Cena 3 - Vedado

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Depois que Sasuke desceu os degraus rapidamente, quase teve mérito em desviar de todos os obstáculos – que incluía garçonetes, mesinhas e clientes -, mas acabou esbarrando em uma garota. Melhor dizendo, a garota se jogou em cima dele.

- Olhe por on... – começou Sasuke, até ser interrompido por uma voz um tanto quanto irritante.

- Sasuke-kun! Estava mesmo pensando em você. – Disse a dona da voz, também dona de excêntricos cabelos róseos e olhos esmeraldinos.

- Ah, oi, Sakura. – Falou o Uchiha, se recompondo do esbarram.

Ele e a garota estudavam no mesmo colégio desde os cinco anos. Por alguma razão que o corvo não conseguia entender, Haruno Sakura sempre aparecia onde ele estava. Passou certo período achando que a garota o perseguia ou coisa do gênero, mas logo deixou a hipótese de lado.

Mas é claro que nós, querido leitor, sabemos muito bem que não era imaginação de Sasuke.

A menina Haruno era realmente obcecada pelo Uchiha desde a primeira vez que o viu. Fazia de tudo para agradá-lo, e sua rotina consistia basicamente em se preparar para ele.

Sasuke, por sua vez, não se mostrava interessado na garota – e em nenhuma outra do colégio -, o que fazia Sakura se frustrar e tentar ao máximo melhorar, pois acreditava que era algo em sua aparência que não agradava o Uchiha.

- Que coincidência te encontrar por aqui, Sasuke-kun. Parece até o destino, não acha? – Ela ria nervosamente, enquanto jogava uma mecha do cabelo rosa para trás da orelha.

Sasuke colocou as mãos no bolso, e deu de ombros.

- Uhn, tanto faz. – Ele olhou para trás, procurando ver onde Itachi estaria.

- E... o que faz por aqui? – Perguntou a garota, tentando manter um diálogo com o Uchiha.

- Não é óbvio? Eu estou saindo de uma cafeteria, conseqüentemente estava tomando café. – Você pode até achar que o garoto foi um pouco grosso demais, mas ele estava apenas agindo naturalmente.

Sasuke nunca fora de pensar no que dizia.

Certa vez, uma criança com a cabeça raspada estava chorando muito. O Uchiha dissera que ela deveria parar de chorar, pois ao menos tinha saúde. O garoto tinha câncer e estava em estado terminal, mas Sasuke foi o único que não percebeu isso. Resultado: Um soco no lado direito do rosto e um dente quebrado.

Sakura logo se recompôs do golpe em seu ego, e falou:

- Ah sim, que divertido. Você não é de sair muito, por isso achei estranho te encontrar fora do período escolar.

Sasuke olhou de soslaio para ela, e quase perguntou como a rósea sabia que ele não costumava sair de casa, mas Itachi apareceu poucos segundos depois atrás dele, colocando uma das mãos em seu ombro.

- Vamos, Sasuke? – Perguntou ele, de forma bem-humorada. Logo depois notou a presença da adolescente ao lado de seu irmão. – Oh, desculpe, não sabia que estava com uma namoradinha.

Como todo bom irmão mais velho, Itachi fazia questão de constranger Sasuke em público.

Ambos os adolescentes coraram, embora por motivos diferentes.

- Ela não é minha namorada, Itachi. – Bufou Sasuke, cruzando os braços por cima da camisa branca. – Só uma colega do colégio.

Sakura olhou para Itachi, com as bochechas levemente rosas e um sorriso no rosto.

- Quem sabe em um futuro não tão distante você esteja certo, Itachi-sama.

O sorriso de Itachi congelou em seu rosto. Ele falara aquilo para irritar seu irmão, pois não acreditava que poderia ser uma verdade. Após a fala da moça, se perguntou como ficaria quando seu irmão estivesse com outra pessoa.

Itachi pegou aquele sentimento que começava a se apossar de seu interior, e resolveu guardá-lo nas profundezas de seu coração, onde só Sasuke tinha direito de conhecer.

Sasuke olhou incrédulo para a garota, e fez menção de falar várias vezes. Por fim, desistiu.

- Vamos logo, Itachi. – Ele começou a andar até o carro estacionado ali perto, sem olhar para trás.

- Até segunda, Sasuke-kun! – Sakura apressou-se a dizer, acenando para o Uchiha.

O mesmo apenas ergueu o braço.

- Peço desculpas pelo meu irmão, Sakura-chan. – Itachi disse, sem olhá-la. – Até mais.

E logo depois, desligou o travamento das portas do carro.

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- Trancou a porta da frente, Sasuke? – Questionou Itachi, colocando o par de sapatos perfeitamente alinhados na sapateira de sua suíte, e começando a desabotoar a camisa.

Ele conseguiu escutar as sacolas das compras sendo depositadas na cozinha no andar de baixo, e Sasuke subindo as escadas depois do feito.

- Sim, sim. Quando foi que esqueci a porta aberta? – Perguntou retoricamente, com a voz monótona.

Itachi riu, tirando a camisa por completo e jogando no cesto de roupa suja.

- Sei lá. Vou tomar banho, aí a gente vê um filme quando eu acabar. – Gritou, esperando que Sasuke estivesse no corredor fora de seu quarto e pudesse ouvir.

- Tá, tá. – Deu de ombros, entrando em sua própria suíte e começando a trocar de roupa.

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Nenhum dos irmãos poderia reclamar da vida que levavam. A casa era grande para apenas dois moradores.

Quatro suítes, uma cozinha ampla estilo americana, dois banheiros para visita, área de serviço, área de lazer – que incluía churrasqueira e piscina -, e um enorme jardim que cercava a casa. No fundo da mesma, uma fonte com carpas atraia o olhar de quem estivesse por perto. Sinceramente, eu me perderia em um lugar desses.

Talvez seja porque não gosto de locais grandes, me sinto um ser pequeno neles.

Voltando aos irmãos Uchihas, eles herdaram o Império que seus antepassados construíram, que incluía filiais em mais de 14 países.

Embora eu ache melhor falar desse assunto depois.

Sasuke procurou por toda a suíte suas pantufas, que ganhara da sua mãe antes da mesma morrer. Por sorte, seus pés eram bem menores, considerando as pantufas, e agora – depois de tantos anos – elas cabiam perfeitamente.

- Aniki, minhas pantufas estão no seu quarto? – Perguntou de maneira infantil, colocando a cabeça para fora da suíte.

Sem receber respostas, andou na ponta dos pés até o quarto de seu irmão, empurrando a porta de leve e encontrando o mesmo vazio.

Ouviu o barulho de água caindo, e lembrou-se que seu irmão estava no banho.

Sasuke deu de ombros e começou a procurar as pantufas no quarto do irmão, ajoelhando-se no chão e buscando embaixo da cama.

Mal começara sua caça, e a porta do banheiro foi aberta, revelando um Itachi parcialmente nu visto por Sasuke.

Uma toalha branca era a única coisa que impedia a visão completa do corpo de Itachi. Pequenas gotículas de água escorriam da ponta de seus cabelos, passando pelo peitoral e se perdendo no tecido mais abaixo. Tenho certeza que muitas pessoas dariam a alma para estarem no lugar daquela gotinha.

Sasuke engoliu em seco, com as bochechas rubras. Ele já vira Itachi quase sem roupa várias vezes, então não conseguia entender o motivo disso.

Itachi passou uma toalha de rosto nos cabelos, secando-os gradativamente, e olhou para Sasuke no chão.

- O que faz aqui, otouto? – Perguntou, bem-humorado. – Não me diga que veio espiar meu banho.

Sasuke corou mais ainda, e tentou erguer-se rapidamente. É lógico que como a ação foi espontânea, não teve tempo para raciocinar que ao levantar tão rápido, bateria a cabeça na beirada da cama. E foi exatamente isso que aconteceu.

- Ite! – O pequeno Uchiha levou suas mãos até a cabeça dolorida, massageando-a de leve enquanto elevava-se defronte à Itachi. – Estava apenas procurando minhas pantufas, Aniki.

Itachi olhou para ele com as sobrancelhas arqueadas e gesticulou a sapateira com a mão livre.

- Buscou na Sapateira? – questionou. Ao ver a reação de Sasuke, a resposta era óbvia. – Irmão tolo.

Ele riu do irmão menor, quando o mesmo abriu a sapateira que revelou pantufas felpudas em perfeito estado no seu interior.

- Desça e vá colocando o filme, pois eu quero me vestir.

Itachi empurrou Sasuke para fora da suíte, e bateu a portar nas costas dele.

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- Estou com saudade de ver o episódio II de Star Wars. – Monologou o jovem Uchiha, pegando a edição de colecionador do filme.

Ajoelhou-se diante da televisão, abrindo a embalagem do DVD e colocando no aparelho. Com todo o tempo do mundo, jogou-se no sofá e mexeu desinteressadamente no menu, usando o controle.

Afinal de contas, quem em pleno século 21 iria se dar ao trabalho de apertar os botões no próprio aparelho? Devo admitir que, desde o avanço tecnológico, tenho visto que as pessoas aumentam constantemente de peso. Tarefas simples como abrir a janela do carro, fazer o almoço, mudar o canal na televisão e diversas outras coisas, foram substituídas por eletrônicos.

A Sra. Nara, por exemplo, vivia comprando comida de fast-foo-

Perdi um pouco o foco...

Onde estava mesmo?

...

Ah, sim, o filme.

Poucos minutos depois, Itachi desceu de dois em dois degraus a escada, passando o moletom preto pelo pescoço e o acomodando no corpo.

Sasuke teve vislumbres da cena anterior, e respirou fundo para não ficar corado de novo.

- Cadê a pipoca? – Perguntou seu aniki.

- Tá no microondas. Deixe de ser preguiçoso e pegue lá. – Disse Sasuke, de um jeito cítrico.

Itachi foi para a cozinha rapidamente e já voltava com a pipoca em mãos.

- Cadê o respeito que deve ao seu irmão mais velho, pirralho? – Pulou no sofá, deixando várias pipocas voarem e atingirem Sasuke.

- Está junto com o seu juízo. Ou seja, perdido. – Itachi riu, e bateu dois dedos na testa de Sasuke.

- Você é tão mal-humorado... – Jogou mais pipocas na boca, enquanto encarava a tela LCD.

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Ah, Star Wars é uma saga tão boa.

Não é à-toa que existem tantos fãs espalhados pelo mundo, incluindo todas as... "tribos" (acho que vocês chamam assim).

Os irmãos Uchiha não eram exceções à regra, e constantemente estavam em eventos cujo tema era relacionado a Star Wars.

O silêncio durante o filme não seria quebrado nem por decreto. O momento em que os dois irmãos estavam juntos era sagrado.

Ninguém do escritório de Itachi tinha autorização para interrompê-lo quando estava com seu irmão, apenas quando a situação estava crítica.

Sasuke estava deitado no sofá, com a cabeça no colo de Itachi – que passava a mão em seu cabelo suavemente -, enquanto via os créditos passarem.

- Acho que o amor da Padmé e do Anakin surgiu muito do nada. – Comentou Sasuke, enquanto via os nomes dos atores.

- Claro que não, Sasuke. – Contestou Itachi. – Anakin sempre gostou da Rainha.

- Tá, e porque ele só começou a falar disso com ela depois? – Sasuke encarava seu irmão por baixo, com olhos questionadores.

- Vai ver ele tinha vergonha do sentimento. Afinal, era um futuro Jedi, não tinha direito de se apaixonar por uma Rainha. – O olhar de Itachi se perdeu enquanto dizia aquelas palavras, e Sasuke ficou estranhamente desconfortável. – Era um amor proibido.

O Uchiha menor ficou calado enquanto refletia nas palavras de Itachi, que por algum motivo, parecia estar bem certo do que dizia.

Os cabelos de Itachi ficavam ainda mais bonitos depois de lavados, Sasuke notou aleatoriamente, e começou a encarar seu irmão, apenas admirando-o.

Quando os créditos acabaram, Itachi percebeu o olhar de seu irmão e ficou levemente descômodo.

- Então, você e a Sakura, é algo sério? – Perguntou, conseguindo fazer com que Sasuke corasse e olhasse para o outro lado.

- Nah, não, não. – Disse com a voz baixa. - Ela é só uma colega do colégio mesmo.

Aquilo foi um alivio imenso para Itachi, que logo aproveitou o momento para continuar com os questionários.

- Não pensa em namorar, Sasuke? Nunca vi você com uma garota.

Era verdade.

Itachi, ao contrário, vivia levando garotas – de americanas à asiáticas – para casa, e elas sempre ligavam no dia seguinte.

E ele nunca retornava.

O ciúme que Sasuke sentia ao ver seu amado irmão com garotas sempre ia embora no amanhecer, junto com elas, porque a certeza que Itachi nunca as levaria de volta prevalecia.

- Eu... não tenho muito tempo para garotas. – Era uma mentira, mas investiria nela. – Elas sempre exigem tempo demais, e eu não gosto de ter que dar atenção demais pra uma pessoa.

"Uma pessoa além de você, Aniki" – completou mentalmente.

Itachi se sentiu culpado ao constatar sua felicidade pelas palavras de Sasuke.

Então, fez-se a luz em sua mente.

- Já beijou alguém, otouto?

Sasuke ficou realmente surpreso com aquilo e tentou esconder o rosto com as mãos, desviando o olhar.

- Cla-claro que já! – Suas bochechas inflaram quando Itachi começou a rir. – Do-do que você está rindo, hein?

- Estou rindo, otouto – Começou, aproximando o rosto perigosamente do de Sasuke – porque acho, acho não, tenho certeza, que você nunca beijou alguém.

- Pois... pois eu... – Sasuke estava preparando-se para argumentar, quando Itachi colocou dois dedos em seus lábios, silenciando-o.

- Não fale nada, só deixe eu te olhar... – Ele falara aquilo com a voz baixa, concentrada... apaixonada, Sasuke não falaria nada nem se quisesse.

Eles se olharam fixamente por longos segundos, nenhum dos dois arriscava desviar o olhar.

Não fariam isso.

Não podiam.

Não queriam.

Aquele olhar seria eterno, assim como o sentimento que chegara sem avisar nos dois, e criara ninho em seus corações.

Itachi achava Sasuke incrivelmente bonito. A sua tez pálida que contrastava com os cabelos negros e os olhos de mesma cor, assim como o pijama que vestia. Seus lábios rosas pareciam tão convidativos...

Os olhos de Sasuke lacrimejavam, pois suas pálpebras recusavam-se a piscar e romper aquela ponte que criaram entre os dois. Ele entreabriu os lábios, esperando que algum som saísse de sua boca, mas...

Seus lábios, seu juízo e sua alma foram levados quando Itachi o beijou.

Eram bocas irmãs, tão iguais, tão perfeitas uma para outra, em uma sincronia desumana. Encaixavam-se perfeitamente, enquanto o mais velho o guiava com a própria língua.

Uma feita para a outra.

Ele arrumara Sasuke em seus braços, abraçando-o forte e deslizando os dedos em sua nuca, causando arrepios no mais novo.

Finalmente Itachi tocava aquele que tanto amava.

Parecia tão certo.

- Ita-Ita... – Sasuke tentou quebrar o beijo, colocando as mãos no peito de Itachi e empurrando de leve.

Nesse momento, o mais velho abriu os olhos (quando se fecharam?) abruptamente, jogando o corpo de Sasuke num dos cantos do sofá.

- Não, não, não, não Deus, não posso ter feito isso... – Ele balançava a cabeça freneticamente, em estado de negação, levando as mãos até ela. – Merda, merda, MIL VEZES MERDA!

Ele saiu correndo da sala, deixando um Sasuke estático no sofá.

Esse era apenas o começo para uma série de desventuras.

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