O Amor É Clichê escrita por Juliiet


Capítulo 13
Filme De Terror É Clichê


Notas iniciais do capítulo

Gente, capítulo com só UM dia de atraso (eu sei, também estou chocada O.O).
Eu não gostei muito desse, mas espero que vocês não achem tão ruim...
Enfim, esse cap é dedicado à Lia e à Blair Fontes, meninas, amei as recomendações de vocês, sério. Ah, e à Lídia de novo, por ela ser uma leitora muito fofa.
Enjoy :)



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Tinha algo de errado comigo.

Tipo, muito, muito errado.

E eu nem estava falando do meu nariz quebrado.

Ok, estou dramatizando. Ele não estava quebrado. Só sangrava e doía como se estivesse.

Isso sem falar no inchaço. Estou te falando, se eu não precisar de cirurgia plástica depois dessa, vou começar a acreditar em milagres.

– Sério, Vicente, me desculpe – Maria Valentina falou pela quinta vez, segurando uma bolsa de gelo contra meu nariz latejante. – Não vai ficar roxo, eu prometo – acrescentou, afastando a bolsa de gelo por alguns segundos antes de voltar a pressioná-la delicadamente.

Quase não doeu. Quase.

Apanhar dessa menina está virando um hábito.

Fiz uma careta e isso sim fez meus lábios se partirem em um gemido de dor. Parecia impossível fazer qualquer movimento facial sem sentir uma pontada aguda que começava no nariz e se irradiava para as minhas maçãs do rosto, chegando em menor grau até meus olhos, fazendo-os se encherem de água.

Que fique claro que eu não estava chorando. Fala sério, eu, chorando? Coisa mais ridícula. Eu estava lacrimejando.

Tem diferença, ok?

– Você me deu a porra de um soco, Maria Valentina – rosnei, tentando soar ameaçador e sedento por vingança, para que ela não reparasse em meus olhos ligeiramente úmidos.

Mas só me deixe dizer uma coisa. É impossível parecer ameaçador com dois tufos de algodão enfiados nas narinas. Minha frase “ameaçadora” saiu algo como: Focê be deu a borra de um soco, Baria Valentida.

Viu? Ameaçador como um patinho.

Merda.

Estávamos – mais uma vez – no meu banheiro, com a caixa de primeiros socorros aberta no balcão, a pia cheia de sangue – se alguém visse, iria achar que havíamos acabado de assassinar um gatinho – e Maria Valentina tentando consertar os estragos que ela mesma causou.

Certo, mais ou menos. Não nego minha participação no desenrolar dos eventos, mas ela foi pequena. A maior parte da culpa foi toda da Maria Valentina, como sempre. Afinal, é sempre ela que pira e parte para a violência.

Já eu sou da paz.

– Eu não queria machucar você, me desculpe – ela lamentou, apoiando a bolsa de gelo na pia e começando a limpar o sangue seco no meu rosto com cuidado, usando um algodão úmido.

– Um soco, Maria Valentina. Um maldito soco e você ainda diz que não queria me machucar?! – falei o mais alto que podia sem sentir meu rosto partir ao meio. Mas é claro que o que saiu foi: um soco, Baria Valentida. Um baldito soco e focê ainda diz que dão queria be bachucar?!

Eu sei, eu sei. Patético.

– Eu me assustei – sussurrou ela, jogando o algodão sujo no lixo e pegando um limpo. – Achei que você ia me beijar.

– Sério, M.V? – falei, me estressando e tirando aquele negócio do meu nariz para poder falar direito. Forcei uma expressão de escárnio apesar da dor no nariz. – Você sinceramente acha que eu te beijaria? Eu, Vince Müller? Garota, você só pode estar louca, eu nunca beijaria você. Preferiria beijar um cacto – e me machucaria menos também.

É claro que isso era a maior mentira.

Porque – adivinhe? – eu a teria beijado sim, era o que eu ia fazer, se a louca não tivesse tentado afundar meu nariz para dentro do crânio.

O negócio é que – chocante, eu sei – eu queria beijar aquela nerd de língua ácida e punhos rápidos.

Acredite, ninguém está mais estupefato com isso do que eu.

Como eu disse, tinha algo de muito errado comigo.

– Eu sei – a nerd disse baixinho. Ela tinha hesitado um pouco logo que eu acabara de falar, mas logo voltara a limpar minha pele com toques delicados. – Eu sei que você nunca me beijaria, eu só...não estava pensando. Eu pirei. Desculpe-me – terminou num fiapo de voz.

Ótimo, era só o que me faltava. Eu estava destruindo a autoestima da garota e me sentindo mal por isso. O que era realmente péssimo, porque afinal, eu iria beijá-la mesmo. Se ela tivesse me dado a chance.

Mas é claro que isso eu não podia dizer.

Segurei o pulso dela de leve, impedindo-a de continuar. Seus dedos soltaram o algodão sujo de sangue, que caiu no chão aos nossos pés. Sua mão tremia ligeiramente e ela encarava um ponto acima da minha cabeça, o que era fácil já que eu estava sentado e ela, de pé.

– Está tudo bem, Maria Valentina – era tudo o que eu podia dizer. – Eu não estou com raiva – e não estava mesmo. Não sei por que, mas não estava.

E então eu fiquei sabendo que tudo o que eu podia dizer era, aparentemente, a coisa errada a se dizer.

Isso ficou claro quando a garota começou a chorar.

Sei, eu mereço.

Maria Valentina me deixou no banheiro e correu para o quarto, mas tropeçou na própria mochila e caiu de joelhos no chão. Em meio segundo eu estava agachado ao lado dela, segurando seus ombros, tentando fazê-la olhar para mim.

– Você está bem? Se machucou? – perguntei preocupado.

Pequenos soluços escapavam de sua garganta, seus grandes óculos estavam embaçados e lágrimas riscavam suas bochechas rosadas. O que diabos estava acontecendo? Quando foi que passamos da violência para a choradeira? O que eu deveria dizer para fazê-la parar? Céus, eu não tinha a menor experiência em consolar mulheres chorosas. Eu deveria deixá-la chorar em paz por algum tempo? Esperar na sala, talvez? Pedir ao motorista para levá-la para casa?

Não sabia, mas a ideia de deixá-la me parecia...errada. Como se eu fosse me tornar o canalha número um da terra se fosse embora e a deixasse ali. A garota era tão pequena, frágil no meio de todas aquelas roupas largas. Era como se tentasse se esconder do mundo. Parecia até inofensiva, para alguém que não a conhece.

Mas eu conhecia aquele pequeno furacão muito bem. Sabia dos estragos que era capaz de causar. Minha canela, minha sobrancelha e meu nariz podiam testemunhar.

Só que algo na maneira em que seus ombros se sacudiam sob minhas mãos a cada soluço era como uma pontada daquela dor aguda que eu sentia em meu nariz.

Exceto que não era no nariz que eu a estava sentindo agora. Apesar de ele ainda estar doendo, e bastante.

– Ei, pequena – disse numa voz que esperava que fosse reconfortante, mesmo que ainda estivesse um pouco anasalada. E, sem pensar, puxei-a para os meus braços. – Eu já disse que não estou com raiva, você não precisa ficar assim. Não há nenhum dano permanente, veja – e torci o nariz bem no estilo “A Feiticeira” (eu tive uma namorada que gostava e me forçava a assistir, ok?), ignorando a pontada de dor que isso me causou e tentando não fazer careta.

Isso não arrancou o sorriso que eu esperava dos lábios dela, que apenas afundou o rosto na minha camisa suja de sangue.

É, eu sei. Nham nham.

Pelo menos os soluços haviam parado.

Acariciei ausentemente o lado do seu rosto, como se fizesse isso o tempo todo, e observei enquanto a nerd se encolhia em meu abraço desajeitado. Confesso que não era...desagradável, apesar do calor, que estava me fazendo suar e não estimulava contatos como aquele. Maria Valentina parecia menor e mais pálida colada a mim daquele jeito, e suas lágrimas eram quentes mesmo através da minha camisa. Nunca havia pensado que veria tanta...vulnerabilidade – se é que essa era a palavra correta – naquela garota que, desde que entrou na minha vida, tudo o que fez foi me xingar, chutar minha canela até o ponto em que pensei que ficaria aleijado, dar com o telefone na minha cabeça e – mais recentemente – toda essa história de quase quebrar o meu nariz.

E agora a violenta e durona Maria Valentina estava toda aninhada contra mim, como uma gatinha.

Coitado de mim.

Certo, certo. Não era ruim tê-la em meus braços daquele jeito, não era nada ruim. Bom, exceto pelo fato de que ela estava chorando e isso não era uma coisa boa.

Mas, ei, pelo menos ela não estava me batendo! Um avanço inegável.

Será que ela me bateria se eu distraidamente deslizasse minha mão até sua cintura? É que foi tão surpreendente – de um jeito bom – sentir as suaves curvas do corpo da nerd! E não, eu não estou brincando, a menina tinha curvas! Claro que não eram aquela coisa, mas para quem passou a vida toda achando que a menina era quadrada...já era alguma coisa, certo? Não entendia por que ela se escondia tanto atrás daquelas roupas horríveis. Talvez ela ficasse até razoável se alguém desse um upgrade nela.

Aqueles óculos e o penteado seriam as primeiras coisas que eu gostaria que desaparecessem.

Bom, decidi não arriscar tentar tocá-la em qualquer outro lugar – meu nariz ainda era um lembrete dolorido de que não era sábio irritar a baixinha – então só continuei passando as pontas dos dedos no rosto dela numa carícia leve e inocente.

– Por que você está chorando? – perguntei em voz baixa.

Ela pareceu sair de uma espécie de transe, afastando-se de mim lentamente e secando as lágrimas com as costas das mãos. Seus lábios se separaram e ela inspirou e expirou bem devagar, antes de dizer:

– Eu sou um caos! Você tinha razão, garoto nenhum jamais olhará para mim – sua voz era fraca e ela me fitou através das lentes embaçadas. – E se Silas tentar me beijar e eu acabar pirando e dando um soco nele? Ou pior, e se ele perceber que eu sou uma nerd intragável e nem tentar? – ela olhou para baixo, para suas mãos. – Eu não me surpreenderia.

Ela estava tão cabisbaixa que eu fiquei com vontade de abraçá-la de novo. Mas isso seria uma péssima ideia. Aliás, a coisa toda era uma péssima ideia. O que estava acontecendo comigo? Por que, de repente, eu fiquei com vontade de abraçar e, vamos ser sinceros, de beijar aquela criaturinha esquisita?

Era a mesma coisa que ter uma súbita vontade de beijar seu hamster de estimação.

E, tudo bem, eu talvez tenha ficado um pouco irritado com aquela coisa de oh-meu-deus-Silas-me-chamou-para-sair. Como se sair com aquele palhaço fosse grande coisa. E ela estava tão empolgada! Queria que eu a ensinasse como agir num encontro! E num encontro com aquele garoto idiota! Argh! Não entendia o que estava sentindo, mas só a ideia de que ela ia sair num encontro com o Ronald McDonald, me dava vontade de vomitar. E quando ela disse “eu quero beijar o Silas”? Foi isso que me fez ter mais vontade de beijá-la.

Quem disse que o primeiro beijo dela tinha que ser dele?

Mas o que isso tinha a ver comigo?!

A vida era dela, afinal de contas. E o que ela e seu – argh – namoradinho faziam não devia ser da minha conta.

Mas eu estava começando a querer que fosse.

Acho que eu comecei a gostar da Maria Valentina. Não, não de um jeito romântico – apesar daquele momento de loucura em que eu quis beijá-la – mas algo como amizade. Eu estou completamente apaixonado por uma garota que vi uma vez na vida e de quem não tenho notícias há dias, afinal, e isso já era muito para a minha cabeça. Eu devia estar carente, só podia.

Enfim, talvez não houvesse problema em gostar da nerd como eu gosto do meu melhor amigo, por exemplo. De maneira geral, passar um tempo com ela era bem parecido com passar um tempo com Lucas. Nós nos xingávamos, batíamos – não com toda a violência da baixinha, é claro – um no outro e ríamos. Só não estudávamos. Então, de uma maneira meio distorcida, Maria Valentina era meio que minha amiga. Eu nunca tinha sido amigo de uma garota e agora estava vendo que não era ruim, apesar de todas as nossas diferenças. Quer dizer, eu me importava com ela, queria que ela ficasse bem e definitivamente não queria que tivesse seu primeiro beijo com o Ronald McDonald que, quem sabe, podia ser um aproveitador e corruptor de menores. Eu não sabia nada sobre ele! Ele podia ser um traficante de drogas juvenil ou até um aprendiz de estuprador! Eu não podia deixar minha professorinha nas mãos dele, podia? Um amigo de verdade não deixaria a pobre e inocente Maria Valentina nas mãos daquele cara.

Eu sempre achei o Ronald McDonald com cara de psicopata.

Estou falando do verdadeiro.

Mas se eu for parar para pensar, o Koury era parecido com ele, portanto, também tinha cara de psicopata.

Não devo ajudar a M.V. a se dar bem num encontro com um garoto com cara de psicopata, simplesmente não é certo.

Mas, nada disso importava. Porque ela estava triste. E ela estava triste por pensar que aquele psicopata-possível-estuprador-drogado não iria tentar beijá-la na sexta-feira, no encontro deles. E, ok, mesmo sabendo que o cara poderia muito bem não prestar nem para encerar o chão, eu não queria vê-la tristinha daquele jeito. Então, em vez de ser racional e inteligente, e dizer para ela desistir, que o cara era um traste e que os dois nunca ficariam bem juntos, eu disse:

– Maria Valentina, o psico...quer dizer, o Koury nunca vai achar você uma nerd intragável. Até porque, ele é um nerd intragável.

Certo, isso a fez rir. Bom.

– E se ele não tentar beijar você – continuei, me inclinando para tocar sua bochecha. – Bom, ele que vai perder. Aposto que você beija muito bem.

Ela riu mais, seus lábios se abriram em volta dos dentes brancos imaculados e, se eu pudesse enxergar seus olhos, tenho certeza de que os veria cintilar.

– Sério? – ela perguntou, ainda com o sorriso lindo no rosto. – Como você pode saber disso? Eu nunca beijei ninguém, acho que sou péssima.

Ela realmente tinha um sorriso lindo. Parecia com o da minha Tiffany desaparecida.

Ok, foco. Se eu começar a pensar na Tiffany, vou enlouquecer.

– Eu tenho instinto para esse tipo de coisa – inventei, apesar de estar consciente de que ninguém beijava bem logo de primeira. Eu só queria deixa-la feliz. – Tenho certeza de que você vai se sair muito bem no seu primeiro beijo.

Opa, acho que eu disse algo errado, pois ela parou de sorrir.

– Por quê? – perguntou, baixando a voz e olhando para mim. Seus óculos estavam começando a desembaçar e eu pude ver o contorno dos seus olhos. Eles eram grandes em seu rosto. – Por que você está sendo tão...legal? Se não se lembra, eu quase quebrei seu nariz há um minuto.

Eu ri, e a dor era apenas inconveniente, não insuportável agora.

– Você me prometeu que não ficaria roxo – respondi apenas, não querendo revelar minha recém-descoberta amizade por ela.

Ela voltou a sorrir, sem separar os lábios dessa vez.

– Talvez eu não seja capaz de cumprir minha promessa – ela disse, incerta, mas o sorriso ainda trazendo para cima os cantos dos seus lábios. – Você está um pouquinho roxo.

Fingindo-me de horrorizado, corri para o banheiro para ver a extensão dos danos. A base do meu nariz, logo acima dos lábios, estava meio arroxeada, assim como ao redor das narinas. Mas não parecia nada muito grave, o gelo me poupara do pior. E eu não pude evitar o sorriso que se formou em meus lábios ao ouvir a risada doce da nerd, quando eu disse:

– Definitivamente, caso para cirurgia plástica.

Eu a olhei e ela levantou do chão, ajeitando as calças – as mesmas do dia anterior, horrorosas e folgadas – e os cabelos. Percebi que alguns fios haviam escapado do coque severo e enrolavam ao redor do seu rosto, num lindo tom de cobre, que se transformou em vermelho fogo no minuto em que ela deu um passo em minha direção, quando passou a ser acariciada pelos raios de sol que entravam pela janela aberta.

– Você é ruiva – concluí, como um idiota, encantado pela cor dos seus fios. ­– Nunca havia reparado.

– É – ela concordou, parecendo meio desconfortável e colocando os fios rebeldes de volta no lugar. – Você não respondeu minha pergunta. Por que está sendo tão legal comigo, de repente?

Eu suspirei. Se íamos ser amigos, ela precisava saber, certo?

– Eu só acho que... – comecei, passando a mão nervosamente pelos cabelos e observando sua expressão confusa. – Sei lá, nós não precisamos brigar o tempo todo e nos odiar para o resto da vida. Podíamos tentar ser amigos.

Fitei-a enquanto sua expressão passava de confusa para chocada e então, para o meu completo alívio, para simplesmente satisfeita.

Acho que “em êxtase” seria pedir demais.

– Amigos? – ela repetiu, arqueando uma sobrancelha que, agora eu notei, era ruiva como seus cabelos. Como eu não percebi isso antes? – Você, Vince Müller, estrela do futebol, garoto mais popular do colégio, namorado da garota mais linda...

– Ex-namorado – corrigi. – terminei com a Roberta hoje. – E ela não é a mais linda – claro que não, Tiffany era.

Ela assentiu, como se desconfiasse disso. Foi minha vez de arquear a sobrancelha. Ela ignorou e continuou:

– Certo, ex-namorado da menina mais linda da nossa sala e eu? A nerd esquisita que usa óculos e foi relegada ao ostracismo durante toda a vida escolar? Você está dizendo que quer ser meu amigo?

Colocando as coisas desse jeito, parecia mesmo meio improvável...mas dane-se, por que eu deveria me preocupar com isso? Então Maria Valentina não era como todos os meus outros amigos, mas e daí? Eu me importava tanto com essas coisas inúteis a ponto de me afastar de alguém cuja companhia era...boa para mim?

Eu já sabia a resposta.

– Eu resolvi não me importar tanto com isso, M.V. – respondi, dando de ombros como se não fosse nada. – Quero ser seu amigo, mesmo que sejamos diferentes. Você topa ou prefere ficar brigando comigo o tempo todo?

– Então você quer ser meu amigo para que eu pare de bater em você?

– Confesso que a ideia passou pela minha cabeça. E não é de todo má.

Ela riu e então levantou a mão para mim.

– Amigos? – perguntou.

Eu apertei a mão dela com a minha.

– Amigos – confirmei, sentindo-me estranhamente satisfeito.


Decidimos que devíamos parar um pouco com as aulas – tanto as minhas quanto as dela – por pelo menos o restante do dia. A ideia foi minha, eu estava cansado de me irritar com o pensamento de Maria Valentina e Ronald McDonald juntos no encontro. Sabia que ia acontecer, mas, ela precisava realmente ficar esfregando na minha cara daquele jeito? Eu não gostava do cara e pronto, não queria os dois juntos.

Mas se ela gostava mesmo dele...

Quem eu estou tentando enganar? Eu estava torcendo para o encontro deles ser um fracasso.

Continuando, a ideia era termos nosso primeiro momento como amigos. Sem pressões de aprender geopolítica nem a técnica para beijar sem bater os dentes nos dentes da outra pessoa. Maria Valentina pareceu feliz com a ideia de assistirmos um filme, depois de vetar terminantemente o banho de piscina que eu propusera. Aceitei a ideia dela, contanto que eu pudesse escolher o filme. E em menos de uma hora – fomos almoçar e eu troquei minha camisa que mais parecia de açougueiro com todo aquele sangue – , estávamos na grande sala de TV, esparramados no sofá, armados com pipoca, refrigerante e chocolate – fiquei deliciado ao saber que Maria Valentina rejeitava qualquer tipo de comida natureba, assim como eu – e tendo, no caso da nerd, os primeiros vislumbres de O Teatro Da Morte.

– Vincent Price? – Maria Valentina perguntou olhando para mim com um sorriso. – O Mestre do Macabro não é meio baixo, mesmo para você?

– O que você quer dizer com isso? – perguntei, satisfeito por ela conhecer um dos meus atores preferidos.

– Nunca vi esse filme, mas Vincent Price é conhecido por seus filmes de terror e eu duvido que algo que chame O Teatro Da Morte seja algum romancinho água com açúcar.

– Com medo, M.V? – provoquei.

– Nos seus sonhos – retrucou ela. – É só que isso é tão clichê!

– O quê? Filmes de terror?

– É claro. Você quer que eu, por ser garota, fique toda assustada e solte alguns gritinhos nas piores cenas, só para depois me provocar por isso pelo resto da vida.

Meu queixo caiu quando percebi que ela descobriu todo o meu plano meticulosamente arquitetado. Tudo bem, não tão meticulosamente assim, mas...

– Você é mesmo esperta, garota nerd – declarei com um sorriso. – Mas eu poderia ter escolhido esse filme para você se assustar e me agarrar.

Foi a vez dela de ficar com o queixo caído, mas logo se recuperou e me deu uma piscadela.

– Para a sua sorte, eu meio que gosto de filmes de terror – disse e riu, voltando suas atenções para a tela.

Certo, filme de terror é clichê. Mas é tão divertido que eu posso conviver com isso.




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Notas finais do capítulo

Hey gente, como foi a páscoa de vocês? :))
Não sei quando sai o próximo cap, eu ainda nem comecei a escrever e estou TÃO viciada num livro que não sei se vou conseguir largar para escrever hahaha
Mas quem sabe, se vocês me encherem de reviews, eu largo o livro e escrevo? :)))
(tentando usar as técnicas de chantagem da Geny...)
Beijinhos e deixem reviews :)