Por Detrás do Livro.

Ida a Escola - Parte 1.

Meu despertador no criado-mudo tocou as 5:10 em ponto. Remexi-me um pouco sonolenta na cama, com uma preguiça absoluta de levantar, desliguei o maldito relógio que insistia em tocar o barulho irritante e com os pés descalços, toquei o chão frio.

Espreguicei-me bem lentamente para logo depois levantar, dando de cara com o espelho que ficava grudado na parede. Admito que tive um leve susto, estava com o cabelo bagunçado, com expressão de sono e tinha algumas olheiras pouco profundas abaixo de meus olhos.

Franzi o cenho me aproximando mais, analisando um pouco mais o meu rosto. Suspirei, talvez as olheiras tenham surgido depois das 2:00 da manhã porque eu acordei incomodada com barulhos altos e pecaminosos no quarto do meu pai, e depois não consegui mas dormir, pois não parava de pensar na frase de Naruto, no final das contas, só cai no sono novamente as 3:30.
 

Me tirei dos pensamentos e adiantei-me a sair do quarto, indo para o banheiro. Lá, tomei um banho morno para tirar a preguiça, e escovei os dentes. Voltei ao meu quarto enrolada em uma toalha rosa e abri o armário, pegando meu uniforme que estava pendurado em um guincho.
 

Vesti sem pressa a saia rodada quadriculada azul marinho que batia até os joelhos e a camisa social larga branca, colocando em volta um lenço vermelho no pescoço amarrado em lacinho e por cima um blazer da mesma cor da saia, abotoando-o por completo.

Sentei-me na cadeira da penteadeira e comecei a arrumar o meu cabelo, enquanto encarava o próprio reflexo. Prendi meus cabelos em um coque frouxo e não passei qualquer maquiagem.
 

Primeiro que eu definitivamente não possuo muitas maquiagens, segundo que eu definitivamente não sei como passar direito e não parecer uma palhaça, e terceiro e mais importante, meu pai definitivamente não me deixa usar.
 

Abri a gaveta da penteadeira e achei o que procurava.
 

Meus óculos.
 

Eles eram estilo 'fundo de garrafa' com armação incolor e 'quadradinho'. Se eu precisava? Bem, precisava apenas para poder ler coisas muito, mas muito distantes.

E eu realmente os usava porque... Bem, eles já fazem 'parte' de mim. Eu os uso sem necessidade a quase 3 anos, e não consigo mais ficar sem, me sinto insegura sem eles.
 

Balancei a cabeça enquanto me levantava da cadeira, olhando debaixo da cama e encontrando meu sapatos marrons apropriados à escola. Calçei-os depois de colocar uma meia que chegava até meu tornozelo brancas e caminhei até a cozinha silenciosamente para não ter que acordar Hiashi e minha 'querida' madrasta.
 

Eu estava naquele exato momento encostada na bancada da cozinha com um pote médio cheio de cereais com morangos picados e cobertos de leite, enquanto comia lendo uma revista qualquer que havia achado em cima do sofá no meio do caminho.
 

Uma das matérias da revista era: "Ele gosta de você? Descubra fazendo o teste da pág.15!"
 

Revirei os olhos indo distraidamente pelas folhas e acabei parando na página 15! Jurei a mim mesma que não fiz aquilo de propósito, mais sim, que era o destino armando para que eu fizesse o teste.

Então, comecei a marcar as alternativas mentalmente, a maioria tinha dado B, algo como "Talvez ele te queira". Acabei me focando tanto no teste que tinha até esquecido o horário.
 

Já eram 6:00.
 

Arregalei os olhos correndo até o banheiro e escovando os dentes novamente, e ao mesmo tempo procurava minha mochila branca e preta no meu quarto. Quando a achei, joguei-a escada abaixo enquanto ia correndo pelo corredor até o banheiro, cuspi a pasta e enxuguei a boca na toalha.

Desci as escadas pulando dois em dois graus e peguei desajeitadamente a bolsa, colocando-a nas costas e indo para fora apressada.
 

Foi então que meus pés pararam na frente do ponto que o ônibus escolar passava como de costume sempre as 6:05. Ficando a cada segundo desolada ao lembrar das palavras de meu vizinho loiro.
 

"(...)Eu te pegarei às 6:30"
 

A frase rodava e rodava na minha cabeça, enquanto me arrastava de volta para casa. Irritada comigo mesma.
 

Joguei meu corpo e a mochila no sofá vermelho da sala olhando para o teto.
 

Como pude esquecer? Como pude esquecer?
 

Aproveitei então para bisbilhotar os livros da estante que tinha no cômodo. Assim como meu pai, eu era uma verdadeira amante de literatura. Foi então que me deparei com o livro que eu lia todas as noites quando pequena, ele era meu pequeno refúgio do mundo.

Um verdadeiro contas de fadas não tendo o "Felizes para sempre" à todos os personagens: A gata borralheira, versão dos irmãos Grimm.

Me lembro quando eu dizia aos 4 ventos que algum dia escreveria um livro tão bom, mágico e até macabro quanto aquele.
 

Peguei-o assoprando a poeira que ficava por cima, e quando abri na primeira página, uma buzina extremamente alta tocou na frente de casa, fazendo com que eu derrubasse o objeto em minhas mãos.
 

— Mas o que é isso? — Ouvi meu pai gritar irritado no andar de cima. Revirei os olhos estressada, ele dormia feito uma pedra quando estava junto à aquela mulher, então por que não dormia agora?
 

Peguei a mochila e fui para fora, deparando com Naruto de carro na frente de casa.
 

— Está pronta? — Sua voz era mais que suave. Encarei-o, percebendo que estava muito sonolento. Entrei em casa novamente, pegando uma pequena garrafa térmica e enchi de café forte que tinha feito a uns minutos atrás. Fechei a porta ainda escutando os murmuros de Hiashi e entrei no carro.
 

— Você está bem? — Entreguei o conteúdo e ele me encarou com o cenho franzido. — É café, beba. — Praticamente ordenei. Ele cheirou fazendo uma cara azeda e sem escolha engoliu rapidamente.
 

— Não gosto de café. — Reclamou dando partida em sua Ferrari amarela.
 

— Não precisa gostar, apenas tome. — Murmurei com um leve tom rosado nas bochechas só em pensar como seria a escola hoje.
 

Ele suspirou, entregando a garrafa praticamente vazia e se concentrou na estrada.
 

— Cadê a Sakura? — Eu deduzia que ela iria na escola conosco agora, já que passaria uns tempos com Naruto, afinal, não podia deixar de estudar.
 

— Ela não irá essa semana, está esperando o uniforme ficar pronto. — Seu timbre era um tanto cansado. — Detesto chegar na escola no horário correto. — Reclamou mais uma vez.
 

— O certo é chegar na escola no horário. — Retruquei. — Precisa aprender a fazer o certo.
 

— Eu não sigo regras, Hina. — Bocejou. — Fui dormir tarde ontem e acordei cedo hoje, acho que vou matar alguma aula e ir dormir no quarto do faxineiro. — Disse mais para si mesmo, como se estivesse bolando algum plano.
 

Ficamos em silêncio desde então. Sem pensar, eu dei uma olhada de relance para o rapaz... O vento fazia movimentos em sua cabeleira loira e os raios de sol da manhã batiam nela transformando a cor amarelada para um dourado brilhante, refletindo também em seus olhos azuis-claros profundos, tão sérios, mas tão suaves. A pele bronzeada e seus braços fortes em contraste na camisa social com os 4 primeiros botões abertos, demostrando a curva grossa de seu colo e pescoço, descendo até o peitoral bem trabalhado, fazendo qualquer garota suspirar.
 

Simplesmente adorável.
 

Notei que ele também me encarava pelo espelho, analisando-me de cabeça à baixo. Me encolhi envergonhada, eu era uma pessoa diferente na escola, era mais reservada, tanto em conversar quanto nas roupas.
 

— Falando na Sakura... — Comecei a ouvir atentamente o que ele iria dizer. — Bem... Ontem, quando ela acordou, e começamos a conversar... — Naruto continuou dando pausas, tentando achar as palavras certas. — Vamos dizer que eu contei outras mentirinhas...
 

— Outras mentiras? — Torci o nariz, não gostando dessas palavras. — Quais outras?
 

— Hm... Que você está concorrendo à representante de classe.
 

— VOCÊ O QUÊ?! — Eu havia gritado com ele o mais alto que pude, estava indignada!
 

— E que você é tipo que... Uma rainha dos nerds do laboratório. — Arqueei a sombrancelha, tentando entender. — Que eles tinham um Fã-Club seu.. — Mordeu o lábio.
 

— Eu não acredito, eu não... Acredito. Isso não pode, não pode estar acontecendo!
 

— Hinata, tente não surtar, está bem? Podemos dar um jeito nisso.
 

— PODEMOS DAR UM JEITO?! Você disse mentiras absurdas uma atrás da outra! Como podemos dar um jeito nisso, hein? —Queria poder gritar ainda mais, dar-lhe uma boa bronca, um tapa forte na cabeça ou até mesmo puxar-lhe a orelha, mais acabei me contendo.
 

— Eu andei pensando sobre isso. — Murmurou pacífico e de modo estratégico. — Só relaxe e deixe comigo.
 

— Já ouvi isso antes. — Balbuciei irritada, cruzando os braços.
 

De repente, Naruto abre um meio sorriso, ligando o aparelho de som do carro no alto - uma música que, se não me engano, era do System Of Down - diminuindo a velocidade e colocando um óculos escuros de marca. Virou mais uma esquina e adentrou no lugar que reconheci imediatamente, estacionando na vaga 'particular' no meio de uma moto Senna muito incrivel vermelha e um picape de última geração (Não reconheci a marca, talvez uma F-150 da Ford) preta com labaredas desenhadas nas portas .
 

Enfim... Estavamos na escola!