Frostbite Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 3
Capítulo 3




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Rose se esforçou para olhar novamente em volta. Ela estava muito chocada e impressionada com tudo. Os olhos dela param no corpo de Arthur. Eu percebi isso, mas não sabia ao certo se ela o conhecia pessoalmente ou somente suas histórias. Ele era alto e muito musculoso. Bastante forte, mas ali caído, com a garganta cortada, a conclusão que chegávamos era que a força não valia nada diante da falta de concentração. Era a prova de que a mente é mais forte que o corpo.

“Arthur Schoenberg.” Falei, acenando com a cabeça na direção do corpo. O choque no rosto dela se tornou ainda maior, se era possível. Era como se ela não acreditasse no que estava vendo.

“Ele está morto! Como ele pode estar morto? Como um Strigoi pode ter matado Arthur Schoenberg?”

Apesar de ter plena consciência de que as pessoas não são invencíveis, que somos mais vulneráveis do que podemos imaginar, eu também me perguntava a mesma coisa. Eu conhecia toda capacidade de luta de Art e sabia que ele era extremamente letal. Era difícil, também para mim, aceitar aquilo. Eu não consegui responder nada para Rose e apenas a olhei. Foi quando percebi que ela segurava firmemente uma estaca, em sua mão direita. Suavemente, apertei a sua mão.

“Onde você conseguiu isso?”

“Lá fora, no chão.”

Ela afrouxou o aperto e eu peguei a estaca, levantando contra a luz do sol que entrava pela porta. Era uma estaca comum, certamente pertenceu a algum guardião. Era isso. Senti um pequeno frio na barriga quando um pensamento me ocorreu. Teoricamente, estacas encantadas podem quebrar as wards, já que uma mágica anula a outra. Digo, teoricamente, porque Strigois não conseguem tocar em estacas para fazer isso. Ele precisaria da ajuda de Morois, dhmapirs ou humanos. Era improvável que os dois primeiros fizessem isso, mas um humano...

“Foi ela que quebrou as wards.” Falei, ainda processando mentalmente aquilo.

“Um Strigoi não pode tocar nas estacas. E nenhum Moroi ou dhampir faria isso.”

“Um humano poderia.” Falei ecoando um dos meus piores pensamentos. Há algum tempo eu vinha ouvindo algumas histórias contadas por guardiões. Histórias de humanos trabalhando para Strigois. Mas nada disso tinha sido comprovado, todos assumiam que eram apenas suposições. Eu acreditava que não era uma coisa difícil de acontecer e temia por isso.

“Humanos não ajudam Strigois –“ Rose começou a falar, mas foi interrompida pelos seus próprios pensamentos. Aparentemente, os paradigmas dela estavam sendo quebrados naquele momento. Ela estava descobrindo que todas as coisas mudam e em uma velocidade que, muitas vezes, não conseguíamos acompanhar. Mas esta era uma das coisas que eu mais admirava em Rose. Ela era inteligente e tinha uma capacidade de percepção incrível.

“Isso muda tudo, não muda?” Ela perguntou, após um momento de reflexão.

“É. Muda.”

Eu me afastei de Rose um pouco, pegando meu telefone, liguei para Alberta, relatando tudo que tínhamos encontrado. Enquanto aguardávamos reforço, permaneci examinando os ambientes, checando algumas provas que podiam se levantadas. A princípio, Rose me acompanhou, mas em pouco tempo se cansou daquela atividade tediosa, e foi esperar no carro. Como eu disse, ela nasceu para a ação. As tarefas mais teóricas eram maçantes para ela. Examinei a casa por mais algum tempo, mas havia pouco que eu podia fazer para adiantar os trabalhos de investigação, já que eu não tinha trazido recursos para colher evidências. Então, fui até o carro, esperar junto com Rose. Ficamos lá em silêncio, ambos processando mentalmente estes acontecimentos.

O olhar dela era uma mistura de incredulidade, tristeza, revolta. Eu confesso tinha vontade de abraçar Rose e dizer que tudo ficaria bem, mesmo que isso não fosse inteiramente verdade, já que lidaríamos com a morte a todo o tempo, nessa nossa profissão. No fundo, eu também queria que ela me confortasse, eu nunca tinha conseguido aceitar isso com naturalidade. Muitos guardiões agiam friamente e com naturalidade diante destas circunstancias, mas eu apenas trancava tudo dentro de mim, tentando ser imparcial diante da crueldade da morte. Mas a verdade era que a perda de vidas, principalmente vidas inocentes e valiosas, era algo que doía muito em mim. Eu não achava justo e não aceitava o fato de não poder mudar isso. Rapidamente, me censurei por me deixar ter pensamentos tão fracos.

Um tempo depois, umas duas dezenas de guardiões chegaram à casa dos Badicas. Eu saí do carro, e fui recebê-los.

“Você deveria vir ver como isso funciona.” Falei para Rose, antes de fechar a porta. Aquele seria um ótimo laboratório prático para ela. Ela me seguiu em silêncio e até um pouco tímida, diante do time de guardiões que parou na calçada da casa.

“Olá Belikov! Quanto tempo! Não nos vemos desde quando? Desde aquele baile de aniversário da Rainha, há quase um ano, lá na Corte, se não me engano?”

“Exatamente. Boa memória.” Falei, cumprimentando o guardião que chefiava o comboio, chamado Stuart. Ele era prático e eficiente, protegia um dos príncipes do Conselho Moroi. Eu também conhecia os demais guardiões, e acenei em cumprimento para todos eles. “Você reuniu um bom time aqui.” Acrescentei, enquanto caminhávamos para dentro da casa.

“Foi difícil. Essa região tem poucos Morois e, consequentemente, poucos guardiões. Tive que recrutar pelas redondezas. Essa situação diz respeito a segurança de todos.” Ele olhou para Rose e abaixou o tom, de forma que só eu pude ouvir. “O que vocês fazem aqui? Pelo relato da Guardiã Petrov, não é um ambiente para uma noviça.”

“É minha aluna. Eu a trouxe para o teste qualificador com Arthur Schoemberg. Além do mais,  acho que já está na hora dela aprender a lidar com a morte, afinal, em pouco mais de seis meses, ela será graduada como guardiã.” Respondi baixo. Stuart não acrescentou mais nada. Ele não pôde, pois se deparou com o massacre dentro da casa. Quanto mais os guardiões analisavam a situação, mas eles olhavam para Rose como se ela fosse uma estranha no ninho. Realmente era algo chocante para alguém tão jovem como ela, mas era necessário.

Eu narrei tudo que já tinha observado. Alguns guardiões tiravam fotos, muitas fotos, outros anotavam tudo, outros recolhiam materiais. Eles agiam mecanicamente e de forma eficiente, sem demonstrar qualquer espécie de sentimento, diante de tudo.

Em certo momento, a única guardiã do grupo se ajoelhou ao lado do corpo de Arthur. Ela aparentava ter perto da minha idade, tinha cabelos pretos e curtos e se chamava Tâmara. Ela tinha sido uma aluna dele. Arthur foi mentor de muitos dhampirs. Um fio de tristeza passou pelo seu rosto. Ela o observou por alguns minutos e deu um suspiro.

“Oh, Arthur. Nunca pensei que veria esse dia.” Ela olhou para Rose que assistia quietamente a cena. “Ele foi o meu mentor.” Tâmara deu outro suspiro, se levantou eu continuou seu trabalho. Um ar de indignação varreu o rosto de Rose, enquanto ela a observava. Eu podia imaginar o que ela estava pensando. Eu podia jurar que Rose estava se colocando no lugar dela. Mas provavelmente, Tâmara não teve envolvimento amoroso com Art, o que a levava a agir daquela maneira, também aprendeu a controlar suas reações, como a maioria dos guardiões. Rose ficou olhando o corpo de Arthur por alguns momentos, ainda muito pensativa.


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