Frostbite Por Dimitri Belikov escrita por shadowangel


Capítulo 23
Capítulo 23




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/172786/chapter/23

Tasha encarou a platéia e voltou-se para a Moroi que tinha falado.

“Aquelas mulheres não estão aqui, Monica, porque elas estão muito ocupadas criando seus filhos – você sabe, aqueles que você quer começar a mandar para a frente de batalha assim que aprenderem a caminhar. E, por favor, não nos insulte agindo como se os Moroi fizessem um grande favor aos dhampirs, os ajudando a se reproduzir. Talvez seja diferente na sua família, mas para o resto de nós, sexo é divertido. Os Morois transando com os dhampirs não estão fazendo nenhum sacrifício.”

Como ela tinha prometido, a polêmica era parte de seu discurso. Eu me ajeitei na cadeira, sentindo a preocupação que eu sentia me deixar momentaneamente. Tasha tinha tomado a defesa dos dhampirs e calado a boca das pessoas que agiam com hipocrisia. Apesar de eu achar desnecessário ela jogar na cara de todos o quanto os Morois se divertiam com dhampirs, tinha sido válido.

“E a razão que nós estamos esperando os guardiões fazerem 18 anos é para que nós possamos deixá-los aproveitar algum pretenso de vida antes de forçá-los a passar o resto de seus dias em constante perigo. Eles precisam desses anos extras para se desenvolverem mentalmente e fisicamente. Pega-los antes de estarem prontos, é tratá-los como se fossem parte de uma linha de montagem – então você só está criando ração para os Strigoi. Você só vai criar mais comida se tentar fazer as outras mulheres dhampir virarem guardiãs. Você não pode forçá-las a uma vida que não querem. Todo esse seu plano de conseguir mais guardiões está baseado em jogar crianças e aqueles que não querem em perigo, só para que você possa – por pouco – ficar um pouco a frente do inimigo. Eu diria que esse é o plano mais estúpido que eu já ouvi, se eu já não tivesse ouvido o dele.” Tasha falou apontando para o orador.

As palavras dela saíram tão duras e certas que todos se mexeram em seus lugares, claramente incomodados. Um burburinho começou pela sala.

“Nos ilumine, então, Natasha.” Ele falou, tentando esconder o embaraço. “Nos diga o quê você acha que nós deveríamos fazer, já que você tem tanta experiência com Strigoi.”

Tasha sorriu, como se sentisse a vitória se aproximando dela.

“O que eu acho? Eu acho que nós deveríamos parar de bolar planos que envolvem depender de alguém ou algo para nos proteger. Você acha que tem poucos guardiões? Esse não é o problema. O problema é que tem muitos Strigoi. E nós os deixamos se multiplicar e ficarem mais poderosos porque não fazemos nada em relação a eles a não ser ter discussões estúpidas como essa. Nós corremos e nos escondemos atrás dos dhampirs e deixamos os Strigoi fugir. É nossa culpa. Nós somos a razão dos Drozdovs terem morrido. Você quer um exercito? Bem, aqui estamos. Dhampirs não são os únicos que podem aprender a lutar. A questão, Monica, não é porque as mulheres dhampir não estão lutando. A questão é: Porque nós não estamos?” Ela gritou para todos, tanto que suas bochechas ficaram vermelhas. Eu senti o choque correr por mim. Aquilo que ela estava sugerido era totalmente fora das convenções, algo que só aconteceu em tempos remotos, mas que jamais tinha sido novamente cogitado.

Era, de fato, uma solução para os problemas, mas não era algo fácil de ser aceito. Nem mesmo por mim. Eu mesmo não conseguia me imaginar lutando lado a lado com um Moroi. Não foi algo que eu aprendi, não era algo que soava como certo. Era possível, sim, mas não era natural.

“Certamente você não está sugerindo que os Moroi lutem junto com os guardiões quando os Strigois vierem?” Monica Szelsky falou, quase em tom de zombaria.

“Não. Eu estou sugerindo que os Moroi e seus guardiões lutem com os Strigoi antes deles virem.” Tasha respondeu no mesmo tom.

Aquilo era mais que ousado, era revolucionário. Guardiões não atacavam normalmente Strigois, muito menos, levando Morois com eles. O agito cresceu no salão e rapidamente, vários dos que ali estavam começaram a gritar suas opiniões, obviamente divergentes das dela.

“Oh,” disse um Moroi com uma voz de zombaria, falando sem ser sua vez. “Então, você vai nos dar cacetetes e estacas e nos mandar para a batalha?”

Tasha deu de ombros. “Se for preciso, Andrew.” Um sorriso bobo cruzou seus lábios. “Mas tem outras armas que nós podemos usar também. Uma que os guardiões não podem.”

“Oh é? Como o quê?”

Tasha deu uma gargalhada. “Como isso.” Ela balançou sua mão, ateando fogo em um suéter que estava em uma das cadeiras. O silêncio ecoou por breves segundos e, logo depois, o caos tomou conta de tudo.

Aquilo era quase inaceitável. Tasha estava certa em muitos pontos, mas não se podia propor tantas quebras de paradigmas de uma só vez. Eu mesmo não via aquilo com bons olhos. Claro que eram idéias plausíveis, mas muito precisava ser feito para que elas fossem colocadas em prática. Mandar Morois para batalharas era quase tão insano quanto mandar noviços. As pessoas se levantaram e começaram com acusações contra Tasha, trazendo o velho preconceito que todos tinham pela sua família.

Eu não sabia o que pensar daquilo, só sabia que nada de útil tinha saído dali. Nem as idéias de Monica Szelsky e nem as de Tasha. Ambas pareciam insanas, ambas pareciam impraticáveis. Eu fiquei em pé e me virei para Rose que assistia a tudo com seu rosto impressionado.

“Vocês também deveriam ira agora. Nada de útil vai acontecer agora.”

Rose e Mason se levantaram e começaram a me seguir. “Vai você. Eu quero ver isso.” Ele falou enquanto olhava vidrado para a multidão que gritava.

“Boa sorte.” Rose respondeu e me seguiu. Enquanto ela andava ao meu lado, senti meu coração bater disparado. Era a primeira vez que éramos só eu e ela, desde aquele beijo no ginásio. Eu passei estes dias a evitando, mas agora, com ela ali ao lado, tudo parecia uma estupidez minha. Eu buscava palavras para quebrar aquela parede de gelo que tinha se erguido entre nós e retomar a afinidade que tínhamos.

“Você não deveria estar lá dentro protegendo Tasha? Antes que a multidão a pegue?” Rose perguntou e sua voz não demonstrava que ela estava preocupada com a integridade de Tasha, ao contrário, havia um tom provocativo nela. “Ela vai ter muitos problemas por usar mágica daquele jeito.”

Eu levantei uma das sobrancelhas, como sempre fazia, quando me intrigava com algo. Eu me perguntava onde Rose estava querendo chegar com aquela colocação. “Ela pode cuidar de si mesma.” Respondi simplesmente.

“Sim, sim, porque ela é uma ótima lutadora e usuária da mágica. Eu entendo tudo isso. Eu apenas imaginei que como você vai ser o guardião dela e tudo mais...”

“Onde você ouviu isso?” Falei imediatamente, a interrompendo, sentindo uma onda gelada correr o meu corpo. Não era possível que Rose soubesse da proposta que Tasha havia me feito. Como aquilo tinha chegado a ela? Não era para ter sido assim, eu queria ter conversado com ela, como um igual, e ter esclarecido tudo, mas agora parecia tarde. Eu havia demorado demais e ela tinha tomado conhecimento de tudo pelos outros.

“Eu tenho as minhas fontes.” Ela respondeu com ar de superioridade e eu ainda me perguntava como ela sabia daquilo. Não era um assunto sigiloso, mas certamente não era tão público assim. “Você já decidiu, certo? Eu quero dizer, parece um bom negócio, já que ela vai lhe dar vários benefícios...” Seu tom era de um agudo sarcasmo, carregando as entrelinhas de sugestões maldosas.

Senti a ofensa tomar conta de mim. Como Rose podia pensar que eu seria capaz de deixar tudo e seguir Tasha só para obter benefícios? E justo estes tipos de benefícios? Era quase como me colocar no lugar de uma meretriz de sangue. Será que todo esse tempo ela ainda não me conhecia? Ela devia saber melhor e que eu nunca me colocava em primeiro lugar, que eu nunca buscaria somente prazer e realização pessoal.

“O que acontece entre eu e ela não é da sua conta.” Eu olhei diretamente em seus olhos e coloquei toda dureza que pude na minha voz. Percebi os olhos de Rose brilharem em um misto de raiva e mágoa.

“Bem, tenho certeza que vocês serão felizes juntos. Ela é o seu tipo, também – eu sei o quanto você gosta de mulheres que não são da sua idade. Eu quero dizer, ela é o quê? Seis anos mais velha que você? Sete? E eu sou sete anos mais jovem que você.”

A voz dela foi tão afiada que quase conseguiu me cortar. Rose estava tão absorvida com aquela birra que não percebia o óbvio. Eu não podia ser feliz com Tasha e isso não era uma questão de idade ou de preferências pessoais. Eu pensei um pouco sobre o que ela tinha falado e não entedia como ela não conseguia perceber isso. Ela era imatura e isso fazia com que ela agisse como uma criança, sem compreender o que se passava a sua volta. Ao mesmo tempo, eu sabia que ela podia ser madura e racional. O pior é que eu conhecia Rose. Era claro que ela estava agindo daquela forma de propósito, que era uma maneira que ela encontrou de me atingir. Eu não tinha visto isso antes, mas agora eu percebia que ela estava incomodada com toda aquela situação de Tasha.

“Sim. Você é. E a cada minuto que essa conversa continua mostra o quão jovem você é.” Eu me arrependi de ter falado aquilo, assim que as palavras saíram. Rose me olhou estupefata e eu lutei para retomar minha expressão dura. Eu não tive a intenção de ofendê-la e sim de chamá-la à realidade, de fazer com que ela percebesse que o caminho não era esse. Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa para reparar o que eu tinha dito, uma voz masculina falou alegremente atrás de nós.

“Pequena dhampir!”



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!