Por Detrás Do Livro escrita por Bolinho de Arroz


Capítulo 35
Marmanjos


Notas iniciais do capítulo

1 - Demorei. Muitas desculpas tenho pra dar, mas sei que ninguém quer saber, então...
2 - Desculpa a demora.
3 - MUITO obrigada pelos comentários. E pelas duas MARAVILHOSAS recomendações do leitor Leão Uzumaki e da leitora Chá! E para quem continua a ler mesmo depois de tanto tempo, esse capítulo é dedicado a vocês.
4 - Esse cap. é extenso, por isso é muito provável que pode conter erros ortográficos. Se acharem, me digam que conserto.
6 - Boa leitura! :)



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Marmanjos.

Por Detrás do Livro.

Tão inacreditável quanto cogitar a ideia de ter feito sexo com Naruto, é ter a noção de saber que meu primeiro "namorado" está parado bem a minha frente, com suas típicas roupas extravagantes, me encarando dos pés a cabeça, enquanto os outros presentes estavam à espera das minhas palavras.

Rock Lee definitivamente não havia mudado. Continuava com seu cabelo estilo tigelinha e as sobrancelhas grossas. Vestia-se como quando éramos menores, ainda com um macacão verde em versão 2.0, porém, ele estava bem alto e não tão magricelo. Mesmo assim, comparado a qualquer um dos rapazes da sala, Lee parecia uma minhoca.

Ele era meu primeiro amigo homem, com exceção de Neji, e era completamente, loucamente e ridiculamente apaixonado por Sakura.

Lembro-me perfeitamente de quando éramos menores, das coisas absurdas que Lee fazia para chamar a atenção de Sakura, que apenas ria desconcertada de suas palhaçadas.

Ele era chamativo, egocêntrico, teimoso e até mesmo estranho, mas nunca, em hipótese alguma, eu imaginei dizer que Rock Lee, o rapaz com quem tive meu desastroso primeiro beijo, se tornara gay!

O silêncio continuava a reinar na sala. Temari estava de braços cruzados encostada no sofá, onde Kiba se mantinha deitado de maneira desengonçada. Gaara estava com as mãos na cabeça e com uma sobrancelha arqueada, bem ao lado da televisão. Eu e Lee nos encarávamos abertamente, e Naruto, confuso, continuava no meio de nós dois. Notei também a ausência de Shikamaru, mas isso não era tão importante no momento.

Engoli em seco, finalmente olhando para todos no local. Como diria a eles que aquele homossexual visivelmente assumido foi meu primeiro – e único, alias – namorado?

– Puff… – Gaara soltou um som baixo e estranho pela garganta. – Pelo o jeito que estão se comportando... – Dessa vez ele gargalhou alto – Até parece que são amantes.

– Amantes do tipo namorados? – Kiba indagou e logo depois começou a rir também. – Que piada, Gaara! Olha só pra esse cara! – Logo depois que percebeu o que falou, o moreno deu uma piscadela para Rock Lee. – Sem ofensas, amigão.

– É. – Dessa vez foi à vez de Naruto interferir, com um sorriso debochado. – Esse protótipo de lagartixa jamais seria alguma coisa da Hinata.

– Hei! – O rapaz de cabelo tigelinha exaltou, com as bochechas infladas de ar. Obviamente estava ofendido com o que os meninos comentavam.

– Vamos parar com a brincadeira, todos vocês! – Temari cortou ainda encostado no sofá. Lee, emocionado correu até ela e a abraçou. A loura deu de ombros quando ele se afastou e abriu a boca para continuar a falar. – Não é porque o Lee é um baita gayzão que vocês podem ficar tirando sarro. Afinal, é mais do que claro que ele nunca teria alguma coisa com esse mulherão que é a Hinata – Dito isso, todos da sala, exceto eu e o “de colete verde” começaram a rir ainda mais alto, ignorando o fato de que a vítima estava cada vez mais vermelho.

– ESCUTEM AQUI, SEUS MARMANJÕES BEBUNS BARBUDOS E SEM EDUCAÇÃO! – A loura abriu a boca para protestar, mas Lee foi mais rápido e a cortou. – ISSO TAMBÉM TE INCLUI TEMARI OGRA! – Ele respirou delicadamente, com as mãos numa posição de ioga. – Eu peguei a Hinata sim, está bem?! – Enquanto eu corava rapidamente, eles arregalavam os olhos a cada palavra. – Isso mesmo que ouviram senhores e senhora! Não é porque agora eu admito aos ventos a linda butterfly que sou que não posso ter tido meus momentos héteros, O-K-A-Y? – Ele soletrou pausadamente – Eu, Rock Lee, o “gayzão”, fiquei com Hinata Hyuuga! Peguei gostoso, encoxei no muro, bulinei sem demora, apertei esse peitã... – E então, a linda borboleta caiu no chão desmaiado pelo impacto do soco que Naruto lhe deu.

Suspirei. Por que será que uma parte de mim já esperava por isso?

Logo após o surto de Lee e o ataque de Naruto, todos nos reunimos na sala de jantar da família Sabaku. Sentei-me ao lado da minha antiga paixonite para cuidar de seu olho roxo, ao mesmo tempo em que explicava a todos como era a nossa história.

– Lee e eu nos conhecemos pela Sakura. – O louro emburrado franziu o cenho, pois não conhecia Rock Lee até o dia de hoje. – Ele era um verdadeiro perseguidor. Amava ela. – Desta vez, quem franziu o cenho fui eu. – Como pode... Você sabe... Se tornar homossexual, quando se era tão louco por uma mulher?

– Ah, meu pãozinho de mel. – Ele gemeu baixinho. – Vá com calma com esse machucado, querida. Fiz uma esfoliação no rosto hoje de manhã e minha pele está toda delicada.

– Não fuja da pergunta, por favor. – Disse calmamente.

– Sakura não é apenas uma mulher, Hinata. Pra mim, a Sakura sempre será a Sakura, minha rosada... – Ele suspirou. – Mas não posso mandar na minha opção sexual... O que posso fazer se gosto da fruta que homens têm nas calças? – Ele deu um sorrisinho, apertando minha bochecha avermelhada pelo comentário anterior. – Sakura sempre vai ser o amor da minha vida, mesmo eu não sendo o homem certo pra ela. – Dei a ele meu melhor sorriso, segurando umas lágrimas de emoção que estavam prestes a cair. – E, assim como a rosada, você sempre vai ser minha paixão, baixinha.

– Dá um tempo! – A voz de Naruto interrompeu minha linha de pensamento. – Você sequer é homem! – Lee escancarou a boca, ofendido pela segunda vez.

Bufei para o louro que se mantinha de pé, carrancudo. Levantei-me depois de por um curativo na bochecha machucada de Rock Lee e sem delongas puxei Naruto até outro cômodo, que só depois percebi ser a cozinha.

– O que pensa que está fazendo? – Ralhei com os braços cruzados, na tentativa de parecer realmente furiosa. – Eu não sabia que era preconceituoso! E aquele soco foi mesmo necessário?!

– Eu não sou! É que... – Ele hesitou com o cenho franzido. – Ele... Você... Esse cara acha que... Bem... – Revirei os olhos. Desde quando Naruto era o que gaguejava? Invertemos os papéis por acaso?

– Você tem que pedir desculpas, Naruto. – Encarei-o com doçura, sem deixar de ser direta. Se eu não deixasse claro o quão errado estava, provavelmente o loiro poderia querer fazer mais alguma piadinha de mau gosto, ou até pior: partir pra briga mais uma vez – Sei que o que disse não foi por mal... – Ele ficou em silêncio, como se minha afirmação estivesse incorreta – NÃO É? – Fechei minhas mãos em punho prestes a dar-lhe um soco, apenas para ver se alguma reação se passava pela aquela cara e alguma razão entrasse naquela cabeça oca.

– Não vai mais acontecer, está bem? Eu só... – Naruto se aproximou de mim com aquele olhar quente. Arfei dando longos passos para trás, ficando entre ele e a bancada. – Só queria me certificar que você não sentia mais nada por ele.

Céus... Céus! Ele está afirmando que está com ciúmes de mim! Meu coração se derreteu com isso. Queria poder saber controlar mais as minhas emoções e deixar a mostra que ainda achava errado suas atitudes, mas bastaram aquelas palavras lentas e sussurradas que me esqueci de quase tudo.

Ele agora sorria com os dentes a mostra e suas mãos – antes bem escondidas no bolso da calça – firmavam logo atrás de mim, apoiando-se na bancada. Dei um suspiro mudo, já imaginando coisas impossíveis, como uma declaração digna de filme.

– Afinal... – Sua voz me tirou dos devaneios, me fazendo olha-lo com esperança. – Se alguém da escola descobrisse que você era afim de um gay, adeus popularidade! –... Quê?

– Isso é sério?

– É lógico que sim. Se isso fosse real, você se tornaria uma perdedora com P maiúsculo. Arruinaria todos os nossos esforços. – Ele balançou a cabeça, como se aprovasse suas próprias palavras. – Entende?

Como eu podia ser tão ingênua? Naruto, o tal Naruto Uzumaki, com ciúmes de alguém que nem era popular? Que havia tido seu primeiro beijo com um gay? Que preferia ter amizades virtuais a ter amigos na escola? Que não saia pra se divertir e tinha sérios problemas para se socializar? Como em sã consciência alguém poderia achar que ele gostaria de alguém como EU?

Não. Eu não irei me rebaixar mais uma vez. Se Naruto não conseguia ver minhas qualidades – porque elas estavam enfiadas em algum lugar dentro de mim, eu sei - alguém nesse lugar conseguiria. Eu tenho seriamente que parar de achar que existe um clima entre a gente. Naruto tem a Shion, e eu sou livre para achar um rapaz que me ame como sou. Tsc, ciúmes? No mínimo, ele só quer marcar território ou algo do tipo para mostrar quem é o Alfa. Que Troglodita.

– Claro que entendo. – Sorri agora mais motivada com minha recém-aceitação. Aproveitei que estávamos na cozinha e me desviei de seu contato próximo para buscar um copo d’ água. Todo esse papo me deixou com sede. – Mas ainda sim, você tem que se desculpar com Lee. Ele não merece sua rejeição e muito menos seu soco. – Pronunciei antes de começar a beber o líquido do copo.

– Eu sei. – Pela sua expressão, parecia realmente arrependido, então me permiti relaxar sobre esse assunto. – Fui um idiota. Deixei-me levar por... – Ele parou por um segundo, procurando as palavras certas – Sentimentos sem sentido. – Arquei a sobrancelha – Nada irá estragar nosso plano, é isso que quero dizer.

Sorri um tanto forçada. Já estava começando a ficar cansada dessa história, porém, uma vez começado, tenho que terminar essa... Coisa de uma vez.

– Mas então... Aquilo que Rock Lee disse sobre ter-te “pegado atrás no muro” é sério? – Vi um brilho de hesitação em seu olhar, só gostaria de entender o motivo.

Mordi o lábio, terminando de lavar e secar o copo e guardando no lugar onde achei.

Respirei fundo e virei-me para ele, pronta para explicar.

– É Hina, eu também quero saber. – Minha cabeça automaticamente se moveu bruscamente para onde havia vindo o som. Kiba estava com as mãos na cintura estilo “Mamãe quer uma boa explicação” e seu pé batia contra o chão inquietante.

Ri com aquela cena e sorri gentilmente para a preocupação do moreno; certamente também tinha medo que o plano pudesse estar em risco, essa ideia – sobre a minha popularidade - devia divertir muito ele, tira-lo do tédio. Às vezes o acho extremamente parecido com Naruto; ainda mais agora que ambos estão tão aflitos com a questão de eu estar possivelmente apaixonada por um gay.

– O que faz aqui? Que eu saiba ninguém te chamou pra conversa. – Naruto praticamente latiu pra cima de Kiba, com os dentes cerrados.

– Para de ser criança Naruto. – Revirei os olhos novamente. – Se os dois estão tão curiosos para saber, então vou contar. – Sentei-me numa das cadeiras giratórias que rondavam a bancada branca cuidadosamente. Do jeito que eu era desastrada, podia acabar caindo ou quebrando algum objeto.

Ambos sentaram-se na minha frente, também nos bancos coloridos. Mas antes mesmo que eu pudesse abrir a boca, Gaara apareceu indo diretamente pra geladeira, pegou uma garrafa de água gelada com gás e bebeu praticamente inteira, depois retirou de um armário um pacote de pipoca para micro-ondas, pôs o alimento no aparelho eletro e sentou-se ao meu lado, com as mãos segurando o queixo.

–... Okay. – Resolvi ignorar as ações do ruivo e me concentrei no barulho viciante do micro-ondas, enquanto deixava a minha mente vagar nas memórias. – Rock Lee, para começo de conversa, não era gay.

– Pensei que os gays nasciam gays. – Kiba murmurou e o loiro só fez discordar com a cabeça. – Ué, é o que eu escuto dizer por aí.

– Não Kiba, eu quis dizer que ele gostava da Sakura, e obviamente, ela não é um homem.

– Não tenha tanta certeza. – Gaara pronunciou e então todos ficaram em silêncios, o encarando. – O que foi? Vocês nunca a viram nua então não sabem se ela é ou não. Eu sempre desconfiei por causa da falta de – Ele olhou-me de esgueiro – Bem... Pela falta de saliência corporal. – Naruto deu-lhe um tapa na cabeça, sem deixa-lo dizer mais alguma besteira.

– Posso continuar? – Caramba, parece que não vou terminar essa história hoje. Eles concordaram. – Mesmo Lee se declarando abertamente, Sakura nunca o correspondeu. Certa vez, no dia em que Sakura ficou com um garoto pela primeira vez, Rock Lee me propôs um acordo.

– Espera. – Foi à vez de Naruto me interromper. – Com quem Sakura perdeu o BV?

– Por que isso importa? – Indaguei já estressada. Podia sentir algumas rugas se formarem em minha testa.

– Ela nunca quis me dizer, só isso. – Ele encolheu os ombros. – Continue, por favor.

– Eu não sei, foi com um rapaz que morava na esquina... Itachi talvez? Eu não lembro.

Kiba escancarou a boca, enquanto Gaara cuspia o resto da água da garrafa. O que eu falei de errado?

– Você está brincando não é? Itachi Uchiha? Irmão de Sasuke? – O loiro perguntou incrédulo. Eu ao menos sabia que Sasuke tinha um irmão! Na escola, todos comentavam que Sasuke havia perdido sua família cedo e eu nunca me interessei o suficiente para me aprofundar nessa fofoca.

– E-Eu não sei. – Disse sincera. – Talvez seja outro. – Será que eu disse algo que compromete Sakura? Eu espero que não; não quero magoa-la tão cedo. Alias, não quero magoa-la nunca!

– Tsc. – Naruto passou a mãos nos cabelos claros – Continua. – Assenti tentando me lembrar de onde parei.

– Essa proposta fosse que ficássemos um com o outro. Seria um benefício tanto pra mim quanto para ele. Uma porque ele queria fazer ciúmes na Sakura e outra porque eu era ainda mais tímida na época, então era muito provável que, se eu não beijasse naquele momento, não beijaria tão cedo mais. Então... Fomos atrás do muro da escola e ficamos.

– E como foi?

– O que?

– O beijo, ora.

– Isso é mesmo necessário? – Esfreguei meus olhos, exausta.

– Sim. – Os três disseram ao mesmo tempo.

– Não foi nada mágico, mas não foi tão ruim. Acho que foi bem normal para um primeiro beijo de dois pré-adolescentes, tirando o fato de que ambos usávamos aparelho e voou baba pra todo lado. – Coloquei o dedo indicador no lábio e ri, lembrando-me ainda mais claramente da época.

– Gata, se seu beijo fosse comigo, pode apostar que seria mágico. – Corei envergonhada com o atrevimento de Kiba. Sem saber o que dizer, resolvi fingir que não escutei e esperei-o continuar. – Do jeito que ele falou, era como se vocês tivessem ficado muitas vezes.

– Não foi bem assim. Éramos apenas duas crianças brincando de namorar. Dávamos as mãos quando estávamos sozinhos ou com a Sakura e Lee vivia me recitando poesias.

– Hei Gaara. – Kiba virou-se para o ruivo, por um momento dando como encerrada a nossa conversa. Nesse momento o rapaz já voltava com a pipoca pronta num pote de vidro e com uma jarra que parecia ser manteiga derretida na outra mão. Ele pôs um punhado de pipoca coberta do óleo da manteiga na boca antes de gesticular para o moreno continuar a falar. – Por que saiu da sala?

Gaara mastigou e engoliu tudo sem dificuldades, e antes de responder ofereceu um pouco da pipoca pra gente – Minha irmã e o Bruce Lee estão compartilhando um momento de fraternidade; parece que os dois se arrependeram do que disseram e agora estão prometendo coisas melosas um pro outro. Como eu estava quase vomitando com aquela demonstração gratuita de fofura, resolvi ver o que vocês estavam aprontando.

– É Rock Lee.

– Rock Lee, Bruce Lee, Chan Lee, Stan Lee, dá tudo na mesma. No fim, nenhum deles faz diferença na minha vida. – Ele deu um sorriso irônico de lado. Às vezes me esqueço de que o ruivo consegue ser cruel – Você não ia ligar pra Ino, Hinata?

Arregalei os olhos e sem ao menos responder, peguei meu celular no bolso, disquei o número e me afastei para o canto extremo da cozinha.

Atenda Ino, por favor! Tenho que me desculpar por estar dando diversas mancadas consecutivas.

Ino Pov

– Conseguiu as passagens, Sasori? – Indaguei enquanto colocava Emma cuidadosamente no berço. Tinha apenas algumas horas para me arrumar antes que ela acordasse com fome.

O ruivo fez um sinal com a mão para avisar de que ainda estava no telefone. Dei de ombros caminhando até o closet, pronta pra escolher a minha roupa de viajem.

Suspirei enquanto me perguntava se não estávamos nos precipitando demais. Não havia nem se passado um dia em que decidimos voltar pra Carolina do Norte e já tínhamos as malas prontas, nossas vacinas estavam em dia, assim como a nossa documentação - Sasori tinha plena razão quando exigiu que Emma já tivesse identidade e tudo mais -. A única coisa que nos faltava agora era o passaporte, o que era o desafio mais difícil porque queríamos de última hora os melhores lugares.

Dei graças a Deus por meu pai nunca ter chegado a leiloar a nossa antiga casa, que continuava intacta com a visita mensal de um senhor de confiança de papai, o tal de Jiraya.

Deidara fora se despedir de uns amigos e Inoichi tratava de uns últimos assuntos sobre seus negócios. Realmente, quando eu concordei com a ideia, só faltou ter uma festa de despedida. Era exagero até pra mim, que antigamente festejava por qualquer coisinha.

– Senhorita Yamanaka, os pertences e itens necessários do bebê estão todos prontos e muito bem guardados. – Sorri para a mulher que acabara de entrar em meu quarto. Que sorte a nossa que a tão querida empregada concordou em vir conosco.

– Obrigada Amélia. Vou te dispensar mais cedo para que possa arrumar sua própria bagagem. – Ela assentiu e virou-se para Sasori, que só então percebi ter desligado o celular.

– Pode somente deixar pronto um lanche em cima da bancada Amélia? – Ele perguntou abrindo os primeiros botões da camisa social vermelha escura em frente ao espelho. – Conheço bem minha esposa e sei que a fome vai bater daqui a pouco.

Apesar de ficar um tanto irritada com a mania que Sasori tinha de me alimentar a cada minuto como se fosse uma boneca de porcelana, não pude deixar de nota a maneira como ele se referiu a mim.

Esposa. Suspirei. Essa era somente a quarta vez que ele me chamara assim nesse tempo todo, e toda a vez em que acontece, meu corpo treme involuntariamente. O casamento é um compromisso tão sério pra mim e nós nunca realmente trocamos alianças no matrimônio.

Balancei a cabeça negativamente, tirando a roupa logo após Amelia sair, sem me preocupar com a nudez na frente dele. Sasori considera a Emma como sua filha, então claramente eu era sua esposa. Droga queria muito poder aceitar isso sem pestanejar, mas...

– Vamos tomar um banho? – Encarei-o insegura, dando atenção à mão que me oferecia.

– Claro. – Murmurei, entrando com ele no banheiro e sucessivamente dentro da espaçosa banheira coberta de espuma.

Prendi meu cabelo em um coque mal feito e o vi se remexer um pouco. Estávamos cada um no lado oposto, nos olhando em silêncio.

Então, sua mão passou lentamente pela minha perna flexionada e lá parou, hora ou outra fazendo um carinho lento. Fechei os olhos apreciando aquele momento. A última vez que havia tomado um banho de banheira dessa maneira fora com o...

– Emma! – Apressei-me a dizer, saindo aos tropeços da banheira e enrolando-me na primeira toalha que avistei. – Eu a ouvi chorar, já volto! – Dito isso, fechei a porta do toalete com força.

O que a de errado comigo? Se fosse a minha antiga eu, jamais recusaria um rapaz tão lindo e sexy quanto Sasori, mas de um tempo pra cá, ficar com ele não me traz nada. Só me sinto vazia e constantemente me pego imaginando-o ser Gaara. Isso é tão inconveniente de tantas maneiras. Ele é uma pessoa de coração tão bom e puro, não merece nem 1% do que tenho fazendo.

Oh Ino, você é tão idiota! Tão...

Meu celular no criado vibrou e tocou intensamente, interrompendo minha repreensão mental. Peguei-o vendo na tela que Hinata quem ligava.

E agora? Se eu atendesse teria que explicar a ela a situação, mas ainda tenho que lidar com Sasori. O melhor é fazer uma surpresa, assim aproveito pra ver de longe e recolher informações sobre o que raios Naruto está pensando.

Deixo-o no vibratório e, tomando folego, voltei a abrir a porta que a pouco havia fechado.

– Veja só, que imaginação fértil a mim. – Ri sem graça. – Jurei que minha filha estava acordada.

Ele suspirou sem demostrar qualquer emoção, ergueu-se da banheira, deixando a espuma deslizar pelo corpo bem trabalho sem se preocupar com meu olhar e pegou outra toalha dobrada, enlaçando-a firmemente na cintura. Ele olhou-me por rápidos segundos antes de ameaçar se retirar do cômodo.

– Estamos bem... Não estamos? – Indaguei tocando-lhe o peito desnudo e o impedindo de atravessar. Apesar de saber que não o amo imaginar perder Sasori dói, e muito. O que seria de mim e Emma sem ele?

Sim, eu sou oficialmente a pessoa mais egoísta do planeta Terra.

– É claro. – Ele sorriu docilmente beijando-me no cabelo – Eu fico de olho na nossa criança enquanto você toma um banho sossegado. – Ele ao menos esperou minha confirmação antes de sumir e fechar a porta.

Bufei. Será que algum dia eu me acostumaria a ter ele ao meu lado para sempre? Adoro a companhia desse homem e não consigo imagina-lo longe de mim, mas ao mesmo tempo fico imaginando como seria a nossa vida sem a intromissão do ruivo.

Que complicado. Sempre fui a favor da independência e evitava a todo custo que outras pessoas precisassem cuidar de mim, e agora, sou como uma segunda filha pra ele, de tanto trabalho que dou. E ainda por cima, recuso sempre qualquer contato com ele! Muito bem Ino Yamanaka, você tirou 10 na matéria de caráter.

Forçando esses pensamentos a se esvaziarem da minha cabeça, tomei uma ducha quente e sai, dando de cara com meu amante assistindo concentrado a algum programa de televisão.

Sequei meus cabelos levemente na toalha e vesti um conjunto de lingerie preto. Se Sasori tentasse algo agora, eu não recusaria; ainda mais o vendo vestir a camisa que lhe dei há pouco tempo, a minha favorita.

Depois de questionar muito, resolvi trajar uma curta saia preta rodada e uma camisa preta por baixo. Enquanto analisava minha recém-produção no espelho o ruivo aproximou-se com um cinto fino marrom na mão.

– Aqui. Vai ficar bom. – Ele mesmo o pôs em minha cintura e depois de feito tive que concordar. Havia dado um toque bem mais elegante ao visual. Ele sempre teve uma queda pela moda e eu ficava eternamente grata por isso, afinal, sempre tinha um companheiro para as compras.

Calcei um salto peep toe preto e por fim peguei um casaco trench coat pra caso estivesse nevando. Não ousei muito na maquiagem por certa preguiça e me certifiquei de pôr um óculos na bolsa. (http://www.polyvore.com/ino/set?id=114252202)

Assim que Sasori saiu do local encarei o celular novamente; ele continuava vibrando e isso me fazia imaginar o surto que Hinata estaria dando. Eu espero que ela esteja bem.

– Ela está. Foi melhor deixa-la. – Sussurrei para mim mesma, aproximando-me do berço e pegando minha filha sonolenta no colo. – Mas agora temos que voltar e encarar o nosso passado, certo minha flor? Fique tranquila que não vou deixar que ele saiba de você.

Encarei enquanto ela abria os olhinhos lentamente e me olhava como se eu fosse à pessoa mais importante de sua vida. Beijei-lhe a testa.

Sasori me chamou no primeiro andar e, naquele momento, eu percebi que não havia mais volta.

Tudo ficará bem.

Sakura Pov

De volta à casa do Naruto. Que ótimo. Seria ainda melhor se Sasuke tivesse ido embora, mas invés disso, meu querido ex quis relaxar no sofá para assistir futebol americano. Que maravilha!

– Tsc, que idiota... – Ele murmurava contra a televisão. Inutilmente, é claro. Não é como se o jogador pudesse respondê-lo ou algo do gênero.

Revirei os olhos e me levantei da poltrona, indo até a cozinha. Peguei uns pacotes de cheetos e duas latas de cerveja. Entreguei uma ao Sasuke e voltei a sentar, tentando me concentrar no jogo. Porém, minha cabeça voltava ao nosso beijo e eu já me sentia derreter de calor.

Havia se passado dois anos inteiros. Como eu ainda podia ser tão “caidinha” por ele? Okay que de beleza ele recebe uma nota A, mas de personalidade... Sasuke é pior que o Cão! Claro que eu também não sou a Santa Teresa, passo longe disso, mas... Mas... Perdoar, ao menos eu sei fazer.

Eu o perdoei por ser um namorado terrível, não é? Perdoei por nunca ter me dado um presente digno, ou por nunca me dizer coisas românticas. Convencia-me que quando ele chegava tarde aos nossos encontros, ou quando ficava dias sem ligar, ainda sim pensava o tempo todo em mim.

E então? Eu faço UMA burrada e ele me condena pra sempre! Não mereço essa frieza toda, essa culpa que sinto só de olhá-lo nos olhos.

Eu pedi desculpas. Implorei. Dei-lhe um tempo. E até agora... Nada.

Pergunto-me se Sasuke alguma vez já sentiu algo por mim. Ou só ficou comigo por pena, como diziam suas seguidoras.

– Hei. – Chamei-o. – Eu vou tomar um banho, tudo bem?

Ele assentiu me olhando por míseros segundos e depois voltou a se concentrar no programa.

Andei em direção as escadas e segui até o meu quarto. No meio do caminho pelo corredor, notei que a porta do quarto de Naruto estava entreaberta.

Mordi o lábio, curiosa. O que será que o loiro poderia esconder nesse cômodo, não é? Ele constantemente deixava trancado e dificilmente me permitia entrar. Talvez se eu desse uma espiada...

Dei um pulo de susto interrompendo minha linha de pensamento quando senti a porta de entrada ser aberta e logo depois fechada. Dei de ombro ao engolir em seco; Sasuke deve ter saído.

Entrei cautelosamente no quarto e liguei as luzes. Não havia nada de muito interessante a primeira vista além da bagunça. Abri a gaveta da escrivaninha ao lado da cama, achando um punhado de preservativos e uns papeis meio amaçados.

Peguei uma agenda e foleei por alguns segundos, parando em uma página com várias frases riscadas de mau jeito. Buda, a letra de Naruto é simplesmente horrível.

“Poderia me ensinar a dançar” ou “Tirei uma foto sua” eram as frases mais escritas no papel, todas estavam riscadas fortemente com a caneta, a última, porém, não estava rabiscada, mas sim escrita sem nenhum erro.

“Você dança muito bem, deixe-me tirar uma foto sua”.

Hm... Muito provavelmente ele deve ter escrito para alguma vadia. Tsc, ele nunca aprende.

Além de mais alguns papéis – escritos com caneta cor de rosa – com anotações melosas de alguma fã iludida, não havia nada mais para ver.

Fechei a gaveta depois de guardar os papéis e rodeei o quarto, havia sua jaqueta de couro característica jogada em cima da cadeira do desktop e um pendrive conectado no notebook desligado.

Não Sakura! Não seja tão curiosa, menina! Você precisa resistir a essa ideia. Se Naruto descobrir...

...

Bem, eu sou a melhor amiga dele, acho que isso me dá o direito de fuças em suas coisas.

Liguei o aparelho, esperando ainda de pé. Quando a tela do iniciar apareceu minha ansiosidade apenas aumentou.

– Droga! – Ele tinha senha na conta Administrador. Vamos ver... O que esse loiro poderia colocar como senha... Hm... Pense Sakura...

Incerta, digitei Dattebayo. Acesso negado. Tentei macarrão de porco. Nada. Digitei meu nome, de Sasuke, sua primeira namorada e por fim de Hinata.

Nenhum havia entrado.

Bufei, desligando e desistindo da ideia.

Olhei para o pendrive novamente. Peguei-o sem pensar e rumei para o quarto.

Talvez aqui eu encontre o motivo por ele ter se tornado tão distante.

Adentrei ao meu quarto, pus o pendrive no bolso da minha blusa preferida e peguei uma peça de roupa.

Depois de banhada e vestida (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=114303847&.locale=pt-br) decidi descer para ver se Sasuke havia trancado a porta.

Surpreendi-me ao vê-lo esparramado no sofá encarando o teto. Na televisão, passava um filme que me lembro de ter visto há tempos e que ainda me fazia chorar.

– Achei que tivesse ido embora. – Ele deu-me lugar para sentar e assim que fiz, colocou suas pernas no meu colo. – Já estava começando a ficar feliz.

– Até parece que você iria querer que isso acontecesse. – Ele me analisou do cabelo amarrado em coque até minhas unhas do pé pintadas de azul. – Quantas vezes você troca de roupa por dia?

– Várias. – Disse sem esboçar nenhuma reação. – Coisa de mulher, eu acho. E você, quantas vezes sorri ao dia? Uma?

– Duas. No máximo quatro. – Ele sorriu. – Parabéns, você me fez sorrir cinco vezes hoje.

– E qual seria o meu prêmio por esse ato tão grandioso. – Gargalhei com sua sobrancelha arqueada. – Acho que já tenho uma ideia sobre o que quero... – Mordi o lábio.

– É... – Ele se remexeu um pouco. – E o que você quer Sakura? – O moreno aproximou-se com um sorriso pervertido nos lábios.

Esse jogo está ficando interessante.

– Acho que você já sabe. – Sussurrei o olhando profundamente.

– Tenho uma suspeita, mas seria melhor ouvir da sua boca.

– Eu quero... – Em um movimento rápido, sentei em seus joelhos, apoiando-me em seus ombros, sem perder o contato visual. – Que você... – Ele entreabriu a boca. – Corra atrás de mim.

Dito isso me levantei graciosamente, pegando o lixo em cima da mesinha de centro e me direcionando até a cozinha.

Não se passou nem um minuto e já ouvi os passos de Sasuke atrás de mim.

– Qual é o seu problema? – Franzi o cenho. Que mau humor.

– Eu apenas cansei. – Nem me preocupei em encará-lo, apenas continuava prestando atenção em outras coisas. – Se quiser voltar comigo, tudo bem, estarei aqui. – Finalmente resolvi vê-lo com as mãos na cintura e o peito estufado – Porém, não vou esperar pra sempre. E também não vou mais correr atrás. Se quiser, que faça por merecer.

– Isso... – Ele bufou, passando a mão pelo cabelo rebelde. – Eu estou indo. – Deu-me as costas e saiu apressado.

Assim que ouvi a porta bater pude respirar em paz.

Essa era a mensagem que eu queria passar. Esse Sasuke pensa que eu sou boba, é? Que sou aquela garotinha sonhadora que era só chamar que aparecia em um pisca de olhos? Nem pensar!

Estou madura agora. E sou uma pessoa bem difícil de ser conquistada, então darei um tempo pra que ele perceba que me ama. Quando se der conta, vira atrás. Tenho certeza.

Senão não me chamo Sakura Haruno.


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Notas finais do capítulo

Sei que não está muito impressionante, mas pelo menos eu voltei... Né?
#comentem
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