Dois velhos passados, uma nova ideia.

Por Detrás do Livro.

– Inacreditável! – Naruto indagou pela terceira vez cheio de orgulho, enquanto andávamos por um corredor da escola um tanto quanto vazio. Alguns alunos que competiam para representantes estavam se apresentando, mas naquele momento, isso não importava. – Realmente, aquele discurso foi incrível, Hina. Claro que se não fosse pela parte do final, criada por mim, o pessoal não teria se emocionado.

– Como é modesto. – Revirei os olhos – Estou aliviada por ter conseguido. Acha que tenho chance? – Pois uma parte de mim ainda dizia que aquele discurso não havia sido suficiente. Eu estava competindo com mais quatro pessoas!

– De ganhar? É claro que sim. Você saiu em disparada na frente com aqueles que competiam, ainda mais com os nossos votos. – Sorriu abertamente.

– Isso me deixa tranquila. – Suspirei – Confesso que fiquei extremamente surpresa. – Murmurei me lembrando da cena chocante do grupo 'Popular' no momento da eleição. Automaticamente, comecei a brincar com a ponta do meu cabelo. Talvez porque estava com vergonha de encara-lo – Você e os meninos... Obrigada.

Ele não se pronunciou, apenas parou de andar para me olhar profundamente. Finalmente, retribui aquele olhar um pouco hesitante, vendo o quão aquilo significava para ele. No final, um sorriso brotou nos nossos lábios... E aquele clima de cumplicidade entre nós aumentava a cada segundo.

– Ah! – Ele exclamou, quebrando totalmente os meus pensamentos um tanto quanto românticos. – Sabe seu primo?

– O que tem Neji? – Indaguei confusa. Uma hora estávamos falando sobre a eleição, e outra, do nada, sobre Neji?

– É. Neji, cabeludo, empaca casal – Sussurrou embrutecido – Não importa! – Bufou impaciente – Acho que ele não vai nos deixar em paz tão cedo, e pode acabar com nossos planos, então...

– Não! – Gritei com minha voz fina automaticamente, enquanto sentia o calafrio na espinha – chega, por Deus, de planos!

– Não é bem um plano, Hinata... Qual é, vai ser fácil.

– Planos ou ideias mirabolantes e estupidas, eu não quero saber! Será que já não chega de mentir?

– E quem disse que vamos mentir?! – Ele agarrou meus ombros, na tentativa de me acalmar. – Se acalme, conte até dez e escuta o que tenho para dizer, está bem? Isso vai nos ajudar muito.

Tentei fazer o que ele pediu, só que de vez de contar até dez, comecei a contar até cem. Acredite ou não, isso não funcionou, talvez até piorasse a situação.

– Pronto? – Balancei a cabeça positivamente, vendo-o largar meus braços e colocar as mãos no bolso – Eu me permiti pesquisar um pouco mais sobre seu primo.

– O... Que? Quando? Onde? E o melhor, POR QUÊ?

– Calma! Eu pesquisei porque precisava saber o ponto fraco daquele vadio! – Engoliu em seco vendo meu olhar assustador; ou pelo menos uma tentativa dele. – Neji quero dizer. – Tossiu falsamente. – Relaxa... Acontece que ele tem um pequeno vicio. É esse vicio que usaremos ao nosso favor. E assim, será: um a Naruto e zero à Neji. – Sorriu de canto, tenebroso.

E eu? Continuava parada o encarando, me perguntando se aquele louro tinha sérios problemas mentais. E além do mais, desde quando Naruto fala em terceira pessoa?

– Qual é o vicio dele? – Indaguei tentando me concentrar mais naquela ideia, ainda mais porque fiquei extremamente curiosa com aquela notícia. Neji sempre fora um exemplo na família, a ideia de alguém como ele ter um vício era impactante, praticamente impossível.

– Racha.

– Hum? Rachar o que?

– Não é isso. Racha é corrida de carros, Hinata. Ele disputava racha quando vivia aqui.

– Espera ai... Mas como?

– Você não sabia mesmo, hein? Vou lhe explicar. – Ele olhou por todos os cantos do corredor vazio antes de me fixar com os olhos. – Seu primo era um corredor amador. Ele rachava com outros caras em um terreno baldio pela redondeza com seu famoso carro, o Maverick V8, conhecido terrivelmente como Demolidor. Neji virou uma lenda naquele lugar; nunca perdia uma corrida, até apostava com alguns mauricinhos, e digo mais, apostava alto! Enfim... Parece que o estressadinho quis apagar esse passado e desapareceu desse mundo radical.

– Uau... Mas isso é perigoso! Ele não deveria fazer essas coisas... Ah meu Deus, imagine se meu pai descobrisse! Neji seria expulso de casa imediatamente e... NARUTO! – Eu lhe dei um soco no braço, mesmo sabendo que não surgiria tanto efeito. – Não pode dedurar ele. Neji é meu primo e eu o amo. Além do mais...

– Hinata! Eu não vou dedurar o cara, qual é. – Murmurou com um bico formado nos lábios finos. – Não gosto dele, mas você gosta... Ou melhor, ama, e por isso preciso respeitá-lo. – Fungou revirando os olhos. – Você não tem uma queda por ele. Certo? Não que eu ache que ele seja um competidor a altura. Hunf, aquele idiota.

– Naruto... Está com ciúmes de mim?

–... – Os olhos cristalinos do rapaz se arregalaram, como se eu tivesse dito algo extremamente assustador para ele. Mordi o lábio inferior, pensando que Naruto iria começar a rir da minha imaginação fértil. Eu definitivamente não deveria ter dito aquilo.

– Escute... Qual é o plano? – Perguntei tentando puxar assunto, isso fez com que o choque dele passasse e que meu coração se aliviasse.

– Bem... Boatos dizem que Neji não desistiu... Mas sim, perdeu. Perdeu para uma pessoa que até agora, todos respeitam. Perdeu para a primeira pessoa que o desafiou com um sorriso no rosto. Perdeu para uma garota... Mitsashi Tenten!

–... Uma mulher? Oh, céus. Neji é muito...

– Machista certo? – Ele se pôs a gargalhar alto – Sabe a melhor parte? Eu a conheço bem. TenTen é uma amiga de época, a própria me contou sobre o dia que seu primo foi derrotado. E a partir daqueles tempos, que o cabeludo nunca mais voltou.

– Mas ele tinha se mudado para poder estudar...

– Nhé. – Ele cruzou os braços, arqueando sua sobrancelha masculina – Neji pode muito bem ter juntado o útil ao agradável. Esse lance de estudar fora deve ter surgido na hora perfeita; ou fora apenas uma desculpa para sumir.

– Inacreditável. – Continuava com a boca aberta, e meu olhar vagava pelo nada. Ainda que soubesse disso, alguma coisa em minha mente dizia que era uma mentira das enormes. Neji e rebeldia eram algo que não se misturava.

– Acredite ou não, seu querido primo – Notei seu sarcasmo aguçado – Parece ter se apaixonado por Tenten. A maior feminista de todos os tempos.

– Co-Como?

– Ah, você sabe como... – Ele coçou a cabeça, parecendo desconcertado com minha pergunta.

– Não! Eu quis dizer... Como assim?

– Ah! Tenten é uma garota bonita, inteligente e simpática. É quase impossível não gostar dela. – Pronunciou-se com dicção.

Comecei a pensar comigo mesma. Será essa garota uma ameaça para os milhares fãs de Naruto? Ela é realmente bonita assim? E por que estou pensando sobre isso?!

– Bem. – Murmurei apenas para me livrar daquelas bobagens da minha cabeça – Ainda não entendo seu plano, Naruto.

– Oras Hinata. Todo mundo sabe que um relacionamento exige bastante tempo, tempo que Neji perdera.

Continuei encarando-o com a testa franzido, e isso só o fez aumentar ainda mais o sorriso brilhante e maroto.

– Acho que Neji não nos encherá o saco por um bom tempo. – Suspirei pesadamente. Aquilo seria uma ideia infantil de uma mente pequena.

Era até estranho, afinal, o plano – ou melhor, uma parte dele - era bem simples. Só não sei se deveria deixar que Naruto me influenciasse novamente.

– Pense positivo, Hina! Qual a última vez que soube que o cabeludo estava apaixonado? Ele deixará de ser tão azedo e aprenderá a curtir a vida como um jovem, e não como um velho rabugento. – Disse com convicção, como se estivesse mesmo certo.

Bem, talvez estivesse. E até agora, todo o planejado tem dado certo. Acho que será bom para todos nós.

– Está bem, eu permito que você faça seja-lá-o-que-for. Só não o faça sofrer, Naruto. Eu não me perdoaria se soubesse que fiz Neji sofrer.

Ele afirmou com a cabeça, satisfeito por me convencer mais uma vez.

– Agora vamos! – Pegou minha mão, puxando-me apressadamente pelo corredor.

– A-Aonde? – Gaguejei sem pensar. A mão de Naruto estava tão quente...

– Tenho que te mostrar umas pessoas.

E mais uma vez, o mistério que o louro transmitia fora deixado no ar. Só espero que ele não nos meta em mais complicações.

– E antes de tudo, Hina. – Chamou sem me encarar, já que estava na frente, me puxando. – É claro que eu sinto ciúmes. Não a quero com mais ninguém.

Arregalei os olhos, sem saber o que dizer. Ele havia dito que sentia ciúmes de mim? Ele... Sentia ciúmes de mim! Mas era aquele tipo saudável como de irmãos, amigos ou...

– Não precisa se preocupar com isso, Na-Naruto. – Respondi muito baixo, mais para mim do que para ele. Não sabia se fiz o certo, mas...

Já me sentia bem. Isso era o suficiente, por hora.

...

Sakura Pov

– Hunf... Eu não deveria ter te trazido aqui. – O moreno indagou, sentado no banco do parquinho antigo, sua expressão era passiva e ilegível. Mal sabia o que ele estava pensando.

– Por que diz isso? – Murmurei vendo meu sorvete de baunilha escorrer pela casquinha. Havíamos comprado os sorvetes em uma lanchonete perto, e depois voltamos para cá.

– Você não pareceu gostar da surpresa. – Ele finalmente me olhou, esperando entender o que se passava dentro da minha cabeça naquele momento. Infelizmente, nem eu sabia o que acontecia.

– Não é isso. – Sorri forçadamente. Não podia desabafar com Sasuke sobre aquele motivo. O verdadeiro motivo pelo qual nos separamos. – Eu só estou pensativa.

– E eu posso saber sobre o que seja? – Sorriu de canto, com certo humor.

– Claro... Que não! – Eu disse divertida, vendo seu sorriso desaparecer para dar entrada a um bico infantilizado e até fofo.

– Se tem vergonha de falar que é sobre mim, Sakura, sem problemas. – Ele voltou a sorrir, mas de maneira maliciosa. – Só não tenha pensamentos pervertidos, está bem? Assim eu acabarei ficando constrangido.

– Ha ha – Ri sarcasticamente, um pouco vermelha. Não de vergonha, mas sim de embirração. É. – Vamos logo pegar o benedito uniforme está bem?

– Se insiste. – Suspirou – Só espere um pouco, tenho que fazer uma ligação importante. – Dito isso, o rapaz começou a se afastar, discando o número da tal ligação. Mordi o lábio inferior. Meu apetite pelo sorvete havia ido buraco a baixo, tanto que joguei o resto no lixo ao lado do banco.

– Sasuke – Chamei insegura antes que ele se afastasse demais. – Obrigada... Você sabe... Sobre a surpresa. – Sorri de canto.

Ele retribuiu o sorriso e logo se virou novamente, começando a cochichar com a pessoa do outro lado da linha.

Quem será que é?

Fechei os olhos, ignorando minha curiosidade e sentindo a brisa do vento quente soprar em todo meu rosto.

A culpa não é de Sasuke. Ele não imagina que todos aquelas acontecimentos se iniciaram justamente aqui.

‘’ Naruto, Sasuke e eu formávamos o grupo mais unido do bairro, tínhamos a base de 14 anos e compartilhávamos o mesmo sonho: Conquistar o mundo da música e fazer fama!

Diferente dos pais dos rapazes, meus pais sempre me apoiaram nessa decisão. Tanto que decidiram se mudar para Nova Iorque, em busca de escolas famosas musicais para me ajudarem nesse caminho. Tudo já estava planejado.

Eu fiquei arrasada na época. No mesmo instante que soube da notícia, fugi de casa e fui até a residência de Sasuke. Ele era meu ‘’ namorado ‘’ e havíamos prometido um ao outro que alcançaríamos o sucesso juntos.

Quando contei o que havia descoberto, o moreno endureceu. Eu esperava que ele me abraçasse e me dissesse frases acolhedoras, mas não. Ele reagiu mal. Criticou-me por ser tão fraca e não conseguir me impor à decisão de meus pais; também jogou em minha cara que não tinha coragem nem de cumprir a promessa feita.

Aquilo me machucou profundamente. Brigamos feio, com direito a gritos e tudo da minha parte. Eu sai correndo e chorando daquele lugar horripilante, deixando-o sozinho para pensar e acabei fugindo até o parque. Naruto viajara, então não podia contar com ele. Não queria arranjar mais confusões, também. Eles eram tão amigos. E se eu fosse embora, teriam que conviver somente os dois.

Não sabia o quanto havia ficado lá naquela balança, sozinha, deprimida. Ninguém sabia o quanto precisava de algum consolo, de apenas um abraço.

E foi então que ele apareceu... Uchiha Itachi.