Frostbite Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 30
Capítulo 30


Notas iniciais do capítulo

Bem, segue um capítulo inteirinho... sem cortes bruscos!
Espero que gostem! bjs



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Eu levei apenas uma fração de segundo para perceber Janine se aproximando. A voz dela chamando o nome de Rose ecoou pelo salão atraindo a atenção das pessoas que estavam próximas a elas. Instintivamente, puxei meu corpo para passo atrás,  de modo que só pude ouvir o que falavam. Eu podia ter passado despercebido para Rose e Adrian, mas Janine tinha olhos treinados de guardião e me veria ali facilmente.

“O que você acha que você está fazendo?” Janine praticamente gritou. Aquela reação dela me surpreendeu, já que o autocontrole era uma característica sua. Mas mesmo assim, eu agradecia mentalmente por ela ter aparecido e cortado a conversa de Rose.

 “Nada, eu-“

 “Nos de licença, Lord Ivashkov,” Janine rosnou. Eu dei uma olhada de relance e vi quando ela  pegou Rose pelo braço e começou a levá-la para fora do salão. Enquanto elas saíam percebi os olhares de desaprovação das pessoas. Eu já podia imaginar o quanto essa atitude de Janine deixaria Rose irritada. Ou pior, o quanto deixaria Rose triste.

 Sai rapidamente de onde eu estava e segui pelo caminho por onde elas foram. Parei há poucos metros delas, junto a uma larga coluna. Mesmo sabendo que aquela atitude minha não era muito correta, me esforcei para ouvir o que elas falavam, apesar de ser bastante difícil, pois apenas alguns fragmentos da conversa chegavam até mim e eu não conseguia formar uma ideia completa do que elas falavam.  Janine ainda estava furiosa. Rose, como eu tinha pensado, parecia muito indignada.

 A conversa delas durou poucos minutos e Janine estava muito enfurecida. Pessoalmente, eu não via razões para ela estar tão alterada. Apesar de sentir bastante ciúme por Rose estar conversando com Adrian, eu tinha que admitir que seu comportamento durante todo jantar foi irrepreensível. Sim, ela tinha chamado bastante a atenção das pessoas, mas tudo foi por fugir a uma regra. Não havia dhampirs convidados e a presença dela certamente incomodou alguns. E também ela não tinha culpa de ser tão bonita. Isso também despertava o interesse por outra parte.

 Eu não podia observá-las diretamente, mas vi quando Janine se afastou, deixando Rose sozinha no corredor. No mesmo momento, a porta do salão, onde acontecia o banquete se abriu, e algumas pessoas saíram. Eram Morois que estavam perto quando Janine arrastou Rose para fora. Novamente, eles olharam para ela de forma desaprovadora, fazendo Rose se virar e andar rápido, com os ombros encolhidos e os braços em volta de si mesma. Percebendo que ela vinha na minha direção, dei um passo para trás da coluna. Ela passou sem olhar para os lados, e seu semblante desolado cortou meu coração.

 Deixando toda minha racionalidade de lado, comecei a segui-la, sempre mantendo uma distancia segura, para não chamar a atenção dela e nem das outras pessoas que, eventualmente, passava por nós. Eu me perguntava para onde ela ia e o que pretendia fazer, ao mesmo tempo em que sentia uma necessidade enorme de estar com ela. Rose continuou andando até chegar à parte de trás do hotel, distante de qualquer movimentação. Ela parou em frente a uma porta eu continuei a observando de longe, enquanto ela hesitava. Definitivamente ela não parecia decidida sobre para onde queria ir. Ela estava andando aleatoriamente, conclui.

 Ela entrou pela porta e eu esperei menos de dois minutos para fazer o mesmo. Ali tinha uma escada de serviço que levava a outra porta. Era o acesso a uma pequena laje, onde estava situado o sistema de ventilação do resort. Passei pelas escadas e respirei fundo, antes de abrir a segunda porta. Eu nunca sabia o que viria de Rose e nem o que esperar dela. Ela era imprevisível. E quando se tratava da sua mãe, ficava ainda mais inconstante. Passei para o lado de fora e me senti impactado com a imagem que vi. Nem o mais inspirado artista podia imaginar uma cena tão bonita. Era uma verdadeira pintura. A neve cobria toda a laje, deixando tudo branco em volta. Por outro lado, o sol brilhava no céu azul, com poucas nuvens e isso fazia com que a neve refletisse, quase como se fossem vidro. Rose estava sentada em uma das caixas de exaustão com o rosto voltado para o sol e, atrás dela, as montanhas completavam a paisagem. Assim que eu comecei a caminhar, ela virou para mim, com os seus olhos cheios de surpresa e incredulidade. Provavelmente, ela jamais esperaria que eu aparecesse ali. O vento frio batia no meu rosto e eu percebi que Rose estava completamente desagasalhada. Quando parei, tirei a minha jaqueta e coloquei em seus ombros e sentei ao seu lado.

 “Você deve estar morrendo de frio.”

Ela não concordou. Claro. Antes, olhou para cima, de forma que os raios solares batessem no seu rosto.

“O sol está brilhando.”

Eu repeti o gesto dela, inclinando minha cabeça para cima, sentindo o sol entrar em meus poros. A sensação de quente e frio ao mesmo tempo era algo inexplicável.

“Sim, ele está mesmo. Mas ainda assim, nós ainda estamos no topo de uma montanha em pleno inverno.”

Ela não respondeu. Não era preciso. Muitas vezes eu sentia que não eram necessárias palavras entre nós. Ficamos ali, por um tempo, em um completo e perfeito silêncio. Era impressionante como a simples presença dela me fazia sentir tão bem.

“Minha vida é um desastre.” Ela falou finalmente.

“Não é um desastre.” Eu disse depressa. Ela não podia encarar as coisas com esse ponto de vista. Rose era a pessoa mais forte e determinada que eu já tinha conhecido. Sua capacidade de superação era impressionante e isso a fazia vitoriosa e não uma fracassada. Ela me olhou rapidamente, passando a vista pela minha roupa de guardião.

“Você me seguiu da festa?”

“Sim.”

“Eu nem sabia que você estava lá. Então, você viu a ilustre Janine fazer uma cena, me arrastando para fora do salão.”

 “Não foi uma cena. Quase ninguém percebeu. Eu vi porque estava lhe observando.”

 Percebi que o rosto de Rose se iluminou. Eu tinha passado as últimas horas me escondendo e a espreitando de longe, mas agora, tudo isso parecia uma grande bobagem minha.

 “Não foi o que ela disse. Na opinião dela, era como se eu estivesse fazendo ponto, me oferecendo ali. Ela disse que eu estava vestida como uma vadia barata e disse que eu não deveria usar nada que marcasse tanto meu corpo. Também disse que eu estava flertando com Morois. Depois veio com uma conversa maluca sobre bebês. Que eu não estava pronta para ser mãe, que isso poderia arruinar minha vida. Ela fez soar como se eu saísse por aí dormindo com qualquer um.”

“Ela só está preocupada com você.” Falei, tentando soar razoável. Apesar de ser uma atitude exagerada dela, eu podia ver que tudo vinha de um instinto de proteção. Da sua maneira, Janine só queria o bem de Rose.

“Ela exagerou.”

“Às vezes, as mães são superprotetoras.” Eu falei, de repente lembrando da minha própria mãe.

Ela virou e me olhou diretamente. “Sei, mas estamos falando da minha mãe. Ela não parecia que estava querendo me proteger. Na verdade, ela pareceu estar mais preocupada que eu a fizesse passar vergonha, ou algo assim. E toda aquela conversa sobre eu ser nova demais para ter um bebê é bobagem. Eu não vou fazer isso.”

Eu confesso que senti meu coração bater feliz com essas palavras dela. Mas eu realmente sabia que Rose não era esse tipo de garota. Ela era bonita e atraente, mas isso não significava que ela não tinha maturidade para lidar com isso. Ela tinha. Muitas vezes, eu me via impressionado por ela parecer tão pura quando o assunto era esse.

“Talvez ela não estivesse se referindo a você.” Definitivamente, não estava. Ela deveria estar falando dela mesma. Novamente, o silêncio reinou entre nós e Rose se tornou profundamente pensativa. Eu fiquei ali ao lado dela, sentindo o perfume que ela usava vir até mim a cada brisa fria que soprava. Esses momentos tranqüilos entre nós eram raros e sempre que eles aconteciam eu procurava desfrutar deles ao máximo.

 “Nós não estamos brigando agora.” Ela falou, depois de vários minutos. Eu olhei para ela de lado.

 “Você quer brigar?”

 “Não. Eu odeio brigar com você. Verbalmente, quero dizer. Eu não me importo quando estamos no ginásio.”

 Senti o sorriso querer passar pelos meus lábios. Tentando não sorrir abertamente, continuei olhando de lado para ela. Eu sempre tinha que me segurar perto de Rose. A facilidade que ela tinha em me desvendar era algo que me assustava. Sempre, sempre eu tinha que erguer uma parede entre nós. Caso contrário, eu nunca resistiria a ela.

 “Eu também não gosto de brigar com você.”

 Ela se tornou novamente pensativa e quando falou, foi algo que me surpreendeu, como há muito tempo alguém não fazia.

 “Você deveria aceitar.”

 Eu hesitei por um momento, pensando o que vivia dela. “O quê?”

 “A proposta de Tasha. Você deveria ir com ela. É uma boa oportunidade.”

Eu senti o choque correr por mim. Nunca, nunca pensei que ela me diria algo assim, ainda mais, com tanta naturalidade.

 “Eu nunca esperei ouvir isso vindo de você. Principalmente depois de-“

 “Depois de eu ter sido tão mesquinha?” Ela me cortou, mas não era bem isso que eu iria dizer. Eu pretendia dizer que ela estava se comportando como se não aceitasse isso. Que eu entendia a agressividade do seu comportamento, recentemente.

 “Eu sei,” ela continuou, puxando ainda mais o meu casaco que a cobria. “Bem, como eu disse, eu não quero mais brigar com você. Eu não quero que a gente se odeie. E... bem...” Ela apertou os olhos e depois abiu. “Não importa como eu me sinto sobre nós... eu quero que você seja feliz.”

 Senti meu peito doer com aquilo. Isso demonstrava o quanto ela sabia ser uma mulher incrível. Querer a minha felicidade, sacrificando a felicidade dela mesma, era algo sublime, aquela foi a melhor declaração de amor que ela poderia me dar. Eu coloquei o braço em volta dos seus ombros e a puxei para perto de mim. Não havia qualquer natureza sexual naquilo, somente um gesto de puro afeto, mas mesmo assim, aquela proximidade fez com que verdadeiras ondas elétricas passassem por mim. Eu queria beijá-la e gritar que a amava.

 “Roza.” Foi só o que eu consegui falar. Eu me sentia paralisado e incapaz. Eu realmente não me sentia tão digno de receber dela tanto amor. Me senti péssimo por um dia ter cogitado deixá-la, péssimo por ter a magoado. Eu nunca poderia ir com Tasha. Eu não podia fazer isso. Eu não conseguiria fazer isso.

 Nós ficamos ali, como se só nós bastássemos um ao outro. Aquilo parecia o natural e, visto assim, parecia tão simples. De repente, Rose se levantou e me entregou o casaco.

 “Onde você está indo?” Perguntei, internamente desejando que ela ficasse mais um pouco.

 “Partir o coração de uma pessoa.” Ela respondeu. Depois olhou para mim, seus olhos carinhosos percorrendo as feições do meu rosto. E, mais uma vez, senti meu coração arder por ela. Eu realmente queria que ela ficasse, mas, não me pergunte como, entendi que ela precisava ir. Ela se virou e saiu, enquanto eu observava cada passo seu até a porta.


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