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Quando os dois estavam juntos, tudo parava e nada mais importava. Os irmãos não prestavam atenção nos carros barulhentos. Não prestavam atenção no helicóptero que passou raspando por cima de alguns prédios. Também não prestavam atenção na voz feminina que gritava 'pega ladrão'.
Estavam alheios um ao outro, como deveria ser.
Devo confessar que esse tipo de relação sempre me deixou um pouco invejoso.Mas não é aquele tipo de inveja que consome e suga a alma do ser, deixando um imenso vazio que apenas aquela coisa cobiçada completaria.
Era uma inveja saudável, por assim dizer.
Quem não invejaria dois irmãos perfeitos, ricos, inteligentes, desejados e estonteantes?
E foi justamente isso que despertou o nível mais crítico da doença – porque eu considero inveja uma doença – em certa pessoa.
Está curioso para saber quem é essa pessoa? Imaginei.
Mas tudo ao seu tempo.
Como eu dizia, eles não davam atenção para mais nada quando estavam um com o outro, pois eles não precisavam mais de nada quando isso acontecia.
- Quero ir para casa. – Disse Sasuke, quebrando o silencio que se estabelecera na cafeteria. Na verdade, não estava nada silencioso, mas como eu já disse antes...
- Já, otouto? – Perguntou o irmão, colocando a xícara delicadamente encimada na mesa. – Pensei que queria passear mais um pouco.
Sasuke deu de ombros, cruzando os braços.
- Já decorei todos os tons de cinza do centro e timbres dos carros. – Disparou, com um olhar que esbanjava sarcasmo. – Ao menos em casa eu posso respirar um ar que não vai me causar câncer.
Itachi se deu por vencido, e riu de maneira que revelava prazer.
- Deixe-me só pagar a conta, otouto.
Ele levantou-se elegantemente, deixando sua silhueta esguia a vista dos outros. Ele deu passos longos até o caixa, sendo seguido pelo olhar de seu irmão.
Sasuke simplesmente não conseguia desviar o olhar de seu irmão. Era como um feitiço maldito que fisgava o olhar de todos.
Ele se sentia mal por isso.
Não sabia direito o que sentia quando olhava para o irmão.
Não sabia direito o que era aquele formigamento estranho no corpo, nem o que era aqueles batimentos acelerados e o suor frio. Ele não sabia por que sempre que estava na presença do seu irmão, começava a agir como um idiota insuportável, apenas para chamar um pouco a atenção do mais velho.
Ele não sabia, e não queria ter a certeza do que sentia.
Encerrou o fluxo de pensamentos ao ver Itachi se aproximando, guardando a carteira de couro no bolso traseiro da calça.
- Vamos, otouto? – O Uchiha inclinou-se para o seu irmão, aproximando o rosto do mesmo.
De efeito imediato, Sasuke ficou corado e ofegou. Não era acostumado com aquele tipo de ato do irmão, e não estava preparado para algo daquela densidade.
Itachi sorriu com a reação do irmão, e bagunçou os cabelos – já bagunçados – do garoto.
Sasuke fungou, afastando o rosto do irmão e levantando rapidamente.
- Va-vamos logo. – Ele respirou fundo várias vezes, para recuperar a compostura.
Como era possível que um simples ato causasse uma reação daquelas em Sasuke? Por Deus, ele era um Uchiha. Uchihas não se deixavam ver ofegantes, muito menos corados.
O garoto saiu rapidamente da cafeteria, sem olhar para trás, em direção ao carro.
Itachi não pode deixar de sorrir com o jeito do irmão. Ele era tímido, embora usasse uma máscara maior que ele.
Então, Itachi o seguiu logo depois, com as mãos no bolso.

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