O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 17
Ciúme É Sempre Complicado


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, cogumelos :)
Agradecimentos especiais a Bah (Prostituta Virgem? Dafuq? O.o) e a BrunaFabray pelas recomendações lindas e perfeitas que fizeram *-*
E também para a Ágatha Riveira, shimiko, Unicornio, Julia Tenorio, Ce, aLuAp e Nathalia. Ou são fofas lindas ou me mandaram reviews perfeito ou os dois *-*
E também pra todo mundo que comentou no cap passado. Amei muito, vocês não imaginam.
Leiam as notas finais.



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Eu beijei Maria Valentina.

Eu. Beijei. A. Maria. Valentina.

É oficial. Eu estou completamente maluco.

Beijei minha pequena e esquisita nerd não só uma, mas duas vezes! O que diabos deu em mim? No que eu estava pensando? Aliás, eu não estava pensando! Eu não tinha a menor ideia do motivo para ter feito aquela loucura...ou não queria me aprofundar nelas...eu estava louco, ponto final.

Mas eu ainda sentia o gosto dela na minha boca.

E não era ruim, como eu podia ter imaginado. Para falar a verdade, era bom. Muito bom. Fazia coisas estranhas com a minha barriga, coisas que um beijo não deveria fazer, especialmente depois de aqueles lábios terem sido contaminados por um certo ruivo psicopata com cara de palhaço tarado que seria futuramente espancado. Deus, odeio pensar que ele teve a audácia de tocar na minha nerd. Ele conseguiu o primeiro beijo dela! O primeiro! E dizem que meninas nunca esquecem o primeiro beijo, o que quer dizer que a Maria Valentina nunca vai esquecer aquele otário! Isso estava me deixando insano! E eu não estava entendendo esse sentimento...cara, eu sou um homem! Homens não entendem esse tipo de maluquice, não nascemos com as enzimas que digerem os sentimentos...

ALGUÉM ME MATE AGORA, ESTOU FICANDO NERD QUE NEM A MARIA VALENTINA.

Tá, voltando ao maldito Ronald McDonald e a cara de pau dele de beijar a nerd. Talvez eu estivesse desse jeito por preocupação com ela. E só. Como se ela fosse uma irmã mais nova. Eu não iria gostar nem um pouco de saber que uma irmãzinha minha estava sendo beijada por um garoto com cara de palhaço sociopata.

Então por que você beijou a garota, Vince?

Diabos, não sei! Não é como se eu tivesse planejado, foi um impulso do momento! Eu estava totalmente frustrado com o bolo que eu levei da Tiffany e lá estava a nerd jogando na minha cara o encontro perfeito que teve com o Ronald...

Certo, você a beijou por causa disso. Mas por que você gostou?

Chega, preciso procurar um psiquiatra com urgência, essas discussões comigo mesmo estão muito esquizofrênicas para a minha paz de espírito.

Paz de espírito?! Do que diabos eu estou falando?! Eu acabei de beijar a Maria Valentina, a nerd rejeitada da escola! Eu nunca mais teria paz de espírito!

Olhei para a dona dos meus pensamentos e dilemas internos, e desejei poder ver seus olhos. Aqueles óculos horrorosos eram como uma barreira que escondia os pensamentos dela. E eu sentia que precisava saber quais eram eles. Só agora, ao fitá-la, começou a entrar na minha cabeça que, antes de ser a nerd esquisita, Maria Valentina era minha amiga. E eu a beijei. E isso poderia tê-la magoado.

Que grande amigo eu sou, hein?

— Maria Valentina — tentei me desculpar de novo. — Me des —

— Não se desculpe — ela me cortou, parecia nem querer ouvir minha voz, já que não me deixava terminar uma frase. — Não foi nada.

Não foi nada.

Eu não previ mesmo, mas aquelas eram as piores palavras que a nerd poderia proferir naquele momento, para terminar um dia em que tudo deu errado. Como assim “não foi nada”?! O que havia acabado de acontecer não era "nada"! Era um beijo! Tudo bem que concordamos que foi um acidente, um erro, mas ainda era um beijo, era...

— Vicente — ela disse meu nome em voz baixa, interrompendo minha revolta mental. — É melhor você ir embora.

Certo, esse dia podia ser definitivamente apagado da minha vida. Primeiro a ligação esquisita da minha mãe, depois o bolo que eu levei da garota que gosto, depois eu fico sabendo que o Ronald McDonald beijou a nerd, depois eu beijei a nerd, depois ela praticamente me expulsa da...calçada da sua casa. Eu realmente gostaria de não ter acordado essa manhã. Ou então ter acordado com febre, catapora, caxumba, apendicite, falência múltipla dos órgãos, queda de cabelo ou coisa pior. Aí teria ido diretinho para o hospital, o que teria me salvado de um dia odioso desses. Teria me poupado de ver o dia que tinha tudo — quase tudo — para ser perfeito, desmoronar até o inferno onde, tenho certeza, uma força demoníaca me possuiu e foi ela que me fez beijar a Maria Valentina.

Você a beijou porque quis, cretino.

Ótimo, agora além de falar comigo mesmo, eu passei a me xingar. Esse dia não tem como piorar...

— Maria Valentina! — alguém gritou, com uma voz grave e irritada que parecia ter saído direto das profundezas do reino de Hades.

Por que será que quando alguém diz que as coisas não podem piorar, o destino curte tirar uma com a cara desse pobre coitado, fazendo acontecer, não apenas uma coisa pior, mas a pior coisa de todas? Pois é, quando as coisas estão ruins...elas sempre podem piorar.

E a pior coisa de todas para esse pobre coitado aqui — e para a Maria Valentina, imagino — foi o pai dela aparecer exatamente naquele momento.

Bom, pelo menos eu suspeitava de que o homem enorme e com uma fúria assassina sendo exalada pelos poros que estava se aproximando de nós com passos rápidos era o pai dela. Seu carro estava estacionado de qualquer jeito na calçada e a porta do motorista ainda estava aberta. Se a súbita palidez da Maria Valentina — sim, ela conseguiu ficar mais pálida do que já era — servisse de indicação, eu estava certo.

Fujam para as colinas! Salvem suas vidas!

Ei, Maria Valentina já tinha dado a entender que seu pai era praticamente um cão do inferno e, mesmo que não tivesse, só de ver aquele cara com aqueles olhos azuis homicidas, qualquer pessoa normal correria para salvar a pele. E ok, confesso que era o que eu queria fazer. Blablablá, não sou corajoso, eu sei, blablablá. Tenho 16 e sou novo demais para morrer. Além disso, o meu rosto aqui é lindo demais para ser desfigurado.

E era exatamente isso que o pai da Maria Valentina parecia querer fazer. Se aquele olhar fuzilador fosse uma dica.

Beleza, então eu queria sair correndo, pegar meu carro e me mandar pra casa, para poder socar uma parede e me perguntar por que a Tiffany me deu o bolo e não retornou minhas ligações. Mas, adivinha? Eu ainda estava ali parado, ao lado da nerd. Não, não foi um súbito surto de coragem. Eu só percebi que, se eu deixasse a ruivinha ali sozinha, ela provavelmente receberia toda a fúria do pai sozinha, e eu não podia deixar isso acontecer. Sou meio covarde, eu sei, mas não sou um cretino! Eu acho. Bom, se a coisa começasse a feder mesmo, eu sempre poderia sequestrar a Maria Valentina e fugir para o Suriname.

Onde fica o Suriname mesmo?

Acho que não estou virando nerd, afinal.

O homem que supus ser o pai da Maria Valentina a segurou pelo braço fino com força, fazendo-a se virar para ele.

— O que você está fazendo aqui fora?! — esbravejou. — Você saiu?! Esqueceu que está de castigo? Onde está a sua irmã? Quem é esse?!

Certo, o esse me ofendeu, mas algo me dizia que era mais sensato — e melhor para a minha saúde — ficar calado.

— G-Geny está em casa, pai — a nerd respondeu, tão assustada que eu comecei a ficar assustado por ela. — Ela não tem nada a ver com isso. Eu só vim aqui fora para...

— Você saiu com esse moleque?! — o pai interrompeu, fuzilando-me com os olhos claros.

Moleque...esse cara não tem educação mesmo.

— Não, pai! — Maria Valentina se apressou em negar. — Ele é só um colega da escola que veio pegar umas anotações emprestadas.

Estava mais do que óbvio que o coroa não ia cair naquela história. Porque, é claro, bastava um olhar para mim para saber que eu não era o tipo de cara que vai à casa de garotas numa noite de sexta feira para pegar anotações. Pode parecer narcisismo, mas é verdade. O pai da nerd passou os olhos da filha para mim com incredulidade e eu pude ver seus dedos apertarem inconscientemente o braço dela, fazendo-a morder os lábios para não soltar um gemido de dor.

Certo, eu sou Vince Müller, 16 anos, amigo da Maria Valentina — e um amigo não muito bom, dado os recentes acontecimentos. O cara era gigante, devia ter mais de 40 anos, era visivelmente mais alto e forte do que eu, e eu não sou fraco nem baixinho. Além disso, era pai da minha nerd.

Mas era isso mesmo. Maria Valentina era a minha nerd — minha única amiga do sexo feminino — e eu não podia deixar ninguém, nem o gigante do pai dela, machucá-la. Que tipo de amigo eu seria se deixasse? E ok, falei sobre ficar calado e ser sensato há um minuto, mas, vamos encarar, Vince Müller é sensato desde quando?

Céus, preciso parar de me referir a mim mesmo na terceira pessoa. Isso tá ficando incontrolável.

— Ei cara, solta ela! — foi o que a esperteza aqui resolveu dizer, agarrando o outro braço da Maria Valentina, que olhou para mim com horror.

É, eu senti que a coisa tinha acabado de ficar feia.

Ele realmente soltou o braço da filha, cujos olhos estavam tão arregalados que eram quase visíveis por trás das lentes. Ela virava a cabeça do pai para mim a cada segundo, temendo a reação do pai. Ele me fitou com o que parecia curiosidade debochada por alguns segundos, depois virou para a nerd e perguntou:

— Onde estão as anotações, Maria Valentina?

Ela piscou, confusa, e por um segundo temi que tivesse esquecido a própria mentira. Mas se recuperou a tempo e balbuciou que estavam em seu quarto. O pai dela então a mandou ir buscá-las. Ela não parecia confortável em nos deixar ali sozinhos, mas não é como se tivesse alternativa. Assim que desapareceu pela porta da casa, fui quase levantado do chão pelo pai maluco dela — que me segurava pela gola da camisa — e empurrado contra a porta do meu carro.

— Eu quero você longe da minha filha — falou em voz baixa e ameaçadora. — Entendeu, moleque?

Bom, eu não queria ficar longe da Maria Valentina. Ela era minha amiga, professora particular e...bom, sei lá, ela era meio que...minha, sabe? Não num sentido romântico, fala sério — esqueça os beijos, eles NÃO aconteceram — mas era como se fosse certo ela ficar perto de mim. Ela era tão esperta, podia até me dar umas dicas com a Tiffany. E bom, quem iria protegê-la do palhaço tarado? Não estou fazendo muito sentido, mas a coisa era que eu não iria ficar longe da minha nerd, mesmo que o pai dela não me quisesse perto dela.

Porém, já concordamos que não sou corajoso, certo? Então sinto muito, mas não ia rolar dar uma de herói romântico e dizer aos berros ao pai da Maria Valentina que nada e nem ninguém iria me separar da filha dele. Isso aqui não é uma novela nem um livro do...sei lá, Shakespeare? Ele escrevia livros, certo? Romeu e Julieta? Deixa pra lá, o que importa é que isso não ia acontecer. Primeiro, porque ele teria uma ideia totalmente errada do meu relacionamento com a filha dele, que é simplesmente uma relação de amizade (esquece os beijos!). Segundo, porque ele poderia me quebrar em dois, fácil.

Oi, eu tenho amor pela minha vida. E confesso que o segundo motivo pesou bastante na balança.

Então tudo o que eu disse foi:

-S-Sim, senhor.

E eu só gaguejei porque o cara estava amassando a minha traqueia.

Verdade.

Ele me soltou segundos antes de Maria Valentina sair de casa com alguns cadernos e papéis nas mãos. Seu rosto estava tão pálido que as sardas se destacavam, parecendo mais escuras que o normal. Notei que seu cabelo não estava preso no costumeiro coque e sim numa trança que caía do lado do seu rosto e terminava na cintura. Caraca, o cabelo da nerd era comprido assim? Como eu não percebi antes? Eu beijei a garota e não percebi que o cabelo dela estava diferente. Qual o meu problema?

Ah, já sei. Um cromossomo Y, é claro.

Não que ser homem seja um problema, ok? Apesar da frase acima ter soado super gay. É só que homens de verdade — tipo eu — não se prendem a detalhes. Pronto.

Ela se aproximou, parecendo apreensiva, e me entregou as anotações. Olhava de soslaio para o pai, parecendo adivinhar o que acontecera enquanto estávamos sozinhos.

— Bom, eu já vou indo, então — falei, entrando na já falida encenação e sinalizando os cadernos que a nerd me entregara. — Valeu pelas anotações, Maria Valentina.

Ela murmurou uma despedida e eu entrei no carro, largando os cadernos no banco do passageiro, e saindo de lá. Eu só queria chegar em casa, comer alguma coisa e desmaiar. Devia ter desconfiado que um dia que começou com uma ligação da minha mãe, só poderia ser um dia de cão mesmo. Não me entenda mal, eu não odeio quando minha mãe me liga. Certo, eu odeio sim. Mas amo também. Amo saber que ela lembrou que eu existo e odeio por sempre sentir a mesma frieza em suas palavras mesmo à distância. E hoje de manhã, quando me ligou, estava tão esquisita! Parecia querer soar mais...carinhosa. Devo dizer que falhou miseravelmente, eu quase pude ouvi-la engasgar quando tentou me chamar de "querido". Disse que só ligou para me lembrar de que chegaria amanhã. Eu já sabia, ela tinha dito da última vez que ligou. Então por que ligou de novo? Ela nunca fazia isso. Quanto menos palavras gastasse comigo, melhor.

Consegui chegar em casa sem ser preso por dirigir sendo menor de idade — com meu azar de hoje, tudo era possível — e a primeira coisa que fiz foi ir para a cozinha, caçar algo comestível. Você podia pensar que um cara que tem o limite de cartão de crédito que eu tenho, teria algo para comer em casa. Triste engano. Peguei o telefone e pedi uma pizza. Sentei já sala e liguei a TV, mas só fiquei trocando de canais aleatoriamente até finalmente deixar num canal onde estava passando Top Gun.
É, Top Gun, você leu direito e não, exceto por beijar nerds de cabelos ruivos que por acaso são minhas amigas, não há nada de errado comigo.

Algum tempo depois, a campainha tocou. Devia ser a pizza, mas achei estranho não terem ligado da portaria avisando. Nem sei pra quê eu morava num condomínio, se qualquer um podia vir e bater na porta da sua casa sem ser anunciado, melhor morar numa vila!

Sim, tenho 85 anos e sou rabugento. Meu dia foi terrível, então tenho o direito de reclamar de tudo.

Como os empregados já tinham ido embora — a escravidão já acabou, então eles tem direito a folga nos finais de semana — eu tive que ir abrir a porta. Era a pizza, mas quem a estava trazendo era Lucas, que já foi entrando sem ser convidado, como sempre.

— Virou entregador de pizza agora, Lucas? — zombei, mal humorado. Péssima hora para ele aparecer.

— Eu estava chegando, o cara da pizza também — explicou ele, colocando a pizza no balcão da cozinha e pegando refrigerante da geladeira. — Economizei o trabalho que ele teria para vir até aqui. E ainda paguei a pizza para você, não vai agradecer?

Eu o segui e sentei numa cadeira na frente do balcão, abri a caixa da pizza e peguei um pedaço com a mão.

— E desde quando você faz caridade? — perguntei mal humorado.

— E desde quando você é um saco? — retrucou, sentando-se também, com dois copos de refrigerante. — Ah, é verdade, você sempre foi.

Não falei nada e só fiquei lá existindo. Uma existência miserável, devo dizer, mesmo correndo o risco de soar mais emo do que nunca. Por que eu não posso ser uma planta? Sei lá, uma samambaia? Ela só fica lá, verde, com cara de planta, fazendo fotossíntese. Por que eu não posso fazer fotossíntese? Pouparia-me o trabalho de ligar para a pizzaria. E duvido que as samambaias saiam por aí levando o bolo de garotas lindas e beijando nerds esquisitas.

— Ei cara, qual o problema? — Lucas perguntou, provavelmente achando que eu estava agindo estranho.

Pelo menos ele não estava dentro da minha cabeça. Estaria no hospício antes de soletrar a palavra maluco.

— Nada — resmunguei.

— Você não me engana, Vince. Eu vim aqui para saber como foi o cinema com a garota maravilha da qual você me falou, achando que você estaria todo animado e encontro...isso. Sério, cara, parece que você tem seis anos e acabaram de atirar no seu cãozinho.

Respirei fundo e confessei:

— Ela não apareceu, Lucas. Eu fiquei esperando Tiffany por horas. Devo ter ligado umas cinquenta vezes para o celular dela, mandei mensagens...quase coisa de stalker mesmo e, mesmo assim, passei o dia inteiro sem uma palavra dela.

Lucas parecia chocado. Eu o entendo. Quem no mundo deixaria um cara como eu esperando?

— Vince, não leva a mal o que eu vou falar, — começou ele — mas você não imaginou essa menina, não?

— Você tá achando que eu tô maluco, é?!

— É pra responder?

Por que eu sou amigo desse cara mesmo?

Ah, o Lucas não interessa! Quem interessa é a Tiffany! Onde ela está? Me deixou esperando de propósito, esqueceu de ir ou foi impedida? Eu já tinha pensado nessas coisas mais de mil vezes nas horas em que passei esperando por ela. E se algo tivesse acontecido? Se a garota pelo menos atendesse ao celular...

Eu queria tanto vê-la...se fechasse os olhos, era como se estivesse na minha frente. Aquela beleza tão exótica e ao mesmo tempo suave. Aqueles cabelos que reluziam como chama, aqueles olhos misteriosos, o sorriso impulsivo e aquele jeito de garota errada, de garota corajosa, que só faz o que quer. Por que eu não podia vê-la? Por que não podia tê-la? Eu nunca esperei por garota alguma em toda a minha vida. Eu as fazia esperar por mim. Então por que, se ela aparecesse na minha frente neste exato momento, eu esqueceria as duas horas que passei esperando por ela, esqueceria que ela não apareceu e me deixou lá sozinho como um idiota, esqueceria tudo isso. Eu sorriria para ela e faria qualquer coisa que me pedisse. Tiffany, a garota misteriosa por quem me apaixonei, me tinha na palma das mãos.

Se pelo menos ela aparecesse para me fazer proveito disso...

— Tá, e o que mais aconteceu? — meu futuro ex-amigo perguntou, tirando-me dos meus devaneios.

Ou Lucas é vidente ou ele contratou alguém pra me seguir. Sério.

— Não aconteceu mais nada — menti, olhando para o pedaço de tomate que estava escorregando da minha fatia de pizza. — Por que você acha que aconteceu mais alguma coisa?

— Já disse que você não me engana, cara! Quer fazer o favor de falar?

E eu diria o quê? Lucas, eu dei um beijo na Maria Valentina! Foi O Beijo! Digno de cinema, com língua e tudo. Ah, eu mencionei que foram dois? Mencionei que ela surpreendentemente correspondeu? Mencionei que antes disso, ela beijou o maldito do Ronald McDonald? Mencionei que isso me deixou puto?

Como eu iria dizer isso para o meu melhor amigo? Eu ia ser zoado pelo resto da vida!

Mas eu estava péssimo, aparentemente. Porque foi exatamente o que eu fiz. Contei tudo para ele.

— Ah...quem? Não...espera...O QUÊ?

E sabe o que o desgraçado fez então? Riu.

Por que eu fui abrir minha boca?

— Eu sabia! — exclamou ele, como se tivesse feito uma descoberta impressionante. — É óbvio!

— Será que dá para dizer o que é óbvio, Lucas? Porque eu não entendi nada.

— Primeiro você vem todo "a nerd é minha amiga, sejam legais com ela", depois ficou olhando para ela o intervalo inteiro só porque ela estava com o namoradinho, que você odeia sem nem conhecer. E o que foi aquele "finge que a gente está se divertindo" que você disse quando ela olhou na nossa direção? Eu só ri mesmo porque achei ridiculamente hilário.

— Não foi desse jeito — revirei os olhos.

Não foi tão patético do jeito que Lucas disse, tá legal? Eu só quis que a nerd visse que era mais legal ficar com a gente do que com aquele projeto de delinquente ruivo. Não foi tão ridículo assim. Sério.

— E agora você admite que ficou morrendo de ciúmes do namorado dela e que ainda beijou a garota! — continuou, como se não tivesse me escutado. — Você gosta da Tina Lazarov, cara.

Esse cara cheirou orégano?

— Tá louco?! Em primeiro lugar, eu não gosto dela do jeito que você está insinuando e, segundo, aquele palhaço não é namorado dela!

Ele riu antes de dizer:

— Você é mesmo cego, Vince!

— Esqueceu que eu gosto da Tiffany?

— Eu ainda acho que você imaginou essa garota. Não acredito que ela exista de verdade. Ei, você inventou ela pra fazer ciúmes na Tina?

— Para de falar asneira, cão! Eu não gosto da Maria Valentina e eu não imaginei a Tiffany! Quem você acha que me mandou aquelas mensagens enquanto estávamos rindo da Roberta? A minha imaginação?

Ele balançou a mão como se não importasse.

— Que seja, ela existe. Mas você gosta da Maria Valentina.

— Não chama ela de Maria Valentina!

— Tá vendo? Apaixonado.

— Maluco.

Lucas só riu e continuou comendo sua fatia de pizza. Eu perdi a fome e me levantei da mesa e voltei para a sala, onde ainda estava passando Top Gun na TV que eu esqueci ligada. Por que eu estou cercado por idiotas? Lucas está se saindo uma bela decepção. Gostar da Maria Valentina? Ele enlouqueceu? Tudo bem, eu posso até gostar dela como amigo, já tinha chegado a essa verdade sozinho. Agora, apaixonado? Tudo bem, não vou retroceder ao nível neandertal da escala de babacas e dizer que não gosto da Maria Valentina porque ela não é bonita. Porque...bem, ela até que tem um charme, se você chegar bem perto para ver. Mas eu sou louco por outra. E é uma coisa tão insana que eu só precisei vê-la uma vez na vida para saber que era especial.

Como comparar qualquer coisa com um sentimento como esse?

— Daqui a pouco você vai estar assistindo Titanic com uma caixa de lenços numa mão e um pote de sorvete na outra, mocinha — caçoou Lucas, entrando na sala.

— Por que você ainda está aqui mesmo?

— Certo, certo, eu vou embora. Ainda está cedo e eu posso aparecer na casa da Maria Valentina e pedir para ela me ensinar um pouquinho de biologia...

Estava de pé em dois segundos, a três passos do meu já ex-melhor amigo, porque ele não ia respirar por muito mais tempo.

— Lucas, você quer apanhar?!

Ele riu. Eu já estava ficando de saco cheio da risada debochada dele.

— Nunca pensei que Vince Müller seria tão ciumento — ele disse, já caminhando displicentemente para a porta. — E ciúme é sempre complicado. Principalmente quando você o sente por alguém de quem não gosta. Ou pelo menos diz que não gosta.

— Do que diabos você está falando?! Eu não tenho ciúmes daquela nerd!

— Quer saber? Você vai perceber isso sozinho qualquer hora dessas. Eu vou indo.

Nem me despedi. Voltei para a TV, mas aquilo estava um tédio e eu resolvi ir para o meu quarto tomar um banho. Larguei minhas chaves, celular e carteira em cima da bancada e fui para o banheiro, saindo de lá cinco minutos depois, com a toalha amarrada na cintura. Se eu estava até com preguiça de me vestir, a coisa estava ruim mesmo. Meu celular tocou e eu o peguei da bancada. Era uma mensagem de texto.

Da Tiffany.

Desculpa não ter ido hoje, Vince, eu não pude.Posso te explicar melhor amanhã, se você aceitar almoçar comigo. E aí?

Lucas é o doido aqui, eu não inventei ninguém! Tiffany é mesmo real e é por ela que estou apaixonado, não pela Maria Valentina. E agora eu tinha outra chance de encontrar com a mulher da minha vida.

E de tirar os lábios macios de uma certa nerd da cabeça.



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Notas finais do capítulo

Tá, o capítulo, além de mega atrasado, tá ridículo. Eu sei. Foi o pior capítulo que eu já escrevi na minha vida. Deixa eu resumir minha história de vida pra vocês: eu escrevi um cap ligeiramente mais legal que esse no meu caderno e perdi o caderno no dia que ia viajar. Aí eu escrevi boa parte desse aqui no avião, pelo ipad, com um cara super creepy espiando pelo meu ombro. Chegando em BH (vim passar minhas férias aqui), a minha internet faz questão de enlouquecer e não pegar, eu só estava conseguindo entrar pelo celular, aí já viu né...enfim, finalmente consegui e saiu isso aí (tem erros porque eu não revisei, yeah, podem me avisar que eu ajeito). Ew. Estou triste com esse cap T.T bom, a boa notícia é que a internet está pegando (yeeeei) e..bom, é isso.
Ah, não esqueci minha promessa, vou tentar responder a todos os reviews do cap passado até amanhã. VOCÊS SÃO UNS LINDOS. Sério, fiquei muito feliz com os reviews que o último capítulo recebeu. Bem vindos, leitores novos e leitores fantasmas que resolveram aparecer. Não deixem de comentar, nem no meu cap porcaria, belê? Eu fico feliz com reviews (quem não fica, Jules? u.u).
Bom, é isso.
Beijos :***
Obs: Tentei fazer um cap menor, como algumas pessoas pediram, mas às vezes é mais forte que eu u.u
Obs2: Pessoinhas que escrevem histórias que eu leio e que também leem isso aqui (em especial: Burn, EllieJackson, Feeh e VicLilyh), eu me atrasei nos caps das histórias de vocês por causa desse meu problema com a internet T.T mas já vou me atualizar :)))
Obs3: Gente, eu falo demais. Se vocês não aguentam mais essas notas finais (ou iniciais) quilométricas, me avisem que eu tento parar...e se vocês ignoram, então, fica por isso mesmo.
Agora é sério. Acabou :)