O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 19
Malditos Motoristas De Táxi


Notas iniciais do capítulo

O cap não tá revisado e é provavelmente o pior cap de O Amor É Clichê já escrito na história. Por isso, me desculpem.
Leiam as notas finais, por favor.



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Certo, aquilo era um sonho ou um pesadelo?

A parte do sonho era a Tiffany, obviamente, que estava finalmente, ali comigo.

O pesadelo era a salada.

E a minha mãe no meu encontro.

Eu ainda não estava acreditando que ela tivesse insistido tanto em vir. O que diabos ela estava pensando?

O que eu estava pensando?

Mas era isso ou correr o risco de não ver Tiffany, então eu precisei fazer uma escolha.

A errada aparentemente. Bastou um olhar no rosto dela quando eu a apresentei à minha mãe. A garota ficou verde.

O engraçado é que, por um momento, aquela coloração não saudável na sua pele me fez lembrar um pouco da minha nerd. Ela sempre parecia prestar a passar mal perto de mim.

Me pergunto o motivo disso, já que ela sempre parece agradavelmente rosada quando está com o palhaço assassino.

Certo, preciso me preocupar com um problema de cada vez. E o mais iminente era com certeza aquele almoço do capeta.

Mamãe, Lana, a garota de quem eu gosto e...salada.

Alguém me dá um tiro, por favor? Mas não na cabeça, porque eu quero ser enterrado com meu rosto intacto.

Mas voltando ao que de fato estava acontecendo (ninguém ia favor o favor de cravar uma bala no meu peito mesmo).

Percebi que mamãe estava conversando animadamente com Lana...e as duas ignoravam Tiffany completamente. Irritado, virei-me para a bela ruiva ao meu lado, decidido a conversar com ela e deixá-la tão confortável quanto possível, mas não pude. Nossas mãos já estavam juntas embaixo da mesa — logo que se sentou, senti que a garota podia usar um pouco de apoio moral — e isso já mandava espasmos de calor por todo o meu corpo, de um jeito que me acalmava e atiçava ao mesmo tempo. E ao virar para ela, a surpreendi com um suave sorriso curvando seus lábios delicados, que brilhavam como uma maçã caramelizada, mas eu sabia que tinham gosto de morango.

Sei que isso é coisa de mulherzinha, mas eu senti como se meu mundo tivesse parado quando aqueles lábios tocaram os meus. Tiffany parecia encaixar com perfeição, como se tivesse sido feita especialmente para mim. E seu beijo foi ainda melhor do que eu tinha imaginado ao vê-la pela primeira vez. Mas foi tudo que devia ser. Espontâneo, verdadeiro...apaixonado.

Ou será que eu estava tão louco por aquela garota que estava começando a imaginar coisas?

Tiffany parecia mais bonita do que eu me lembrava. Seus cabelos estavam mais curtos que antes, apesar de ainda serem bem compridos. Emolduravam com mais suavidade os traços do seu rosto, enquanto que quando estavam mais longos a deixavam com um ar meio indomável.

Difícil dizer de que jeito eu gostava mais. Ela sempre parecia maravilhosa.

Senti meus próprios lábios curvarem inconscientemente ao vê-la ali ao meu lado, ao meu alcance. Ela era real e estava comigo — e eu quase nem lembrava mais do fato de ela ter me dado o bolo.

Parecia não importar mais.

Tiffany baixou os olhos e fitou a mesa por um momento. Senti sua mão apertar ligeiramente a minha, e não acho que ela mesma tenha percebido isso. Parecia muito concentrada, até preocupada, e um pequeno vinco havia se formado entre suas sobrancelhas ruivas.

E só depois de algum tempo, ela olhou para mim.

Foi como ser atingido por um raio.

Eram olhos expressivos e atormentados, eu quase podia sentir a tempestade atrás deles. Nunca um olhar foi assim, eu sentia que ela queria muito me dizer alguma coisa, tanto que isso a estava machucando.

Eu estava prestes a dizer alguma coisa para ela, não sei bem o que, mas qualquer coisa que fizesse aquela aflição sumir de seus olhos funcionaria para mim.

— Vince!

E a voz da mamãe quebrou mais uma vez o feitiço em que a garota me envolvia.

Pisquei, quase pulando da cadeira com o susto. Tiffany imediatamente tirou a mão da minha e eu senti um impulso quase incontrolável de pegá-la de volta, mas me controlei e virei-me para fitar a expressão reprovadora de mamãe e Lana.

— Sua mãe está falando com você, Vince — informou Lana enquanto olhava suspeitosamente de Tiffany para mim.

— Ah, desculpe, mãe — respondi desconcertado. De alguma forma, eu sempre me sentia como se tivesse feito algo errado quando minha mãe falava comigo. — Eu estava distraído.

Mamãe suspirou audivelmente e se virou para Lana, falando como se eu não estivesse ali:

— Vince está sempre distraído, querida — o desgosto era presente em seu tom. — Por isso que suas notas são tão ruins. Até uma mosca tira a atenção dele.

Tiffany soltou o que pareceu ser uma risadinha involuntária e rapidamente a transformou em uma tosse. Eu arqueei uma sobrancelha questionadora para ela enquanto lhe passava meu copo com água. Ela apenas deu de ombros enquanto tomava um longo gole, mas tudo isso só serviu para chamar a atenção da minha mãe, que agora a observava com olhos de águia.

— Você nunca disse aonde os dois se conheceram, Vince — mamãe disse, seca.

— Numa festa — respondeu Tiffany imediatamente em sua voz suave.

— Era de se esperar — Lana cantou num tom baixo, mas não o suficiente para que não pudéssemos ouvir. E fez isso de propósito. — É sempre em uma festa que se encontra garotas desse tipo.

Mamãe pareceu satisfeita de maneira quase cruel e Lana ria discretamente do vermelho que coloriu as bochechas de Tiffany.

Certo, aquilo tinha ido longe demais.

Mas antes que eu começasse a expor meu desconforto com o comportamento de Lana, o garçom chegou para anotar os pedidos. Por um momento fiquei aliviado por ele nos ter feito interromper a conversa — sou honesto o suficiente para confessar que se tem alguma coisa que odeio na vida, é contrariar minha mãe — mas isso só até eu lembrar que teria que encarar uma salada.

Acho que preferiria um daqueles épicos chutes na canela com que Maria Valentina adorava me agraciar.

Pensando nisso, faz um tempo que ela não me bate...

Não que eu esteja reclamando. Minha saúde agradece.

— Nenhuma chance de ter um hambúrguer por aqui, não é? — Tiffany sussurrou para mim, numa voz que beirava o desespero.

Ótimo, a garota era das que comia e não só fingia que era um ser humano normal.

— Eu sei — eu ri baixinho, tão desesperado quanto ela parecia estar. — É um apocalipse gastronômico.

Tiffany não conseguiu segurar a risada, atraindo novamente os olhares de censura de mamãe e Lana, que estavam terminando de fazer seus pedidos. Cara, as duas pareciam a patrulha anti-felicidade. Suspirei e mais uma vez me amaldiçoei por ter permitido que elas viessem comigo para esse almoço. Não que eu tivesse tido muita escolha.

Tiffany parou de rir e baixou os olhos para o cardápio em suas mãos, meio sem saber o que fazer com ele. Talvez estivesse pensando, como eu, que o papel do cardápio devia ter mais gosto do que qualquer um dos pratos listados nele.

— Eu quero uma salada, é claro — ela disse para o garçom e deu um sorriso fraco para as duas mulheres na mesa. — Essa com camarões. Mas eu quero sem alface, sem cenoura, sem pepino, beterraba e pimentão — especificou, parecendo bem séria enquanto eu me segurava para não rir das expressões horrorizadas do garçom, da mamãe e da Lana. — Ah e com muito, muito molho — completou.

— Eu vou querer o mesmo que ela — falei rapidamente e a ruivinha sorriu brilhantemente pra mim.

O clima estava bem tenso na mesa. Mamãe e Lana conversavam avidamente, mas sempre lançando olhares afiados para Tiffany. Eu estava ignorando as duas, mas também não podia conversar com a garota ao meu lado direito, já que sabia que as duas estariam ouvindo tudo e dariam um jeito de usar contra mim qualquer coisa que ouvissem.

Mamãe não tinha gostado nada da minha garota, isso era óbvio. Mas bom, ela nunca gostava de nenhuma das minhas namoradas mesmo.

Por que então eu sentia que estava muito ferrado dessa vez?

Pouco tempo depois, nosso almoço chegou. Duas das saladas mais verdes, secas e sem graça possíveis e dois camarões com tomate e molho.

Sem alface, cenoura, pepino, beterraba e pimentão, não sobrou muita coisa. Mas pelo menos o que sobrou era comestível. Tinha que agradecer Tiffany mais tarde pela excelência em se livrar da salada em restaurantes de salada.

— Você sabe quantas calorias tem nesse molho...Tiffany, não é? — Lana perguntou em seu tom mais venenoso.

— Ahn...não — respondeu a garota, olhando para Lana como se dissesse "quem se importa?".

— Bom, são muitas. Uma garota como você não vai querer estragar seu corpinho, não é?

Os olhos de Tiffany arregalaram quando ela entendeu a insinuação e mamãe parecia imperturbável.

Eu fiquei muito puto dessa vez.

— Lana! — exclamei, cerrando os punhos e tentando manter a fúria fora da minha voz. — Já chega.

Ela deu de ombros com um sorrisinho dissimulado e eu senti uma mão macia segurar a minha que estava apertada de raiva.

— Você vai realmente fazer uma cena, Vince? — mamãe perguntou, a voz fria como gelo. — Como se fosse um garotinho mimado?

— Deixa pra lá — Tiffany disse baixinho, dando de ombros. — Não importa.

Respirei fundo e consegui ficar calado. Tiffany se voltou completamente para seu prato e pôs um camarão na boca, enquanto as duas ocupantes na nossa mesa voltavam a tagarelar entre elas.

Sinceramente, nunca soube o que em Lana agradava tanto a mamãe, ela sempre foi mimada e maldosa, apesar da cara de boazinha sempre enganar todo mundo. Mas não, para mamãe Lana sempre seria a Santa Lana, perfeita e incapaz de dizer algo venenoso. Ela é só sincera, Vince, você podia aprender com ela.

Há alguns anos que minha paciência com a morena havia esgotado.

Concentrei-me no meu almoço, mas sempre olhando Tiffany pelo canto do olho. Ela não parecia animada e aquela vinco entre suas sobrancelhas continuava lá. Acho que não posso realmente culpá-la, aquela não estava mesmo sendo a melhor refeição do ano.

– Essa é a salada mais pesada que eu já vi – reclamou Lana para ninguém em especial, é só que reclamar era uma coisa que ela curtia muito fazer.

E pesada? Aquela salada? A garota estava louca? Só tinha folha ali.

– É verdade, querida – minha mãe concordou, como sempre fazia. – A minha também não está muito boa.

– Será que eles não têm algo mais leve, não?

– Por que você não tenta isopor? – Tiffany perguntou de repente, repousando o garfo e a faca na mesa e olhando com verdadeiro nojo para mamãe e Lana. – Tenho certeza que deve ser bastante leve para você. E o gosto não deve ser muito diferente dessa coisa que você está comendo.

Expressões gêmeas de choque estavam estampadas nos rostos das duas mulheres. Eu mesmo devia estar com uma cara parecida. Tiffany realmente havia dito isso? Eu não sabia se ria ou se batia a minha cabeça na parede, porque agora mesmo é que a coisa tinha ido pro beleléu.

Sério, beleléu? Eu nasci mesmo nesse século?

Mamãe foi a primeira a se recuperar e fitou Tiffany com verdadeira aversão, crispando os lábios e cerrando os olhos.

– Escute aqui, mocinha – ela disse, muito irritada. – Você é a criaturinha mais sem modos que eu já...

– Quer saber? – Tiffany teve a coragem de interromper minha mãe, coisa que eu mesmo nunca havia feito na vida. Ela levantou e jogou o guardanapo de pano que estava em seu colo em cima da mesa com um safanão. – Eu não tenho que ficar aqui pra ouvir isso – ela se virou para mim e seu olhar se suavizou um pouco. – Eu sinto muito, mas acho que nosso encontro acaba aqui. Tchau.

E simplesmente foi embora.

Eu fiquei embasbacado, observando suas costas enquanto ela partia, pisando forte no chão com suas sapatilhas brancas. Seu cabelo balançava atrás dela, todos os tons de vermelho destacados pela luz que entrava das janelas do restaurante.

– É impressionante como essas garotas são – declarou Lana, indignada. – Nós tratamos bem tipinhos como ela e é isso que recebemos...

– Vince, você nunca mais apareça com essa garota mal educada na minha frente – a voz de mamãe era muito furiosa, talvez porque ela não seja contrariada com frequência.

– E se ela acha que engana a gente com aquele cabelo dela...é muito idiota. Está na cara que aquela cor é do tipo que vem em um tubinho que ela comprou na farmácia. E que trabalho mal feito, eu...

Eu simplesmente me desliguei dos absurdos que estava sendo obrigado a ouvir. Só o que eu ouvia era uma voz na minha cabeça me xingando até a morte. Como eu posso ser tão idiota? Como eu consigo essa proeza, sério? Maria Valentina estava certa em todas as ofensas que lançou contra mim. Eu era mesmo um maldito Cérebro de Mosca!

Um Cérebro de Mosca cansado e furioso.

Por que eu não me impus e disse que aquele era um encontro? Desculpa, mãe, a gente almoça uma próxima vez...

Não, eu precisava ceder às pressões dela e concordar em trazê-la e à mala sem alça da Lana ainda veio como a cereja do bolo. Para coroar o pior almoço da minha vida, onde eu destruí qualquer chance de relacionamento com a garota mais incrível que conheci na vida.

Onde está a Maria Valentina para me xingar agora?

– ...Não é, Vince? – ouvi mamãe dizer, mas nem consegui chegar perto de adivinhar sobre o que ela estava falando.

O negócio é que eu devia estar realmente animado com a perspectiva de passar algum tempo com minha mãe. Eu devia. Alguns dias atrás, nada me impediria de ficar animado com isso. Nenhuma garota seria mais importante, eu desmarcaria qualquer encontro sem pensar duas vezes. Mas... as coisas eram diferentes agora...

Agora parecia simplesmente errado deixar Tiffany sair sozinha daquele jeito.

A porta do restaurante se fechou nas costas dela e eu não pude mais vê-la. Comecei a ficar realmente nervoso.

Droga, Vince, só tome uma decisão de uma vez.

– Vince! – Lana balançava a mão na frente do meu rosto. – Você está impossível hoje!

Eu me levantei de um salto, fazendo a cadeira virar e cair atrás de mim com um estrondo. Mamãe e Lana olharam surpresas para mim.

– Desculpe, mamãe, mas... eu tenho que ir – disse e simplesmente saí correndo atrás de Tiffany, quase derrubando um garçom no caminho.

Eu estaria muito ferrado quando chegasse em casa.

Ninguém contraria minha mãe.

Acho que ela gritou meu nome enquanto eu avançava para a saída. Ou talvez tenha sido Lana, mamãe não é do tipo que sai gritando pelo filho no meio de um restaurante.

Bom, eu atravessaria essa ponte quando tivesse que fazê-lo, agora só o que me interessava era tentar consertar as coisas com uma certa ruiva irritadinha.

Será que preciso dizer que o clichê sobre as ruivas é verdadeiro? Elas realmente ficam lindas quando estão com raiva. Bom, não todas, eu acho. Maria Valentina não fica especialmente charmosa quando está me xingando ou tacando telefones na minha cabeça. Mas eu confesso que nunca prestei muita atenção para o rosto dela nesses momentos, fico preocupado demais com meu bem estar para isso.

Maria Valentina com raiva é uma força da natureza.

Olhei para todo o lado quando saí do restaurante e foi fácil avistar uma cabeleira ruiva do outro lado da rua, fazendo sinal para um táxi. Atravessei a pista apressadamente e a impedi de entrar no carro. Os olhos dela abriram como pratos e, no sol, seu cabelo brilhava como se tivesse luz própria.

– O que está fazendo aqui, Vince? – ela perguntou, surpresa.

Eu sorri para ela.

– Não podia deixar você ir embora sozinha – respondi.

– M-mas sua mãe e aquela ca...aquela garota – ela parecia bem furiosa ao dizer a palavra garota – estão lá dentro. Você vai deixá-las assim?

– Bom, vamos dizer que no momento você é prioridade, ruivinha.

Ela não pôde evitar sorrir um pouco e rolar os olhos.

– Vocês vão entrar ou não? – o motorista barbudo do táxi perguntou, mal humorado.

Eu o ignorei e perguntei para Tiffany:

– Vamos?

– Pra onde?

– Bom, para começar, comer alguma coisa de verdade.

Ela deu um sorriso mais brilhante dessa vez e entramos no táxi. Eu instruí o motorista irritado para nos deixar no McDonald’s mais próximo e Tiffany só faltou dar pulinhos de alegria ao meu lado no banco de trás.

– Tem certeza que está tudo bem? – ela perguntou quando eu joguei minha cabeça para trás e soltei um suspiro, assim que o maldito restaurante natural em que estávamos ficou fora do meu campo de visão.

– Não sei – respondi sinceramente, de olhos fechados e ainda com a cabeça apoiada no assento do carro. – Mamãe não gosta de ser contrariada, então eu nunca faço nada para aborrecê-la de propósito. Mas ela não costuma ligar muito para mim, talvez nem coma todo o meu fígado quando eu chegar em casa.

Tiffany não riu como eu esperava que fizesse, então abri meus olhos e me ajeitei para olhar para ela. A expressão em seu rosto era estranha, meio pensativa e distante, e ainda assim as pontas dos seus lábios estavam ligeiramente curvadas para cima, num sorriso indecifrável.

– Sabe – ela disse de repente, levantando o olhar. – Talvez nós sejamos mais parecidos do que eu pensei.

– Como assim?

– Digamos que eu também convivo com um tirano – ela respondeu enigmaticamente. – E faz pouco tempo que decidi... lutar contra ele. E foi por isso que eu me descontrolei lá no restaurante. Fiquei pensando “estou fazendo de tudo para me livrar de uma ditadura só para cair em outra?” e isso meio que esquentou minha cabeça. Desculpe.

Tirano? De quem ela estava falando? Será que era um namorado abusivo ou algo assim?

– Não precisa se desculpar – eu a tranquilizei enquanto as engrenagens dentro da minha cabeça me davam mil ideias diferentes para aquele “tirano”. Uma pior que a outra. – Você até que aguentou bastante. Mamãe é sempre assim e Lana estava especialmente terrível hoje.

Ela só assentiu com a cabeça e virou o olhar para olhar as ruas pela janela do carro. Eu fiquei me perguntando como começar essa conversa. Então, você tem um namorado psicopata? Ele fez alguma coisa com você? Eu devo procurar a polícia ou coisa assim? Você está bem?

Céus, eu sou um fracasso.

– Eu posso fazer uma pergunta?

– Eu posso fazer uma pergunta?

Falamos ao mesmo tempo e rimos. Uma mecha do cabelo dela caiu em seu rosto e ela a colocou atrás da orelha antes que eu pudesse fazer isso. O que foi uma pena, mas vê-la mexer no cabelo era agradável também.

Ok, eu estou ficando meloso demais. Vou acabar escorregando nessa baba de arco-íris caída aqui.

– Fala primeiro – eu disse.

Ela respirou fundo, mas não olhou para mim.

– Aquela...Lana... - ela começou, hesitante – é... bom, você...vocês se conhecem há muito tempo?

Ok, Tiffany estava com ciúmes.

Eu precisei me segurar muito para não rir de contentamento. Se ela estava com ciúmes, queria dizer que gostava de mim, se gostava de mim, então quem sabe podia me perdoar por todo aquele “encontro” desastroso e por minhas parentes intragáveis. E principalmente, se ela gostava de mim, o bolo de ontem não foi proposital, com certeza aconteceu alguma coisa que a impediu de ir me encontrar.

Oh, a vida é boa.

– Tiffany, olha pra mim – pedi, mas ela não olhou. Resolvi não insistir e falar logo, para livrá-la de qualquer insegurança. – Lana é minha prima. E, acredite, se eu pudesse me livrar dela sem recorrer a sequestro e assassinato, eu o faria.

Eu fui praticamente atacado por madeixas ruivas quando ela virou o rosto rápido em minha direção, fazendo o seu cabelo macio se chocar no meu rosto como um chicote. Ela sorria de orelha a orelha, por isso não me importei nem um pouco.

– Sério? – ela perguntou, ainda sorrindo. Então suas bochechas ficaram vermelhas e ela olhou para baixo. – Quer dizer, é claro. Claro que ela é sua prima. Eu já desconfiava.

Não pude deixar de sorrir ao ver como ela ficava envergonhada

– Agora é sua vez – ela disse, ainda lutando contra o rubor. – Qual é a sua pergunta?

– Ahn...

Como uma pessoa faz essa pergunta para outra, de qualquer jeito? Era complicado demais! E eu estava realmente preocupado. Quer dizer, se tinha um maluco atrás da garota, a coisa ia ser realmente séria. Meu Deus, ela pode ter passado por muita coisa...e esse não quisesse me contar?

– Você tem um namorado? – resolvi perguntar diretamente.

– Quê? – ela soltou, surpresa. – Bem... não.

– Mas e esse tirano do qual você falou... você estava falando de um namorado, certo?

– Tirano?...Ah, sim, claro. Um namorado...

– E então?

– Ex-namorado! É, é um ex-namorado. Ele era um babaca, mas nós já terminamos.

Ela parecia ainda mais ruborizada e eu não estava certo de que ela falava a verdade, mas...

– Tem certeza? – eu perguntei.

– É claro! Você acha que eu sairia com você se tivesse um namorado?

Eu sorri. Era verdade, eu duvidava que Tiffany fosse o tipo de garota que sairia com dois caras ao mesmo tempo. Disso eu tinha certeza.

– Então você está solteira? – eu perguntei, uma pequena ideia se formando em minha cabeça.

– Sim, estou – ela respondeu, ficando ainda mais vermelha que antes, se é que isso era possível. – Muito solteira.

– Muito solteira... – eu repeti, sorrindo. – Ei, que tal não ser tão solteira assim?

Ela piscou umas três vezes antes de fixar os olhos nos meus, tão arregalados que achei que seus cílios fossem encostar nas sobrancelhas.

– Você...você... – ela gaguejou.

– E aí, sim ou não?

Ela respirou fundo e fechou os olhos por seis segundos.

É, eu contei.

Certo, mesmo eu sendo um garoto e tendo que ter aquela atitude blasé sobre ser rejeitado, do tipo “ah não estou nem aí” e “você é quem está perdendo, baby”, a verdade é que não é bem assim. Não importa se você gosta muito da garota ou não, ou se é a pessoa mais segura do mundo.

Você sempre vai ficar nervoso quando pedir a uma garota para ser sua namorada.

E sim, nenhum cara vai admitir em voz alta para ninguém, mas nós pensamos: e se ela disser que não? E se não gostar de mim? Droga, eu falei cedo demais? O que eu fiz de errado?

É humilhante demais. Coisa de garota.

Mas acontece.

Então, quando Tiffany finalmente abriu a boca para responder, eu estava com as mãos suadas e o coração acelerado. Sei que fui precipitado, sei que mal a conheço e sei que ela ainda em uma explicaçãozinha para me dar por ter me deixado esperando ontem à noite.

Mas ela foi uma garota por quem eu enfrentei minha mãe. Coisa que eu nunca fiz. E se isso não for o bastante para mostrar que ela é a garota certa, eu não sei o que é.

– Vince, eu... – ela começou.

– McDonald’s. Chegamos. Vocês vão pagar em dinheiro ou cartão?

Posso matar esse motorista agora?





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Notas finais do capítulo

Quero agradecer muito a todos os reviews do cap passado, foram perfeitos e superaram qualquer expectativa que eu pudesse ter, vocês foram maravilhosos.
Um agradecimento especial à Phallas, que escreveu uma das recomendações mais perfeitas que eu já recebi. Muito obrigada mesmo, eu fico relendo sua recomendação sempre que posso.
Vou tentar responder aos reviews do cap passado pelo celular ainda hoje, mas se não conseguir responder a todos, termino no fds.
Obrigada por lerem. Beijos :*