Fragmentos da memória.

Por Detrás do Livro.

'' Eu tenho tudo sobre controle, Hinata. ''

Sim. Eu realmente esperava que Naruto tivesse total controle sobre a situação. Suas palavras - sussurradas em meu ouvido - não me deixaram totalmente tranquila. Pelo contrário. Neji parecia estar ainda mais determinado em descobrir nossa farsa. E se ele descobrisse... Bem, nem quero pensar nessa possibilidade.

Entrei em meu quarto sacudindo a cabeça negativamente. Tinha que me livrar desses pensamentos, antes que ficasse ainda mais nervosa. Bocejei alto. Uma boa noite de sono era tudo o que queria.

Me troquei ali mesmo, no meio do cômodo. Por tamanha preguiça de me locomover até o banheiro. Acho que nem teria necessidade, afinal, o quarto era meu mesmo.

Vesti o primeiro pijama que encontrei, uma camisola soltinha azul claro, e as roupas que estava, deixei em cima de uma cadeira em um canto qualquer.

Respirei fundo, pegando meu simples celular preto em cima do criado-mudo, checando as mensagens não lidas. Franzi o cenho com a última - todas as outras eram da operadora. Ino havia me mandado uma mensagem :

'' Onde você se meteu? Já te mandei umas mil mensagens nas redes sociais e nem sinal de vida! Aconteceu algo, Hinata? Está tudo bem? Estou morrendo de saudade e preocupação, me liga assim que ver esse recado. Beijos com gloss e muito amor, Ino. ''

Mordi o lábio inferior quase que automáticamente. Me sentia culpada e confusa. Uma parte de mim pedia para contar tudo à ela. Desde os planos estratégicos de Naruto, até a chegada de Sakura e o interrogatório de Neji, mas... A outra parte sabia que, se eu revelasse, Ino conseguiria me convencer de desistir dessa loucura, e essa mesma parte, não queria simplesmente desistir. Talvez porque eu não queria mais me distanciar de Naruto. De todos eles...

... Essa parte era muito maior.

Coloquei o celular de volta no lugar, arrumei os cobertores da cama, joguei meu ursinho de pelúcia, ao qual Hanabi me dera de aniversário do ano passado, no canto dela e finalmente me joguei, pronta para uma boa noite de sono.

...

'' O sinal do intervalo havia soado a alguns minutos. E ela estava ali, andando sem rumo por entre os alunos, já fora dos corredores, no pátio aberto. Os óculos grandes, ocupando quase todo o rosto, os longos cabelos presos em uma transa bem feita, a pele pálida, sem qualquer vestígio de maquiagem, e o uniforme escolar, dois números a mais do que deveria ser. Os passos arrastantes, a cabeça abaixada e as mãos cruzadas atrás da costa, era assim que Hinata se encontrava.

– Hinata ! – Virou-se lentamente para a voz, suspirando fundo.

– Bom dia, Ino. – Sorriu meiga, como sempre.

– Onde esteve? Pedi que me esperasse na classe. – Era loura, magra, esbelta, de olhos azuis e sorriso brilhante. Ino era seu oposto. Confiante, alegre, determinada.

– Eu sei, mas estava demorando tanto que pensei estar ocupada.

– Lógico que não. – A amiga bufou cansativa – A professora Anko estava me repreendendo por desafia-la... De novo. Tive que escutar todo o seu desaforo. Aquela mulher tem TPM e culpa a mim, por Deus!

– Eu entendo. – Riu de leve – Por que você nunca a provoca, não é? – Então as duas desataram de rir, como sempre faziam.

– Bem, de qualquer modo eu já estou livre. Vamos para lá? Eu queria ver o... Você sabe.

– Ahn... Você pode ir, Ino. Eu queria pegar um livro na biblioteca agora, antes que alguém...

– Por que inventa desculpas? – Murmurou, começando a caminhar calmamente, sendo seguida pela morena. – Me diz, o que eles tem de errado?

– Eles não... Nenhum deles tem algo errado. É que não estou acostumada com... A afobação que fazem. Você é a amiga deles afinal, não eu.

– Que mentira, Hinata ! Eu nem sou amiga deles – Mostrou a língua – Só estou com eles porque meu namorado está lá e... Quero aproveitar meus últimos momentos da escola dando risada das palhaçadas que fazem.

– O que vai dizer a ele quando souber que irá viajar e não tem estimativa de volta?

– Terá que entender. Só temos um caso, como ele mesmo quis deixar claro. – Percebia-se o quanto irritada estava. Era óbvio em seus pensamentos que o namoro não parecia ser tão importante para ele quanto para ela. – Vamos, por favor?

– Acho melhor não... – Ino parou de andar por uns instantes, virou-se para Hinata, e tocou-lhe os ombros.

– Por mim? – A carinha estilo ' cachorrinho sem dono ' era irresístivel para qualquer um. Não poderia dizer não a sua melhor amiga, ainda mais sabendo que seus tempos naquele colégio eram poucos.

– Se você insiste tanto... – Balbuciou, dando-se por vencida.

...

– Ino Yamanaka, é melhor ter uma boa explicação. – Exclamou, andando apressado até a namorada e abraçando-a fortemente. – Por que demorou tanto? – Antes da resposta, Gaara a deu um pequeno beijo nos lábios, enquanto sorria.

– Estava no toallet, algum problema? – ' Enroscou ' seus braços pelo pescoço do ruivo, ficando nas pontas dos pés para alcançar seu rosto, enquanto sorria provocativa.

– Hn... Nenhum, nenhum. – O rapaz virou um pouco a cabeça, olhando de relance para a morena no canto. – Bom dia, Hina. – Cumprimentou simpático.

– Bom dia, Gaara.

– Daqui a pouco eles devem estar chegando. – Murmurou novamente, sentando no tão familiar banco em baixo da árvore. Era o lugar registrado do pequeno grupo.

Ino sentou-se ao seu lado, segurando sua mão e encostando sua cabeça no ombro do mesmo. Com o olhar, pediu que Hinata sentasse ao seu lado, e foi concedida rapidamente.

Com o tempo, todos foram chegando, Shikamaru - o primeiro - chegou cumprimentando apenas com um monólogo ' Oi ' e deitou na grama rala, pegando seu cigarro light e fumando enquanto encarava as nuvens.

Sasuke chegou em seguida, ranzinza como sempre, olhando criticamente para todos presentes e se sentando em cima da mesa, com os fones de ouvido ligados no máximo em uma música pesada.

Por último, e não menos importante, Naruto chegou. A expressão tediosa visível, os bocejos incansáveis, a voz serena. Ele não queria estar ali, era óbvio. Estava com sono, e provavelmente cansado de sua última festa. Hinata sabia disso mais do que ninguém.

Era estranho. Estar entre eles, daquela maneira, tentando inutilmente fazer parte daquele grupo. Isso não era para ela, uma nerd invisível. Queria correr dali. Naruto a encarava, analisando-a, correndo seus grandes olhos cristalinos por todo seu corpo e rosto. Se sentia exposta, e era algo que não gostava. Estar exposta para ele era algo que odiava.

– Hina... – A voz de Ino lhe tirou dos pensamentos profundos – Eu vou ali com o Gaara, por favor, me espera, está bem ? – Uma sensação ruim trouxe consigo calafrios. Sua amiga não estava normal. O brilho de Ino tinha sumido de repente.

– Esteve tão absorta que nem reparou neles, certo ? – Corou muito. A voz de Naruto em seu ouvido, de maneira sussurrante, tão próxima... Era algo constrangedor.

– O que-que houve?

– Pelo que parece, eles estavam discutindo baixo. – Continuou, ignorando todos os sentimentos que Hinata estava sentindo. Que ele mesmo estava sentindo – Sua amiga está escondendo algo de Gaara. – Suspirou – Ele odeia mentiras, ela devia saber disso.

– Eles estão juntos a pouco tempo. – A vontade de defender Ino falou por si mesmo. Sua voz aumentara, de maneira quase confiante – Não é como se ela devesse saber de tudo sobre ele, se ele mesmo deixou claro o relacionamento que tinham : Livre e sem compromisso.

– E mesmo assim acha justo ela esconder um segredo como aquele ? Pelo o que eu saiba, não importando o relacionamento que estão, a confiança é a base de tudo.

– A confiança ? Aquela que dá para as milhares mulheres com que passa a noite ? Assim como você faz para essas mesmas garotas se sentirem confiantes em um relacionamento que não existe ?

– A única coisa que faço é deixá-las confortáveis comigo.

– Mentindo ?

– Se isso as fazem felizes. Quem sou eu para colocá-las na tristeza profunda ?

– Está muito poético ultimamente, senhor Uzumaki. Mas quero que saiba que não importa o quanto queira proteger essas garotas do perigo, se é você mesmo que o cria.

– Quer dizer que eu sou o monstro que dizem nos contos ? O galanteador sem coração ?

– Não estou lhe julgando como monstro, mas sem coração é algo que arrisco apostar !

– Afiada como sempre, Hinata. Está tão concentrada em nossa pequena intriga que nem reparou que todos já foram embora. – Sorriu de canto – Acho melhor ficar aqui e consolar a sua amiga. Ela vai precisar.

– Quem te garante que será ela que precisará de consolo ?

– Quer apostar sobre isso também ? Deposita muito sua pouca confiança nas pessoas.

– Se eu tenho confiança, e que deixo claro, é muita, eu a deposito em quem quiser.

– Está tão certa de que Ino não esconde nada que nem percebe que o que ela esconde... É muito mais do que imagina.

– O que quer dizer com isso, Naruto ?

– Descubra por si mesma. – Murmurou – Só não acha suspeito ela ir embora tão de repente por uma simples oferta de emprego por seu querido papai ?

– Como ficou sabendo disso ?

– Eu sempre sei de tudo, Hinata. E achei que essa era a hora de Gaara saber também.

– Foi você que o contou ?!

– Ele merecia saber.

– Está acabando com o amor entre eles !

– Não, estou protegendo o meu amigo de uma garota que apenas o quer como divertimento ! Que o engana !

– Pelo contrário ! Só o quer tornar o que você é ! Um rapaz frio e egoísta. – Se levantou bruscamente, já indo em direção onde Ino e Gaara foram – E minha frase está reformulada : Você, além de sem coração, é definitivamente um monstro !

E antes que Naruto pudesse dizer algo, a morena se pôs correndo pelo mesmo caminho do casal. Não sabia porque havia à provocado. Era algo impulsivo. Ela deixava-o em extâse com cada frase acusadora, seu sangue fervia, querendo mostrar que não era nada o que ela dizia. Que era justamente o contrário... Mas o que fazer se a cada palavra que o mesmo soltava, apenas confirmava as suspeitas de Hinata ?

...

Corria desesperadamente. De sua maneira desengonçada, também. Em mais alguns passos, chegou nos fundos da garagem escolar, bem perto de um enorme vagão do faxineiro, e ali no canto, escondida e as lágrimas, encontrou Ino, sentada, precisando de um consolo.

Odiava admitir, mas naquele dia, Naruto tinha razão. ''

...

Acordei sobressaltada da cama, com a respiração entrecortada, e o coração pulsando rapidamente. Levantei-me cambaleante, pegando meu celular e mandando uma mensagem para Ino. Essas memórias nunca poderão ser esquecidas.

Ela merecia saber, como eu soube de tudo.