O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 16
Meu Primeiro Beijo (Os Outros Foram Acidentes!)


Notas iniciais do capítulo

Leiam as notas finais :)



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Como pode o coração de alguém sofrer tantas mudanças em um período tão curto de tempo? Será que é da natureza humana a mania irritante de ser volúvel? Ou sou só eu? Nunca me considerei uma pessoa inconstante, mas tenho encontrado uma certa inconsistência nos meus sentimentos ultimamente. Pensando de maneira racional, esse comportamento é perfeitamente natural, afinal tenho 16 anos estou passando pela infeliz fase da adolescência. Acredite-me, ter 16 não é nenhuma festa, não para mim, pelo menos. Eu poderia escolher uma idade ao acaso e seria melhor. Tipo 34. Seria legal ter 34 anos agora. Talvez eu não estivesse tão confusa.

Ou talvez estivesse sim.

Porque, para ser sincera, não posso colocar toda a culpa da minha inconstância emocional nos meus malditos hormônios adolescentes. É que existe outro culpado. Ele se chama Vicente Müller. E com 16 ou 34, Vicente sempre iria mexer comigo, para o bem ou para o mal.

Acredite, isso não é algo do qual eu me orgulhe.

Quer dizer, eu odiei o garoto por toda a vida, certo? E, em alguns poucos dias, eu me tornei sua amiga. E dois dias atrás, quando dançamos como dois patetas no meu quarto, depois de eu ter aberto meu coração pela primeira vez na vida, me senti mais próxima dele do que de qualquer outra pessoa na vida, à exceção de Geny. E eu pensei “puxa, eu gosto desse garoto, gosto de tê-lo comigo. Ele é um bom amigo”.

E hoje eu venderia o cachorro (nunca gostei muito da Pandora mesmo) se pudesse ter a quase inexistente massa encefálica daquele projeto de ser humano em uma bandeja.

Eu disse, inconstância emocional.

Mas estou me adiantando e isso está ficando confuso. Vamos começar do início. Ou seja, ontem, quando toda aquela coisa do dançar-que-nem-dois-idiotas-só-porque-ninguém-está-vendo aconteceu.

Vince foi embora pouco antes de Geny chegar, furiosa comigo por ter saído da escola sem uma justificativa plausível.

– Você não explicou nada! Eu pensei em milhões de coisas! E se você tivesse tropeçado e tido sua cabeça perfurada por uma barra de ferro? – insistiu, quase beirando a histeria. – E se você estivesse passando por uma cirurgia intracraniana enquanto eu estava na aula de geografia? Eu não tinha como saber, você desligou o celular, sua irmã desnaturada!

Ela se acalmou um pouco ao perceber que eu estava perfeitamente bem, e depois de eu ter repetido que, se estivesse passando por uma cirurgia no cérebro, dificilmente teria conseguido mandar uma mensagem para o seu celular.

Nós almoçamos sozinhas, como quase sempre acontecia, e depois fomos para nossos respectivos quartos para estudar.

Ou, no meu caso, tentar estudar.

Eu já não enxergava contas, cálculos, nomes, datas nem fórmulas. Eu via o Vicente. Via o brilho quase dourado dos seus cachinhos bagunçados, a ponte de seu nariz afilado, a segurança dos seus braços, o calor do marrom-quase-negro dos seus olhos. Por algum motivo, ele não me saía da cabeça. Eu fechava os olhos e era capaz de tocar seu sorriso.

Havia algo de muito errado comigo.

Passei toda a tarde assim e fiquei distraída no jantar. Papai mal trocou uma palavra com Geny e eu, as coisas ainda estavam muito estranhas entre nós. Mais tarde, deitada na minha cama, olhando o céu escuro através da janela aberta, eu imaginava que o Vicente estava ali comigo. E que estávamos dançando e cantando When Did Your Heart Go Missing.

Patético, eu sei.

Na manhã seguinte, eu sentia uma certa expectativa, ansiedade mesmo, ao chegar à escola. E um frio na barriga quando o vi. Ele estava no pátio conversando com alguns amigos e eu imediatamente me senti intimidada. Não sabia se devia falar com ele ou passar direto, fingindo que nem o tinha visto. Para minha surpresa, não precisei tomar essa decisão. Vicente me avistou e sorriu para mim, indo até onde eu estava.

– Bom dia, minha nerd preferida – ele disse com um sorriso brilhante.

– Bom dia – respondi, correspondendo ao seu sorriso, em menor grau, é claro. Duvido que meus dentes sejam capazes de brilhar daquele jeito ofuscante.

– Quer conhecer meus amigos?

– Na verdade, não.

– Ah, qual é, Maria Valentina, deixe de ser esnobe – e segurando-me pelo pulso, me arrastou até seus amigos. – Gente, essa é a Ma...essa é a Tina. Tina, esses são Lucas, Pedro e Fábio.

Balancei a cabeça em reconhecimento, mas não disse nada. Eu os conhecia. Pedro e Fábio eram dois garotos grandes, um loiro e um moreno, que também eram do time de futebol. Lucas era o menor deles, mas ainda maior que eu muitos centímetros. Tinha cabelos pretos e olhos azuis. Seu rosto era assimétrico e não exatamente bonito, mas tinha algo nele que era...agradável de olhar. Um brilho de bom humor nos olhos ou algo assim.

– Então, ela é a sua nova amiga? – Pedro perguntou incrédulo.

– Uma nerd? – Fábio completou com desdém.

Bom, não posso dizer que havia esperado outra coisa.

Vicente pareceu ficar meio irritado e ia abrir a boca quando Lucas veio para o meu lado e passou um braço pelos meus ombros.

– Ei, seus dois mal educados – disse para Pedro e Fábio. – Mais respeito com a pequenininha! Se ela é amiga do Vince, é nossa amiga também.

Ok, queixo, cadê você?

Vicente deu um sorriso que eu não entendi e Lucas piscou para mim, depois de trocar um olhar cheio de significado oculto com o primeiro. Significado oculto...eu devo estar assistindo séries de investigação demais. Enfim, os dois brutamontes do time de futebol pareceram ficar encabulados e pediram desculpas. Eu não entendi muita coisa e nem tive tempo de perguntar nada, já que o sinal tocou e tivemos que entrar na sala. Entramos todos juntos e a primeira coisa que vi foram as expressões chocadas dos meus amigos. Larissa e Arthur estavam embasbacados, Silas obviamente não estava ali – ele só chega atrasado – e Petra parecia que tinha acabado de levar um soco no estômago. No entanto, eles não eram os únicos que estavam expressando surpresa. Quase todos os alunos pareciam estar chocados. Estava escrito em letras garrafais na testa de Roberta que ela queria muito voar no meu pescoço.

Vicente sorriu para mim e foi se sentar com seus amigos, enquanto eu fui ocupar meu lugar usual ao lado de Petra. Ela virou o rosto para o outro lado quando eu fiz isso. Eu ainda estava meio atordoada com tudo, mas consegui prestar atenção nas aulas. Silas chegou no segundo horário e se sentou ao meu lado, mas sua expressão também era estranha. Eu resolvi que o melhor era conversar com ele no intervalo, mas quando o sinal bateu, ele, Petra, Larissa e Arthur saíram da sala sem olhar para mim. Eu fiquei atônita.

Doeu.

Sério mesmo que eu estava sendo rejeitada pelos meus melhores amigos? Sem nenhuma explicação, nenhuma palavra, nada? Tudo bem que eu estava meio distante esses dias, mas eu já estive distante antes – sempre que entrávamos em período de provas, minha vida social já meio atrofiada, se escondia para hibernar – e eles nunca me trataram assim. Bom, Petra tinha outras razões para não falar comigo, porque eu estava escondendo coisas dela, coisa que não costumava fazer. Mas e os outros? Até aquele idiota remelento do Arthur, apesar de sempre implicar comigo, nunca me daria às costas desse jeito.

Saí rapidamente da sala e me enfiei no banheiro feminino. Até o Silas...meu coração estava apertado. Abri a torneira do banheiro e lavei minhas mãos inconscientemente. O Silas que eu conhecia era doce demais para fazer uma coisa dessas. Por que ele nem olhou para mim uma única vez?

Será que eu estava exagerando? Vendo coisas? Talvez eles apenas estivessem apressados para a fila da cantina ou coisa assim...

Certo, minhas conjecturas não estavam ajudando. Eu iria de uma vez atrás de Silas e Petra e conversaria com os dois. Eu não estava louca e sentia que algo estava errado. E queria saber o que era. Porém, antes que eu pudesse sair do banheiro, a porta foi bloqueada por Roberta, que entrava com uma expressão debochada no rosto. Seus longos e lisos cabelos loiros caíam ao redor do seu rosto com graciosidade, uma antítese ao brilho de desdém em seus olhos.

– Ah, aqui está você, sua esquisita – ela começou, com a voz ácida. – Estive te procurando.

– Não tenho nada para falar com você – eu disse.

– Você não deve ter nada para falar mesmo, mas eu tenho – ela retrucou. – Sinto tanta pena de você, por isso estou aqui. Você é tão cega! Sinceramente, qualquer pessoa pode ver que Vince está brincando com você.

– Ah, cala essa boca.

– Você realmente acredita que ele está todo bonzinho com você sem um bom motivo? Esse é o garoto que, apesar de ter estudado com você quase a vida toda, nunca te notou até bem recentemente. Não acha suspeito? Ah, qual é?! Você não pode ser tão burra!

Eu não falei nada, apenas fiquei encarando-a sem expressão. Roberta Novaes era uma cobra do pior tipo, não prestava mesmo, mas...suas palavras faziam certo sentido. E meio que mexeram comigo.

Vince Müller nunca reparou em mim e, até muito recentemente, parecia nutrir o maior desprezo por todos os nerds da escola. E eu não posso escapar disso, sou uma nerd esquisita mesmo. Por que ele estava me tratando tão bem ultimamente? Por que veio com essa história de que queria ser meu amigo? Eu fui realmente tão cega? Tinha mesmo alguma razão oculta por trás de tudo? E o que foi aquele sorrisinho que ele trocou com o amigo dele hoje mais cedo? Como se os dois estivessem armando alguma coisa? Será que Roberta estava certa e ele estava só brincando comigo?

Ou será que, mais uma vez, Maria Valentina está entrando em pânico pelo simples prazer que sua – brilhante, não dá para negar - mente aparentemente tem de enlouquecer total?

Essa frase fez algum sentido?

– Ele vai te humilhar, Lazarov – Roberta disse com aquela voz venenosa dela, colocando os cabelos para trás com as mãos, num gesto gracioso. – Vai te destruir na primeira oportunidade. De preferência com uma plateia para aplaudi-lo no final. Você não pode ser tão estúpida a ponto de não ter percebido isso.

Ela então se virou para olhar seu reflexo no espelho e tirou uma sujeirinha imaginária da camisa apertada do uniforme dela.

Eu não disse nada.

– Bom, você não pode dizer que não foi avisada – ela continuou, ainda encarando seu reflexo no espelho. – Estou lhe fazendo um favor, abra esses seus olhinhos ou compre óculos novos. As intenções do Vince estão na cara.

Depois disso, ela saiu, sem mais um olhar na minha direção.

Roberta era uma despeitada, apenas estava com raiva porque o Vicente terminou com ela. Era uma mentirosa. Ele era meu amigo e gostava de mim. Era uma coisa nova, mas eu tinha certeza disso. Bom, quase certeza. Ele estava apenas sendo gentil, ele...ele...

– Ele está te enganando, Tina – Petra disse, saindo de um dos cubículos do banheiro, tendo, obviamente, escutado a conversa inteira (e eu suspeito, meus pensamentos também. Minha quase-ex-melhor-amiga é paranormal?) – Você está louca se acha que ele realmente gosta de você, mesmo que seja como amigo. Roberta Novaes é uma vagabunda, mas ela está certa.

– Então você está falando comigo de novo, é? – perguntei azeda.

– Tina, eu estou com raiva de você por estar mentindo para mim, eu tenho o direito de ficar assim!

– Eu não estou mentindo, só omitindo. Você tem o direito de ficar com raiva e eu tenho o direito de não dividir cada pedacinho da minha vida com você!

Ficamos nos encarando por alguns segundos, minha cabeça doía, eu não sabia o que pensar, em quem acreditar. Será que Roberta e Petra estavam certas? Eu estava sendo boba? Estava sendo enganada desde o início? Como eu iria descobrir a verdade sem ser humilhada por Vince ou sem perder sua amizade graças a minha desconfiança?

– Isso vai acabar muito mal, Tina – Petra disse, cruzando os braços e olhando para mim com reprovação e tristeza. – Você está trocando amigos que realmente gostam de você por um garoto popular, metido e ridículo. Ele nem gosta de você e isso não deve passar de uma brincadeira de mau gosto.

Eu sorri para ela, sem humor nenhum. Queria gritar, contar tudo, implorar para ela não falar daquele jeito comigo. Mas segurei todas aquelas vontades e preferi dizer:

– Você não tem como saber se ele gosta de mim ou não, Petra. E eu não estou trocando vocês por ele. Você que, aparentemente, está querendo me forçar a uma decisão.

– Ou a gente ou ele, Tina.

Perplexa, eu encarava as feições da garota que foi minha melhor amiga por toda a vida. Ela não estava feliz com suas próprias palavras, eu a conhecia bem demais para saber. Queria fazer aquilo tanto quanto eu. Então por que me obrigar a uma escolha? Uma coisa que ela nem tinha o direito de fazer?

Ninguém me diz o que fazer.

Bom, a não ser meu pai. Mas ele me pôs no mundo – não no sentido literal, mas ele deu uma ajudinha, sabe – e paga as minhas contas. Isso meio que dá a ele o direito de mandar em mim.

Mas Petra sabia, me conhecia o suficiente, para saber que eu não era garota de tolerar aquele tipo de pressão que ela estava fazendo.

– Você está agindo igual à Roberta, Petra – soltei, odiando cada palavra que saía da minha boca. – Me ameaçando desse jeito.

Eu sabia que a pior coisa para Petra era ser comparada com uma menina como a Roberta. Cabeça-oca, popular, metida e vulgar. Vi o rosto da minha amiga ficar vermelho e depois branco, lívido de raiva. E, sem falar nada, deu-me às costas e saiu do banheiro. Eu me apoiei na pia assim que os passos dela não puderam mais ser ouvidos, e abri a torneira, jogando água gelada no rosto. Não conseguia deixar de pensar naquilo como um ataque duplo, ainda que a ideia de que um deles havia vindo da minha melhor amiga me deixasse triste.

Saí do banheiro depois de alguns minutos, com os olhos e os ombros baixos, totalmente desanimada. Nem iria para o pátio, não queria ver e nem falar com ninguém. Estava no meu caminho para a sala quando esbarrei em alguém. Levantei os olhos ao sentir um par de mãos me segurando pela cintura.

– Parece que você vive esbarrando em mim ultimamente, Tina – disse Silas com um sorriso tímido.

Soltei-me dele com raiva e falei:

– Você também não está contra mim?

Ele baixou os olhos, não antes que eu visse o brilho de tristeza neles. Droga! É impossível falar meio torto com o Silas, ele logo fica chateado. Se eu falasse e agisse com ele como faço com o Vicente, o menino entraria em depressão!

– Desculpa, Silas, eu não queria falar assim com você, é que.. –

– Não, eu que peço desculpas – ele me interrompeu, voltando a olhar para mim. – Eu não devia ter ignorado você mais cedo. Podemos conversar?

Eu assenti, mas não devia ter feito isso, porque ele me levou justamente para o pátio onde a maioria dos alunos costumava ficar no intervalo. Pelo menos conseguimos sentar sozinhos em um banco de pedra embaixo de uma das árvores. De lá eu pude ver Petra, Larissa e Arthur conversando em uma mesa a alguns metros de nós. Nenhum deles olhou em nossa direção.

– Você...bem... – começou Silas, tímido. – Você ainda quer sair comigo amanhã?

Eu corei furiosamente e olhei para baixo.

– É-é claro, Silas – gaguejei. – Mas eu achei que você não fosse mais querer.

– A Petra veio com uma conversa esquisita, de que você tinha virado amiguinha do Vince Müller e estava nos trocando por ele e...

– E eu não sou amiguinha do Vince Müller – o interrompi, envergonhada e meio irritada. Mas decidi que, como o Cérebro de Mosca tinha me “assumido” na frente dos amigos dele, eu devia fazer a mesma coisa com os meus. Ou com os que restaram pelo menos. – Nós só descobrimos que temos algumas coisas em comum e passamos a ser mais civilizados um com o outro. Acho que somos amigos agora, mas isso não quer dizer que eu estava trocando vocês por ele.

Silas abriu um sorriso tão lindo que eu não pude deixar de acompanha-lo e de me sentir quente por dentro. Como se tivesse acabado de entrar em uma banheira perfumada. Estar com ele sempre era bom. Era por isso que eu gostava dele.

– Eu sabia que você não faria isso, Tina – ele disse, num tom de quem pedia desculpas. – Mas fiquei um pouco confuso, afinal, você está agindo tão diferente esses dias...

Eu não disse nada. O que poderia dizer? Minha vida estava uma bagunça e até eu explicar tudo, envelheceríamos ali. Silas não se importou com meu silêncio e continuou:

– Você é doce demais para fazer uma coisa dessas. Petra está errada, mas não fique com raiva dela. Ela só está preocupada com você.

– Eu sei – respondi, fazendo o sorriso morrer em meus lábios com um sorriso. – Mas eu gostaria que ela confiasse um pouquinho mais em mim. E no meu julgamento.

Silas tocou em meu queixo e me fez virar os olhos para ele.

– Confesso que eu também não estou muito animado com o fato de você ser agora amiga daquele garoto – ele disse. – Principalmente depois que ele derramou água em você naquele dia. Mas acredito que as pessoas mudam e que ele tenha visto a garota incrível que você é, Tina. É impossível não querer ficar ao seu lado.

O rubor na pele muito branca de Silas era facilmente um espelho do meu. Difícil dizer quem estava mais constrangido. Eu comecei a empurrar os óculos no rosto a cada cinco segundos e Silas parecia estar muito entretido com seus cadarços. Aquele foi provavelmente o discurso mais revelador que havia saído daqueles lábios tímidos e ele não parecia mais saber o que dizer.

– Então... – eu resolvi falar, antes que o silêncio me intimidasse ainda mais. – Ainda vamos sair amanhã?

– Claro! – respondeu ele, um pouco rápido demais, fazendo com que suas orelhas ficassem vermelhas também.

Eu sorri e, finalmente, o momento constrangedor havia passado. Eu me sentia bem melhor ao saber que Silas não havia me abandonado como Petra parecia ter feito e tinha um pequeno sorriso no meu rosto quando ele foi comprar algo para bebermos. Ele voltou com um suco de uva de caixinha para mim – eca, odeio suco! – que fingi bebericar enquanto conversávamos sobre que filme assistir amanhã.

– Que tal uma comédia romântica? – ele sugeriu, o rubor voltando às suas faces.

Rapidamente, os conselhos de Vicente vieram à minha cabeça e eu respondi:

– Ah, eu prefiro assistir The Avengers, Silas, você sabe como eu sou.

Enquanto ele assentia e voltava a falar sobre o filme, meus olhos correram o pátio inconscientemente, e eu avistei Vicente com seus amigos e umas garotas em uma mesa no meio do refeitório. Lucas e ele estavam com os olhos na minha direção, mas desviaram assim que eu os vi e começaram a rir bastante de alguma coisa. Uma atitude muito esquisita.

Um arrepio trespassou minha espinha e as palavras de Roberta ecoaram na minha cabeça.

Ele vai te humilhar, Lazarov. Vai te destruir na primeira oportunidade. De preferência com uma plateia para aplaudi-lo no final.”

Ela estava mesmo certa? E Petra também? Estaria eu realmente fazendo o maior papel de boba?

– Tina? Está ouvindo?

Pisquei e virei com um sorriso forçado para Silas. Dei uma desculpa qualquer e corri até a sala de aula, que estava vazia, sem um segundo pensamento. Uma ideia havia se formado na minha cabeça na velocidade de um raio e eu iria colocá-la em prática antes que perdesse a coragem. Remexi minha mochila em busca do chip de celular que havia comprado no shopping há alguns dias, me apressei e o coloquei no lugar do meu. Tinha pouco tempo até o sinal tocar, o que traria os alunos de volta à sala. Assim que o aparelho ligou, eu me forcei a digitar uma mensagem para Vicente – cujo número eu, infelizmente, assumo que já sabia de cor – com as mãos meio trêmulas.


Oi Vince,

Lembra de mim? É a Tiffany, da festa do Tiago.


Fechei os olhos, suspirando. Meu coração batia, ansioso, e eu mordia os lábios freneticamente. Sei o que isso estava parecendo e não, naquele momento eu ainda não tinha retomado meus maquiavélicos planos de vingança. Vicente era meu amigo, certo? Ou pelo menos eu achava que era, e queria ter certeza.

E não vi outro modo de fazer isso.

O que fazia Tiffany estar oficialmente de volta à vida.

Mais rápido do que eu imaginei ser possível, meu celular vibrou com a resposta do Vince:


TIFFANY!

Como você conseguiu meu número?! Não me entenda mal, estou feliz que você tenha conseguido...eu pensei que nunca mais ia saber de você. Nem sei o que dizer.


Meu coração deu uma guinada. E não foi pela capacidade quase alienígena que Vicente tinha de digitar anormalmente rápido. E sim porque suas palavras expressavam a ansiedade que eu mesma sentia. Ele parecia tão confuso, tão feliz e...

Apaixonado.

Certo, eu não tinha levado muito a sério esse amor dele pela Tiffany, mesmo entendendo que ele tinha ficado um pouco encantado com ela. Quer dizer, comigo. Sinceramente, nem sei mais o que estava pensando, aquilo era confuso demais. Enfim, o que eu quis dizer é que Vince Müller era um garoto tão...raso em seus sentimentos – isso sem mencionar que era o maior mulherengo – que eu duvidava que ele pudesse sentir algo verdadeiramente profundo por alguém. Muito menos por uma garota que ele mal conhecia. Mas, apesar de não saber com exatidão – sentimentos podem ser exatos? – a profundidade dos seus sentimentos, eu podia perceber que ele não havia tirado a Tiffany da cabeça. Ele ainda pensava nela. Isso, de certa forma, me deixava meio emocionada.

Ainda que os supostos sentimentos dele fossem por Tiffany e não por mim.

Deixei meus dilemas mentais de lado – melhor dizendo, deixei minha provável crise de identidade de lado – e me apressei em digitar uma resposta, incorporando quase de modo inconsciente a ousadia e a impulsividade de Tiffany:


Como consegui seu número? Tenho meus meios. Eu disse que te acharia, não disse? Agora me fala de você, o que está fazendo agora?


Mais uma vez, não precisei esperar muito por uma resposta:


Só estou rindo de uma garota ridícula, nada importante. Quando vamos nos ver de novo?


Por muito pouco o celular não escapuliu da minha mão. Aquele desgraçado, maldito, babaca, duas caras, fingido dos infernos! Estava com tanta raiva que nem percebi que estava chorando até que gotas grossas caíram em cima da tela do celular, fazendo as palavras da mensagem de Vince ficarem meio distorcidas. Enxuguei o rosto e respirei fundo.

Maria Valentina vai entrar para o livro dos recordes como a garota mais estúpida do mundo.

E enfim, voltamos ao início. Agora ficou claro para o mundo porque eu gostaria de matar – e torturar, esquartejar, destrinchar – aquele moleque idiota e mentiroso que achou que seria fácil enganar uma nerd boba e fazer dela a piadinha da escola.

Droga, por que eu não ouvi o que Petra disse? Ele é minha amiga, ela só quer o meu bem. E eu defendendo aquele desgraçado do Vicente! Pra começar, foi por causa dele que eu comecei a esconder coisas da minha amiga, o que nos fez brigar. É tudo culpa dele!

Como eu o odeio!

E só de pensar que eu dividi minha maior dor com ele, confiei nele como nunca havia feito com ninguém...como fui estúpida, ingênua, idiota!

As lágrimas não derramadas embaçavam meus olhos enquanto eu tentava endurecer meu coração e digitava:


Que tal sairmos amanhã? Me encontra às 16:00 no cinema do shopping.


O sinal finalmente tocou, um segundo antes de eu receber a resposta daquele traidor:


Certo, 16:00 é perfeito. Vou esperar você.

Guardei o celular de qualquer jeito antes que minhas mãos trêmulas o derrubassem e sentei-me na minha cadeira. Logo os alunos começaram a chegar e Silas sentou-se ao meu lado, vestindo mais um dos seus doces sorrisos. Que, infelizmente, eu não pude retribuir com a mesma sinceridade. Vicente entrou pouco tempo depois, com um enorme sorriso e um brilho meio sonhador no olhar. Piscou para mim ao passar pela minha cadeira e eu fingi não ver. Era impossível forçar um sorriso quando tudo o que eu queria era roubar a felicidade dele e destruí-la na frente dos seus olhos.

E eu ainda tinha que agir como se tudo estivesse bem.

Mas a Tina vingativa estava de volta e eu não seria enganada por aqueles olhos escuros e aquele sorriso fácil uma segunda vez.








O dia passou como um borrão e, felizmente, eu não tive que falar com o Vicente de novo. Ele não foi à aula no dia seguinte, mas eu precisei falar com seu melhor amigo, que parecia ansioso demais para se aproximar de mim.

Eu devia ter desconfiado.

Dei um jeito de fugir de Lucas a maior parte da manhã. Silas ficou comigo o tempo todo, inocentemente feliz com a perspectiva de sair comigo. Eu me odiei por não poder ter o mesmo sentimento, toda a minha alegria por finalmente poder sair com ele parecia escurecer com o fato de eu ter sido traída por um garoto que pensei ser um amigo. Petra parecia ter engolido um limão e eu preferi não me aproximar de Larissa e Arthur, não queria deixar minha melhor amiga com mais raiva de mim. Ainda teria que me desculpar com ela, mas isso teria de esperar. Eu não conseguiria enfrentá-la tão cedo, sabendo que ela estivera certa e eu errada o tempo inteiro.

A aula acabou sem nenhum incidente e eu segui com Geny para casa. Minha irmã me conhecia muito bem para saber que havia algo de errado comigo. Eu estava mais calada que o normal e incrivelmente distraída. Sempre costumava dividir tudo com ela, mas eu mesma não entendia o que se passava com meus próprios sentimentos. Não sabia como externá-los.

– Tina – ela disse enquanto caminhávamos para casa. – O que você tem? Não está feliz por sair com o Silas?

Eu havia contado para ela do encontro e eu realmente devia estar feliz, não com a expressão de quem recebera a pena de morte.

– Estou – respondi apenas.

– Não parece.

Então, mesmo sem entender o que era tudo aquilo, mesmo que meus sentimentos não fizessem sentido, mesmo que eu nunca tivesse estado tão confusa antes na vida, eu resolvi que o melhor a fazer era desabafar. Sempre ouvi dizer que alguém de fora pode entender as coisas melhor do que quem as está vivendo. E eu deveria confiar na minha irmã, antes de em qualquer outra pessoa. Eu nunca voltaria a confiar em outra pessoa, a não ser ela. Não cometeria o mesmo erro novamente.

Eu abri a boca e parecia que não era capaz de parar o fluxo de palavras que fluíam por ela. Geny ficou calada o tempo inteiro. Eu contei tudo. Como de início eu o detestava e como, pouco a pouco, comecei a pensar nele com uma frequência que me assustava. Como ficamos amigos e como eu achei que poderia confiar nele, como tinha decidido enterrar Tiffany para sempre e esquecer o que eu achava ser uma vingança ridícula, já que ele havia se redimido e se tornado alguém que eu podia admirar e gostar. Então eu contei sobre ontem e sobre como Roberta e Petra tentaram abrir meus olhos, ainda que com intenções diferentes, e como eu fiquei em dúvida e usei Tiffany para descobrir a verdade. E como a traição dele doía como uma queimadura. Uma dor tão surpreendentemente profunda que teria de ser devolvida.

Eu não era perfeita. Eu não era boa ou generosa. Queria que ele sentisse pelo menos um pouco do que eu estava sentindo. Queria que ele sofresse também.

Andamos o longo caminho inteiro e eu só parei de falar quando chegamos em casa. Geny continuou calada enquanto eu abria a porta e o vazio do nosso lar nos dava as boas vindas. Ela começou a subir as escadas sem olhar para mim, que estivera esperando um comentário ou uma palavra que fosse dela.

– Geny! – chamei, antes que ela chegasse ao topo da escada. Ela parou e eu me aproximei, ficando alguns degraus abaixo dela. – Não vai dizer nada?

Ela me olhou de modo estranho, quase como se estivesse surpresa e triste com minhas palavras.

– Dizer o que, irmã? O óbvio?

Fitei-a sem entender.

– Você está apaixonada por Vince Müller, Tina – ela respondeu à minha pergunta muda. – Está claro como água. Você se apaixonou por ele.









– Está se divertindo, Tina?

A pergunta me trouxe de volta ao mundo real.

– Claro, Silas – respondi, sorrindo levemente. – Estou me divertindo muito.

– É que você parece meio distraída.

Era verdade.

Mas eu não podia evitar.

– Estou com medo que você caia – ele continuou, de frente para mim e segurando minhas duas mãos.

– Não se preocupe, patinar no gelo é uma das poucas coisas que meus pés conseguem fazer direito.

Eu havia ligado para Silas de tarde, avisando que não queria chegar nem perto do shopping. Tinha perdido totalmente a vontade de ir para o cinema. Então ele me levou para patinar. Estava muito quente lá fora e o rinque de patinação no gelo era, obviamente, bem frio.

Silas nunca gostou muito de calor.

Mas, enquanto ele sorria para mim e me puxava pelas mãos para patinar com ele, um sorriso falso estava pregado em meu rosto e minha mente estava bem longe dali. Estava no shopping, onde Vicente esperava por uma garota que nunca tivera a menor intenção de ir encontrá-lo.

A ideia era minha e eu realmente pensei que quisesse fazê-lo sofrer, mas a cada segundo o pensamento de que ele estava lá sozinho me deixava mais angustiada. Sei que é ridículo, sei que ele merece levar esse fora, sei que era isso que eu devia fazer, mas...por que então eu não me sentia feliz?

Minha cabeça dava voltas, mas eu me forçava a agir como deveria em um encontro agradável, ainda que não conseguisse evitar ficar um pouco aérea. Silas parecia contente mesmo que eu estivesse no piloto automático, sendo tomada por imagens de tristes olhos escuros vezes incontáveis. Tão diferentes dos olhos claros e suaves do garoto que agora segurava minhas mãos nas suas. Reparei que ele usava um relógio no pulso esquerdo e, antes que pudesse impedir a mim mesma, estiquei-me para ver as horas. Já eram quase oito da noite e eu tinha que estar em casa oito e meia, já que papai havia avisado que voltaria as nove e eu estava fugindo do castigo.

– Silas, eu já preciso ir – avisei enquanto duas crianças passavam como raio por nós.

Uma delas esbarrou em mim e me fez perder o equilíbrio, fazendo-me cair em cima de Silas. Nós dois fomos ao chão, eu por cima dele, e enquanto eu me desfazia em desculpas, ele riu e colocou uma das mãos em minha nuca, aproximando meu rosto do dele, colando nossos lábios levemente.

Meu primeiro beijo.

Durou apenas alguns segundos. Seus lábios estavam gelados sob os meus, seus olhos fechados enquanto os meus estavam arregalados. A reação veio aos poucos e, finalmente, eu me levantei, o rosto em brasa, olhando sempre para meus patins. Ele fez o mesmo e, juntos e silenciosos, saímos dali. Algumas pessoas nos olhavam e sorriam, sussurrando coisas como “o amor é lindo” ou “que casal bonitinho”.

– Quer que eu te dê uma carona? – Silas perguntou, totalmente constrangido, mas com um brilho de alegria nos olhos. – Mamãe vem me pegar e ela pode te deixar em casa.

Deus, não.

– Não precisa – respondi, tentando forçar um sorriso e agir com normalidade. – Eu preciso ir logo, você sabe, estou fugindo do castigo e tudo.

– Tudo bem, apesar de que eu realmente gostaria de te deixar em casa.

– Fica pra próxima, ok? – disse e saí de lá o mais rápido que pude sem correr.

Enquanto eu caminhava para o ponto de ônibus, minha mente revirava mais que um liquidificador. A noite era quente, principalmente depois do frio do rinque de patinação. Eu estava com uma calça folgada e uma blusa larga com mangas curtas e meu cabelo estava preso em uma trança lateral que chegava quase à minha cintura. Tirei os óculos por um momento e esfreguei os olhos, coloquei-os de volta e peguei o celular para olhar as horas. Eu tinha exatos vinte e cinco minutos para chegar em casa. O ônibus chegou, mas eu continuei ali, sem conseguir obrigar minhas pernas a se mexerem. Ele não parou e eu fiquei sentada no banco, observando as pessoas andarem pelas ruas. Como era sexta feira, havia muitos casais e, como estava perto do rinque de patinação, muitas crianças.

Não sei o que deu em mim, mas eu acabei pegando um ônibus que parava no shopping e foi lá que eu desci. O que era ridículo, já que Vicente já deveria ter ido embora há muito tempo. E eu nem sei o que faria se ele estivesse ali. O que eu estava pensando? Era como se eu não tivesse mais controle das minhas ações, nada do que eu fazia tinha sentido!

Atravessei a rua para o shopping sem olhar para os lados e ouvi o barulho agudo de freios no asfalto e buzinas. Parei, congelada no lugar, enquanto um carro freava a centímetros de mim. O motorista desceu no meio da rua, furioso, e bateu a porta do carro com força.

– Maria Valentina, você é doida? – Vicente gritou.

Eu fiquei estática por alguns segundos e deixei ele me empurrar para dentro do carro. Logo ele tomou o seu lugar no banco do motorista e arrancou dali. Percebi que seus olhos estavam mais escuros que o normal e suas mãos apertavam o volante com força. Mesmo assim, também não pude deixar de perceber como ele estava bonito com aqueles jeans escuros e uma camisa pólo branca que destacava seu bronzeado. Eu mordi os lábios, sem saber o que dizer.

– Para onde você está me levando? – finalmente perguntei.

– Para sua casa – ele respondeu, irritado. – Coisa que seu namoradinho tinha que ter feito.

Não refutei sua afirmação e preferi ficar calada. Como? Como eu pude me tornar tão instável? Tão confusa? Eu não sou assim! Por que tenho essa ridícula vontade de chorar ao lado daquele garoto que parecia me desprezar tanto? Por que queria abraçá-lo e me sentir segura no calor dos seus braços?

O que havia de errado comigo?

Está claro como água. Você se apaixonou por ele.

– Como foi o seu encontro com o McDonald? – Vicente perguntou de repente, tirando-me das minhas loucuras mentais.

– Eu não sei bem... - respondi, incerta se queria dividir aquilo com outra pessoa. - Foi bom, legal. Meio estranho no início. Mas depois ficou fácil. Com ele tudo sempre é fácil.

Os nós nos dedos de Vicente ficaram quase brancos com a força que ele colocava no volante. Percebi que eu não estava usando cinto de segurança, mas não quis me mexer um milímetro, nem para colocá-lo. O silêncio perdurou enquanto as ruas passavam como um borrão pelas janelas e, antes que eu tivesse certeza de que era aquilo que eu queria, chegamos à minha casa. Vicente estacionou bem em frente e desligou o carro. A entrada de automóveis estava vazia, o que queria dizer que meu pai ainda não estava em casa.

Vicente – um irresponsável que também não estava usando cinto de segurança – virou-se para mim e me fitou com aqueles olhos profundos e escuros.

– O que vocês fizeram? – perguntou.

– Fomos patinar – respondi automaticamente, fixando meu olhar em qualquer coisa que não fosse ele.

– Foi bom?

Eu hesitei e ele percebeu.

– O que aconteceu?

– Ele me beijou.

Ficamos em silêncio pelo que me pareceu um século. Então, Vicente, desceu do carro e veio abrir a minha porta, apesar de eu estar muito atordoada para notar esse gesto como sendo gentil. Eu desci, ele bateu a porta e ficou me encarando. Sua voz parecia estar cheia de raiva contida quando ele perguntou:

– E você gostou?

Eu levantei meus olhos para encarar os dele.

– Sim.

Ele deu dois passos em minha direção, prendendo-me entre ele e o carro.

– Como foi o beijo dele?

Eu não estava entendendo aonde ele queria chegar com aquilo e preferi não responder nada.

– Não vai dizer? Então eu vou ter que adivinhar – ele chegou mais perto e uma de duas mãos foi parar em minha cintura, a outra, em minha nuca. – Foi assim?

E antes que eu pudesse respirar, antes que eu pudesse saber o que estava acontecendo, senti os lábios quentes de Vicente sobre os meus, apertando-os, sugando-os, mordendo-os.

Foi completamente diferente do que eu poderia esperar de um beijo.

Era furioso, incontrolável e quente. Irrecusável. Irrefreável.

E terminou rápido demais.

Ele cortou o contato entre nossos lábios e voltou a fitar meus olhos, embora os seus não estivessem mais escuros de raiva, e sim de emoção. Eles estavam mais suaves, mas com a mesma profundidade esmagadora. Pareciam me hipnotizar, me atrair. Me afogar.

– Ou foi assim? – ele sussurrou e novamente colou os lábios nos meus.

Foi ainda melhor.

Meus braços circundaram seu pescoço enquanto ele me abraçava até eu sentir o calor da pele dele mesmo através das minhas roupas. Senti sua língua passando por meus lábios e os entreabri inconscientemente. Era um beijo completamente diferente do primeiro. Suave e macio, cuidadoso e muito, muito mais profundo.

E nem todo o tempo do mundo seria o bastante para ele.

Está claro como água. Você se apaixonou por ele.

Claro...claro como água.

O barulho de uma porta batendo na casa do vizinho nos assustou e rapidamente nos separamos. Olhei para os meus pés, sem saber o que dizer. Sem ter coragem de olhar Vicente nos olhos.

Sem ter coragem de admitir para mim mesma que eu o amava.

– Desculpe, Tina – ele falou de repente, a voz rouca. – Eu sinto muito. Isso não deveria ter acontecido. Eu...eu não sei o que deu em mim, me perdoe. Isso foi só um...

– Acidente – completei por ele, sentindo meu coração doer com o som da palavra.

– Isso – assentiu ele. – Foi um acidente.

Fitei aqueles olhos que tanto me perturbavam mais uma vez.

Está claro como água. Você se apaixonou por ele.

Eu sei.

Agora eu sei.



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Notas finais do capítulo

Bom, fiquem confortáveis porque eu vou falar pra caramba lalala.
Vou até dividir em tópicos pra não me perder haeushauseha
1 - Bom, quero pedir desculpas e dar uma explicação pela minha demora. Eu estive quebrada e destruída esses dias. Algumas pessoas aqui sabem o que aconteceu. Foi a pior semana da minha vida e eu até pensei mesmo em desistir disso aqui, mas aí percebi que escrever me distrai e é exatamente disso que preciso no momento.
2 - Bom, eu sei que é chato e vocês sabem que eu não sou de fazer essas coisas, mas realmente atingiu um ponto tenso. Eu não me deixo levar pelo número de leitores que minhas histórias têm, até porque eu às vezes vejo uma história que me parece interessante, marco pra ler e acabo nunca lendo (droga...meu segredo), mas eu só adiciono nas minhas favoritas aquelas que eu realmente li e gostei. E tem muuita gente que adicionou OAEC nas favoritas que eu não sei nem quem é e nunca deixou um mísero review aqui. Isso é muito frustrante, sabia? Eu realmente ficaria muito feliz que as pessoas que estão lendo me deixem saber disso, de verdade.
3 - Certo, do mesmo jeito que não estão me mandando reviews, eu também não estou respondendo (também sou relapsa), mas agora é sério. Eu vou responder a TODOS os reviews deste capítulo aqui. Então, quem quiser ser respondido, aproveita, não é sempre que a vida me dá tempo (vida bandida!)
4? - é 4 mesmo? até me perdi...Lê, minha diva, você voltoooou! *-* não me abandone, eu adoro você demais, menina!
5? - E por últimoooo...eu sei que tinha dito que esse cap era demais, meu preferido e coisa e tal blablabla. Ele é, de fato, meu cap preferido, mas eu dei uma relida nele (uma? que tal mil?) e achei ele MUITO corrido e confuso. Mas que seja, uma das poucas vezes que eu gosto de um cap, vai ficar assim mesmo, todo corrido e confuso. Mas espero mesmo que vocês gostem. Ah, ele ficou meio grande demais, desculpem. Mas é que quando eu escrevo, eu vou perdendo a noção...
6 - Eu sei que eu tinha dito que o tópico 5 era o último, mas é que eu lembrei de uma coisa MUITO importante. Ed Gaston, meu príncipe (detalhe que eu ACHO que tenho intimidade com a pessoa...) MIL VEZES OBRIGADA pela sua recomendação! Fiquei até emocionada !!! Meu primeiro leitOr!!! *-* Você é um lindo, obrigada mesmo.
Bom, acho que é isso. Obrigada a todos que comentaram no último cap. E VicLilyh, sua linda, eu não esqueci de você não. É que você sumiu e eu achei que tivesse parado de ler minha história para todo o sempre (dramática, eu? nem um pouco...)
Bom, é isso. Pessoinhas que dormiram durante meu discurso (discurso? oO), acordem que já acabou. Beijinhos e até o próximo cap :)