natal, o papai estava lá, junto com o vovô. Claro que o semblante no rosto do papai ainda era o mesmo de sempre, frio. Mas ele estava lá. E com presentes. Tudo bem que um livro de química – para mim – e um ingresso para uma palestra sobre robótica – para Geny – não são a melhor coisa para se presentear duas adolescentes no natal.

Mas ei, eu gostei do meu livro. Geny foi quem jogou o presente dela fora.

Enfim, nesse natal, quando papai nos deu presentes e passou o dia com a gente, quase como uma família de verdade, eu senti que estava sonhando. Ou que aquele era um universo alternativo estranho e aliens iam surgir do nada para comer nossos cérebros.

Mas acontece que, em ambos os momentos em que eu me senti desse jeito, o que estava acontecendo, estava acontecendo de verdade.

Muito confuso?

Bom, deixe-me apenas adicionar o mais recente momento em que me senti vivendo em um universo alternativo. Agora.

Por que como nesse mundo pode existir a mínima possibilidade de o popular e bonito Vicente Müller me pedir para ser sua namorada?

Certo, foi um pedido meio estúpido, codificado e nada romântico – além de não ter sido exatamente para mim, Maria Valentina – e uma pessoa menos inteligente talvez não o entendesse muito bem. Para a sorte – ou seria azar? – do Müller, eu era a garota mais esperta do colégio.

E entendi muito bem.

Claro que depois que fomos interrompidos pelo santo motorista de táxi – eu seria capaz de beijá-lo, juro – não tocamos mais no assunto. Continuamos nosso encontro como se nada tivesse acontecido e nos entupimos de gordura trans no McDonald’s.

A tarde foi incrível depois disso. Eu só tinha estado em um encontro pela primeira vez no dia anterior e nada se comparava àquelas horas que eu estava passando com Vicente. Sim, eu sei que sempre pensei ser apaixonada pelo Silas e sei que já havia passado bastante tempo sozinha com Vicente antes de hoje, mas...

Bom, eu não podia evitar o jeito que eu me sentia sobre o popular jogador de futebol da escola. Apesar de já ter passado bastante tempo com ele nos últimos tempos, nunca foi daquele jeito. Eu nunca fui a garota para quem ele olhava com adoração, nunca fui a garota com quem ele queria estar de verdade. Sempre fui a nerd com quem ele era obrigado a gastar seu tempo para melhorar as notas.

E depois que eu conheci a mãe demônio dele, não o culpo nem um pouco.

E quanto ao Silas, eu realmente não sei o que pensar a respeito. Quer dizer, somos amigos há muito tempo e eu sempre gostei dele. Sempre gostei do jeito que podia relaxar ao lado dele, sempre gostei da maneira como sua mente funcionava e sempre gostei do fato de ele ser inteligente e ao mesmo tempo ingênuo e doce. Eu sempre achei que estava apaixonada por ele.

Mas não. Eu podia amá-lo de alguma maneira, não tinha dúvidas quanto a isso. Mas paixão?

Estou descobrindo que paixão não tem nada a ver com conforto. Tem a ver com mãos suadas e corações acelerados. Tem a ver com enfrentar meu pai e desobedecê-lo sem medo pela primeira vez na vida. Tem a ver com ser covarde e manter uma mentira apenas para ficar perto daquele garoto mais um pouco. Apenas pra viver aquele momento um pouco mais.

Tem a ver com ser insanamente paradoxal.

Tem a ver com perder o controle e ser impulsiva.

Tem a ver com Vicente. E o jeito com que ele, sem querer, se esgueirou para debaixo da minha pele. O jeito com que ele, sem saber, entrou no meu coração.

Céus, eu fico cada vez mais brega.

Estar apaixonada é um saco.

– Parece que sempre acabamos aqui – Vicente disse de repente.

Havíamos saído do McDonald’s e caminhado vagarosamente até a praia. Já passava das quatro da tarde, mas ainda havia gente ali. Crianças nadando nas ondas e pessoas se exercitando. Famílias passeando com os filhos e o cachorro aqui e ali. A tarde estava quente e agradável, bonita. Vicente e eu estávamos andando de mãos dadas, tomando sorvete. O meu era de menta e o dele de chocolate. Parecíamos mesmo um casal de namorados, eu acho. Pelo menos, eu me sentia assim. Como num filme adolescente de má qualidade.

Nunca gostei muito desses filmes. Mas agora vejo porque todas as garotas gostam tanto de coisas assim. Passear de mãos dadas pela praia no fim da tarde com um garoto bonito e um sorvete de menta? É meio legal.

Certo, muito legal.

– Essa é só a segunda vez que acabamos aqui – respondi, lambendo meu sorvete.

– É, mas quantas vezes saímos juntos? – retrucou ele.

– Ahn...duas...

– Vê? É um padrão – disse e riu.

Eu o acompanhei. Sim, era um padrão. Ele havia dito que aquele era o lugar preferido dele, então nada anormal querer levar a garota que ele gosta lá, para compartilhar aquilo com ele?

Isso doía. Afinal ele nunca havia me levado ali. Será que é possível ter ciúmes de si mesma?

Bom, aquilo era tudo culpa minha mesmo. Eu devia acabar com aquela palhaçada de uma vez e contar a verdade para ele. Era para isso que eu estava ali, eu vim encontrá-lo com esse propósito!

Mas eu já devia saber que não conseguiria. Não tinha coragem. Bastava olhar para aqueles olhos tão escuros e calorosos que minha boca secava e eu não conseguia dizer uma palavra sobre o assunto.

Isso aí, Tina, não tinha como ser mais covarde.

Resolvi parar de pensar nessas coisas por enquanto, pelo menos não enquanto eu estava curtindo meu encontro com Vicente. Quem sabe? Podia ser o último. Olhei para ele e o garoto parecia perdido em pensamentos, olhando para o horizonte, muito concentrado.

– No que está pensando? – perguntei, incapaz de conter a curiosidade.

Ele pareceu acordar de um transe, olhou para mim e sorriu.

– Estava pensando em uma garota – respondeu.

– Oh, muito obrigada pela consideração – disse irritada e tentei soltar minha mão da dele.

– Ei, calma – disse ele com um meio sorriso, segurando mais forte em minha mão. – Não sabia que você era ciumenta, Tiffany.

– E-eu...eu não... – gaguejei pateticamente, sentindo minhas bochechas em fogo.

– Calma, não precisa ficar assim – Vicente continuou. – A garota em que estou pensando não é ninguém com quem você precise se preocupar. É só uma amiga.

– Ah é? – perguntei suspeitosamente.

– Sim. O nome dela é Maria Valentina. Só estava pensando se ela gostaria de vir aqui. Queria fazer alguma coisa para animá-la.

Eu engasguei com o sorvete e comecei a tossir incessantemente. Vicente olhou preocupado para mim e perguntou:

– Você está bem?

Respirei fundo e me recompus antes de dizer:

– S-sim, estou ótima. Maria Valentina, é? Que nome horrível!

– Eu gosto – respondeu dando de ombros. – É engraçado.

Não pude impedir meus olhos de arregalarem, mas felizmente Vicente não estava olhando para mim.

– Sério? E como ela é? – resolvi perguntar, casualmente demais.

– Maria Valentina? – ele repetiu, sorrindo. – Ah, ela é linda. Super nerd e fácil de irritar, um pouco violenta, muito engraçada, do tipo que você nunca fica entediado quando está por perto. Ela também é um pouco metida, sabe? Só por ser inteligente e essas coisas. Ela tem olhos muito bonitos.

Senti uma dor atrás dos meus olhos, aquela que normalmente precede as lágrimas, mas respirei fundo e as controlei. Ele ia me achar a maior maluca se eu começasse a chorar assim do nada. Mas o que eu podia fazer? Ah, ela é linda. Sério que ele estava dizendo isso sobre mim para outra pessoa? Tudo bem que eu não era outra pessoa, mas ele não sabia e...

Isso tá ficando muito repetitivo.

Impedi as lágrimas, mas não pude evitar o sorriso. Só tinha uma coisa estranha...eu, metida? Sério? Violenta pode até ser, mas se eu sou metida o Sr. Vicente Mostro-Os-Meus-Bíceps-Pra-Provar-Que-Não-Sou-Um-Atraso-Genético Müller é o que?

Um palhaço.

Um palhaço muito lindo.

Mas ainda assim um palhaço.

– Mesmo? – perguntei, olhando fixamente para ele.

Quem sabe? Talvez eu não precisasse dizer nada. Talvez ele reconhecesse meus olhos. Talvez fosse o suficiente. Ele não era tão idiota assim, por favor!

Olha pra mim. Olha pra mim.

Ele olhou.

– Até acho que os olhos dela são quase da mesma cor que os seus, Tiffany – ele comentou, distraidamente.

Pois é. Vicente Müller é uma porta.

Sério, como eu posso gostar desse cara?

– Que coincidência, não é? – disse, carregada na ironia.

– Mas chega de falar dela – ele se virou para mim, passando a andar de costas, os lábios sujos de chocolate. – Por que você não me fala algo sobre você? É tão misteriosa que eu nem sei o seu sobrenome.

Droga, ele quer saber sobre a Tiffany?

Eu tinha que ter pensado num plano B ou coisa assim. Talvez eu precisasse criar uma vida para a Tiffany. Quem sabe até um perfil no facebook?

Que merda eu tô falando? Nem eu tenho um perfil no facebook!

Papai não gosta de redes sociais...

– E então? Qual é o seu sobrenome? – ele insistiu.

Droga. Droga. Droga.

Certo, um sobrenome...sobrenome...existem tantos, mas como todos parecem ter fugido da minha mente nesse momento?!

Müller?

Não, sua anta, ele é Müller!

Certo, raciocine Tina, você não é a mais esperta da sala por nada...

– C-caine – soltei hesitante, o sobrenome de solteira da minha mãe sendo o primeiro viável que veio à minha cabeça. – Sou Tiffany Caine.

Ele sorriu e lambeu o chocolate dos seus lábios. Senti meu rosto esquentando ao ver isso, tentando não pensar em como eu gostaria de ter feito aquilo pra ele...

Tina, controle-se, garota!

– Certo, Srta. Caine – disse ele, contente. – Já é um começo, agora só preciso saber todo o resto que há pra se saber sobre você.

– Você não acha que está indo depressa demais? – questionei, tentando tirar o meu da reta. – Uma garota tem que ter alguns mistérios.

– Certo, vamos aos poucos então – ele piscou. – Onde você estuda?

Quê?

Fala sério, tô ferrada. Vou ver se me afogo nesse sorvete de menta e morro de uma vez.

Uma escola? Ele podia acabar descobrindo a verdade se eu dissesse o nome de qualquer escola e ele resolvesse aparecer por lá ou algo assim. E se ele conhecesse alguém em todas as escolas da cidade? O garoto era popular e essas coisas, não duvidaria nada.

– Esse vai continuar sendo um segredo – eu resolvi responder, com um sorriso provocante. Ou o que eu acho que é um sorriso provocante. Que seja. – Mas você pode fazer outra pergunta, se quiser.

Ele fez uma cara emburrada antes de sorrir e lamber seu sorvete.

– Essa era uma das fáceis – reclamou ele. – As próximas são todas relacionadas às suas roupas de baixo – adicionou com uma piscadela.

Fiquei tão chocada com esse comentário impróprio que acabei rindo. Eu deveria ficar indignada, eu sei, mas era meio impossível. Ali, na praia, com ele, rindo, tomando sorvete e andando de mãos dadas como um casal de verdade, tudo o que eu queria era... me divertir.

Quem diria, não é? A certinha e sensata Maria Valentina querendo viver o presente e se divertir. Quase não me reconheço.

E isso é tão bom.

– Bom, acho que você precisa saber o que acontece quando um cara pergunta sobre a minha roupa de baixo – disse, improvisando. Nenhum cara jamais tinha me perguntado sobre minha roupa de baixo, é claro.

– Ah, é? E o que acontece?

Soltei minha mão da dele e enrolei uma mecha de cabelo no dedo, aproximando-me mais dele, com um sorrisinho.

– Você vai ter que fechar os olhos – eu disse, mordendo o lábio inferior. – E se abaixar um pouco.

– Tudo o que você quiser, gata – respondeu, me obedecendo imediatamente.

Eu fui me aproximando dele até deixá-lo sentir meu hálito em sua pele e quase não podia controlar meu riso.

Peguei meu sorvete de menta e o enfiei com gosto na cara dele.

Às vezes é tão bom ser clichê! Não acredito que ele realmente caiu nessa!

Ele abriu os olhos e olhou-me chocado enquanto a o sorvete escorria por seu rosto. Ele esfregou uma mão no queixo, tentando tirar um pouco da gosma verde e gelada da sua pele. Então, ele olhou para mim. Com os lábios torcidos naquele sorriso de menino mau.

E eu soube.

Vicente Müller é vingativo.

Muito vingativo.

– Não ouse! – gritei, antes de sair correndo pela areia.

– Ah, eu ouso sim! – devolveu ele, indo atrás de mim.

Sim, eu me sentia mesmo num filme adolescente clichê agora. Eu estava correndo de um garoto sujo de sorvete pela praia, numa tarde de sábado, com o lugar cheio de pessoas que podiam presenciar nosso momento de crianças bobas. E quer saber? Eu não me importava nem um pouco! Não conseguia parar de sorrir enquanto corria, como se meus lábios não me obedecessem mais e se esticassem inconscientemente. Perdi uma sapatilha enquanto corria, mas continuei mesmo assim, sem nem me preocupar com o sermão que ouviria de Geny por sujar sua meia calça.

Eu nunca pensei que diria isso, mas... é tão bom ter 16 anos e estar apaixonada.

Vicente me alcançou e nós dois fomos ao chão. Ele, de algum modo, conseguiu ficar por cima de mim e não derrubar seu sorvete de chocolate.

– Não! Não! – eu gritava e ria enquanto ele me segurava, meus braços haviam ficado presos embaixo de mim. – Por favor, não faz isso!

– Ah, Srta. Caine, você não pode provocar e depois fugir – ele respondeu com um sorriso maligno e arfante. – Tem que pagar pelos seus crimes!

Eu não parei de gritar enquanto ele sujava o dedo de sorvete e começava a espalhar chocolate por todo o meu rosto. Eu tinha sorvete nas bochechas, queixo, nariz e boca. Ah, e ele não esqueceu das sobrancelhas.

– Isso é muita maldade – reclamei com um biquinho que eu nem sabia que sabia fazer.

– Sabe o que dizem, não é? – disse ele parecendo muito satisfeito. – Não sabe brincar, não desce pro play.

Eu não sabia se ria ou chorava depois dessa.

– Mas pelo menos agora eu vou poder fazer uma coisa que estou querendo fazer há um tempão – continuou ele.

– O quê? – perguntei inocentemente.

Ele não respondeu.

Bom, não com palavras, pelo menos.

Vicente baixou os lábios para os meus antes que eu pudesse ter qualquer reação. Começou lambendo o sorvete de chocolate dos meus lábios, fazendo-me rir e corar, depois começou a me beijar de verdade. Sua língua era gelada e doce na minha, uma mistura de chocolate e menta, era tão bom que fechei os olhos e o beijei de volta com vontade.

Onde está Tina e o quem é essa que está no meu lugar?

Bom, pelo menos Tiffany sabe se divertir.

– Vou deixar você limpa, não se preocupe – Vince declarou depois de um bom tempo. quando paramos de nos beijar. – Vou tirar todo o chocolate do seu rosto.

– É, e enchê-lo de saliva – devolvi.

– Gata, você precisa definir prioridades na sua vida – ele dizia enquanto beijava meu queixo, limpando o que havia do sorvete lá.

– Certo, você pode fazer isso – eu disse, enquanto ele migrava para a minha bochecha. – Se nunca mais me chamar de gata. Sério.

Nós rimos e ele voltou a me beijar na boca. Dei um jeito de soltar meus braços e os envolvi no pescoço dele, sujando-o todo de areia.

Nenhum de nós pareceu notar.

Quando nos levantamos da areia, o sol já havia se posto quase completamente. Fomos até uma loja de conveniências ali perto, onde eu usei o banheiro para lavar meu rosto grudento de chocolate e para tirar o máximo de areia possível da minha roupa. Quando saí, percebi que Vicente havia comprado um pacote gigante de ruffles e várias latinhas de Coca-Cola.

Sorri e fui até ele.

– Tem uns hippies acendendo uma fogueira lá na praia – ele disse, passando o braço pela minha cintura e me guiando para fora da loja como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. – Quer se juntar a eles e dar umas boas risadas? Sério, aqueles caras são hilários! E nem estão fumando maconha. Eu perguntei – completou, tentando fazer uma cara séria, mas falhando miseravelmente.

Eu ri e perguntei as horas para ele. Já passava das sete da noite. Franzi o cenho. Papai já estava em casa, com certeza.

Eu estava morta. Completamente acabada. Precisava voltar para casa imediatamente se queria ter pelo menos a chance de ter um julgamento antes de ser condenada à forca.

– Você tem hora pra voltar pra casa, Tiffany? – perguntou ele, sério dessa vez.

Olhei para aqueles olhos escuros e ansiosos. Sua mão era quente na minha pele através do tecido fino da minha blusa. Eu ainda sentia o gosto de menta e chocolate do beijo dele na minha boca. Os momentos da tarde de hoje gravados na parte de trás dos meus olhos.

Hoje eu era Tiffany. E eu não seria ela para sempre. Eu não era ela. Não era ousada e desinibida, não era impulsiva e meio maluca. Mas principalmente eu, Maria Valentina, não era a garota que o Vicente queria.

Aquela podia muito bem ser minha única chance de ser como as protagonistas desses filmes adolescentes idiotas da TV. Eu queria esquecer do meu pai e da minha iminente morte (ou pelo menos, tortura). Queria esquecer que eu era nerd e usava óculos. Queria apenas rir e passar a noite beijando Vince Müller ao redor de uma fogueira cheia de hippies que não estavam fumando maconha.

Isso é crime, por acaso?

Bom, tenho bastante certeza que meu pai diria que sim.

Mas ele não estava ali, estava?

Sorri e puxei seu rosto para baixo, beijando-o profundamente por um momento curto demais.

– Não – respondi, olhando em seus olhos que sorriam. – Não tenho hora para voltar para casa hoje.

É isso aí, eu seria Tiffany por completo esta noite.

E Tiffany não tem um pai tirano.

Sei disso porque eu a criei.

Aquele dia – e aquele encontro que começou tão mal – bem que podia durar para sempre, certo?



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Vou responder aos reviews do cap passado amanhã, ok?
Beijos e até o próximo cap :))
obs: Vocês repararam que eu ando respondendo aos reviews agora? Demoro, mas respondo. Tomei vergonha na cara haha.